Doenças
cardíacas comuns podem aumentar o risco de demência
Manter o cérebro afiado
à medida que você envelhece tem muito a ver com o coração — e quanto mais cedo
você começar a cuidar dele, melhor. É o que aponta uma nova declaração
científica publicada nesta quinta-feira (10) pela Associação Americana do
Coração (AMA).
“A demência é comumente vista como uma doença
incurável e implacável que não pode ser prevenida”, diz o pesquisador Fernando
Testai, professor de neurologia e reabilitação da Faculdade de Medicina da
Universidade de Illinois em Chicago, no comunicado.
“No entanto, as
evidências mostram que adotar um estilo de vida saudável e identificar e tratar
precocemente os fatores de risco vasculares podem ajudar a preservar a função
cerebral normal e reduzir o peso da doença de Alzheimer e outras demências
relacionadas”, acrescenta Testai, que presidiu o grupo que redigiu a declaração.
Cerca de 130 milhões de
adultos nos Estados Unidos têm algum tipo de doença cardíaca, segundo a AHA.
Adotar um estilo de vida saudável para o coração deve começar cedo na vida, até
mesmo antes do nascimento de um bebê, segundo o médico Andrew Freeman, diretor
de prevenção cardiovascular e bem-estar no hospital National Jewish Health, em
Denver.
“Esse chamado à ação é especialmente crítico
agora, porque tantos americanos têm algum tipo de doença cardíaca e as pessoas
estão ficando mais doentes cada vez mais cedo na vida”, acrescentou Freeman,
que não participou da redação da declaração da AHA.
“A maldição típica americana é que todos
trabalhamos duro a vida inteira”, aponta Freeman. “Economizamos nosso dinheiro,
nos preparamos para a aposentadoria e, em seguida, esperamos por ataques
cardíacos, derrames, demência — doenças que são potencialmente evitáveis se
agirmos cedo o suficiente e mudarmos nossos estilos de vida.”
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Demência e placas nas artérias
A doença arterial
coronariana (DAC), que é o acúmulo de placas nas artérias do corpo, é a
principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS). As mortes por doença arterial coronariana aumentaram de 6,4 milhões em
2000 para 9,1 milhões em 2021, segundo a OMS.
A doença também afeta o
cérebro. O estreitamento das artérias que ocorre com a doença cardíaca
coronariana e a pressão alta pode reduzir o fluxo sanguíneo e causar danos aos
pequenos vasos sanguíneos no cérebro, resultando em comprometimento cognitivo,
disse a AHA. A pressão alta e o diabetes tipo 2 também podem reduzir o fluxo
sanguíneo para o cérebro e aumentar a inflamação, levando ao declínio cognitivo
e à demência.
Ter DAC aumenta o risco
de demência futura em 27% em comparação com pessoas sem a doença cardíaca, diz
a declaração da AHA. A doença pode começar na faixa dos 40 ou 50 anos, muitas
vezes sem sintomas visíveis para alertar a pessoa sobre o perigo.
<><> Ataques
cardíacos e insuficiência cardíaca
A cada 40 segundos,
alguém nos Estados Unidos terá um ataque cardíaco, estima a AHA. Depois que
isso acontece, até 50% dos sobreviventes experimentam perda de função cerebral,
com alguns apresentando um declínio mais acentuado em comprometimento
cognitivo, de acordo com a AHA.
A insuficiência cardíaca
é uma forma mais grave de doença cardíaca, na qual o coração está fraco demais
para bombear sangue e oxigênio suficientes para os órgãos do corpo. Segundo a
nova declaração científica, até 81% das pessoas com insuficiência cardíaca
podem apresentar algum tipo de declínio cognitivo que afeta a memória, a
linguagem ou a capacidade de pensar e planejar.
“Evidências emergentes
sugerem que a relação bidirecional entre o coração e o cérebro é mais profunda
do que pensávamos”, escreveu Testai por e-mail. “Os fatores de risco vasculares
associados às doenças cardíacas, como o diabetes, podem aumentar os níveis de
beta-amiloide no cérebro, que é reconhecido como um marcador-chave da doença de
Alzheimer.”
