André
Leão: A experiência do petróleo da Guiana e suas implicações para o Brasil
Desde
2015, a Guiana vivencia um boom econômico propiciado pela descoberta de
reservas de petróleo cuja capacidade gira em torno de 11 bilhões de barris.
Esse número corresponde a aproximadamente 75% das reservas brasileiras, que
somam 14,8 bilhões de barris. Exploradas, em grande medida, pela petrolífera
estadunidense ExxonMobil, o petróleo guianês possibilita à empresa uma produção
de 600 mil barris por dia (bdp) atualmente. Estima-se que, em 2027, a produção
seja duplicada, atingindo 1,2 milhão bdp.
Os
resultados já obtidos permitiram uma evolução muito rápida da economia da
Guiana. Segundo dados do Banco Mundial, de 2015 a 2022, o país apresentou um
crescimento significativo do Produto Interno Bruto (PIB), saltando de 0,7% para
63,4%, o maior do mundo. Em 2023, de acordo com estimativas do Fundo Monetário
Internacional (FMI), a taxa alcançou 33%. Embora seja inferior, ela permaneceu
alta e manteve a posição de liderança da Guiana no crescimento econômico
global.
Essa
experiência recente do país no setor de petróleo tem reverberações no âmbito
regional, por exemplo, nas relações bilaterais com os vizinhos sul-americanos.
No caso da Venezuela, a segurança da região foi colocada em risco por causa da
tensão estabelecida por parte do governo de Nicolás Maduro. A contenda
histórica sobre os limites fronteiriços dos dois países, aliada à pujança
guianesa no ramo petrolífero, motivaram o presidente venezuelano a realizar um
referendo com o intuito de obter aprovação da população para anexar a região de
Essequibo, parte
No
caso do Brasil, ainda durante a administração de Jair Bolsonaro, o governo já
havia ensaiado uma aproximação à Guiana, visando a participação da Petrobras na
exploração de poços de petróleo. Atualmente, o governo de Luiz Inácio Lula da
Silva pôs em serviço a diplomacia brasileira para mediar a tensão
Venezuela-Guiana. Tal ação não é meramente simbólica. Ao atuar como mediador de
uma crise e evitar a ameaça de um conflito, o Brasil busca reverter o
isolamento externo a que ficou relegado nos anos de Bolsonaro, angariar capital
político com o objetivo de manter a América do Sul como uma zona de paz e
posicionar-se como líder regional.
O
novo potencial econômico da Guiana possibilita uma renovação da integração
sul-americana também do ponto de vista político. A formação de uma identidade
política regional, materializada na União das Nações Sul-americanas (Unasul),
consistiu em um dos principais projetos da política externa dos dois primeiros
governos Lula. Embora a Guiana já fizesse parte da Unasul, historicamente ela
sempre esteve mais voltada para a região do Caribe. Com a descoberta das
reservas de petróleo, o país atrai as atenções dos vizinhos e pode passar a ser
visto de fato como parte da América do Sul.
No
entanto, continuará atraindo também o interesse de potências extrarregionais,
sobretudo aquelas cuja presença na região caribenha é marcante, notadamente, os
Estados Unidos. Além da penetração das grandes petrolíferas, o governo
estadunidense também trabalha para estreitar pontes com o governo guianês, com
o intuito de desenvolver parcerias no setor energético e de meio ambiente.
Paralelamente, aproveitando-se do crescimento guianês, o Brasil também pode se
beneficiar ao aprofundar laços de cooperação em diversas áreas, como a
energética. Esse movimento brasileiro serve, também, como forma de competir com
a presença dos Estados Unidos, tanto politicamente quanto economicamente, ao
buscar envolver a Petrobras nos negócios da Guiana.
