Glutamina: o que é
o aminoácido que fortalece imunidade
Se você acompanha
as tendências do mundo esportivo ou busca uma vida mais saudável e ativa, é
provável que já tenha ouvido falar dos suplementos de glutamina em pó.
Eles ganharam
popularidade pela promessa de melhorar o sistema imunológico, ou seja, aumentar
a capacidade do corpo de se defender contra doenças e infecções.
Embora a indústria
ofereça diversas versões desse suplemento, a glutamina já está presente no
nosso corpo, ocupando o lugar de aminoácido mais abundante entre os 20
encontrados nele.
Entenda abaixo a
função do aminoácido e por que a suplementação raramente é necessária.
·
O
que é a glutamina e para o que ela é importante
Em geral, os
aminoácidos funcionam como os "ingredientes principais" para formar
as proteínas, que por sua vez
desempenham funções vitais, como a construção muscular, o fortalecimento do
sistema imunológico e a recuperação de tecidos danificados (como após uma
lesão, quando o corpo precisa regenerar músculos ou pele).
E os músculos, além
de serem formados por proteínas, também têm a capacidade de sintetizar alguns
aminoácidos, como a glutamina — resumidamente, criando um ciclo de criação e consumo
que mantém o equilíbrio do corpo.
Cerca de 80% da
glutamina disponível no corpo é produzida nos músculos — o resto
fica por conta de outros órgãos, como os pulmões, o fígado e os rins.
Os aminoácidos
podem ser classificados como essenciais, que precisam ser obtidos por meio da
alimentação, ou não essenciais, aqueles que o corpo é capaz de sintetizar por
conta própria — como a glutamina.
Uma pessoa
saudável, com uma alimentação rica em proteínas — incluindo carnes magras,
peixes, ovos, laticínios, leguminosas (como feijão e lentilha) e oleaginosas
(como nozes e amêndoas) — e com uma boa saúde muscular, é capaz de produzir
naturalmente uma quantidade adequada de glutamina, sem a necessidade de
suplementação.
"Além disso,
há muitas dúvidas sobre a suplementação de L-glutamina, que é a forma isolada
do aminoácido. Quando a glutamina é ingerida oralmente, a maior parte dela não
chega a ser liberada na corrente sanguínea, ou seja, não há um aumento na
disponibilidade para o organismo", descreve Daniela Caetano Gonçalves,
professora do Instituto de Saúde e Sociedade da Universidade Federal de São
Paulo (ISS/Unifesp) — Campus Baixada Santista.
A nutricionista
esportiva Julia Engel, pós-graduada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro) explica que a fama de glutamina como 'agente' importante na imunidade
do corpo humano faz sentido, sim, mas acrescentar mais desse aminoácido
na dieta por meio
de suplementos não aumenta
esse poder.
"A glutamina
é, de fato, um substrato essencial para as células do sistema imunológico, pois
é uma fonte importante de energia para células que se dividem rapidamente, como
as do sistema imunológico. A teoria é que, ao aumentar a disponibilidade de
glutamina, seria possível melhorar o funcionamento do sistema imunológico, mas
não há comprovação científica para isso", descreve ela, que
é host do podcast Em Busca da Performance.
O aminoácido também
participa de outras ações importantes no corpo.
"A glutamina
desempenha uma função crucial em situações que exigem intensa formação celular,
como em processos de cicatrização ou regeneração", aponta Gonçalves.
"A glutamina
também desempenha um papel importante em situações que exigem um rápido
rearranjo intestinal. Por exemplo, em casos de danos ou perda de células
intestinais, como em infecções alimentares, onde parte dessas células é
destruída, há uma necessidade de uma replicação celular mais rápida. Nesse
contexto, pode ser um aminoácido útil para esse processo."
·
Quando
faria sentido suplementar?
Existem, no
entanto, situações em que a glutamina pode ser considerada
"condicionalmente essencial".
Isso significa que,
em casos de estresse físico extremo, como queimaduras graves, sepse ou treinos
de altíssima intensidade e longa duração, a suplementação pode ser bem-vinda.
Nesses cenários, de
acordo com as especialistas consultadas pela BBC News Brasil, a produção
natural de glutamina pelo corpo pode não ser suficiente para atender às
demandas aumentadas — mas cada caso deve ser avaliado individualmente e por um
profissional da área da saúde.
Durante esses
períodos de estresse, a glutamina pode
ser utilizada como substrato energético, sendo convertida em glicose (um tipo
de açúcar utilizado pelo corpo para gerar energia) por meio da gluconeogênese
(processo de produção de glicose a partir de fontes não carboidratas).
Isso ocorre quando
os estoques de carboidratos já estão esgotados e o corpo precisa buscar outras
fontes para manter a produção de energia, especialmente para células do sistema
imunológico e outros tecidos vitais.
Mas para atletas de
alto rendimento, explica Engel, o ideal é seguir uma dieta que evite déficits
de glutamina.
"Atletas, por
exemplo, que consomem quantidades suficientes de carboidratos, proteínas e
gorduras ao longo do dia conseguem evitar quedas significativas nos níveis de
glutamina, mesmo durante treinos intensos. Isso reforça que uma dieta bem
planejada pode suprir as demandas sem a necessidade de suplementação."
·
Uso
de glutamina para outros fins
Quanto ao uso da
glutamina em outros contextos de saúde, como no tratamento de diabetes ou na melhora
do intestino como um todo, Engel aponta que existem diversos estudos e
hipóteses, mas ainda nenhuma conclusão que justifique o uso do suplemento como
uma solução terapêutica nessas situações.
"Esse
suplemento já teve mais apelo no passado, mas, atualmente, parece que as
pessoas começaram a perceber que ele não é tão essencial. No entanto, ainda há
grupos que o utilizam, especialmente aqueles que focam na saúde intestinal. O que importa
para a saúde intestinal é a qualidade geral da alimentação, e não a
suplementação isolada."
Fonte: BBC News
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