sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Doenças cardíacas comuns podem aumentar o risco de demência

Manter o cérebro afiado à medida que você envelhece tem muito a ver com o coração — e quanto mais cedo você começar a cuidar dele, melhor. É o que aponta uma nova declaração científica publicada nesta quinta-feira (10) pela Associação Americana do Coração (AMA).

“A demência é comumente vista como uma doença incurável e implacável que não pode ser prevenida”, diz o pesquisador Fernando Testai, professor de neurologia e reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de Illinois em Chicago, no comunicado.

“No entanto, as evidências mostram que adotar um estilo de vida saudável e identificar e tratar precocemente os fatores de risco vasculares podem ajudar a preservar a função cerebral normal e reduzir o peso da doença de Alzheimer e outras demências relacionadas”, acrescenta Testai, que presidiu o grupo que redigiu a declaração.

Cerca de 130 milhões de adultos nos Estados Unidos têm algum tipo de doença cardíaca, segundo a AHA. Adotar um estilo de vida saudável para o coração deve começar cedo na vida, até mesmo antes do nascimento de um bebê, segundo o médico Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar no hospital National Jewish Health, em Denver.

 “Esse chamado à ação é especialmente crítico agora, porque tantos americanos têm algum tipo de doença cardíaca e as pessoas estão ficando mais doentes cada vez mais cedo na vida”, acrescentou Freeman, que não participou da redação da declaração da AHA.

 “A maldição típica americana é que todos trabalhamos duro a vida inteira”, aponta Freeman. “Economizamos nosso dinheiro, nos preparamos para a aposentadoria e, em seguida, esperamos por ataques cardíacos, derrames, demência — doenças que são potencialmente evitáveis se agirmos cedo o suficiente e mudarmos nossos estilos de vida.”

                                 <><> Demência e placas nas artérias

A doença arterial coronariana (DAC), que é o acúmulo de placas nas artérias do corpo, é a principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). As mortes por doença arterial coronariana aumentaram de 6,4 milhões em 2000 para 9,1 milhões em 2021, segundo a OMS.

A doença também afeta o cérebro. O estreitamento das artérias que ocorre com a doença cardíaca coronariana e a pressão alta pode reduzir o fluxo sanguíneo e causar danos aos pequenos vasos sanguíneos no cérebro, resultando em comprometimento cognitivo, disse a AHA. A pressão alta e o diabetes tipo 2 também podem reduzir o fluxo sanguíneo para o cérebro e aumentar a inflamação, levando ao declínio cognitivo e à demência.

Ter DAC aumenta o risco de demência futura em 27% em comparação com pessoas sem a doença cardíaca, diz a declaração da AHA. A doença pode começar na faixa dos 40 ou 50 anos, muitas vezes sem sintomas visíveis para alertar a pessoa sobre o perigo.

<><> Ataques cardíacos e insuficiência cardíaca

A cada 40 segundos, alguém nos Estados Unidos terá um ataque cardíaco, estima a AHA. Depois que isso acontece, até 50% dos sobreviventes experimentam perda de função cerebral, com alguns apresentando um declínio mais acentuado em comprometimento cognitivo, de acordo com a AHA.

A insuficiência cardíaca é uma forma mais grave de doença cardíaca, na qual o coração está fraco demais para bombear sangue e oxigênio suficientes para os órgãos do corpo. Segundo a nova declaração científica, até 81% das pessoas com insuficiência cardíaca podem apresentar algum tipo de declínio cognitivo que afeta a memória, a linguagem ou a capacidade de pensar e planejar.

“Evidências emergentes sugerem que a relação bidirecional entre o coração e o cérebro é mais profunda do que pensávamos”, escreveu Testai por e-mail. “Os fatores de risco vasculares associados às doenças cardíacas, como o diabetes, podem aumentar os níveis de beta-amiloide no cérebro, que é reconhecido como um marcador-chave da doença de Alzheimer.”

