Quais os principais temas que devem
entrar na pauta do mercado da saúde em 2025?
O ano promete ser agitado
para o mercado da saúde em 2025. Diferentes segmentos devem passar por mudanças
estruturais, adequando a regulação para novas tecnologias e demandas que chegam
ao setor. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) devem ter pautas movimentadas, com atualizações
que podem impactar empresas.
A expectativa é que 2025
será marcado ainda por uma redução no número de fusões, aquisições e até mesmo de joint
ventures, com empresas focando na integração e consolidação de
compras e parcerias feitas nos últimos anos. No entanto, esse processo pode
resultar na avaliação de que alguns ativos não fazem sentido dentro daqueles
grupos, que devem disponibilizá-los para negócios.
Na saúde suplementar, 2025
promete ser um ciclo de reajuste menor do que os vistos nos últimos anos. No
entanto, o impacto das propostas da ANS para a Política de Preços e Reajustes
dos Planos de Saúde deve movimentar o setor, assim como a discussão sobre a
incorporação de tecnologias. A tendência é que a revisão de contratos de
prestação de serviços domine a pauta dos hospitais, que cobram que a
recuperação econômica das operadoras chegue até eles.
“É um ano que vai necessitar
de muita sinergia entre pagador e prestador por esse fluxo complexo financeiro
que vemos acontecendo no mercado. Há uma certa instabilidade política em
virtude de todas as questões econômicas que estamos acompanhando. Vai ser
desafiador, mas ao mesmo tempo vai ser um ano com oportunidade de evolução em
termos extremamente críticos quando se fala de ter saúde financeira dentro das
instituições”, avalia André Tenan, sócio-diretor de Life Sciences da Alvarez
& Marsal.
Há ainda a expectativa sobre
a revisão dos planos ambulatoriais e a regulação dos cartões de desconto. Com a
saída de Paulo Rebello da presidência da ANS, não se sabe como os temas serão
tratados pela agência. A nomeação de Wadih Damous, que aguarda sabatina do Senado Federal, também é aguardada pelo setor.
No Congresso Nacional, a
regulação da inteligência artificial, aprovada em dezembro pelo Senado, é um
dos principais assuntos. Agora, o texto será analisado pela Câmara dos
Deputados. Ainda não há cronograma previsto, mas o setor segue atentamente a
tramitação. Apesar de ter perdido força, o projeto de lei dos planos de saúde
pode voltar ao debate.
A atenção das farmacêuticas
nacionais deve permanecer na construção de parcerias e de estrutura, no aguardo
da queda de patentes de medicamentos para a produção de biossimilares. Há ainda
expectativa sobre a aprovação do Ministério da Saúde das Parcerias para o Desenvolvimento
Produtivo (PDP) e Programa de Desenvolvimento e Inovação
Local (PDIL), na regulamentação da lei das pesquisas clínicas, assim como na
análise dos vetos presidenciais e no sandbox regulatório da Anvisa.
Também há a possibilidade de
revisão da precificação de medicamentos por parte da Câmara de Regulação do
Mercado de Medicamentos (CMED), que deve ter um novo secretário executivo em
2025, com a saída de Daniela Marreco, indicada pelo presidente Lula para
assumir uma diretoria na Anvisa.
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Mercado
de saúde em 2025: fusões, aquisições e parcerias
Dados da KPMG apontam que
até o 3º trimestre de 2024 houve 1196 operações de fusões e aquisições no
Brasil ao longo do ano. Com um discreto aumento de 5% na comparação do período
com o ano anterior, o setor manteve o número de transações realizadas. Contudo,
a expectativa é que haja uma desaceleração em 2025.
“Algumas empresas que tinham
feito um volume grande de aquisições nos últimos anos se endividaram e não
conseguiram fazer a rolagem dessas dívidas. Também tivemos algumas companhias
que passaram por um processo de grandes fusões que demandam um olhar para
dentro para se integrar”, explica Gustavo Vilela, sócio-líder do setor de
Healthcare & Life Sciences da KPMG no Brasil.
Apesar de a expectativa ser
na desaceleração, Vilela explica que no processo de integração entre empresas
podemos ver alguns ativos sendo colocados à venda por serem avaliados como
ineficientes dentro da estratégia. Haverá, então, algumas transações ao longo
do ano. Da mesma forma, parcerias e joint
ventures devem continuar surgindo no mercado, mas em menor
número que em 2024. Empresas que tiveram iniciativas do tipo deverão atuar para
provar o modelo, garantindo a eficiência dos projetos. Entretanto, a estratégia
do mercado de focar no core
business de cada empresa segue como tendência.
