Governo
colhe dupla derrota com a barbeiragem do PIX
O governo Lula 3 conseguiu a proeza de colher uma
dupla derrota num episódio para o qual nem se apresentou para disputa política
com a oposição. A avaliação é corrente nos bastidores entre aliados e
adversários que assistem o dia seguinte de uma vitória retumbante de ala
estridente da oposição sobre mudanças que nem chegaram a ser implementadas
na fiscalização da Receita Federal sobre
movimentações do sistema de pagamentos mais usado do país hoje: o PIX.
O
entendimento é o de que o Planalto demonstrou fragilidade, inaptidão e ainda
ampliou o poder de fogo e dependência de um centrão que já prega uma reforma ministerial mais ampla
do que a que Lula sinaliza intenção em fazer.
"O recuo, da forma como foi feito, demonstrou
uma fragilidade do governo como há muito tempo eu não via", resume o
presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI). "O problema, para mim,
não é só de comunicação. É o Lula. Ele parece estar de saco cheio, sem apetite
para governar. Está blindado. Os problemas chegam na sala dele quando já é
muito tarde para decidir", conclui.
Aliados do governo poupam o presidente, mas
reconhecem que o episódio causou um bate cabeça como há muito não se via,
expondo os principais agentes da Esplanada a uma derrota acachapante diante da
ala mais estridente da oposição.
A imensa propagação de fake news é apontada como fator determinante para
o saldo final do episódio, mas não só. "Existe um ambiente irreal criado
pelas redes, mas o governo mexeu com a base da pirâmide. O pedreiro, a
faxineira, os personagens que são de fundamental importância e que agora estão
em pânico. Essas pessoas receberam uma 'fake news' da
extrema direita sobre o PIX e ficaram desconfiadas. Mas, agora, elas acham que
era verdade. Tanto era verdade, que o governo recuou", analisa
um especialista em comunicação próximo a ministros de Lula.
"Recuar de um erro pode ser meritório, mas
nesse caso faltou mesmo foi coordenação política. No fim, o Lula mandou um
recado para o eleitor dele, que hoje está sendo humilhado por ter 'feito o L'.
É um erro grosseiro", resume.
A burocracia da Fazenda decidiu ampliar a
fiscalização sobre transições acima de R$ 5 mil feitas em PIX, mirando
sonegadores fiscais. À medida, somaram-se uma série de desinformações, que
tratavam a decisão somo uma "taxação do PIX", o que era falso. "No fim,
se era meritório, cercar lavagem de dinheiro e sonegação, era preciso contar
uma história pras pessoas. Uma conversa com o eleitor. Faltou conversar com a
sociedade", explica o marqueteiro.
O governo ontem derrubou a medida, atribuindo o
recuo a fake news, sem nem sequer defender a norma editada por
ele mesmo no campo da comunicação ou no da política.
A saída de cena envergonhada da determinação
editada pela Receita ficou na conta do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), autor
de um vídeo com mais de 200 milhões de visualizações sobre o assunto. "Ele
não aparece hoje como pré-candidato à Presidência em 2026 porque não tem idade.
Simples assim", diz um prócer da direita. Nikolas tem 28 anos. A idade mínima
para concorrer à Presidência é 35.
Além da oposição, ganha com o episódio o centrão,
que prega uma mudança profunda no ministério de Lula, para ampliar seus
espaços. "Ou faz uma virada em 60 dias ou não sei", projeta o
presidente do PP.
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Governo errou no começo e no fim da polêmica do PIX
O governo errou no
começo e no fim da polêmica do PIX. Errou ao lançar a medida sem
explicá-la e calcular o impacto que ela teria sobre a população.
Também falhou ao tentar encerrar a polêmica por demorar a reagir de forma definitiva e insistir incialmente
num caso que já havia se transformado numa batalha perdida para a administração
do petista.
Essa avaliação é feita por interlocutores do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre
o episódio que deu munição a golpistas e à oposição para desgastar a imagem do
governo.
A instrução normativa da Receita não tributava o
PIX e até trazia melhoras no sistema, ao elevar de R$ 2 mil para R$ 5 mil as
transações financeiras, incluindo o PIX, que passariam a ser monitoradas de
perto pelo órgão federal. E seu objetivo era pegar sonegadores, não pequenos
empreendedores.
O recuo do governo acabou se transformando na única saída
possível para acabar com as fake news sobre a medida.
Assessores de Lula defendiam o ato da Receita como forma de
combater sonegadores, mas reconheceram que ela deu munição para oposição e golpistas
desgastarem a imagem do governo. Criticam, porém, a demora em tomar uma medida
definitiva.