“Em contrapartida, a beta-amiloide foi encontrada no coração e está associada à disfunção cardíaca”, acrescentou o pesquisador. “Essas descobertas sugerem uma conexão bioquímica fundamental entre o coração e o cérebro.”

<><> Fibrilação atrial e demência

A fibrilação atrial é uma arritmia cardíaca muitas vezes descrita por pessoas que a têm como uma “tremedeira”, “vibração” ou “reviravolta” no coração dentro do peito.

A fibrilação atrial é a principal causa de derrame nos Estados Unidos. Além disso, os derrames conectados a essa doença tendem a ser “mais graves do que os derrames com outras causas subjacentes”, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país.

Pequenos sangramentos no cérebro, chamados de micro-hemorragias, que podem levar ao declínio cognitivo, são mais comuns em pessoas com fibrilação atrial, segundo a nova declaração científica. Na verdade, pessoas com essa condição têm um risco 39% maior de problemas de memória ou pensamento.

A taxa de fibrilação atrial nos Estados Unidos está crescendo. Estimativas sugerem que até 16 milhões de pessoas terão a doença até 2050.

<><> Foco em mudanças no estilo de vida

A medicina moderna tem medicamentos incríveis — como estatinas e medicamentos para reduzir o colesterol — que podem prevenir ou retardar as doenças cardíacas, especialmente se detectadas precocemente, observa Freeman. Exames regulares e tomar os medicamentos prescritos diariamente são fundamentais para que isso aconteça, acrescenta o médico.

No entanto, há um limite para o que os medicamentos podem alcançar. Por exemplo, tratar a hipertensão de forma agressiva mostrou promessa em reduzir o comprometimento cognitivo leve, mas não a demência, disse a declaração da AHA.

“Os seres humanos foram projetados para viver de maneira muito diferente da que vivemos hoje, e é imperativo que as pessoas entendam o quanto o estilo de vida é incrivelmente importante”, afirma Freeman.

Quais são os principais fatores de estilo de vida que melhoram a saúde do cérebro? Nada que você já não tenha ouvido antes.

<><> Priorize o sono

Estar bem descansado melhora o humor, aumenta a energia e aguça o cérebro. Pessoas que têm mais interrupções no sono durante os 30 ou 40 anos têm mais que o dobro de chances de apresentar problemas de memória e pensamento uma década depois, descobriu um estudo em janeiro.

O “ponto ideal” para o sono restaurador é quando você pode dormir continuamente pelos quatro estágios do sono quatro a seis vezes a cada noite. Como cada ciclo dura aproximadamente 90 minutos, a maioria das pessoas precisa de sete a oito horas de sono relativamente ininterrupto para atingir esse objetivo.

<><> Concentre-se nos nutrientes

Certifique-se de comer uma dieta mais saudável à base de plantas, como a premiada dieta mediterrânea.

Um estudo de agosto descobriu que comer uma dieta anti-inflamatória de grãos integrais, frutas e vegetais, em vez de uma dieta inflamatória focada em carnes vermelhas e processadas e alimentos ultraprocessados, como cereais açucarados, refrigerantes, batatas fritas e sorvete, reduziu o risco de demência em 31%.

Esse benefício se manteve mesmo para pessoas com diagnósticos existentes de condições cardiometabólicas, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas e derrames.

<><> Reduza o estresse

Níveis elevados de cortisol — o chamado hormônio do estresse — foram associados a danos nas partes do cérebro que movimentam e gerenciam informações, segundo um estudo de outubro de 2018. Outro estudo publicado em março de 2023 descobriu que pessoas com níveis elevados de estresse tinham 37% mais chances de apresentar cognição ruim.

O estresse não é inerentemente ruim, e adotar maneiras de encarar os estressores como desafios saudáveis pode ajudar, dizem especialistas. Outras maneiras incluem dormir bastante, comer alimentos saudáveis e limitar o tempo acompanhando as notícias ou se envolvendo em redes sociais, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Também ajuda a manter-se conectado com outras pessoas e a empregar práticas calmantes, como meditação e respiração profunda. Uma das ferramentas mais eficazes, no entanto, é a atividade física.

