É seguro tomar água
da torneira? O que diz a ciência
A maioria dos
residentes dos Estados Unidos não precisa se preocupar com a segurança da
água de sua torneira, mas milhões de norte-americanos e demais pessoas no
mundo inteiro ainda são expostos a contaminações na água todos os
anos.
Pode ser necessária
uma crise hídrica para destacar onde a infraestrutura de água potável está
falhando.
Uma das crises
hídricas mais devastadoras da memória recente foi a contaminação por chumbo na água
potável de Flint, no estado norte-americano de Michigan, em 2014. Em janeiro de
2023, nove anos após a contaminação inicial, os residentes ainda estão lidando
com os efeitos. E em 2022, uma crise hídrica em Jackson, no Mississippi (também
nos Estados Unidos), deixou muitos dos 150 mil residentes da cidade sem água
potável.
Aqui, especialistas
em água potável da EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos),
do meio acadêmico e de grupos de defesa ambiental ponderam
sobre o que você precisa saber sobre a água da sua torneira.
·
O
que é comum encontrar na água da torneira?
Nos Estados
Unidos, cerca de 90% das pessoas obtêm água da torneira em um sistema
público de água (PWS). A água de um lago, reservatório, rio ou aquífero é
canalizada para uma instalação de tratamento de água, onde são
adicionados produtos químicos à água que se ligam aos poluentes e são
peneirados para fora do sistema. Algumas instalações também usam luz
ultravioleta para matar bactérias.
Em
seguida, desinfetantes químicos, como cloro ou cloramina, são
adicionados à água para ajudar a matar todos os
patógenos remanescentes na água e todos os que possam estar à espreita nos
canos quando a água chega à sua casa.
No Brasil, em
locais que contam com rede de água tratada, a água que chega às
torneiras também passa por um tratamento semelhante. Porém, aqui o número de
pessoas que recebem o abastecimento de água tratada é cerca de 84,1%,
segundo dados da agência federal ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento
Básico).
Os subprodutos resultam
quando a água, por si só um produto químico, se mistura com os desinfetantes
químicos. Mas eles nem sempre são fáceis de identificar. Um novo
estudo isolou e definiu recentemente a cloronitroamida, um subproduto
da cloramina que está presente na água da torneira há anos, mas que é difícil
de identificar entre outros subprodutos. Não se sabe se é tóxico, mas o
estudo ilustra como pode ser complicado monitorar a água da torneira.
Algumas instalações
de tratamento de água nos Estados Unidos, por falta de financiamento ou
pouca supervisão, não limpam a água de forma eficaz. Em
2015, cerca de 21 milhões de pessoas que vivem lá foram expostas à água da
torneira que violava as diretrizes federais, de acordo com um estudo publicado
em 2018.
Níveis
inseguros e, portanto, ilegais de patógenos (bactérias e
vírus), nitratos, arsênico e subprodutos nocivos foram as fontes
mais comuns de violações, diz Maura Allaire, autora do estudo e especialista em
qualidade da água da Universidade da Califórnia, em Irvine.
·
Como
a água de torneira é regulada em alguns lugares?
Em 1974, o
Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei da Água Potável Segura, que deu à
Agência de Proteção Ambiental (EPA) a autoridade para regular a água
pública que chega às torneiras. No Brasil, o novo marco regulatório de
saneamento básico é a Lei nº 14.026 de 2020 que estabeleceu novas
diretrizes.
Quando algo
como o chumbo, por exemplo, é comprovadamente prejudicial à saúde
humana, nos Estados Unidos a EPA pode estabelecer um limite para a
quantidade permitida nos suprimentos de água. Os limites são baseados
na quantidade segura para consumo humano e no que é tecnologicamente viável
para as instalações de tratamento de água.
Mas esses
limites nem sempre resultam em uma água livre de contaminantes e produtos químicos tóxicos.
“Há uma lacuna
entre o que é legal e o que é seguro”, explica Sydney Evans, analista
científica do Environmental Working Group (EWG). Ela acrescenta que
muitas regulamentações são baseadas em ciência de décadas atrás, o que,
segundo o EWG, torna as regulamentações desatualizadas e insuficientes.
