sábado, 18 de janeiro de 2025

Dengue: entenda por que circulação do sorotipo 3 preocupa especialistas

O Ministério da Saúde afirmou ter identificado a volta do sorotipo 3 da dengue (DENV-3) no país. Os estados de maior circulação foram São Paulo, Minas Gerais, Amapá e Paraná. De acordo com número da pasta, em dezembro de 2024, 40,8% dos casos da doença foram provocados pelo DENV-3.

No total, a dengue possui quatro sorotipos diferentes circulando no mundo, com distintos materiais genéticos e linhagens. Esses tipos são nomeados: DENV-1DENV-2DENV-3 e DENV-4. Eles pertencem à família Flaviridae e são vírus que só contêm RNA na composição.

 “Isso significa que o indivíduo poderá ser infectado pelos quatro tipos de vírus da dengue ao longo de sua vida”, afirma Emy Gouveia, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, à CNN. “Na primeira infecção pelo vírus, os níveis de anticorpos sobem lentamente, e, na infecção secundária, esses níveis sobem rapidamente em níveis altos”, acrescenta.

No entanto, o sorotipo 3 não circulava há 17 anos no Brasil e, por isso, seu retorno causa preocupação nos especialistas. “As pessoas não entraram em contato com este tipo de vírus da dengue, porque ele não tem circulado de maneira importante no Brasil há alguns anos. Então, parte da população ainda não teve contato com o sorotipo”, explica Gouveia.

O infectologista Renato Grinbaum, professor do curso de Medicina da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid), acrescenta que, em 2024, houve uma predominância de casos de dengue relacionados ao sorotipo 2. “Como ano passado não teve muito sorotipo 3 circulando, a preocupação é que, neste ano, haja uma nova epidemia, agora por um sorotipo diferente do ano passado”, afirma.

À CNN, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, disse que o ministério acompanha a situação. “Nós temos um elemento de alerta que é o sorotipo 3, que não estava circulando nos anos anteriores. A gente está acompanhando o comportamento do vírus e fazendo alertas aos estados e municípios”, afirmou.

·        O sorotipo 3 é mais grave?

De acordo com Grinbaum, embora existam diferenças entre os quatro sorotipos da dengue, não há distinção de gravidade entre eles. “O que acontece é que, por questão da resposta exagerada do sistema imune, o segundo ou terceiro episódio de dengue, independente do sorotipo, tem o potencial de trazer complicações de saúde maiores do que o primeiro episódio”, afirma.

Em outras palavras, a segunda infecção por dengue, em geral, costuma gerar sintomas mais intensos do que a primeira. Considerando que o sorotipo 3 voltou a circular pela primeira vez em 17 anos, a proporção de casos mais graves esperada pelos especialistas é maior, segundo o infectologista.

“A chegada de novos tipos circulantes sempre traz preocupação”, acrescenta Gouveia. “A mensagem mais importante é que não importa qual cepa de vírus da dengue ele adquiriu, os cuidados e os alertas são os mesmos”, alerta.

Outro fator preocupante é que a vacina disponível atualmente no sistema de saúde — com o vírus atenuado — demonstrou cobertura para os tipos DENV-1 e DENV-2, mas casos de DENV-3, o percentual de cobertura foi menor, de acordo com médica infectologista Ana Lucia Senna, do Hospital de Clínicas Mario Lioni.

·        Existe um teste que identifique o sorotipo da dengue?

Ainda não existem, amplamente, testes que analisem qual tipo de vírus da dengue um indivíduo pegou. “Este teste é realizado em laboratórios especializados, ou nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACEN) para vigilância epidemiológica dos vírus circulantes, justamente para identificar os tipos que estão circulando e prever o risco de aumento de casos graves em determinada região”, explica Gouveia.

¨         “2025 não será igual a 2024”, diz secretária do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde trabalha para conter o aumento de casos de dengue no Brasil. Na última quinta-feira (9), a pasta anunciou o Plano Nacional de Contenção para Dengue e outras Arboviroses, além de instalar o Centro de Operações de Emergência (COE).

Em entrevista à CNN, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, avaliou que o aumento de casos de dengue esperado para 2025 não se confirmou. “O que estamos vendo agora é que a subida (de casos) não aconteceu, felizmente. O quadro se assemelha mais a 2023 do que 2024”, afirmou.

Considerando dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses do ministério, nas duas primeiras semanas de 2023, o Brasil tinha 26.978 casos de dengue, com 18 mortes pela doença.

No mesmo período de 2024, o país registrou 112.956 casos, com 102 mortes confirmadas. Em 2025, até esta quinta-feira (16), foram registrados 52.938 diagnósticos de dengue, com quatro mortes confirmadas. Outras 56 estão sob investigação. “Não é um aumento explosivo, como vimos no ano passado”, avaliou Maciel.

A secretária disse, no entanto, que o ministério acompanha com atenção a volta do sorotipo 3 da dengue, fora de circulação desde 2008. “2025 não será igual a 2024. Mas, nós temos um elemento de alerta que é o sorotipo 3, que não estava circulando nos anos anteriores. A gente está acompanhando o comportamento do vírus e fazendo alertas aos estados e municípios”, explicou.