“Por que preciso comprar e
incorporar dentro da minha estrutura algo que não é meu negócio principal?
Posso me unir a um parceiro meu estratégico, como por exemplo Bradesco, Beneficência Portuguesa –
BP e Fleury fizeram, como Fleury e Einstein fizeram, ou
seja, buscar sinergias sem ter que adquirir” observa André Tenan, da Alvarez
& Marsal.
O processo de consolidação
do setor também segue entre as healthtechs. Buscando unir forças para oferecer
produtos mais completos, startups da saúde devem continuar realizando fusões
entre si. Já a compra por hospitais, farmacêuticas e operadoras é vista com
mais cautela. “As healthtechs tiveram um problema que não está completamente
resolvido, que é o fato de que muitas delas entregam apenas um pedaço da
solução. As empresas maiores não conseguiam encaixar apenas esse pedaço da
solução dentro do processo. À medida que começarmos a observar healthtechs
ampliando a sua capacidade em aspectos mais longos da jornada, maior vai ser a
probabilidade de vermos aquisições”, explica Vilela, da KPMG.
No mercado farmacêutico, a
tendência é que indústrias nacionais sigam se estruturando para produzir
medicamentos inovadores que terão patentes encerradas nos próximos anos. É o
caso, por exemplo, da EMS, que inaugurou fábrica em 2024 para produzir, entre
outros insumos, a semaglutida. “Os próximos anos vão ser anos de intensa
movimentação dessa indústria nacional, seja através da construção e
desenvolvimento de equipamentos, estratégicos ou fabris, para aproveitar essa
janela de oportunidades desses produtos que perdem patente, ou seja através de
parcerias e sinergias com empresas multinacionais, europeias, americanas, e
asiáticas, para ter essas moléculas disponíveis e competir no mercado
nacional”, avalia Tenan.
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Pautas
da Anvisa em 2025
Com novos diretores
nomeados, com Leandro Safatle indicado para assumir a presidência, a Anvisa deve continuar
atuando para regular o mercado de saúde, com foco nas farmacêuticas e nas
indústrias de dispositivos médicos. Dentre os principais temas apontados pelos
analistas que serão acompanhados pela agência, está a regulação da inteligência
artificial, paralelamente ao Congresso Nacional.
“A Anvisa deve se posicionar
nesse ano. Muitas empresas estrangeiras de software, medical devices, têm
começado a inserir inteligência artificial nessas ferramentas, e está muito
complicado entender qual vai ser o tratamento regulatório que vai ser dado. Tem
empresas provocando a Anvisa o tempo inteiro, pedidos de registro de produtos
com inteligência artificial ou então até atualizações de devices antigos”,
explica Rubens Granja, sócio de Life Sciences & Healthcare do Lefosse
Advogados.
O tema da cannabis medicinal
também deve voltar à pauta. Isso porque o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
decidiu que empresas estão autorizadas a importar sementes e cultivar cannabis
com fins medicinais, farmacêuticos e industriais no Brasil, cabendo à Anvisa
fazer regulamentação sobre o tema no prazo de seis meses.
A discussão sobre a
precificação da CMED também está no âmbito da Anvisa. A norma que define a
forma que se precifica medicamentos no país completou 20 anos e há expectativa
para que a revisão ocorra em 2025, especialmente em um cenário de produtos
inovadores e terapias avançadas. “Todos estavam confiantes de que iria sair no
ano passado, mas não saiu. Com a Daniela Marreco, secretária executiva da CMED,
indo para uma diretoria da Anvisa, a movimentação muda. Mas é um tema que
precisa ser regulado. Estamos lidando hoje com um mundo muito diferente do que
temos previsto na norma”, explica Granja.
Outro tema que está no radar
é a consulta pública para o edital de chamamento para seleção de interessados
em participar do projeto-piloto de sandbox regulatório, que vai até dia 31 de
janeiro. De acordo com o sócio do Lefosse Advogados, existe uma ansiedade do
setor para participar do edital.
