Ex-CEO da
Americanas é preso, mas investigações precisam apontar outros beneficiados
pelas fraudes
O
Instituto Empresa, associação de investidores que, desde 2017, promove a
Governança Corporativa e a defesa de investidores, vê a prisão do ex-CEO da
Americanas, Miguel Gutierrez, na manhã desta sexta-feira, 28 de junho, como
apenas o início de uma longa investigação que demorou para ser iniciada.
Apontado como principal responsável pela fraude contábil feita para esconder um
rombo de mais de R$ 40 bilhões nas contas da varejista, a prisão do executivo
possibilitará a elucidação de detalhes do caso, mas só será verdadeiramente
eficaz se as investigações apontarem quem foram os reais beneficiados, além do
próprio CEO.
“Se
ele era o executor, precisamos saber quem eram os eventuais beneficiados de um
esquema que remonta a 2007. Aliás, segundo decisão da B3 havia falhas
inadmissíveis de controle que recaem sobre os principais acionistas. Tanto que
a Americanas foi suspensa do Novo Mercado da B3”, comenta Eduardo Silva,
presidente do Instituto Empresa.
O
trabalho da B3 foi justamente de avaliar as estruturas que fraudes fossem
evitadas e se elas, de fato, funcionariam. Na página 40, o relatório da B3
aponta que a Americanas buscou “ocultar a responsabilidade do conselho de
administração (e do comitê de auditoria) sob o véu do direito de confiar na
informação prestada pelos diretores”. Essa defesa, no entanto, “não pode ser
acatada” porque “isto comprova a inexistência de estrutura de auditoria interna
na companhia".
O
relatório continua, afirmando que “com efeito, a Americanas e todos os membros
do conselho de administração acusados são responsáveis pela não demonstração da
existência e efetividade da área de auditoria interna, em prejuízo da adequada
aferição da qualidade e efetividade dos processos de gerenciamento de riscos,
controle e governança corporativa da Companhia (art. 23, inciso IV do RNM)”.
A
operação “Disclosure” ocorre menos de uma semana depois (19.06.24) de o
Instituto Empresa, por meio do Escritório Lobo de Rizzo, em São Paulo,
comunicar que solicitou investigações formais ao Departamento de Justiça (DOJ)
e à Comissão de Valores Americanas (SEC) sobre o escândalo da Companhia, uma
vez que o mercado de investidores americanos também foi afetado.
No
pedido à SEC e ao DOJ, o Escritório Lobo de Rizzo solicita que a Companhia seja
investigada. Não apenas dois ou três Diretores, mas também os controladores. O
Instituto Empresa já ingressou com arbitragens contra a Companhia e seus
controladores, e, agora, expandiu suas ações para incluir autoridades
internacionais, buscando contribuir com investigações já realizadas pelas
autoridades brasileiras. Há cerca de 500 investidores envolvidos nessas
demandas.
O
Instituto Empresa continua a acompanhar de perto o desenrolar das investigações
e a atuar em defesa dos interesses dos investidores. "Não mediremos
esforços para que o mercado financeiro volte a ter confiança nas práticas de
governança corporativa das empresas brasileiras", concluiu Silva.
No
Brasil, as investigações pretendem apenas examinar a conduta criminal dos
envolvidos e não objetiva a reparação dos acionistas lesados. Nos Estados
Unidos, ao contrário, quando o DOJ estabelece uma multa parte dela,
necessariamente, se reverte aos investidores lesados. No Brasil, eventuais
multas aplicadas pela CVM ou pela Justiça se dirigem à União ou a Fundos
genéricos que não alcançam os prejudicados.
Foi
o DOJ quem determinou que a Petrobras pagasse uma multa de quase R$ 2 bilhões
aos lesados pelas fraudes cometidas entre 2015 e 2018. A equipe da Lava-jato, à
época, resolveu converter os recursos numa fundação privada de combate à
corrupção. Já o STF determinou que os valores fossem dirigidos ao caixa da
União para projetos relacionados à cultura, meio ambiente e educação. “Os
únicos que não foram ressarcidos foram os investidores, por uma indevida
atuação do Poder Público no caso”, afirma Silva.
