sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Reduzir consumo de carne vermelha pode proteger cérebro, diz estudo

Reduzir o consumo de carne vermelha pode ter muitos impactos positivos — em seu coração, no meio ambiente e, possivelmente, até mesmo na sua saúde cognitiva a longo prazo, segundo um novo estudo publicado na quarta-feira (15) no periódico Neurology.

Aqueles que consumiam um quarto de porção ou mais de carnes vermelhas processadas — como bacon, mortadela e cachorro-quente — tiveram uma chance 13% maior de desenvolver demência do que aqueles que consumiam menos de um décimo de porção por dia, de acordo com o estudo.

Uma porção de carne vermelha é geralmente cerca de 85 gramas, o que equivaleria a duas fatias de bacon, 1,5 fatia de mortadela ou um cachorro-quente, segundo um comunicado sobre o estudo.

Os pesquisadores também descobriram que uma porção diária extra de carne vermelha processada, em média, estava associada a uma aceleração de 1,6 ano no envelhecimento cerebral, segundo o estudo.

Os métodos do estudo são observacionais, o que significa que os pesquisadores não podem afirmar com certeza que as carnes vermelhas processadas estão causando a demência, apenas que existe uma associação entre as duas. Mas a investigação sobre a conexão continuará, de acordo com um dos autores do estudo, Daniel Wang, professor assistente no departamento de nutrição da Harvard T.H. Chan School of Public Health.

 “Estudos de coorte grandes e de longo prazo são essenciais para investigar condições como demência, que podem se desenvolver ao longo de décadas”, diz Wang em um comunicado. “Continuamos montando esse quebra-cabeça para entender os mecanismos que causam demência e declínio cognitivo.”

<><> Por que a carne que você come afeta seu cérebro

A conexão entre carne vermelha e saúde cognitiva não foi estudada profundamente, mas os pesquisadores encontraram associações com muitos outros resultados de saúde, incluindo doenças cardiometabólicas, cânceres e morte prematura, segundo Mingyang Song, professor associado de epidemiologia clínica e nutrição na Harvard T.H. Chan School, que não esteve envolvido na nova pesquisa.

“Em particular, a carne vermelha processada mostra a associação mais forte devido ao seu alto teor de sal, ferro heme e aditivos nocivos usados no processamento”, diz Song por e-mail.

“Além disso, a resposta inflamatória e os distúrbios metabólicos (por exemplo, resistência à insulina) associados ao alto consumo de carne vermelha também podem desempenhar um papel”, acrescenta o especialista em um e-mail.

Para este estudo, os pesquisadores analisaram dados de mais de 133.000 pessoas com idade média de 49 anos do Nurses” Health Study e Health Professionals Follow-Up Study. Os dados incluíam informações detalhadas de saúde pesquisadas por um longo período, incluindo as dietas dos participantes, e foram atualizados a cada dois a quatro anos, de acordo com o estudo.

Mais de 11.000 participantes do estudo foram diagnosticados com demência em um período de 43 anos.

Existem teorias sobre por que a carne vermelha pode representar um risco particular para a saúde cognitiva. A carne vermelha tem uma alta quantidade de gordura saturada e produz um composto orgânico ligado a doenças cardiovasculares, e os dois juntos podem danificar o sistema nervoso, o que piora o declínio cognitivo, segundo Song.

“Além disso, a resposta inflamatória e os distúrbios metabólicos (por exemplo, resistência à insulina) associados ao alto consumo de carne vermelha também podem desempenhar um papel”, acrescenta.

Carne vermelha processada também tem níveis mais altos de substâncias como nitritos, compostos N-nitrosos e sódio, que representam riscos adicionais ao declínio cognitivo, de acordo com o principal autor do estudo, Yuhan Li, assistente de pesquisa na Divisão Channing de Medicina de Rede do Brigham and Women’s Hospital, em Boston.

Os nitritos são ingredientes frequentemente usados ​​na cura de carnes e têm sido associados a problemas de saúde, e os compostos N-nitrosos também são encontrados em carnes curadas e têm sido associados ao câncer.

Este último estudo é importante por enfatizar como os alimentos que você come afetam a maneira como seu cérebro envelhece, diz Wang no comunicado.

“As diretrizes dietéticas tendem a se concentrar na redução dos riscos de condições crônicas como doenças cardíacas e diabetes, enquanto a saúde cognitiva é discutida com menos frequência, apesar de estar ligada a essas doenças”, afirma. “Esperamos que nossos resultados incentivem uma maior consideração da conexão entre dieta e saúde cerebral.”

<><> Limitar a carne vermelha que você come

Reduzir a quantidade de carne vermelha que você come pode ser uma parte importante do cuidado com sua saúde a longo prazo, segundo o estudo.

