Luís Nassif:
Xadrez do panorama visto de Brasília
Em
algum momento próximo ou distante vai cair a ficha de Lula sobre a relevância
desse pacto da produção e desse desenho do futuro.
O
jogo atual tem as seguintes peças:
<><> 1 – as oportunidades em jogo
O
país ingressa em um período em que os ventos mundiais são favoráveis,
especialmente através da nova política industrial induzida pela transição
energética.
Tem
condições de definir novas políticas industriais, uma nova industrialização,
ter um papel central na nova etapa de desenvolvimento, por dispor das seguintes
características:
• produção de energia limpa;
• existência de minerais estratégicos;
• um sistema de inovação que resistiu a
dois governos predadores;
• uma figura política da dimensão de
Lula.
Por
outro lado, enfrenta os seguintes problemas:
• uma direita irracional, que continua
a botar água no moinho da ultradireita;
• uma mídia que não aprendeu nada com 6
anos de destruição e com a bocarra escancarada da ultradireita;
• o esgarçamento do sentimento de
Nação, fazendo com que interesses individuais invadam todos os poros da
República.
<><>
Peça 2 – o papel de Lula
Uma
das grandes dúvidas é sobre o papel que Lula vai desempenhar, como Lula se vê
nesse jogo.
No
primeiro terço do mandato viu-se um presidente acuado pelo Congresso, temeroso
em relação às Forças Armadas, tentando recompor uma administração pública
arrasada por 6 anos de esbórnia e saques.
Seu
modelo de sobrevivência política, até agora, não mostra futuro. Se continuar a ceder a todas as pressões, vai
chegar ao fim do mandato sem sofrer impeachment, mas sem capital político para
encher meio quarteirão da Paulista.
Apenas
nas últimas semanas viu-se um Lula mais combativo.
No
entanto, ainda não encontrou a embocadura. Ou comete esse primarismo de falar
em Jesus para tentar conquistar evangélicos. Ou limita-se a um discurso crítico
– necessário, saliente-se – contra a Faria Lima, mas sem conseguir apresentar
um projeto de futuro.
Não
se minimize a importância de colocar Roberto Campos Neto no centro do fogo. Nos
últimos dias, a crítica de Lula foi um divisor de águas. Há um modelo torto de
política monetária – com as tais metas inflacionárias -, mas há um sabotador
lotado no Banco Central. Graças ao primarismo de Campos Neto – tão
irresponsável quanto qualquer garoto iniciante da Faria Lima – esse boicote
ficou expresso.
Mas
não basta a crítica: tem que haver o projeto.
É
curioso! Já existe o embrião desses projetos – na Neoindustrialização e no
programa de Transição Energética -, algumas medidas tomadas, mas Lula ainda não
se deu conta desse potencial para se aproximar do setor produtivo, do capital
produtivo nacional e até das pequenas e micro empresas.
Em
algum momento próximo ou distante vai cair a ficha de Lula sobre a relevância
desse pacto da produção e desse desenho do futuro. Mas ainda não caiu.
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Peça 3 – os responsáveis pela alienação de Lula
O
machismo decretou que a responsabilidade pela falta de vontade de Lula é de sua
esposa Janja. Ou seja, um estadista do porte de Lula, de dimensão
internacional, com quase 80 anos, sendo enrolado por uma jovem esposa. Contem
outra!
O
problema de Lula é outro.
Lula
é um ouvinte voraz de cenários. É capaz de passar horas ouvindo o interlocutor
apresentar todas as variáveis de determinado problema para, depois, tirar a
conclusão mais sábia e objetiva. Todos os que trabalharam com ele sabem disso.
A
diferença é que nos governos anteriores havia dois Ministros-Chefes da Casa
Civil peso-pesados: José Dirceu e Dilma Rousseff (sim, Dilma foi uma baita
Ministra-Chefe da Casa Civil), ambos com bom nível intelectual e com capacidade
de captar as questões essenciais e expor a Lula todos os lados. Em cima dessas
exposições, Lula tomava suas decisões.
Agora,
tem-se dois problemas.
O
primeiro atende pelo nome de Rui Costa. Ex-governador da Bahia, Costa é um
político provinciano – e não tome o “provinciano” como manifestação de desdém:
adoro os provincianos e caipiras. Escrevi a biografia de um banqueiro que
admirava a sabedoria caipira, daqueles que são capazes de, a partir do seu
pedaço, entender o mundo.
Não
é o caso de Rui Costa. Sua visão está limitada a uma Bahia pós-carlista, não a
Bahia de Rômulo de Almeida e sua visão de futuro, mas de ACM, e seu estilo de
mando. E ele é o principal filtro das informações para Lula e uma influência
perigosa quando se alia aos lobbies do Ministro das Minas e Energia, Alexandre
Silveira, que aplica a mesma falta de limites de Arthur Lira, mas operando no
centro do governo.
Esse
ensaio da cegueira teve Lula a acreditar que, conduzindo o governo da maneira
atual, a economia chegará bombando em 2026 e ele será reeleito.
