quinta-feira, 27 de junho de 2024

Sedentarismo ameaça cerca de 1,8 bilhão de pessoas no mundo, diz estudo

Cerca de 1,8 bilhão de pessoas, o que equivale a 31% dos adultos no mundo, são sedentárias e não atingiram os níveis recomendados de atividade física em 2022, colocando-as em maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e câncer. Os dados são de um novo estudo realizado por pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS) e cientistas de instituições parceiras. Os dados foram publicado na revista The Lancet Global Health nesta terça-feira (25).

Atualmente, a OMS recomenda que adultos pratiquem, pelo menos, 150 minutos de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana. No entanto, se a tendência de sedentarismo continuar, os níveis de inatividade devem aumentar para 35% até 2030, segundo estimativa do estudo.

“Essas novas descobertas destacam uma oportunidade perdida de reduzir o câncer, doenças cardíacas e melhorar o bem-estar mental por meio do aumento da atividade física”, diz Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em comunicado à imprensa. “Devemos renovar nossos compromissos com o aumento dos níveis de atividade física e priorizar ações ousadas, incluindo políticas reforçadas e aumento do financiamento, para reverter essa tendência preocupante.”

•           Mulheres e idosos são a maioria entre as pessoas sedentárias

De acordo com o estudo, a inatividade física é maior entre as mulheres no mundo em comparação com os homens: a taxa de sedentarismo no público feminino globalmente é de 34%, enquanto a dos homens é de 29%. Em alguns países, a disparidade entre sexos é ainda maior, chegando a 20 pontos percentuais.

Além disso, pessoas com mais de 60 anos são menos ativas do que outros adultos, ressaltando a importância de promover a atividade física para idosos. A prática de exercícios físicos na terceira idade pode contribuir para um envelhecimento com maior qualidade de vida, com menos dores nas articulações, nas costas e menor risco de sarcopenia, condição caracterizada pela perda de massa e força muscular.

As maiores taxas de inatividade física foram observadas na região Ásia-Pacífico de alta renda (48%) e no Sul da Ásia (45%), com níveis de inatividade em outras regiões variando de 28% nos países ocidentais de alta renda a 14% na Oceania.

“A inatividade física é uma ameaça silenciosa à saúde global, contribuindo significativamente para a carga de doenças crônicas”, diz Rüdiger Krech, diretor de Promoção da Saúde da OMS. “Precisamos encontrar maneiras inovadoras de motivar as pessoas a serem mais ativas, considerando fatores como idade, ambiente e formação cultural. Ao tornar a atividade física acessível, acessível e agradável para todos, podemos reduzir significativamente o risco de doenças não transmissíveis e criar uma população mais saudável e produtiva”.

•           Há sinais de melhora em alguns países

Apesar dos resultados preocupantes, o estudo observou sinais de melhora em alguns países. Segundo o trabalho, quase metade dos países do mundo fez alguma melhoria para promover a atividade física na última década. Além disso, 22 países foram classificados como “estando no caminho certo” para atingir a meta global de reduzir o sedentarismo em 15% até 2030.

Diante das descobertas, a OMS reforça que os países devem fortalecer a implementação de políticas para promover e permitir a atividade física por meio de esportes de base e comunitários, recreação e transportes ativos (como caminhada, bicicleta e uso de transporte público), entre outras medidas.

“Promover a atividade física vai além de promover a escolha individual do estilo de vida – exigirá uma abordagem de toda a sociedade e a criação de ambientes que tornem mais fácil e seguro para todos serem mais ativos de maneiras que gostam para colher os muitos benefícios de saúde da atividade física regular”, afirma Fiona Bull, chefe da Unidade de Atividade Física da OMS.

Para os pesquisadores, serão necessários esforços coletivos baseados em parcerias entre atores governamentais e não governamentais, além de maiores investimentos em abordagens inovadoras, para alcançar pessoas menos ativas e reduzir as desigualdades no acesso a medidas de promoção e melhoria da atividade física.

 

•           Quase metade dos brasileiros terão obesidade até 2044, diz estudo

Quase metade dos brasileiros adultos (48%) terá obesidade e mais 27% terão sobrepeso até 2044, conforme alerta um novo estudo apresentado no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO) 2024. O evento, organizado pela Federação Mundial de Obesidade, é um dos principais congressos sobre o tema no mundo e acontece em São Paulo de 26 a 29 de junho.

De acordo com as estimativas do estudo, três quartos dos adultos brasileiros terão obesidade ou sobrepeso dentro de 20 anos. Os autores também estimam que, se as tendências atuais se mantiverem, 130 milhões de brasileiros viverão acima do peso.

O trabalho foi realizado por Eduardo Nilson, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e colegas. Os autores usaram um modelo de tabela de vida para estimar os impactos do sobrepeso e da obesidade sobre 11 doenças associadas ao Índice de Massa Corporal (IMC) elevado no Brasil até 2044, supondo que as tendências atuais sejam mantidas.