Desde
janeiro de 2023, a Americanas enfrenta uma série de denúncias e processos
judiciais após a descoberta de um rombo bilionário em suas contas. A fraude,
que resultou em um dos maiores escândalos corporativos do Brasil, envolveu
práticas contábeis irregulares e a omissão de informações cruciais aos
investidores, afetando significativamente o mercado financeiro.
• Há a possibilidade de ex-CEO das
Americanas ser extraditado ao Brasil e ajudar encontrar foragida, diz
diretor-geral da PF
O
diretor-geral da Polícia Federal (PF), André Rodrigues, disse que há
possibilidade do ex-CEO das Lojas Americanas, Miguel Gutierrez ser extraditado
ao Brasil. O executivo foi preso nesta sexta-feira (28) em Madrid, na Espanha.
Rodrigues
está em Lisboa, em Portugal, conversando com as autoridades para estabelecer a
cooperação internacional para encontrar a ex-diretora das Americanas, Anna
Christina Ramos Saicali, que segue foragida.
Miguel
Gutierrez vive na Espanha desde que o escândalo da Americanas estourou, em
janeiro de 2023. Ele tem cidadania espanhola. "Ele [Gutierrez] tem dupla
cidadania e a Espanha não extradita os seus nacionais. Temos que respeitar
todos os trâmites da legislação brasileira, obviamente, e da legislação
espanhola. Já entramos com pedido de prisão preventiva e extradição para o
Brasil", disse Rodrigues.
"Agora,
o poder judiciário brasileiro deve encaminhar a solicitação formal de
extradição à Espanha, que fará a análise jurídica como a verificação de sua
nacionalidade e a gravidade do delito. Tem algumas situações a serem avaliadas
com a soberania do estado espanhol. A partir dessas análises que nós vamos
poder entender os caminhos, se é da possibilidade da extradição, ou até mesmo
do cumprimento da pena na Espanha."
"O
Brasil vai respeitar a soberania espanhola e espera que os tramites sigam o
caminho o mais brevemente possível", disse o diretor-geral da PF.
A
PF deflagrou na quinta-feira (27) a Operação Disclosure, contra as fraudes
contábeis nas Lojas Americanas que, segundo as investigações, chegaram a R$ 25
bilhões. Foram expedidos mandados de prisão contra Gutierrez e Anna Christina.
Os
nomes dos dois chegaram a ser incluídos na Difusão Vermelha da Interpol, a
lista dos mais procurados do mundo.
Ainda
não há informações sobre para qual prisão Gutierrez foi levado. Segundo a
Polícia Federal brasileira, ele foi localizado pelo Centro de Cooperação
Policial Internacional (CCPI), que fica localizado na Superintendência da PF,
no Rio de Janeiro.
O
CCPI é uma unidade que promove a articulação entre diversas instituições
policiais e atua em países como: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Equador, Espanha, Paraguai, Peru e Uruguai.
• PF pede ajuda a Portugal para prender
ex-diretora foragida das Americanas
O
diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, se reuniu com
autoridades de Portugal na tentativa de prender a ex-diretora das Americanas,
Anna Saicali, que está foragida.
Foram
duas reuniões com esse objetivo. O diretor-geral da PF está na linha de frente,
tratando pessoalmente do cumprimento dessa prisão.
“Fiz
reuniões aqui em Lisboa ontem e hoje com a Polícia Judiciária e com a Polícia
de Segurança Publica, solicitando colaboração para prisão desta foragida”,
disseg.
Nesta
sexta (28), o ex-CEO das Lojas Americanas Miguel Gutierrez foi preso em Madri.
A informação foi publicada em primeira mão pelo Blog da Malu Gaspar, do jornal
O Globo.
A
Polícia Federal (PF) havia deflagrado na quinta a Operação Disclosure, contra
as fraudes contábeis nas Lojas Americanas que, segundo as investigações,
chegaram a R$ 25 bilhões.
O
nome de Anna Saicali segue na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais
procurados do mundo.
Segundo
o Ministério Público Federal no Rio, Anna “tomou parte das fraudes ajudando a
criar documentos para apresentar à auditoria, de forma a dar suporte ao saldo
fictício” da Americanas.
