Por que
ex-CEO e ex-diretora das Americanas foram alvos de mandados de prisão
O
ex-CEO das Lojas Americanas, Miguel Gutierrez, e uma das ex-diretoras da
empresa, Anna Christina Ramos Saicali, foram alvos de mandados de prisão na
Operação Disclosure, iniciada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira
(27/6).
A
operação investiga fraudes que, segundo as apurações, chegam a R$ 25,3 bilhões
na empresa, uma das maiores varejistas do país.
O
rombo bilionário, divulgado em janeiro de 2023, levou a empresa a entrar em
recuperação judicial para tentar evitar a falência.
Miguel
e Anna Christina, que estão fora do Brasil, já são considerados foragidos. A
reportagem não conseguiu localizar as defesas deles.
De
acordo com o G1, a Justiça Federal decretou as prisões deles justamente porque
a Polícia Federal alertou que havia risco de fuga.
Miguel
tem cidadania espanhola e está em Madri. Anna foi para Portugal, mas não se
sabe onde. Os nomes deles serão incluídos na Difusão Vermelha da Interpol, a
lista dos mais procurados do mundo.
Ainda
conforme o G1, a PF considera a hipótese de não obter a extradição de Miguel e
de Anna, mas já trabalha em um pedido de cooperação internacional para
compartilhar provas com autoridades espanholas e portuguesas para que ao menos
os ex-dirigentes possam responder no exterior.
Em
nota, a Americanas diz que "que foi vítima de uma fraude de resultados
pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos
existentes" e afirmou que confia "nas autoridades que investigam o
caso".
"A
Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para
responsabilizar judicialmente todos os envolvidos", diz o comunicado da
empresa.
• As fraudes
As
investigações da PF apontaram que os ex-diretores das Americanas praticaram
fraudes contábeis.
Apesar
de os mandados de prisão envolverem apenas Miguel e Anna Christina, há outros
12 investigados.
Ao
todo foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em residências no Rio de
Janeiro de ex-diretores das Americanas.
A
Justiça Federal determinou o bloqueio de R$ 500 milhões em bens dos envolvidos.
A
fraude bilionária, segundo a PF, funcionava por meio de uma manipulação nos
resultados financeiros da empresa, para mostrar um falso aumento de caixa e
valorizar as ações da empresa na bolsa.
Um
desses tipos de manipulação nos resultados funcionava por meio de operações de
risco sacado, na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores
por meio de empréstimo em bancos.
Havia
também, segundo as apurações, contratos envolvendo verba de propaganda
cooperada (VPC). Nesse caso, a fraude era relacionada a incentivos comerciais
que geralmente são utilizados no setor, mas nesse caso eram contabilizadas VPCs
que nunca existiram.
Essas
fraudes faziam, segundo a PF, com que os executivos recebessem bônus
milionários por conta do desempenho e conseguissem lucros ao vender as ações
infladas no mercado financeiro.
A
apuração ainda revelou fortes indícios de crime de manipulação de mercado, uso
de informação privilegiada, também conhecido como "insider trading”,
associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Essas
investigações foram feitas por meio de depoimentos de colaboradores ou
ex-colaboradores da empresa, inclusive os investigados. Também foram feitas
perícias e análises em materiais entregues pela empresa e pelos funcionários.
A
operação deflagrada pela PF teve o apoio do Ministério Público Federal e da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Os
mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
A
operação levou o nome de disclosure por ser uma expressão muito usada no
mercado financeiro e que representa dar informações claras a todos os
interessados sobre a real situação econômica de uma empresa.
• A recuperação judicial
Diante
das fraudes divulgadas em janeiro de 2023, a empresa foi alvo de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados em maio do ano passado.
Essas
apurações mostraram que havia possível envolvimento de pessoas do corpo
diretivo da empresa no rombo bilionário. No entanto, a CPI disse em seu
relatório final que não poderia indiciar ninguém.
Desde
aquele janeiro de 2023, a Americanas enfrenta um duro período, com ações em
queda, lojas fechadas e demissões de funcionários.
No
fim do ano passado, a varejista demitiu 5,2 mil funcionários. A empresa
encerrou 2023 com 33,8 mil funcionários, cerca de 10 mil a menos do que havia
começado naquele ano.
A
empresa argumentou, em dezembro, que as dispensas dos mais de 5 mil
trabalhadores entre o fim de novembro e começo de dezembro eram referentes a
desligamentos voluntários (306 registros) e 4.876 términos de contratos
temporários, principalmente referentes a contratados para a Black Friday. Além
disso, alegou ter admitido 359 funcionários.
Desde
o começo do ano passado, a Americanas debate sobre os pagamentos dos credores,
após o pedido de recuperação judicial, uma ferramenta jurídica para viabilizar
a reestruturação de uma empresa em crise ou a ponto de falir.
Uma
vez que a dívida de uma empresa atinge um patamar acima da capacidade de
pagamento da companhia, entra-se com um pedido na Justiça para que os débitos
sejam congelados enquanto se organiza uma maneira de honrá-los.
No
âmbito da recuperação judicial, a Americanas recorreu a um empréstimo concedido
a empresas em dificuldades financeiras, o DIP (devedor em posse, em tradução
literal) de R$ 2 bilhões, o que impediu que a empresa precisasse vender ativos
a preços baixos ou de contrair empréstimos mais caros, que são concedidos a
empresas em crise.
Em
dezembro, a varejista conseguiu aprovar o plano de recuperação judicial em
Assembleia Geral de Credores (AGC), com o apoio de mais de 90% dos votantes.
Essa
aprovação do plano, principalmente por parte dos bancos - os principais
credores -, é fundamental para que uma empresa possa dar início à sua recuperação.
Em
nota após a votação, o atual CEO da Americanas, Leonardo Coelho, especialista
em gestão de crises, afirmou que o plano cria um "caminho bem pavimentado
para a reconstrução operacional e financeira" da empresa.
“O
plano aprovado nos permite uma reestruturação de dívida e equacionamento
financeiro para que possamos focar na estratégia de negócios e na meta de
rentabilidade positiva em 2025, com plena captura da transformação que estamos
promovendo em toda a companhia”, disse a diretora financeira da empresa,
Camille Faria.
Ainda
são discutidas novas estratégias de reestruturação para a empresa, que segue
funcionando nos meios físico e virtual.
Fonte:
BBC News Brasil
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