quinta-feira, 27 de junho de 2024

WALDECK ORNÉLAS: ‘O CACAU E O LITORAL SUL BAIANO’

De repente, um sopro de euforia, otimismo e esperança varreu a zona cacaueira baiana, com a multiplicação do preço da arroba de cacau, após três anos consecutivos de déficit na produção mundial, uma decorrência da crise da produção na Costa do Marfim e em Gana, na África Ocidental, os dois maiores produtores mundiais. Hora dos produtores baianos quitarem dívidas, plantarem mais e incorporarem tecnologia, para fazer com que o cacau volte a brilhar na sua tradicional região produtora.

Em relação ao cacau, sua principal lavoura, esta é a boa notícia para o Litoral Sul baiano, nova denominação que recebeu a antiga “região cacaueira”. A má notícia é que “áreas atípicas”, no cerrado, estão tomando seu lugar, com o desenvolvimento de novas tecnologias e a seleção de mudas que resistem à exposição solar, plantando cacau em sistemas de irrigação.

Preocupadas com a disponibilidade da matéria prima, são as próprias grandes empresas agroindustriais e comercializadoras do cacau que estão provendo o desenvolvimento dessas novas áreas de produção. Mesmo empresas de chocolate, que nasceram a partir do cacau premium aqui produzido, começam a buscar produtores fora do Sul da Bahia. Por exemplo, a Dengo, que trabalhava exclusivamente com produtores da região, vai fazer uma segunda fábrica, também em São Paulo, e vai diversificar as suas fontes de fornecimento da matéria prima. Neste sentido, a Ong Arapyau promoveu, recentemente, a visita de produtores paraenses que vieram conhecer, para replicar, a experiência da região.

O Brasil produz atualmente menos de 5% da oferta global de cacau e tornou-se importador líquido. Mas a Ceplac espera que, até 2030, dobre para 440.000 t/ano a produção nacional, passando o país a ocupar a terceira posição de maior produtor global.

Os cacauicultores baianos precisam aproveitar ao máximo a oportunidade presente, visando assegurar a sua fatia de mercado, mas a região, nem por isto, pode cometer o erro de colocar, outra vez, “todos os ovos em uma cesta só”.

É preciso diversificar a economia regional, agregando outros vetores de expansão. O aglomerado urbano Ilhéus-Itabuna forma a terceira maior centralidade do interior da Bahia, superado apenas por Feira de Santana e Vitória da Conquista, embora Ilhéus e Itabuna – que é o centro regional de comércio e serviços – tenham sofrido redução populacional ao longo do último período intercensitário, um reflexo da perda do dinamismo regional.

É grande o cardápio de projetos e iniciativas que, implementados, darão novo vigor à antiga capitania de Ilhéus. A construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) se destaca como elemento fundamental nessa nova configuração espacial do desenvolvimento. A conexão da FIOL com a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), dando origem a um importante Corredor Centro-Leste, permite trazer para Ilhéus os grãos do Mato Grosso, além da produção do Oeste baiano e do Matopiba.

A expedição, pelo governo federal, da ordem de serviço para continuidade das obras da FIOL II aumenta, ainda mais, a responsabilidade da concessionária Bamin pelo cumprimento do prazo de conclusão da FIOL I e implantação do Porto Sul.

Integrado à ferrovia, o Porto Sul terá capacidade para movimentação anual de 40 milhões de toneladas de minério de ferro e 20 milhões de toneladas de grãos, constituindo-se em uma grande alavanca para a região. A dragagem e a modernização do porto da Codeba reforçarão a economia local.

Abrem-se perspectivas novas para a industrialização. E a zona de processamento de exportações (ZPE) para aí autorizada desde que o modelo foi instituído, encontra, nesse novo contexto econômico, a oportunidade de, finalmente, sair do papel.

De há muito, Ilhéus necessita de um novo aeroporto para fortalecer sua função regional. Seu deslocamento para outra área, por sua vez, permitirá o desenvolvimento de um projeto urbano-imobiliário no bairro do Pontal que, bem concebido, reconfigurará toda esta área da cidade.