“Em contrapartida, a
beta-amiloide foi encontrada no coração e está associada à disfunção cardíaca”,
acrescentou o pesquisador. “Essas descobertas sugerem uma conexão bioquímica fundamental
entre o coração e o cérebro.”
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Fibrilação atrial e demência
A fibrilação atrial é
uma arritmia cardíaca muitas
vezes descrita por pessoas que a têm como uma “tremedeira”, “vibração” ou
“reviravolta” no coração dentro do peito.
A fibrilação atrial é a
principal causa de derrame nos Estados Unidos. Além disso, os derrames
conectados a essa doença tendem a ser “mais graves do que os derrames com
outras causas subjacentes”, segundo os Centros de Controle e Prevenção de
Doenças do país.
Pequenos sangramentos no
cérebro, chamados de micro-hemorragias, que podem levar ao declínio cognitivo,
são mais comuns em pessoas com fibrilação atrial, segundo a nova declaração
científica. Na verdade, pessoas com essa condição têm um risco 39% maior de
problemas de memória ou pensamento.
A taxa de fibrilação
atrial nos Estados Unidos está crescendo. Estimativas sugerem que até 16
milhões de pessoas terão a doença até 2050.
<><> Foco em
mudanças no estilo de vida
A medicina moderna tem
medicamentos incríveis — como estatinas e medicamentos para reduzir o
colesterol — que podem prevenir ou retardar as doenças cardíacas, especialmente
se detectadas precocemente, observa Freeman. Exames regulares e tomar os
medicamentos prescritos diariamente são fundamentais para que isso aconteça,
acrescenta o médico.
No entanto, há um limite
para o que os medicamentos podem alcançar. Por exemplo, tratar a hipertensão de
forma agressiva mostrou promessa em reduzir o comprometimento cognitivo leve,
mas não a demência, disse a declaração da AHA.
“Os seres humanos foram
projetados para viver de maneira muito diferente da que vivemos hoje, e é
imperativo que as pessoas entendam o quanto o estilo de vida é incrivelmente
importante”, afirma Freeman.
Quais são os principais
fatores de estilo de vida que melhoram a saúde do cérebro? Nada que você já não
tenha ouvido antes.
<><> Priorize o sono
Estar bem descansado
melhora o humor, aumenta a energia e aguça o cérebro. Pessoas que têm mais
interrupções no sono durante os 30 ou 40 anos têm mais que o dobro de chances
de apresentar problemas de memória e pensamento uma década depois, descobriu um
estudo em janeiro.
O “ponto ideal” para o sono
restaurador é quando você pode dormir continuamente pelos quatro estágios do
sono quatro a seis vezes a cada noite. Como cada ciclo dura aproximadamente 90 minutos, a maioria das pessoas precisa de sete a oito horas de sono
relativamente ininterrupto para atingir esse objetivo.
<><> Concentre-se nos nutrientes
Certifique-se de comer
uma dieta mais saudável à base de plantas, como a premiada dieta mediterrânea.
Um estudo de agosto
descobriu que comer uma dieta anti-inflamatória de grãos integrais, frutas e
vegetais, em vez de uma dieta inflamatória focada em carnes vermelhas e
processadas e alimentos ultraprocessados, como cereais açucarados,
refrigerantes, batatas fritas e sorvete, reduziu o risco de demência em 31%.
Esse benefício se
manteve mesmo para pessoas com diagnósticos existentes de condições
cardiometabólicas, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas e derrames.
<><> Reduza o estresse
Níveis elevados de cortisol — o chamado hormônio do estresse — foram associados a danos
nas partes do cérebro que movimentam e gerenciam informações, segundo um estudo
de outubro de 2018. Outro estudo publicado em março de 2023 descobriu que pessoas
com níveis elevados de estresse tinham 37% mais chances de apresentar cognição
ruim.
O estresse não é
inerentemente ruim, e adotar maneiras de encarar os estressores como desafios
saudáveis pode ajudar, dizem especialistas. Outras maneiras incluem dormir
bastante, comer alimentos saudáveis e limitar o tempo acompanhando as notícias
ou se envolvendo em redes sociais, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Também ajuda a manter-se
conectado com outras pessoas e a empregar práticas calmantes, como meditação e
respiração profunda. Uma das ferramentas mais eficazes, no entanto, é a
atividade física.