Segundo interlocutores do presidente, “ficou ruim
no anúncio e pior na demora do recuo”. Segundo a equipe de Lula, o governo
precisa ter cuidado redobrado em suas decisões para evitar explorações
políticas.
<><> Testar e discutir
Um assessor defende que tudo seja testado e
discutido internamente, principalmente em áreas sensíveis como a de tributos.
Além do recuo, outra decisão acertada, que demorou,
foi acionar a Polícia Federal para investigar os autores das fake news e dos golpes financeiros.
Uma medida provisória será editada para garantir que o Pix se equivale
a dinheiro vivo e não pode sofrer nenhuma tributação como
meio de pagamento, e os contribuintes terão seu sigilo preservado.
O presidente Lula avaliou nesta quarta-feira (15)
que não dava apenas para ficar remediando a crise do Pix. Ele decidiu chamar
sua equipe econômica para colocar um ponto final na polêmica.
<><> Vídeo incômodo
A irritação atingiu o ponto máximo com um vídeo do
deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG),
que ultrapassou as mais de cem milhões de visualizações. E um vídeo que
insinuava que o governo poderia estar tramando algo contra os trabalhadores.
“O governo Lula vai monitorar seus gastos. E o Pix
não será taxado, mas é sempre bom lembrar. A comprinha da China não seria
taxada, mas foi. Não ia ter sigilo, mas teve. Você ia ser isento do Imposto de
Renda, não vai", afirmou o deputado do PL de Minas.
"O Pix não será taxado, mas não duvido que
possa sim. Quem mais será afetado por esta medida serão os trabalhadores, que
serão monitorados como se fossem grandes sonegadores”, prosseguiu Nikolas
Ferreira.
Esse tipo de informação estava viralizando
principalmente em grupos de trabalhadores informais, um segmento que votou em
Bolsonaro e o governo Lula tenta atrair.
¨
Por que o governo desistiu das novas regras de
fiscalização
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta quarta-feira (15) um dos
maiores recuos destes dois anos de mandato até agora: decidiu revogar o ato que
ampliava a fiscalização sobre transações financeiras, incluindo o PIX.
O governo tomou essa decisão após a enxurrada de
fake news que invadiu as redes dizendo que o PIX seria taxado, o que não é
verdade.
Integrantes da equipe de Lula, e até o próprio
presidente, chegaram a gravar vídeos e a dar declarações para esclarecer as
medidas, mas não obtiveram sucesso.
Diante do volume de desinformação e da popularidade
do PIX, o governo voltou atrás.
Veja abaixo o passo a passo do recuo:
<><> 1- As medidas anunciadas
No início deste mês, a Receita Federal atualizou
regras para monitoramento de transações financeiras dos cidadãos, com o
objetivo de impedir fraudes e sonegação fiscal (veja detalhes mais abaixo).
Essa atualização estabelecia um monitoramento de
movimentações acima de R$ 5 mil por mês, no caso de pessoas físicas, e R$ 15
mil mensais, no caso de pessoas jurídicas.
Segundo a Receita, outras modalidades de pagamento
— como cartão de crédito e depósitos — já eram monitoradas quando os valores
excediam em R$ 2 mil para pessoa física e R$ 6 mil no caso de pessoa jurídica.
Na atualização, o PIX seria incluído nessas regras,
assim como os cartões. E os valores para disparar o monitoramento por parte da
Receita seriam alterados. Desde o início, a Receita informou que intenção nunca
foi pegar o pequeno comerciante como alvo.
<><> 2 - A avalanche de fake news
A onda de desinformação começou logo após começarem
a valer as novas regras.
Uma das mensagens falsas que circularam nas redes
foi postada por um perfil falso, cuja foto mostrava um símbolo que imitava o
logo da Receita. O texto dizia que uma pessoa foi taxada por usar mais de R$ 5
mil no PIX no mês, e que ela precisaria pagar R$ 845 para evitar o bloqueio do
CPF. Era um golpe.
Houve também uma série de vídeos nas redes sociais
falando sobre uma suposta cobrança de um imposto do PIX, que iria prejudicar o
pequeno comerciante, o pipoqueiro, o vendedor da praia.
<><> 3- Lula entra em cena
No fim da semana passada, Lula publicou um vídeo
nas redes sociais explicando que as mudanças anunciadas pela Receita Federal
não representavam um aumento no imposto das transferências via PIX.
Lula fez o alerta à população após afirmar que fez
uma doação para o Corinthians quitar a dívida da construção de seu estádio. A
campanha com a "vaquinha" foi lançada em novembro do ano passado.
Nem isso foi suficiente para conter a
desinformação.
<><> 4- Pedido de investigações
Esta semana começou com autoridades do governo
buscando o contra-ataque e anunciando pedidos de investigação contra quem
estava espalhando as fake news.