O modelo estima mortes atribuídas e casos incidentes de doenças cardiovasculares, diabetes, doença renal crônica, cirrose e cânceres com base em dados demográficos e epidemiológicos de pesquisas nacionais e do Estudo de Carga Global da Doença (GBD).

Segundo as estimativas, a prevalência de sobrepeso e obesidade entre adultos brasileiros aumentará de 57%, em 2023, para 75%, em 2024. Consequentemente, estima-se que sejam desenvolvidos 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas associadas ao sobrepeso e à obesidade nos próximos 20 anos, e 1,2 milhão de mortes atribuíveis ao sobrepeso e à obesidade durante esse período.

Apesar de a distribuição de novos casos entre homens e mulheres não diferir significativamente, o estudo estima que 64% das mortes relacionadas à obesidade devem ocorrer entre os homens até 2044. Nesse cenário, o diabetes representou mais de 51% dos novos casos, e as doenças cardiovasculares atribuíveis ao excesso de peso representaram, aproximadamente, 57% das mortes até 2044.

“Com base nas tendências atuais, a carga epidemiológica e econômica do sobrepeso e da obesidade no Brasil aumentará significativamente, portanto políticas robustas precisam ser implementadas no país, incluindo o tratamento dos casos existentes e a prevenção do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias”, comentam os autores do estudo.

“Esses dados são alarmantes e deixam claro que precisamos focar em políticas de prevenção e nos afastar do discurso ‘conveniente’ de que a obesidade é uma questão de hábitos e escolhas”, afirma Bruno Halpem, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).

“Se não unificarmos esforços, com governo e sociedade civil, estaremos, ano após ano, congresso após congresso, apenas divulgando novos dados assustadores. Felizmente, a América Latina está na vanguarda dessa discussão e podemos aprender muito com as experiências de outros países da região”, completa.

•           Mulheres, negros e outras pessoas não brancas serão mais atingidos

O estudo mostrou que o sobrepeso e a obesidade em adultos no Brasil estão aumentando rapidamente ao longo do tempo. A prevalência da obesidade quase dobrou de 2006 a 2019, atingindo 20,3% da população adulta. Até 2030, a estimativa é de que 68,1% dos adultos tenham sobrepeso e obesidade, com mulheres, negros e outras etnias minoritárias apresentando maior prevalência da doença.

Para as mulheres, a estimativa de obesidade para 2030 é de 30,2%, e de sobrepeso, 37,7%. Já para os homens, a estimativa é de 28,8% e 39,7% para obesidade e sobrepeso, respectivamente. Para o mesmo ano, a estimativa para a obesidade em pessoas brancas é de 27,6%, e para sobrepeso, 38,8%. Para negros e outras etnias não brancas combinadas é de 31,1% para obesidade e 38,2% para sobrepeso.

O estudo também aponta para disparidades relacionadas à escolaridade. Para aqueles com alto nível educacional, a estimativa para obesidade é de 26,2%, para obesidade, enquanto para pessoas com baixo nível educacional é de 35,4%.

•           Obesidade em meninos e meninas de todas as idades também deve aumentar

A pesquisa mostra, ainda, que, se mantidas as tendências atuais, as taxas de obesidade também aumentarão em meninos e meninas de todas as idades nos próximos 20 anos. A previsão é que a doença alcance 24% das crianças entre 5 e 9 anos, 15% das de 10 a 14 anos, e 12% entre os adolescentes e jovens adultos de 15 a 19 anos.

Os autores do estudo estimam que a prevalência de obesidade em meninos de 5 a 9 anos aumente de 22,1% para 28,6% entre 2023 e 2044. Para as meninas dessa faixa etária, a projeção é que aumente de 13,6% para 18,5%.

No mesmo período de 20 anos, a porcentagem de meninos de 10 a 14 anos vivendo com obesidade aumentará de 7,9% para 17,6%, enquanto a porcentagem de meninas com obesidade na mesma faixa etária aumentará de 7,9% para 11,6%. Por fim, a prevalência de obesidade entre os meninos na faixa etária de 15 a 19 anos aumentará de 8,6% para 12,4%, enquanto a prevalência entre as meninas aumentará de 7,6% para 11,0%.

“Os resultados do estudo apoiam a necessidade urgente de políticas públicas para prevenir e tratar o sobrepeso e a obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS) e demonstram prováveis impactos epidemiológicos da obesidade infantil no Brasil se não forem tomadas medidas apropriadas. Além dessas outras abordagens no âmbito do SUS, para resolver efetivamente essa questão, é essencial implementar políticas fiscais e regulatórias que promovam ambientes alimentares mais saudáveis, especialmente para crianças e adolescentes”, comentam os autores do estudo.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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