<><> Isso mesmo — o exercício é
fundamental
Se há apenas uma mudança
no estilo de vida que você pode fazer, foque no exercício, disse Freeman. Os
adultos devem fazer 150 minutos de atividade de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana, junto com
treinamento de força, segundo o CDC. Você sabe que está fazendo exercício
moderado quando está respirando forte e não consegue cantar uma música, mas
ainda consegue falar. Atividades vigorosas, como correr, nadar ou jogar
basquete, dificultarão até a fala.
O aumento da atividade
beneficia todo o corpo, incluindo o cérebro, conforme mostraram estudos. Uma
pesquisa de setembro de 2022 descobriu que pessoas que caminhavam em um ritmo
muito rápido de 112 passos por minuto por 30 minutos ao dia reduziram o risco
de demência em 62%.
Não tem um contador de
passos? Você pode contar o número de passos que dá em 10 segundos e, em
seguida, multiplicar por seis — ou o número de passos que dá em seis segundos e
multiplicar por 10. Ambas as maneiras funcionam.
“A atividade física é simplesmente
magnífica”, disse Freeman à CNN. “E
quando você mistura isso com comer uma dieta mais baseada em plantas, reduzir o
estresse, dormir o suficiente e se conectar com os outros — essa é a sua
receita mágica. É a fonte da juventude, por assim dizer”.
¨ Carnes
processadas elevam risco de hipertensão, mostra estudo brasileiro
O consumo moderado das
chamadas carnes processadas é suficiente para aumentar o risco de hipertensão
arterial, segundo estudo publicado no periódico científico Nutrition. Entre os
integrantes desse grupo estão linguiça, salsicha, mortadela, presunto,
hambúrguer, copa, salame, bacon e, inclusive, itens considerados “inofensivos”,
caso do blanquet e do peito de peru.
Para estabelecer a
relação, o estudo utilizou
dados vindos do ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), pesquisa
que acompanha, desde 2008, mais de 15 mil servidores públicos e aposentados de
universidades e instituições localizadas nos estados da Bahia, Espírito Santo,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.
Além de informações –
obtidas por meio de questionários – sobre estilo de vida, com destaque para
hábitos alimentares, foram esmiuçados dados de exames clínicos, como a medida
da pressão arterial, e análises de níveis de colesterol, potássio e sódio, por exemplo.
Entre os grandes
consumidores de carnes processadas, observou-se uma maior incidência de hipertensão arterial. “Também
avaliamos a ingestão de carnes vermelhas, mas não encontramos essa relação”,
comenta a autora do estudo, a enfermeira Michelle Izabel Ferreira Mendes,
da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais.
Segundo Maria del Carmen
Bisi Molina, nutricionista e orientadora do trabalho, trata-se do primeiro
estudo longitudinal – que usa dados de indivíduos seguidos por longos períodos
– a investigar tal associação no país. “As descobertas reforçam o papel da
dieta na prevenção de doenças”, afirma Molina.
Sobre os mecanismos por
trás do elo, a principal hipótese é a alta concentração de sódio encontrada
nesses alimentos. Apesar de desempenhar funções essenciais, inclusive ao
sistema nervoso, extrapolar a quantia desse mineral favorece a retenção de água
e, quanto maior o volume líquido na corrente sanguínea, maior a probabilidade
de a pressão arterial subir.
“E há indícios de que a
ingestão crônica e excessiva favorece a disfunção endotelial”, relata Mendes. A
pesquisadora refere-se ao revestimento celular envolvido na dilatação e
relaxamento das artérias. Não bastasse o acúmulo de sódio, as carnes
processadas costumam carregar gordura saturada, mais um nutriente que, em
excesso, pode causar danos cardiovasculares.
Saindo das questões do
coração, vale mencionar que o exagero, especialmente de embutidos – salsichas,
linguiças, salames – está associado ao aumento no risco de câncer. “Existem
evidências bem consolidadas, sobretudo em relação aos tumores de intestino”,
avisa a nutricionista Giuliana Modenezi, do Espaço Einstein Esporte e
Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.