A
experiência do vizinho ao Norte pode ser positiva para a própria Petrobras e
para o governo do Brasil, tendo em vista as possibilidades de exploração de
petróleo na margem equatorial brasileira. Ao observar os caminhos adotados até
o momento na Guiana, será possível observar os erros e os acertos, bem como
conciliar o discurso da defesa do meio ambiente no âmbito internacional com a
necessidade do desenvolvimento da região norte do Brasil. O crescimento robusto
guianês mostra que não se pode prescindir da oportunidade de extração de
petróleo nesse território, afinal, a Petrobras tem larga expertise na
exploração em águas ultraprofundas. Isso não significa abandonar os esforços na
implementação de ações de transição energética, um setor no qual o Brasil já
está na vanguarda. Além do desenvolvimento e da geração de empregos, a renda
obtida da possível exploração de petróleo na margem equatorial poderá servir
para pavimentar ainda mais o caminho da transição, permitindo mais
investimentos em fontes energéticas sustentáveis.
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Nigéria destrói 165 refinarias ilegais de petróleo em 1 semana
Instalações
eram usadas para refinar petróleo roubado. Segundo senador nigeriano, no ano
passado o país perdeu mais de US$ 3 bilhões (R$ 16,7 bilhões) por conta do
roubo de petróleo.
A
Nigerian National Petroleum Corporation Ltd (NNPCL) informou nesta sexta-feira
(28) que destruiu na semana passada 165 instalações que eram usadas para refino
ilegal de petróleo bruto roubado.
Segundo
noticiou a agência turca Anadolu, o CEO da NNPCL, Mele Kyari, informou que na
semana passada foram relatados cerca de 400 incidentes envolvendo roubo de
petróleo e vandalismo na região do Delta do Níger.
Kyari
informou que as operações conduzidas no Delta do Níger tiveram a colaboração de
militares. Além das instalações, foram destruídas 39 linhas de oleodutos
clandestinos.
Anteriormente,
o senador nigeriano Ned Nwoko afirmou que o país perdeu no ano passado mais de
US$ 3 bilhões (R$ 16,7 bilhões) por conta do roubo de petróleo e de ataques a
oleodutos.
A
Nigéria detém a 10ª maior reserva de petróleo do mundo, estimada em 37 bilhões
de barris, que representam 3,1% do total global. Ademais, a Nigéria é sexto
maior exportador de petróleo do mundo.
Os
campos de petróleo estão localizados na região do Delta, e frequentemente são
alvos de grupos armados que realizam sabotagens, levando a conflitos e casos de
sequestro.
• Lula diz que vai
explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas
O
presidente Lula insiste na exploração de combustíveis fósseis na foz do
Amazonas. Agora, resolveu adotar uma estratégia que a Petrobras usou após ter
tido a licença para perfurar um poço no bloco FZA-M-59 negada pelo IBAMA:
tentar renomear a atividade petrolífera. Como se isso fosse mudar seu fim, que
é achar e produzir petróleo e gás fóssil.
Em
entrevista à rádio Mirante News, do Maranhão, na 6ª feira (21/6), Lula foi
categórico ao dizer: “Vamos explorar a margem [equatorial, região litorânea do
Rio Grande do Norte ao Amapá que inclui a bacia da foz do Amazonas]”. Logo
depois, emendou: “Por enquanto não é explorar, queremos fazer uma medição para
saber se tem e qual a quantidade de riqueza que tem lá embaixo. E, se tiver,
temos a Petrobras, a empresa de maior competência tecnológica para explorar
petróleo em águas profundas”.
Outra
fala de Lula, já mencionada em outras ocasiões, é tentar desvincular o FZA-M-59
e a região amazônica. O argumento – falho – é o mesmo: que o bloco está a quase
600 km da foz do rio propriamente dita.
“O
pessoal fala: ‘mas é perto da Amazônia’. É o seguinte: é a 575 km da margem do
Amazonas. Uma distância enorme e a gente vai fazer isso, primeiro certificar
como vai explorar e quais são os cuidados que temos que ter”, disse.
