Qual é a
origem da humanidade segundo a ciência
A
hipótese científica mais aceita atualmente para a origem da humanidade é de que
a espécie humana moderna (chamada
de Homo sapiens) surgiu na África, há cerca de 200 mil anos, depois
de um processo evolutivo de milhões de anos.
Segundo
informações da Human Origins Program (Programa Origens Humanas) do Museu
Nacional de História Natural do Smithsonian (Estados Unidos), antes do homem
moderno, outros hominídeos já ocupavam o planeta.
O
programa afirma que a maioria dos cientistas reconhece cerca de 15 a 20 espécies diferentes de humanos primitivos. No entanto, não há concordância sobre como essas espécies
estão relacionadas ou quais delas simplesmente se extinguiram.
·
Como ocorreu a evolução humana?
Acredita-se
que os primeiros hominídeos (linhagem Homo)
evoluíram de um ancestral comum entre os grandes primatas de hoje, que viveu
entre 8 e 6 milhões de anos atrás, de acordo com o Smithsonian.
Algumas
espécies como o Australopithecus garhi, Australopithecus
sediba, Australopithecus africanus, e Australopithecus
afarensis, são apontadas como ancestrais ou irmãs dos hominídeos.
Cerca
de dois milhões de anos atrás, teria surgido, então, o primeiro exemplar dos hominídeos, o Homo
habilis. Ele também seria o primeiro da linhagem a ser capaz de usar
ferramentas, de acordo com dados da Enciclopédia da Vida, mantida pelo Museu
Nacional de História Natural do Smithsonian.
Em
seguida na linha evolutiva há o surgimento do Homo erectus, que
tinha uma forma de andar e proporções corporais mais próxima a dos humanos
modernos.
O H.
erectus foi a primeira espécie humana a exibir uma face plana, nariz
proeminente e, possivelmente, uma cobertura mais escassa de pêlos corporais.
Também é nesse momento que os hominídeos começam a dominar o uso do fogo.
Mas
um não teve que ser extinto para o outro surgir. Segundo a Enciclopédia, foi
descoberto que o H. habilis e H. erectus coexistiram
por cerca de meio milhão de anos, sugerindo que H. erectus não
evoluiu imediatamente do H. habilis, mas sim de um ancestral comum.
·
Humanos migraram da África para o mundo
Até
então, a evolução humana acontece inteiramente no continente africano. Segundo
o programa do Smithsonian, todos os fósseis dos primeiros seres humanos, que
viveram entre seis e dois milhões de anos atrás, vêm da África.
A migração dos hominídeos pelo
planeta começou, provavelmente, entre dois milhões e 1,8 milhões de anos atrás,
conta o Programa Origens Humanas. Os primeiros humanos partiram da África
primeiramente para a Ásia e, um pouco mais tarde (entre 1,5 milhões e 1 milhão
de anos atrás), chegaram à Europa.
Graças
às diferenças de clima enfrentadas nos novos habitats, o gênero Homo continuou sua evolução. Há cerca de 500 mil anos, na Eurásia, surge o Homo
neanderthalensis (nome que significa pessoa do vale de Neander),
também conhecidos como neandertais.
Eles
eram mais fortes, mais baixos e robustos do que os humanos modernos, uma
adaptação à vida em ambientes frios, segundo o Programa Origens Humanas. Mas os
seus cérebros eram tão grandes como os nossos e, muitas vezes, até maiores, de
forma a serem proporcionais a seus corpos mais musculosos.
O
programa do Smithsonian também diz que os neandertais controlavam o fogo,
viviam em abrigos e ocasionalmente faziam arte e objetos simbólicos ou ornamentais. Há, por exemplo, evidências de que os neandertais enterravam
deliberadamente seus mortos e, ocasionalmente, até marcavam seus túmulos com
oferendas, como flores. Nenhuma espécie humana anterior havia praticado esse
comportamento sofisticado e simbólico.
·
Quando surgiu o Homo sapiens
Simultaneamente
à existência dos neandertais, o Homo sapiens (nome que significa “pessoa
sábia” em latim) evoluiu na África, durante
uma época de mudanças climáticas dramáticas, há cerca de 300 mil e 200 mil anos
atrás, de acordo com o Smithsonian.
Mas
os humanos modernos não surgiram tão desenvolvidos como são hoje. O programa do
Museu Nacional de História descreve que as habilidades que definem a
“sabedoria” do H. sapiens, como a linguagem, a vivência em
grandes grupos, o cozimento de alimentos e a agricultura foram desenvolvidas ao
longo de milhares de anos.
Entre
14 mil e 8 mil anos atrás, os
humanos passaram por um grande processo de sedentarização conhecido como
"Revolução Agrícola” (ou Revolução Neolítica). Esse processo se dá no
momento em que o H. sapiens deixa de ser nômade e passa a se
assentar em terras, plantar alimentos e domesticar animais. Segundo o
Smithsonian, é a partir desse processo que os humanos começam a transformar as
paisagens naturais da Terra.
