sábado, 18 de janeiro de 2025

É seguro tomar água da torneira? O que diz a ciência

A maioria dos residentes dos Estados Unidos não precisa se preocupar com a segurança da água de sua torneira, mas milhões de norte-americanos e demais pessoas no mundo inteiro ainda são expostos a contaminações na água todos os anos. 

Pode ser necessária uma crise hídrica para destacar onde a infraestrutura de água potável está falhando.

Uma das crises hídricas mais devastadoras da memória recente foi a contaminação por chumbo na água potável de Flint, no estado norte-americano de Michigan, em 2014. Em janeiro de 2023, nove anos após a contaminação inicial, os residentes ainda estão lidando com os efeitos. E em 2022, uma crise hídrica em Jackson, no Mississippi (também nos Estados Unidos), deixou muitos dos 150 mil residentes da cidade sem água potável. 

Aqui, especialistas em água potável da EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), do meio acadêmico e de grupos de defesa ambiental ponderam sobre o que você precisa saber sobre a água da sua torneira. 

·        O que é comum encontrar na água da torneira?

Nos Estados Unidos, cerca de 90% das pessoas obtêm água da torneira em um sistema público de água (PWS). A água de um lago, reservatório, rio ou aquífero é canalizada para uma instalação de tratamento de água, onde são adicionados produtos químicos à água que se ligam aos poluentes e são peneirados para fora do sistema. Algumas instalações também usam luz ultravioleta para matar bactérias. 

Em seguida, desinfetantes químicos, como cloro ou cloramina, são adicionados à água para ajudar a matar todos os patógenos remanescentes na água e todos os que possam estar à espreita nos canos quando a água chega à sua casa. 

No Brasil, em locais que contam com rede de água tratada, a água que chega às torneiras também passa por um tratamento semelhante. Porém, aqui o número de pessoas que recebem o abastecimento de água tratada é cerca de 84,1%, segundo dados da agência federal ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).

Os subprodutos resultam quando a água, por si só um produto químico, se mistura com os desinfetantes químicos. Mas eles nem sempre são fáceis de identificar. Um novo estudo isolou e definiu recentemente a cloronitroamida, um subproduto da cloramina que está presente na água da torneira há anos, mas que é difícil de identificar entre outros subprodutos. Não se sabe se é tóxico, mas o estudo ilustra como pode ser complicado monitorar a água da torneira.

Algumas instalações de tratamento de água nos Estados Unidos, por falta de financiamento ou pouca supervisão, não limpam a água de forma eficaz. Em 2015, cerca de 21 milhões de pessoas que vivem lá foram expostas à água da torneira que violava as diretrizes federais, de acordo com um estudo publicado em 2018. 

Níveis inseguros e, portanto, ilegais de patógenos (bactérias e vírus), nitratos, arsênico e subprodutos nocivos foram as fontes mais comuns de violações, diz Maura Allaire, autora do estudo e especialista em qualidade da água da Universidade da Califórnia, em Irvine.

·        Como a água de torneira é regulada em alguns lugares?

Em 1974, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei da Água Potável Segura, que deu à Agência de Proteção Ambiental (EPA) a autoridade para regular a água pública que chega às torneiras. No Brasil, o novo marco regulatório de saneamento básico é a Lei nº 14.026 de 2020 que estabeleceu novas diretrizes.

Quando algo como o chumbo, por exemplo, é comprovadamente prejudicial à saúde humana, nos Estados Unidos a EPA pode estabelecer um limite para a quantidade permitida nos suprimentos de água. Os limites são baseados na quantidade segura para consumo humano e no que é tecnologicamente viável para as instalações de tratamento de água. 

Mas esses limites nem sempre resultam em uma água livre de contaminantes e produtos químicos tóxicos

“Há uma lacuna entre o que é legal e o que é seguro”, explica Sydney Evans, analista científica do Environmental Working Group (EWG). Ela acrescenta que muitas regulamentações são baseadas em ciência de décadas atrás, o que, segundo o EWG, torna as regulamentações desatualizadas e insuficientes.