O EWG mantém seu
próprio banco de dados de água de torneira, no qual estabelece limites muito
mais rígidos do que a EPA, com base no que considera seguro para a saúde
humana. Seus limites são determinados por estudos revisados por pares,
pesquisas feitas por agências estaduais e cientistas da equipe.
·
O
que são PFAS, os produtos químicos que podem estar na água?
Digite “água potável” em sua barra de
pesquisa e, ultimamente, você provavelmente verá artigos sobre como ela
está cheia de PFAS, poluentes às vezes chamados de “produtos químicos eternos”.
PFAS (substâncias per e polifluor alquílicas) é um grupo de milhares
de produtos químicos com ligações químicas estreitas que os ajudam a
durar no ambiente por anos.
Alguns compostos
de PFAS foram associados a sérios problemas de saúde, como o câncer. Recentemente, a
EPA propôs novos limites para seis desses produtos químicos na água potável.
Estudos realizados sobre a água potável mostram que os PFAS são comuns nos
suprimentos de água potável em todos os Estados Unidos e, como resultado,
esses produtos químicos foram encontrados em nosso sangue.
As regras da EPA
propostas este mês seriam as primeiras a tratar significativamente da poluição
por PFAS em nível federal e abrem caminho para remover uma toxina que vem
contaminando a água potável há décadas.
·
E
quanto a outros contaminantes não regulamentados?
Novas regras para
contaminantes atualmente não regulamentados levarão tempo. Os PFAS, por exemplo, são
um perigo conhecido há anos, mas foi necessário um grande volume de evidências
e pesquisas para que uma regra pudesse ser proposta.
“Há um desafio
significativo”, diz Eric Burneson, diretor do Office of Ground Water and
Drinking Water da EPA, sobre a proposta de novas regulamentações.
“Precisamos de informações científicas robustas e precisamos de uma
revisão por pares dessas informações. Precisamos saber sobre nossa capacidade
de gerenciá-las. Podemos medi-lo? Podemos tratá-lo?”
As respostas a
essas perguntas ajudam a EPA a defender o custo potencial
da regulamentação de um novo produto químico.
Além dos 90
contaminantes que a EPA já regulamenta, há dezenas de outros que a
agência identificou como uma ameaça à saúde e à água da torneira. Eles incluem
66 produtos químicos, 12 micróbios e todos os PFAS, em vez dos seis que a
agência propôs recentemente limitar.
“Precisamos de mais
informações para avançar”, afirma Burneson sobre a regulamentação
de produtos químicos potencialmente prejudiciais, mas acrescenta: ‘Eles
podem estar na água potável e representam riscos’.
·
Quem
é mais afetado pela água potável contaminada?
As comunidades
rurais de baixa renda são as que enfrentam mais problemas para ter
acesso à água potável da torneira em todo o mundo. A proximidade com
a poluição agrícola, as águas
subterrâneas contaminadas e as instalações de tratamento com falta de
recursos ou de pessoal colocam essas comunidades em risco.
Uma análise de três
décadas de violações de água potável nos Estados Unidos constatou que alguns
estados tinham maior probabilidade de ter água potável de pior qualidade do que
outros. Os estados com centros agrícolas estavam particularmente em risco.
·
O
que você pode fazer se estiver preocupado com sua água de torneira?
A EPA exige que as
empresas de abastecimento de água publiquem relatórios anuais identificando
quaisquer riscos potenciais à saúde da comunidade em relação ao seu
abastecimento de água. Quando surgem riscos, garantir água potável pode custar
caro para as pessoas. Para emergências de curto prazo, como um aviso de água
fervente, a água engarrafada pode ser um recurso útil.
A água
engarrafada comprada e vendida nos Estados Unidos é regulamentada
pela Food and Drug Administration (FDA), que regulamenta a água com
base nos mesmos padrões que a EPA tem para a água da torneira. Estudos
realizados sobre a água engarrafada constataram que ela não é
mais limpa nem mais segura do que a água da torneira bem regulada, mas é
vendida por um preço várias vezes superior ao da água da torneira
e promove o desperdício de plástico, uma ameaça emergente à água potável.
Os filtros são
outra opção para lidar com as preocupações com a água da torneira. Eles
podem ser tão simples quanto os filtros relativamente baratos que cabem na sua
geladeira ou tão complexos quanto um sistema de filtragem de mil dólares
conectado ao encanamento da casa.
Fonte: National Geographic Brasil
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