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DNA de fósseis
encontrados no Brasil, incluindo o povo de Luzia, reescrevem a história da
ocupação das Américas
Há
séculos cientistas discutem como as Américas foram povoadas. Diferentes
técnicas, desde a datação de carbono ao estudo das medidas de crânios, tentaram
desvendar o mistério dos primeiros americanos. Os resultados geraram debates
científicos acalorados e trouxeram poucas respostas conclusivas. Agora, novas
tecnologias de extração de DNA antigo prometem elucidar algumas das questões
que rondam a ocupação do nosso continente.
Dois
artigos publicados nesta quinta-feira (8/11) conseguiram, pela primeira vez,
extrair DNA de fósseis humanos de mais de 10 mil anos encontrados na América do
Sul. Combinadas, as pesquisas analisaram os restos mortais de 64 indivíduos e
os resultados revelam que os americanos descendem, em grande parte, de uma
única migração que atravessou o estreito de Bering há cerca de 20 mil anos.
Essa primeira leva se dividiu em dois grupos há 15,7 mil anos e ocupou, em uma
velocidade impensada antes desses estudos, toda a América, desde o norte do
continente até as regiões mais extremas da América do Sul.
As
pesquisas também trazem informações novas e surpreendentes sobre o povo de
Luzia. As análises revelaram que os antigos habitantes da região da Lagoa Santa
(MG), onde foi escavado o crânio de Luzia, recentemente encontrado nos
escombros do Museu Nacional do Rio de Janeiro, não são de uma população
australo-asiática proveniente da Austrália e Melanésia, como sugeria a teoria
do professor Walter Neves, baseada no estudo morfológico dos crânios. Um dos
estudos, no entanto, encontrou vestígios de até 6% de material genético de
povos australo-asiáticos nessa população, deixando em parte sem solução o
mistério sobre a presença desses povos da Oceania na América.
O
surpreendente elo entre Luzia e Clóvis
Publicado
na revista científica Cell, o estudo coordenado pelo professor brasileiro André
Strauss é fruto de uma parceria internacional entre pesquisadores da
Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Harvard, nos EUA, e do
Instituto Max Planck, na Alemanha.
O
artigo de Strauss estudou o DNA de 49 indivíduos de toda a América,
incluindo esqueletos escavados recentemente pela sua equipe no sítio arqueológico da Lapa do Santo, em Lagoa Santa
(MG). A pesquisa não encontrou nenhum traço genético de populações
australo-asiáticas, nem no povo de Luzia nem em nenhuma outra população. Assim,
a teoria de que o povoamento da região da Lapa do Santo “se deu por um grupo
que chegou à América antes dos descendentes dos ameríndios atuais não se
sustenta mais”, diz Strauss.
Para
o pesquisador, a tradicional reconstrução facial de Luzia, produzida pelo
inglês Richard Naeve em 1999, a partir dos estudos morfológicos do crânio
feitos por Walter Neves, "fazia parte de um conceito que entendia o povo
de Lagoa Santa [...] como – em uma linguagem simples – não índios, ou seja, não
sendo os ancestrais dos atuais nativos americanos. Eles representariam a
chegada de uma população anterior e praticamente sem relação com aqueles que a
gente conhece hoje como os índios", contou Strauss em entrevista
à National Geographic. “Mas agora o DNA mostra que o povo de Lagoa Santa é
índio. Portanto, não existe essa conexão direta com a África proposta
anteriormente. E não faz sentido a gente acreditar que eles tinham uma
fisionomia marcadamente africana, como é retratada na reconstrução do rosto de
Luzia”.
A
pesquisa também revelou que os antigos habitantes da Lagoa Santa possuem forte
conexão com os povos da cultura Clóvis – produtores de pontas de lança
feitas em pedra que ocuparam partes expressivas da América do Norte há cerca de
12 mil anos. Já se sabia que o povo de Clóvis tinha se expandido rapidamente
pela América do Norte, mas acreditava-se que esse âmbito ficou contido,
basicamente, no território onde hoje são os Estados Unidos. “Os dados genéticos
mostram, para nossa surpresa, que essa grande expansão da cultura Clóvis
reverberou na América Central e na América do Sul”, prossegue Strauss. “Quando
esses ancestrais chegaram à América do Sul eles já não eram 100% Clóvis [...],
mas, de qualquer forma, tem um sinal claríssimo associando populações de Lagoa
Santa ao grupo Clóvis, o que, até então, era algo completamente inimaginável”.
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A rápida propagação pelas Américas
O
outro estudo arqueogenético publicado hoje foi produzido por pesquisadores do
Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Museu Nacional/UFRJ),
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e liderado pelo dinamarquês Eske
Willersev, da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca.