<><> Isso mesmo — o exercício é fundamental

Se há apenas uma mudança no estilo de vida que você pode fazer, foque no exercício, disse Freeman. Os adultos devem fazer 150 minutos de atividade de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana, junto com treinamento de força, segundo o CDC. Você sabe que está fazendo exercício moderado quando está respirando forte e não consegue cantar uma música, mas ainda consegue falar. Atividades vigorosas, como correr, nadar ou jogar basquete, dificultarão até a fala.

O aumento da atividade beneficia todo o corpo, incluindo o cérebro, conforme mostraram estudos. Uma pesquisa de setembro de 2022 descobriu que pessoas que caminhavam em um ritmo muito rápido de 112 passos por minuto por 30 minutos ao dia reduziram o risco de demência em 62%.

Não tem um contador de passos? Você pode contar o número de passos que dá em 10 segundos e, em seguida, multiplicar por seis — ou o número de passos que dá em seis segundos e multiplicar por 10. Ambas as maneiras funcionam.

“A atividade física é simplesmente magnífica”, disse Freeman à CNN. “E quando você mistura isso com comer uma dieta mais baseada em plantas, reduzir o estresse, dormir o suficiente e se conectar com os outros — essa é a sua receita mágica. É a fonte da juventude, por assim dizer”.

¨      Carnes processadas elevam risco de hipertensão, mostra estudo brasileiro

O consumo moderado das chamadas carnes processadas é suficiente para aumentar o risco de hipertensão arterial, segundo estudo publicado no periódico científico Nutrition. Entre os integrantes desse grupo estão linguiça, salsicha, mortadela, presunto, hambúrguer, copa, salame, bacon e, inclusive, itens considerados “inofensivos”, caso do blanquet e do peito de peru.

Para estabelecer a relação, o estudo utilizou dados vindos do ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), pesquisa que acompanha, desde 2008, mais de 15 mil servidores públicos e aposentados de universidades e instituições localizadas nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

Além de informações – obtidas por meio de questionários – sobre estilo de vida, com destaque para hábitos alimentares, foram esmiuçados dados de exames clínicos, como a medida da pressão arterial, e análises de níveis de colesterol, potássio e sódio, por exemplo.

Entre os grandes consumidores de carnes processadas, observou-se uma maior incidência de hipertensão arterial. “Também avaliamos a ingestão de carnes vermelhas, mas não encontramos essa relação”, comenta a autora do estudo, a enfermeira Michelle Izabel Ferreira Mendes, da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais.

Segundo Maria del Carmen Bisi Molina, nutricionista e orientadora do trabalho, trata-se do primeiro estudo longitudinal – que usa dados de indivíduos seguidos por longos períodos – a investigar tal associação no país. “As descobertas reforçam o papel da dieta na prevenção de doenças”, afirma Molina.

Sobre os mecanismos por trás do elo, a principal hipótese é a alta concentração de sódio encontrada nesses alimentos. Apesar de desempenhar funções essenciais, inclusive ao sistema nervoso, extrapolar a quantia desse mineral favorece a retenção de água e, quanto maior o volume líquido na corrente sanguínea, maior a probabilidade de a pressão arterial subir.

“E há indícios de que a ingestão crônica e excessiva favorece a disfunção endotelial”, relata Mendes. A pesquisadora refere-se ao revestimento celular envolvido na dilatação e relaxamento das artérias. Não bastasse o acúmulo de sódio, as carnes processadas costumam carregar gordura saturada, mais um nutriente que, em excesso, pode causar danos cardiovasculares.

Saindo das questões do coração, vale mencionar que o exagero, especialmente de embutidos – salsichas, linguiças, salames – está associado ao aumento no risco de câncer. “Existem evidências bem consolidadas, sobretudo em relação aos tumores de intestino”, avisa a nutricionista Giuliana Modenezi, do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.