O EWG mantém seu próprio banco de dados de água de torneira, no qual estabelece limites muito mais rígidos do que a EPA, com base no que considera seguro para a saúde humana. Seus limites são determinados por estudos revisados por pares, pesquisas feitas por agências estaduais e cientistas da equipe. 

·        O que são PFAS, os produtos químicos que podem estar na água? 

Digite “água potável” em sua barra de pesquisa e, ultimamente, você provavelmente verá artigos sobre como ela está cheia de PFAS, poluentes às vezes chamados de “produtos químicos eternos”. PFAS (substâncias per e polifluor alquílicas) é um grupo de milhares de produtos químicos com ligações químicas estreitas que os ajudam a durar no ambiente por anos.

Alguns compostos de PFAS foram associados a sérios problemas de saúde, como o câncer. Recentemente, a EPA propôs novos limites para seis desses produtos químicos na água potável. Estudos realizados sobre a água potável mostram que os PFAS são comuns nos suprimentos de água potável em todos os Estados Unidos e, como resultado, esses produtos químicos foram encontrados em nosso sangue.

As regras da EPA propostas este mês seriam as primeiras a tratar significativamente da poluição por PFAS em nível federal e abrem caminho para remover uma toxina que vem contaminando a água potável há décadas.

·        E quanto a outros contaminantes não regulamentados?

Novas regras para contaminantes atualmente não regulamentados levarão tempo. Os PFAS, por exemplo, são um perigo conhecido há anos, mas foi necessário um grande volume de evidências e pesquisas para que uma regra pudesse ser proposta. 

“Há um desafio significativo”, diz Eric Burneson, diretor do Office of Ground Water and Drinking Water da EPA, sobre a proposta de novas regulamentações. “Precisamos de informações científicas robustas e precisamos de uma revisão por pares dessas informações. Precisamos saber sobre nossa capacidade de gerenciá-las. Podemos medi-lo? Podemos tratá-lo?”

As respostas a essas perguntas ajudam a EPA a defender o custo potencial da regulamentação de um novo produto químico.

Além dos 90 contaminantes que a EPA já regulamenta, há dezenas de outros que a agência identificou como uma ameaça à saúde e à água da torneira. Eles incluem 66 produtos químicos, 12 micróbios e todos os PFAS, em vez dos seis que a agência propôs recentemente limitar. 

“Precisamos de mais informações para avançar”, afirma Burneson sobre a regulamentação de produtos químicos potencialmente prejudiciais, mas acrescenta: ‘Eles podem estar na água potável e representam riscos’. 

·        Quem é mais afetado pela água potável contaminada?

As comunidades rurais de baixa renda são as que enfrentam mais problemas para ter acesso à água potável da torneira em todo o mundo. A proximidade com a poluição agrícola, as águas subterrâneas contaminadas e as instalações de tratamento com falta de recursos ou de pessoal colocam essas comunidades em risco. 

Uma análise de três décadas de violações de água potável nos Estados Unidos constatou que alguns estados tinham maior probabilidade de ter água potável de pior qualidade do que outros. Os estados com centros agrícolas estavam particularmente em risco.

·        O que você pode fazer se estiver preocupado com sua água de torneira?

A EPA exige que as empresas de abastecimento de água publiquem relatórios anuais identificando quaisquer riscos potenciais à saúde da comunidade em relação ao seu abastecimento de água. Quando surgem riscos, garantir água potável pode custar caro para as pessoas. Para emergências de curto prazo, como um aviso de água fervente, a água engarrafada pode ser um recurso útil.  

A água engarrafada comprada e vendida nos Estados Unidos é regulamentada pela Food and Drug Administration (FDA), que regulamenta a água com base nos mesmos padrões que a EPA tem para a água da torneira. Estudos realizados sobre a água engarrafada constataram que ela não é mais limpa nem mais segura do que a água da torneira bem regulada, mas é vendida por um preço várias vezes superior ao da água da torneira e promove o desperdício de plástico, uma ameaça emergente à água potável. 

Os filtros são outra opção para lidar com as preocupações com a água da torneira. Eles podem ser tão simples quanto os filtros relativamente baratos que cabem na sua geladeira ou tão complexos quanto um sistema de filtragem de mil dólares conectado ao encanamento da casa.

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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