O novo aeroporto, moderno e com maior capacidade, permitirá a Ilhéus apostar com mais firmeza no turismo, não apenas de sol e praia, podendo tirar maior partido da cultura grapiúna, hoje já aproveitado pelo turismo rural, oferecido nas antigas fazendas de cacau. Depois de ter feito sucesso na literatura, no cinema e na TV, por que não Gabriela – a criação imortal do imortal Jorge Amado – tornar-se parque temático?

Hotéis e serviços precisarão ser desenvolvidos para atender ao turismo e às atividades decorrentes desse novo contexto econômico. O centro de convenções, requalificado, deve ser complementado com pavilhão de feiras e exposições, além de hotel.

A estruturação do eixo viário Ilhéus-Conquista, em pista dupla, dotado de fibra ótica e gasoduto – articulando o segundo e o terceiro maiores centros urbanos do interior baiano – configurará um novo eixo de desenvolvimento, desconcentrando a economia baiana, contribuindo para sua diversificação e adensamento, para expandir as oportunidades de trabalho e renda da população. Conquista teve um crescimento populacional de 20,8% no último período intercensitário.

Este conjunto de elementos, aglutinados pela reativação da mística do cacau, permite agora que o aglomerado Ilhéus-Itabuna possa recuperar a relevância que sempre teve no cenário estadual baiano.

 

•           Agronegócio representa 13,7% da economia baiana no 1º trimestre de 2024

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio baiano, calculado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), totalizou R$ 16,9 bilhões no primeiro trimestre de 2024, representando 13,76% do PIB estadual para o período. Essa participação é inferior à verificada no mesmo trimestre de 2023, quando era equivalente a 16,4% do PIB total baiano, sendo que a perda de participação se dá, sobretudo, por uma retração significativa nos preços dos produtos da agropecuária e da agroindústria.

A estimativa do PIB do agronegócio baiano é calculada pela equipe de Contas Regionais da SEI a partir da análise e cálculo de quatro grandes agregados: Agregado I (insumos para a agropecuária); Agregado II (agropecuária, conforme consta nas Contas Regionais, incluindo agricultura, pecuária, silvicultura, extrativismo vegetal e pesca); Agregado III (indústrias de base agrícola – consomem produtos do agregado II); e Agregado IV (transporte, comércio e serviços referentes à distribuição final dos produtos dos agregados II e III).

Quando são comparados os valores correntes do 1º trimestre de 2024 com o 1º trimestre de 2023, observa-se que houve retração de 8,2%, o que equivale a R$ 1,5 bilhão a menos entre os trimestres.  Neste período, o Agregado IV foi o que mais contribuiu para a definição da taxa final (47,2%); na sequência vem o Agregado II (23,4%), Agregado III (17,4%) e agregado I (12,0%).

Ao se comparar o 1º trimestre de 2024 com o 1º trimestre de 2023, percebe-se todos agregados contribuíram menos na formação do PIB estadual. João Paulo Caetano, coordenador de Contas Regionais da SEI, explica porque o Agronegócio perdeu participação: “quando analisamos a participação de um segmento no PIB, estamos considerando, além das variações em termos reais, também as variações de preços. Nesse sentido, podemos ter, por exemplo, aumento nas quantidades produzidas (variação real) e ao mesmo tempo queda no valor corrente; essa queda se dá quando as variações negativas nos preços são superiores à variação real. No primeiro trimestre de 2024 tivemos essa combinação onde, apesar de se ter crescimento real de 1,3%, houve retração média de 9% nos preços do agronegócio, o que determinou menor participação da atividade na economia baiana”.

Cabe salientar que o primeiro trimestre, apesar da ocorrência de algumas importantes safras, não é o principal para o agronegócio baiano, haja vista que a maior parte da produção agropecuária baiana se desenvolve no segundo trimestre e isso caracteriza impactos positivos tanto no próprio segmento agropecuário (Agregado II) quanto nos demais segmentos, especialmente transporte e comercialização, que compõem o Agregado IV. Considerando essa especificidade, espera-se que no segundo trimestre se verifique um desempenho mais favorável para o segmento do agronegócio baiano com elevação da participação no PIB total da Bahia; entretanto, é possível que o aumento de participação não seja tão significativo como nos anos anteriores em função dos movimentos descendentes nos preços da maior parte dos produtos agropecuários.

 

Fonte: Bahia Econômica/Tribuna da Bahia

 

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