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Regulação
da ANS em 2025
As propostas para a revisão
da Política de Preços e Reajuste de Planos de Saúde devem ser o tema central da
ANS ao longo do ano. Com consulta pública aberta até o dia 3 de fevereiro, e
audiências públicas marcadas para 28 e 29 de janeiro, as discussões têm gerado
repercussão do setor, que vê as propostas como negativas para as operadoras. No
entanto, outros temas também estão no radar dos analistas.
“A decisão do STJ em relação
à ampliação do escopo da ANS para regular cartões de desconto deu um fôlego
maior para a agência. Empresas que não operam no âmbito de operadoras têm
preocupações sobre como isso vai se dar. Do outro lado, as operadoras refletem
se também vão poder participar deste mercado. Ainda não está claro”, avalia
Maira Materagia Imperatriz, sócia de Life Sciences & Healthcare do Lefosse
Advogados.
Paralelamente, a revisão dos
planos ambulatoriais também está no radar das consultorias e escritórios. Isto
porque, com a saída de Paulo Rebello da diretoria da ANS, é preciso entender
como o tema avançará junto à Diretoria Colegiada da agência. No entanto, há um
otimismo do setor, que avalia que Jorge Aquino, diretor-presidente substituto,
deve seguir com a pauta. “O grande ponto em relação aos planos
ambulatoriais é que os órgãos de defesa do consumidor têm apresentado certa
resistência em relação ao que vai acontecer caso o beneficiário precise de uma
internação, por exemplo. Há uma preocupação muito grande do setor em relação à
judicialização, se discute até se vão colocar esse modelo no âmbito do sandbox
regulatório para ser acompanhado”, afirma Imperatriz.
O sandbox regulatório da ANS
foi aprovado em dezembro de 2024 e deve ser um espaço de incentivo à inovação
do setor. Por isso, se espera que um novo modelo de plano de consulta e exames
possa ser contemplado nesse espaço flexível. Há expectativa para a publicação
de editais de convocação para propostas.
Ao longo de 2024, a
interoperabilidade de dados foi um dos temas mais discutidos pelo Ministério da
Saúde, com indicações de que haverão parcerias público-privadas nesse sentido.
Utilizando a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), há atenção para entender
como a Secretaria de Saúde Digital irá se
conectar à ANS.
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Cenário
dos planos de saúde em 2025
Depois de dois anos de
fortes reajustes, operadoras de planos de saúde chegaram a um momento econômico
considerado mais saudável, com lucro líquido de R$ 8,7 bilhões de janeiro a
setembro de 2024, de acordo com dados da ANS. Agora, a expectativa é que haja
uma redução.
“Já não cabe mais. O
conflito está muito complicado em relação a conseguir passar mais reajustes do
jeito que está. A busca pela redução de fraudes, por exemplo, deveria diminuir
um pouco essa necessidade de pura e simplesmente reajustar. É difícil precisar,
mas não vai ser no mesmo nível que vimos”, observa Rafael Palombini,
sócio-diretor de saúde da Alvarez & Marsal.
Gustavo Vilela, da KPMG,
explica que para além do reajuste, o setor precisa avançar em temas que
impactam nos custos assistenciais. Essa discussão passa pela incorporação de
medicamentos, pelo cuidado preventivo da saúde dos beneficiários e pela revisão
de normas. “O setor demorou três anos para recompor resultado. E agora, ao
final de 2024, vamos ter pela primeira vez neste período, de fato, um resultado
importante. Esse resultado não veio à luz de redução de custo. O custo não
caiu. Ele veio à luz de reajuste de preço. Os mecanismos de controle de custos
ainda são muito frágeis, existe um desbalanço muito grande entre o poder de
prescrição versus a contraindicação de procedimentos e terapias. Há ainda um
desperdício grande acontecendo no setor”, afirma Vilela.
Com a perspectiva da
regulação da reforma tributária avançar no Governo, será necessário entender o
impacto para o setor. É possível que empresas tentem antecipar recomposição de
preços para se preparar para possíveis aumentos de tributos, principalmente em
um setor em que todos os elos são interligados. “No fim das contas, se
aumentar o valor de um medicamento, aumentará o custo do hospital, que aumenta
o custo da operadora. Essa conta vai chegar para o beneficiário em última
análise e ele vai ser quem vai tomar um pouco desse prejuízo que a reforma pode
trazer em alguns âmbitos”, conclui o sócio-líder do setor de Healthcare &
Life Sciences da KPMG no Brasil.
Fonte: Futuro da
Saúde
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