O
que Lula agora chama de “medição” e que a Petrobras chamou de “pesquisa” é o
que a indústria petrolífera chama de “exploração”. A não ser que quisesse
rasgar dinheiro, nenhuma petroleira no planeta faria isso se não fosse com esse
objetivo: encontrar combustíveis fósseis. Perfurar um poço no FZA-M-59 para
“medir” ou “pesquisar” é explorar petróleo e gás fóssil.
Lula
ainda mencionou que a Petrobras não registrou nenhum acidente grave no pré-sal.
Mas se esqueceu de que a petroleira abandonou um poço que começou a perfurar em
uma área próxima ao atual FZA-M-59 por causa das fortes correntes da região da
foz do Amazonas.
Assim,
alegar a distância da foz é ignorar o alto risco que é perfurar um poço na
região, como o IBAMA e a própria Petrobras constataram. E oculta também o fato
de que o bloco está a 160 km de Oiapoque, no norte do Amapá, região que abriga
Terras Indígenas e Comunidades Tradicionais e também é coberta pela Floresta
Amazônica. Isso sem falar nos manguezais: Amapá, Pará e Maranhão respondem por
80% da cobertura de manguezais do país. Tudo isso pode ser severamente
impactado pela atividade petrolífera, seja pelo risco de vazamentos de óleo,
seja pela movimentação de pessoas, barcos e aeronaves.
Tentar
contemporizar esse risco com a distância da foz do rio, ou mesmo achar que
mudar o nome da bacia acaba com os percalços, como sugeriu o senador Marcelo
Castro (MDB-PI), não vai diminuir os impactos locais e globais de se explorar
petróleo e gás fóssil na Amazônia. Nem irá mudar a urgência do planeta em
eliminar os combustíveis fósseis para conter as mudanças climáticas.
• IBAMA já concedeu
26 licenças para combustíveis fósseis em 2024
Somente
neste ano o IBAMA já emitiu 26 licenças para o setor de petróleo e gás fóssil,
a maioria delas para a Petrobras. Algumas dessas autorizações envolveram
pesquisa sísmica na Margem Equatorial, região do litoral brasileiro do Rio
Grande do Norte ao Amapá. Além disso, está licenciando o pré-sal fase 3 e o
pré-sal fase 4 – ou seja, mais de 2.000 poços de petróleo e gás.
Os
dados foram fornecidos pelo presidente do órgão ambiental, Rodrigo Agostinho,
em entrevista à Daniela Chiaretti no Valor. O titular do IBAMA ainda fez
questão de dizer que a Petrobras é hoje seu principal cliente na área de
licenciamento. Assim, responde aos críticos que acusam o órgão de ter uma
predisposição contra a petroleira, destaca a coluna Painel, da Folha.
Na
verdade, a acusação se dá por um motivo: a negativa de licença à Petrobras para
perfurar um poço exploratório de combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na
bacia da foz do Amazonas. O que deveria ser um processo habitual de
licenciamento se tornou uma questão de governo, com pressões da petroleira,
ministérios de Minas e Energia e Casa Civil e até mesmo do presidente Lula, que
quer reunir IBAMA, Ministério do Meio Ambiente e a petroleira para uma
“decisão”.
“É
um poço de exploração, mas com características iguais às de um poço de
produção. É uma perfuração no subsolo. E assim, em um eventual acidente, tanto
no caso de pesquisa quanto de produção, as medidas de precaução são muito
parecidas”, explicou Agostinho.
O
presidente do IBAMA reforçou que o órgão “não discute a transição energética do
país” e que suas equipes e as da Petrobras têm dialogado para resolver o
impasse. Refuta a especulação de que a decisão está tomada e diz que não se
sente pressionado. “É natural que em um país republicano grandes
empreendimentos sejam debatidos na sociedade”, minimizou.
Fonte:
Le Monde/Sputnik Brasil/ClimaInfo
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