Substituir a carne vermelha por fontes de proteína vegetal, como nozes e leguminosas, foi associado a um risco 19% menor de demência e 1,37 anos menos de envelhecimento cognitivo, de acordo com o estudo.

American Institute for Cancer Research recomenda limitar o consumo de carne vermelha a três porções por semana e comer pouca ou nenhuma carne vermelha processada.

Embora fazer mudanças específicas possa ajudar sua saúde, a qualidade geral da dieta de uma pessoa é a principal prioridade, diz Song.

Se você quer reduzir e comer de uma maneira mais nutritiva, pode ser hora de conhecer a dieta mediterrânea –– que é mais um estilo de vida do que uma dieta restritiva. Ela se concentra em comer frutas, vegetais, grãos, azeite de oliva, nozes e sementes, e ocasionalmente um pedaço de peixe, além de focar na conexão social e atividade física.

¨      Dieta carnívora: famosa nas redes sociais, entenda se faz bem à saúde

A dieta carnívora, que elimina completamente alimentos de origem vegetal e se baseia exclusivamente no consumo de proteínas e gorduras de origem animal, tem chamado atenção nas redes sociais. Adeptos alegam que ela pode oferecer benefícios como perda de peso rápida e melhorias em condições de saúde como inflamação e problemas digestivos.

No entanto, a eliminação total de grupos alimentares essenciais levanta preocupações entre especialistas, que alertam para riscos graves à saúde, como deficiências nutricionais e sobrecarga de órgãos vitais.

A nutricionista Karoline Schast, da Faculdade Evangélica do Paraná, ressalta que, embora a dieta possa, de fato, trazer alguns resultados iniciais, como a perda de peso, os efeitos a longo prazo podem ser prejudiciais. Segundo ela, o corpo perde acesso a nutrientes essenciais e há um desequilíbrio em processos metabólicos fundamentais.

<><> Perda de peso: o lado perigoso da cetose

A promessa de emagrecimento rápido é um dos principais atrativos da dieta carnívora. De acordo com Jean Lemos, nutricionista e professor do Centro Universitário UniFavip Wyden, em Pernambuco, a perda de peso ocorre principalmente devido à restrição severa de carboidratos, que coloca o corpo em estado de cetose. Nessa condição, o organismo começa a utilizar a gordura como fonte primária de energia, acelerando sua queima. “A redução drástica de carboidratos inicialmente promove uma rápida perda de peso, principalmente por perda de água”, explica Lemos.

No entanto, ele destaca que a cetose prolongada pode ter efeitos colaterais perigosos. “O corpo entra em uma espécie de modo de sobrevivência, utilizando gordura como energia, mas essa situação pode levar à perda de massa muscular e fadiga, além de aumentar o risco de desidratação”, adverte. A dieta, então, pode não ser sustentável a longo prazo e, em muitos casos, leva a um rápido reganho de peso após o retorno à alimentação normal.

<><> Efeitos no coração e nos rins

Outro ponto importante é o impacto sobre os órgãos vitais, especialmente coração e rins. O excesso de proteínas e gorduras animais pode aumentar significativamente os níveis de colesterol LDL, o chamado “mau colesterol”, elevando os riscos de problemas cardiovasculares, como aterosclerose e infartos. Para Schast, o consumo elevado de carne, especialmente vermelha e processada, pode ser devastador para a saúde do coração.

Os rins também sofrem com o excesso de proteínas. “Dietas extremamente ricas em proteínas sobrecarregam os rins, que precisam filtrar e excretar os resíduos do metabolismo proteico. Isso pode causar danos a longo prazo, especialmente em indivíduos com predisposição a problemas renais”, alerta Lemos.

A dieta carnívora, com a ingestão exagerada de carne, também aumenta o risco de formação de cálculos renais e pode comprometer o funcionamento renal se mantida por longos períodos.

<><> Deficiências nutricionais: a falta de equilíbrio

A exclusão completa de alimentos vegetais também priva o corpo de nutrientes fundamentais, como fibras, vitaminas e minerais. Segundo Lemos, a ausência de fibras na dieta carnívora é um dos maiores problemas, já que elas desempenham um papel importante na saúde intestinal e na prevenção de diversas doenças. “Sem fibras, há um aumento no risco de constipação e até mesmo de doenças mais graves, como o câncer de cólon”, afirma o nutricionista.

Além das fibras, a dieta carnívora não oferece quantidades adequadas de micronutrientes essenciais, como vitaminas C, K e do complexo B, além de minerais como magnésio e potássio, necessários para o bom funcionamento do organismo. “Esses nutrientes são essenciais para a saúde metabólica, imunológica e cardiovascular, e sua ausência pode trazer problemas graves a longo prazo”, conclui o especialista.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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