Por tudo isso, não há
recomendação de consumo segura. “A sugestão é degustar em eventos esporádicos,
seja um pedaço de linguiça no churrasco ou um cachorro-quente na festa de aniversário”,
exemplifica Molina.
Mas a população
brasileira é bastante fã desses alimentos e, segundo as especialistas,
pesquisas mostram um crescimento na ingestão desses produtos, até pela questão
do preço, que tende a ser mais baixo.
<><> Os
aliados cardiovasculares
Voltando às artérias,
além de evitar as carnes processadas, algumas estratégias alimentares são
bem-vindas para combater a hipertensão e todos os prejuízos atrelados.
A nutricionista do
Einstein aponta alguns nutrientes-chave, que se destacam em estudos. “O
potássio ajuda no equilíbrio de níveis de sódio no organismo e promove a
dilatação dos vasos sanguíneos”, explica. Banana, abacate e batata são fontes.
Magnésio e cálcio também são minerais envolvidos na regulação da pressão, e as
castanhas, feijões, verduras, leite e seus derivados oferecem a dupla.
“A literatura científica
aponta ainda a atuação dos antioxidantes”, lembra Modenezi. Compostos
fenólicos, carotenoides, entre outras famílias de substâncias, presentes em
frutas, verduras e legumes, aparecem em artigos pelo papel em prol das
artérias. Fibras reforçam a proteção, isso porque existem evidências de que
zelar pela microbiota intestinal afasta inflamações, feito essencial para a
saúde cardiovascular.
É possível juntar todos
esses ingredientes protetores em algumas dietas. Saiba mais sobre algumas
delas:
<><> DASH
Trata-se da sigla para
Dietary Approaches to Stop Hypertension ou Dieta para Combater a Hipertensão,
em bom português. O plano alimentar foi desenvolvido por cientistas dos Estados
Unidos há mais de duas décadas, justamente para ajudar no controle da pressão
arterial.
Frutas e hortaliças têm
lugar garantido. Grãos e cereais, nas versões integrais, além de oleaginosas,
ou seja, castanhas e afins, bem como sementes, e a turma das leguminosas
(feijões, ervilha, grão-de-bico) marcam presença. Há ainda espaço para queijos,
iogurtes e leite, preferencialmente desnatados.
Na DASH, recomenda-se
redobrar o cuidado com o sal, tanto o vindo de produtos industrializados quanto
o que é colocado no preparo da comida. Uma sugestão saborosa é incrementar as
receitas com ervas e especiarias.
Dieta mediterrânea
Aqui também há espaço
privilegiado para vegetais em
todas as formas. E, claro, um dos destaques é o azeite de oliva, cuja
formulação acumula substâncias protetoras.
Mas não é preciso buscar
opções estrangeiras para compor o prato. Afinal, dispomos de uma grande
diversidade de frutos, verduras e legumes.
Vale ressaltar que a
dieta vai muito além do cardápio: inclui atividade física ao ar livre, descanso
e o controle do estresse.
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Para ter à mão
Além do aclamado Guia
Alimentar para a População Brasileira, o Ministério da Saúde desenvolveu uma
cartilha que traz informações sobre alimentação cardioprotetora, baseada nas
cores da bandeira do Brasil. Os itens do grupo verde são aqueles que podemos
consumir em maior quantidade. “Entram frutas, hortaliças, leguminosas e lácteos
desnatados”, diz Giuliana Modenezi, do Einstein.
Já no grupo amarelo, que
pede moderação, estão pães, macarrão e doces caseiros. No azul, a recomendação
é para ainda mais parcimônia: vale para queijos amarelos, farinhas, ovos, entre
outros.
Há também a cor
vermelha, que não consta na bandeira, e refere-se ao que deve ser evitado.
“Aqui são os alimentos ultraprocessados”, avisa Modenezi. Salgadinhos, comida
congelada pronta (lasanha, pizza etc.) e biscoitos recheados são exemplos.
Aliás, manter distância de produtos desse tipo protege não só as artérias, mas
todo o organismo.
Fonte: CNN Brasil
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