"A AGU [Advocacia-Geral da União] foi
envolvida para tomar providências judiciais contra os golpistas. Quem está
divulgando fake news está patrocinando organizações criminosas no país, que
estão atuando, mandando boleto para a casa das pessoas, cobrando a mais
indevidamente, dizendo que estão sendo taxados", disse o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad.
<><> 5- O recuo
O governo finalmente decidiu voltar atrás na tarde
desta quarta. Haddad e o secretário da Receita, Robson Barreirinhas, fizeram o
anúncio no Palácio do Planalto.
Haddad disse que quem espalhou as fake news, na
opinião dele, cometeu um crime:
"O ato que o Barreirinhas acaba de anunciar é
justamente para dar força à tramitação de uma medida provisória que o
presidente está para assinar, o texto dela foi fechado agora. [...] Uma medida
provisória que reforça os princípios tanto da não oneração, da gratuidade do
uso do PIX, quanto de todas as cláusulas de sigilo bancário em torno do PIX,
que foram dois objetos de exploração por parte dessas pessoas que estão, na
nossa opinião, cometendo um crime, porque quando você desacredita um
instrumento público, você está cometendo um crime", afirmou o ministro.
¨
Após provocar polêmica, governo publica MP que proíbe
taxar ou cobrar valor adicional nos pagamentos por PIX
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou nesta
quinta-feira (16) a medida provisória que define que transferências financeiras
via PIX não podem ser tributadas ou sobretaxadas.
Atualmente, o PIX já é livre de tributos. A MP
reafirma esse entendimento, segundo o governo, para evitar cobranças indevidas
no futuro.
A medida
provisória também proíbe que comerciantes cobrem taxa adicional para
consumidores que escolham pagar com o PIX.
Ou
seja: define que o preço no PIX tem que ser menor ou igual ao preço cobrado em
dinheiro.
"Constitui prática abusiva, para os efeitos do
art. 39 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, a exigência, pelo
fornecedor de produtos ou serviços, em estabelecimentos físicos ou virtuais, de
preço superior, valor ou encargo adicional em razão da realização de pagamentos
por meio de Pix à vista", diz a MP.
"A prática dos procedimentos previstos no
caput sujeita o infrator às penalidades previstas na legislação do direito do
consumidor", complementa.
A MP traz ainda uma
novidade: um canal digital de orientação e recebimento de denúncias de
ilícitos e crimes contra a relação de consumo.
➕ Medidas
provisórias entram em vigor assim que são publicadas, mas precisam ser votadas
e confirmadas pelo Congresso em até 120 dias. Caso isso não aconteça, o texto
perde validade.
O texto é assinado por Lula e pelo ministro da
Fazenda, Fernando Haddad – que, na véspera, já tinha anunciado a medida.
"Essa MP reforça tanto os princípios de não
oneração do Pix quanto as cláusulas de sigilo bancário do sistema, que foram
objeto de exploração por criminosos", afirmou.
<><> Recuo na fiscalização ampliada
O governo também revogou a norma da Receita
Federal, editada em setembro de 2024 e válida desde o início do ano, que
ampliava a fiscalização sobre transações com cartões de crédito e PIX.
A medida deixava claro que cabia à Receita
monitorar eventuais movimentações suspeitas mediadas por fintechs e
instituições de pagamento – bancos digitais e as operadoras de
"maquininhas", por exemplo.
A revogação foi publicada em edição extra do Diário
Oficial da União, no fim da noite de quarta.
<><> Governo desiste de monitorar o PIX
A decisão foi anunciada após o governo ser
bombardeado por ataques e notícias falsas de que essa fiscalização adicional
geraria uma nova taxação sobre as transferências.
Além disso, criminosos aproveitaram a polêmica para
aplicar uma série de golpes financeiros país afora – incluindo a emissão de
"boletos" falsos da tal tributação, que nunca existiu.
Na avaliação do governo, anular a medida e recuar
foi a única solução possível para cessar os ataques e colocar fim à polêmica
sobre o PIX.
<><> O recuo do governo
A instrução normativa da Receita Federal ampliava a
fiscalização sobre operações financeiras. A medida previa que instituições de
pagamento, como operadoras de cartão e carteiras digitais, enviassem dados à
Receita quando valores ultrapassassem:
·
R$ 5 mil, para pessoas físicas;
·
R$ 15 mil, para empresas.
Esses dados já eram coletados de bancos
tradicionais para operações como Pix, aplicações financeiras e investimentos.
No entanto, a fiscalização acontece apenas para operações em cartões e
depósitos quando os valores excedem R$ 2 mil para pessoa física e R$ 6 mil no caso
de pessoa jurídica.
Fonte: g1
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