PF
inclui dois ex-executivos das Americanas na lista de procurados da Interpol
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CEO das Americanas
Sobre
o CEO das Americanas, Miguel Gutierrez, preso hoje na Espanha, o diretor-geral
da PF falou sobre os próximos passos para tentar a extradição.
• O juiz da Justiça de 1º grau na
Espanha vai encaminhar ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação
Internacional (DRCI) da Polícia Federal brasileira a documentação para a
extradição;
• O Brasil recebe, coloca todos os
pedidos e manda de volta à Espanha;
• O material volta às mãos do juiz
espanhol, a quem caberá decidir.
A
Espanha não extradita seus nacionais, mas há, segundo Andrei Passos, dois
critérios que podem levar a uma decisão de cumprimento de prisão no Brasil: a
data da nacionalidade espanhola e a gravidade do crime.
Se
a Justiça considerar que a nacionalidade foi recente demais e que a gravidade
do crime é relevante, pode permitir uma eventual extradição.
• O que a investigação ainda pode
revelar sobre esquema bilionário
A
Polícia Federal (PF) iniciou nesta quinta-feira (27) a Operação Disclosure, que
investiga a fraude contábil nas Lojas Americanas — R$ 25 bilhões, segundo a
investigação. Considerados foragidos, os nomes de Miguel Gutierrez, ex CEO da
empresa, e Anna Christina Ramos Saicali, uma de suas diretoras, foram incluídos
na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados do mundo.
Mais
de um ano após o escândalo fiscal estourar, o que a Polícia Federal já
descobriu até agora está em linha com as delações premiadas de dois diretores
em junho do ano passado. É o que explica Talita Moreira, editora de Finanças no
jornal Valor Econômico, em entrevista ao podcast O Assunto desta sexta-feira
(28).
"Em
linhas gerais, o que apareceu hoje na operação da Polícia Federal que foi
deflagrada hoje com base ali na nas delações premiadas de dois diretores está
muito em linha com que a própria Americanas, em junho do ano passado, levou lá
para CPI da Americanas."
O
relatório final da CPI foi aprovado em setembro sem pedir indiciamentos. O
parecer tinham 353 páginas e foi aprovado por 18 votos a 8.
Mas
ainda faltam saber algumas coisa, como explica Talita, que está escrevendo um
livro sobre o caso.
"Tem
uma coisa que eu acho fundamental. Os diretores, os acusados, eles já foram
ouvidos e tal pela polícia, mas a o teor do que eles dizem não é público ainda,
né?"
"E
eles negam que eles tenham cometido uma fraude, e eles dizem 'olha, tudo o que
eu sei, o Conselho de Administração sabe, então se eu sei, se eu cometi uma
fraude, ele, pelo menos, ele está cúmplice, os conselheiros são cúmplices, né'.
Isso é o que eles vem tentando mostrar."
A
defesa de Miguel Gutierrez declarou que ele jamais participou ou teve
conhecimento de qualquer fraude, e que tem colaborado com as autoridades. A
assessoria da Anna Saicali não se posicionou.
• Como o ex-CEO tentou blindar
patrimônio após fraude contábil, segundo a PF
A
Polícia Federal (PF) aponta que o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, preso
na manhã desta sexta-feira (28) em Madri, na Espanha, fez uma série de
movimentações para blindar seu patrimônio em meio ao escândalo contábil de mais
de R$ 25 bilhões da Americanas.
Gutierrez
foi um dos principais alvos da Operação Disclosure, contra a fraude na
varejista, deflagrada nesta quinta-feira (27). Ele e a ex-diretora da
Americanas Anna Christina Ramos Saicali tiveram prisão preventiva determinada
pela Justiça.
Ana
também está fora do país e é considerada foragida. Por isso, ela teve seu nome
incluído na lista dos mais procurados do mundo da Interpol.
Além
dos 2 mandados de prisão preventiva, foram realizados 15 mandados de busca e
apreensão contra outros ex-executivos do grupo.