Por tudo isso, não há recomendação de consumo segura. “A sugestão é degustar em eventos esporádicos, seja um pedaço de linguiça no churrasco ou um cachorro-quente na festa de aniversário”, exemplifica Molina.

Mas a população brasileira é bastante fã desses alimentos e, segundo as especialistas, pesquisas mostram um crescimento na ingestão desses produtos, até pela questão do preço, que tende a ser mais baixo.

<><> Os aliados cardiovasculares

Voltando às artérias, além de evitar as carnes processadas, algumas estratégias alimentares são bem-vindas para combater a hipertensão e todos os prejuízos atrelados.

A nutricionista do Einstein aponta alguns nutrientes-chave, que se destacam em estudos. “O potássio ajuda no equilíbrio de níveis de sódio no organismo e promove a dilatação dos vasos sanguíneos”, explica. Banana, abacate e batata são fontes. Magnésio e cálcio também são minerais envolvidos na regulação da pressão, e as castanhas, feijões, verduras, leite e seus derivados oferecem a dupla.

“A literatura científica aponta ainda a atuação dos antioxidantes”, lembra Modenezi. Compostos fenólicos, carotenoides, entre outras famílias de substâncias, presentes em frutas, verduras e legumes, aparecem em artigos pelo papel em prol das artérias. Fibras reforçam a proteção, isso porque existem evidências de que zelar pela microbiota intestinal afasta inflamações, feito essencial para a saúde cardiovascular.

É possível juntar todos esses ingredientes protetores em algumas dietas. Saiba mais sobre algumas delas:

<><> DASH

Trata-se da sigla para Dietary Approaches to Stop Hypertension ou Dieta para Combater a Hipertensão, em bom português. O plano alimentar foi desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos há mais de duas décadas, justamente para ajudar no controle da pressão arterial.

Frutas e hortaliças têm lugar garantido. Grãos e cereais, nas versões integrais, além de oleaginosas, ou seja, castanhas e afins, bem como sementes, e a turma das leguminosas (feijões, ervilha, grão-de-bico) marcam presença. Há ainda espaço para queijos, iogurtes e leite, preferencialmente desnatados.

Na DASH, recomenda-se redobrar o cuidado com o sal, tanto o vindo de produtos industrializados quanto o que é colocado no preparo da comida. Uma sugestão saborosa é incrementar as receitas com ervas e especiarias.

Dieta mediterrânea

Aqui também há espaço privilegiado para vegetais em todas as formas. E, claro, um dos destaques é o azeite de oliva, cuja formulação acumula substâncias protetoras.

Mas não é preciso buscar opções estrangeiras para compor o prato. Afinal, dispomos de uma grande diversidade de frutos, verduras e legumes.

Vale ressaltar que a dieta vai muito além do cardápio: inclui atividade física ao ar livre, descanso e o controle do estresse.

                                             <><> Para ter à mão

Além do aclamado Guia Alimentar para a População Brasileira, o Ministério da Saúde desenvolveu uma cartilha que traz informações sobre alimentação cardioprotetora, baseada nas cores da bandeira do Brasil. Os itens do grupo verde são aqueles que podemos consumir em maior quantidade. “Entram frutas, hortaliças, leguminosas e lácteos desnatados”, diz Giuliana Modenezi, do Einstein.

Já no grupo amarelo, que pede moderação, estão pães, macarrão e doces caseiros. No azul, a recomendação é para ainda mais parcimônia: vale para queijos amarelos, farinhas, ovos, entre outros.

Há também a cor vermelha, que não consta na bandeira, e refere-se ao que deve ser evitado. “Aqui são os alimentos ultraprocessados”, avisa Modenezi. Salgadinhos, comida congelada pronta (lasanha, pizza etc.) e biscoitos recheados são exemplos. Aliás, manter distância de produtos desse tipo protege não só as artérias, mas todo o organismo.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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