A
equipe de Willerslev analisou dados genéticos de 15 indivíduos, dentre eles
cinco da região de Lagoa Santa com idades superiores a 10 mil anos. As amostras
foram obtidas de esqueletos enviados pelo naturalista dinamarquês Peter Lund –
considerado o pai da paleontologia e arqueologia no Brasil – a Copenhagen em
meados do século 19.
O
estudo revelou que antigos esqueletos encontrados em Nevada e em Montana, nos
EUA, e em Lagoa Santa possuem características genéticas muito parecidas, mesmo
estando tão distantes uns dos outros. Isso indica que “a propagação desses
primeiros humanos pela América aconteceu muito, muito depressa”, disse
Willerslev em entrevista coletiva para a imprensa no Rio de Janeiro. “Em poucas
centenas de anos eles estavam nos dois lados das Montanhas Rochosas e lá
embaixo no Brasil. Assim que eles atravessam o sul dos mantos de gelo [do
noroeste americano] acontece algo como uma explosão. Os povos tomam todas os
tipos de ambientes – ambientes muitos diferentes, desde planícies, desertos até
a região de Lagoa Santa”.
A
ideia de que grupos diferentes do norte da Ásia e da Oceania migraram em
períodos distintos para a América é antiga, mas ganhou corpo quando o
bioantropólogo Walter Neves estudou a morfologia dos crânios de Lagoa Santa,
incluindo a própria Luzia, o fóssil mais antigo da América do Sul, na década de
1990.
Depois
de medir esses crânios, Walter Neves e sua equipe sugeriram que os primeiros
habitantes da América do Sul, refletidos na presença dos restos mortais em
Lagoa Santa, vieram em uma migração anterior aos mongoloides asiáticos, grupo
do qual os ameríndios modernos descendem.
Para
Willerslev, essa associação foi desmontada com os novos estudos. Afinal, mesmo
que sua equipe tenha encontrado pequenos traços genéticos de povos
australo-asiáticos no povo de Luzia, os mesmos traços não estão presentes em
outros esqueletos da América do Norte que possuem as mesmas características
cranianas que Luzia. “A teoria de Neves que diz que a morfologia craniana [do
povo de Luzia] reflete uma migração anterior [de povos australo-asiáticos] não
é suportada por evidências genéticas”, diz Willerslev. “Mas talvez haja alguma
verdade na ideia de que houve alguém ali antes”.
Os
traços genéticos australo-asiáticos encontrados pela equipe de Willerslev são
semelhantes aos mapeados em populações atuais de indígenas
brasileiros – suruís, xavantes e karitianas – por
pesquisadores que publicaram estudo na revista Nature em 2015.
Willerslev
acredita que essas evidências são combustíveis para futuras tentativas de
desvendar a misteriosa presença dessas populações “fantasmas”. “O que isso
provocou foi colocar o Brasil no mapa como o lugar mais importante atualmente
para entender a ocupação das Américas”, disse Willerslev. Para ele, um dos
caminhos é extrair DNA de mais fósseis americanos. E Luzia, por ter idade
estimada em cerca de mil anos mais velha que os esqueletos de Lagoa Santa
estudados hoje, pode ser decisiva para desvendar o mistério. “Se conseguirmos
extrair o DNA de Luzia, isso será fundamental”, disse.
Um
outro caminho é tentar buscar o que Willerslev chama de “DNA ambiental”, uma
técnica que busca vestígios de DNA em lugares onde restos humanos não existem,
mas que a presença de humanos antigos é evidente através de cerâmicas ou outras
peças manufaturadas. Essa tecnologia poderá ser especialmente útil para
desvendar os mistérios da Serra da Capivara, no Piauí, onde uma fogueira
supostamente feita por mãos humanas foi datada, com base em análises de
carbono-14, em 48 mil anos.
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A revolução do DNA na arqueologia
A
tecnologia de extração de DNA começou a ser usada há pouco mais de 20 anos e
está revolucionando nosso entendimento da história da humanidade. A
arqueogenética, como o campo é conhecido hoje, teve sucesso primeiro em
desvendar as origens de fósseis melhores preservados em regiões mais frias,
como a Sibéria – onde identificou-se o homem denisovano, uma nova espécie de
hominídeo, por exemplo. Mas o avanço da técnica de extração de DNA permitiu
analisar fósseis descobertos em regiões mais quentes e cujo material genético é
menos preservado.
E
isso deixa o Brasil no centro dos novos estudos sobre a evolução dos humanos.
“O DNA ajudou a desvendar o velho mistério do indo-europeu. Também houveram
avanços expressivos para compreender a história populacional supercomplexa da
Índia", disse Strauss. “Finalmente, essa técnica recente [...] começa a
ser aplicada para a gente compreender melhor como era esse passado profundo da
história indígena de longa duração da América do Sul."
Fonte:
National Geographic Brasil
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