Não
se deu conta das mudanças fundamentais ocorridas entre 2008 e 2024 e do desenho
do novo país. Os dois primeiros governos foram uma continuidade humanizada de
FHC. Foi um FHC com Dona Ruth, com Antonio Palocci assumindo o papel de Pedro
Malan, Henrique Meirelles o de Gustavo Loyola. Foi só quando explodiu a crise
de 2008 que apareceu o Lula estadista, comandando a resistência brasileira e
saindo da crise como o grande estadista mundial.
A
dúvida que fica é se 2008-2010 foi um acidente de percurso na biografia de Lula
ou foi o ensaio de Lula estadista, essencial para a salvação da democracia
brasileira em 2026.
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Peça 4 – a neoindustrialização
Uma
política de neoindustrialização precisa contar com a ação sincronizada dos
seguintes instrumentos:
• política fiscal;
• política creditícia;
• política de comércio exterior;
• Política de inovação.
Há
um objetivo a ser perseguido que deveria ser claro: a definição dos setores
prioritários; a avaliação individual de cada grande projeto, o espaço que cabe
ao capital nacional e à geração de emprego; a necessidade maior ou menor de
proteção comercial.
É a
partir dessas definições que haverá maior ou menor estímulo fiscal, creditício,
defesa comercial etc.
No
Plano de Metas, JK definiu claramente que a indústria automobilística teria que
ter sócios brasileiros e a indústria de autopeças ser de capital nacional.
Conseguiu mobilizar o capital financeiro para a nova empreitada.
Até
agora, pouco se viu da política neo industrial. Há medidas positivas, fruto da
parceria do MDIC com a Fazenda, de Fernando Haddad – sim, Haddad tem sido
essencial para os programas que saíram até agora, mas é conhecido apenas pelo
saco de maldades dos cortes. Mas, mesmo no MDIC, há conflitos de visão de
industrialização, entre um grupo mais liberal da Câmara de Comércio Exterior e
o grupo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial. Hierarquicamente, a
Câmara tem posição superior ao CNDI, quando deveria ser mais um instrumento de implementação
da neoindustrialização.
O
caminho será um Grupo Executivo – como tenho salientado aqui há muitos meses -,
juntando todos os setores do governo e da sociedade civil, mas consolidando
planos, com cronograma, responsabilidades e prazos. E com o executivo do
Conselho reportando-se diretamente ao Presidente da República.
Uma
hora Lula vai se dar conta de que esse formato – e a ampliação do horizonte,
para além do padrão Rui Costa – lhe dará uma condição única de elaborar o
discurso da construção do futuro. E, a partir dele, trazer de volta o
sentimento de Nação, destruído pela irresponsabilidade generalizada das
instituições na década perdida de 2010.
• Banco Central eleva as estimativas do
PIB e da inflação para 2024
O
Banco Central divulgou, nesta quinta-feira (27) o relatório de inflação do
segundo trimestre, em que projeta que o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) este ano será de 2,3%, em vez da estimativa de 1,9% informada
anteriormente.
A
nova expectativa está baseada no crescimento de 0,8% do PIB no primeiro
trimestre, o que a instituição descreveu como “robusto e superior ao esperado”.
Contribuem
para a estimativa ainda o cenário doméstico, a atitude econômica e o mercado de
trabalho aquecido, fatores que influenciaram a queda no desemprego e aumento
dos salários.
“Esses
fatores justificaram a revisão para cima da projeção de crescimento do PIB em
2024, de 1,9% para 2,3%. As enchentes no Rio Grande do Sul causaram expressiva
queda na atividade econômica gaúcha, mas já há sinais de recuperação”, informou
o BC.
Já
no cenário externo, a situação se mantém adversa e demanda cautela dos países
emergentes, uma vez que permanecem elevadas as incertezas sobre a
flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade
na queda da inflação de forma sustentada em diversos países.
“Os
bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a
convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente marcado por
pressões nos mercados de trabalho”, diz o relatório.
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Inflação
Em
contrapartida, a instituição elevou a projeção para a inflação, que em vez de
3,5%, deve fechar 2024 em 4%/ – resultado que indica que, apesar do recuo,
houve aumento na expectativa de desancoragem.
“Contudo,
o recuo da inflação no último trimestre foi menor do que o projetado no cenário
de referência apresentado no Relatório anterior (surpresa de +0,14 p.p.),
destacando se alta mais intensa dos alimentos. Em meio a aumento de incertezas
nos cenários doméstico e externo, as expectativas de inflação para 2025 e 2026,
que já se encontravam acima da meta de inflação para o período, aumentaram de
3,5% para 3,8% e 3,6%, respectivamente, segundo a mediana apurada pela pesquisa
Focus”, informa o relatório.
Ainda
de acordo com o documento, o aumento é resultante da atividade econômica mais
forte que o esperado.
Fonte:
Jornal GGN
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