• Blindagem e transferência de bens
Em
um extenso documento, a Polícia Federal afirma que Miguel Gutierrez vinha se
empenhando em blindar seu patrimônio logo após deixar seu cargo na Americanas,
"sabendo que o escândalo iria explodir".
Segundo
as investigações, Gutierrez criou um "engenhoso esquema societário"
que inclui o envio de diversas remessas de valores a offshores sediadas em
paraísos fiscais. Offshores são rendimentos obtidos fora do Brasil, por meio de
aplicações financeiras ou empresas no exterior.
"Os
e-mails encontrados na conta institucional de Miguel Gutierrez revelam a
criação de um engenhoso esquema societários, com diversas remessas de valores a
offshores sediadas em paraísos fiscais", diz a PF em inquérito.
Segundo
a Polícia Federal, dias antes de Gutierrez deixar seu cargo na Americanas, ele
estabeleceu um "desafio" de blindar seu patrimônio, que teria como
premissa básica o "sigilo completo".
A
estruturação do plano, de acordo com a PF, tinha como finalidade
"dissociar qualquer ligação formal" entre Gutierrez e seu patrimônio.
Ainda
conforme o documento da PF, o ex-CEO da Americanas traçou 2 etapas em seu plano
de blindagem. A 1ª, de longo prazo, seria a "reserva de valor" e a
"sucessão". A 2ª, de curto prazo, seria a "blindagem
patrimonial", o que a Polícia Federal trata como "ocultação de
patrimônio".
• Implementação do 'plano'
Segundo
o inquérito, Gutierrez passou, então, a transferir todos os imóveis em seu nome
para empresas a ligadas a seus familiares, ficando apenas com um imóvel em seu
nome, instituído como "bem de família".
Paralelamente,
conforme as investigações, Miguel Gutierrez remetia valores a empresas ligadas
a ele e a seus familiares no exterior. Nesse sentido, a PF também aponta
anotações do próprio executivo que indicam transferência de valores para a
esposa dele.
"Outros
e-mails também retratam as operações desenhadas, como por exemplo o contrato de
mútuo entre as empresas Tombruan Participações Ltda (sediada no Brasil) e
Tombruan Corporation Ltd. (sediada em Nassau, Bahamas) no valor de U$
1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil dólares americanos)", continua o
documento da Polícia Federal.
De
acordo com a PF, um assistente de investimentos de um banco na Europa passou
orientações a Miguel Gutierrez, a seu filho Tomás e à sua esposa, Maria, sobre
movimentações da companhia Tombruan — empresa da família citada na troca de
e-mails.
As
investigações apontam que o ex-CEO da Americanas e seus familiares começaram a
reformular suas sociedades empresariais já em 2022, antes de o escândalo
contábil vir à tona.
"Além
de constituir novas empresas, Miguel Gutierrez deixa o quadro societário das
empresas Sogepe Participações LTDA e Tombruan Participações LTDA no ano de
2023", complementa a PF, relatando uma série de outras alterações em
empresas da família de Gutierrez.
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Justificativa para o pedido de prisão
Segundo
a Polícia Federal, Miguel Gutierrez e sua esposa, Maria Nazareth, viajaram para
a Espanha em 29 de junho de 2023, "a fim de evitar qualquer
responsabilização" do caso Americanas "nos âmbitos criminal, cível ou
administrativo". Gutierrez tem nacionalidade brasileira e espanhola.
"Gutierrez
já havia remarcado a passagem de volta para 20/06/2024, mas após ter tido
ciência da existência de cautelares penais em face a sua pessoa em 06/05/2024,
acabou por não retornar ao Brasil visando garantir a não aplicação da lei
penal", diz a PF em inquérito.
Em
sua justificativa para pedir a prisão preventiva do ex-CEO da Americanas, a
Polícia Federal também informou em inquérito que Gutierrez permanece
"ocultando patrimônio".
"O
fato de Miguel Gutierrez ainda permanecer ocultando patrimônio, bem como
provavelmente praticando outros atos de ocultação patrimonial, demonstram a
contemporaneidade dos ilícitos cometidos, bem como a necessidade de decretação
de sua prisão preventiva", justificou a PF.
Fonte:
Por Ana Borges, da Compliance Comunicação/g1
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