Nas últimas semanas do ano passado, 40,8% dos casos de dengue foram provocados pelo sorotipo 3. Dados do ministério apontam uma maior circulação em São Paulo, Minas Gerais, Amapá e no Paraná.

O governo do Acre anunciou na semana passada que decretou emergência em saúde pública por conta de síndromes febris causadas, principalmente, por arboviroses. Uma equipe do Ministério da Saúde foi para o estado, para prestar apoio.

<><> Prevenção e combate

Durante a entrevista, a secretária Ethel Maciel destacou as ações do Ministério da Saúde, como a antecipação do “Dia D” da vacinação para 14 de dezembro de 2024, e a utilização da ciência e da tecnologia em favor do trabalho contra o mosquito Aedes Aegypti.

“A grande novidade é conseguir transpor aquilo que a gente tem de evidência científica e poder usar em saúde pública, como o método Wolbachia”, disse.

O “método Wolbachia” consiste em infectar alguns mosquitos aedes aegypti com uma bactéria que impede o desenvolvimento do vírus da dengue. Depois, os mosquitos são liberados para que se reproduzam, criando assim uma nova população de insetos já com a bactéria Wolbachia.

No ano passado, o método foi usado em três municípios. Em 2025, a estratégia será aplicada em 40 cidades. A secretária explica que a implementação depende de uma educação da sociedade, uma vez que neste método os mosquitos não podem ser mortos. “Tem todo um trabalho de educação comunitária, para receber o método. Todo um monitoramento dos mosquitos”, comentou.

A pasta também tem trabalhado com insetos estéreis, para diminuir a população de Aedes. Esse modelo é indicado para áreas em que é preciso baixo impacto ambiental. Segundo Maciel, a estratégia deve ser usada em áreas indígenas e, também, em Fernando de Noronha (PE).

Outra tática utilizada tem sido a instalação de EDL’s, as Estações Disseminadoras de Larvicidas. Nesse caso, são colocados aparelhos com água como uma espécie de “armadilhas” para as fêmeas. Na água é colocado inseticida, assim, a fêmea se contamina e leva o material para outras áreas.

Ainda de acordo com Ethel Maciel, a aposta do Ministério da Saúde tem sido o contato permanente com as secretarias estaduais e municipais. A secretária informou que a pasta tem um cronograma de visitas para apoios intensivos.

Para a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, as medidas visam melhorar a resposta nacional à doença, em especial, melhorar o sistema de saúde para receber os pacientes.

O Ministério da Saúde identificou que, no ano passado, parte das mortes registradas eram de pessoas que procuraram atendimento e não foram atendidas da melhor forma. “Muitas pessoas foram aos serviços de saúde muitas vezes, mas há um problema na condução de entender que aquele caso está ficando mais grave”, afirmou Maciel.

Por conta disso, foi reforçado o uso por parte dos agentes de saúde do aplicativo de classificação de risco para a dengue.

¨         Sequestro de gene após infecção por Zika causa microcefalia, diz estudo

Estudo conduzido pela Universidade da Califórnia e publicado no periódico mBio indica que o vírus Zika sequestra uma proteína humana chamada ANKLE2, de suma importância para o desenvolvimento cerebral, para seu próprio benefício. Por esse motivo, em casos de infecção em gestantes, como o Zika é capaz de atravessar a placenta, ele acaba por provocar casos de microcefalia, condição em que o cérebro do bebê se forma de um tamanho menor que o esperado.

“É uma situação em que o Zika está no lugar errado no momento errado”, destacou a professora do Departamento de Microbiologia, Genética Molecular e Engenharia Química da universidade e principal autora do estudo, Priya Shah.

O trabalho demonstra que vírus próximos ao Zika, como o da dengue e o da febre amarela, também sequestram a proteína ANKLE2 para o mesmo propósito. Para os pesquisadores, a descoberta pode abrir caminho para o desenvolvimento de vacinas e outros tipos de tratamento contra os chamados arbovírus.

<><> Síndrome do zika

Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome congênita do zika compreende um conjunto de anomalias congênitas que podem incluir alterações visuais, auditivas e neuropsicomotoras que ocorrem em embriões ou fetos expostos à infecção durante a gestação. Tais alterações podem variar quanto à severidade, sendo que, quanto mais cedo a infecção ocorre na gestação, mais graves tendem a ser esses sinais e sintomas.

A principal forma de transmissão da infecção em mulheres grávidas é pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, mas a transmissão também pode ocorrer por meio de relação sexual com indivíduos infectados ou de transfusão sanguínea, sendo que a última, segundo a pasta, apresenta baixo risco devido à triagem de doadores e testes hematológicos.

A síndrome foi descoberta em 2015, devido à alteração do padrão de ocorrência de microcefalia em nascidos vivos no Brasil. À época, o evento foi considerado uma emergência em saúde pública de importância nacional e, posteriormente, internacional. Algum tempo depois, constatou-se que os casos de microcefalia, que também cursavam com outras anomalias cerebrais e alterações neurológicas, estavam associados à infecção pelo vírus Zika no período gestacional.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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