Tecnologia:
concorrente ou aliada dos profissionais de enfermagem?
A
enfermeira entra no quarto no exato momento em que o paciente com risco de
queda está tentando sair da cama sem ajuda de ninguém. Seria uma feliz
coincidência? Não. Ela foi lá porque um sistema de inteligência artificial (IA) e machine learning interpretou as imagens da câmera do
quarto e fez o alerta. A cena acima é real e aconteceu no Einstein. Em maior ou
menor escala, a tecnologia embarcada nos hospitais vai se ocupando de tarefas
repetitivas e menos nobres, liberando tempo da enfermagem para aquilo que
agrega mais valor no cuidado do paciente.
Imagine
acontecimentos bem corriqueiros em um hospital: quantas vezes a enfermagem é
acionada pelo paciente que quer apenas pedir para abrir a persiana do quarto ou
solicitar algum serviço da copa ou da lavanderia? Aqui no hospital, mapeamos
que demandas do tipo respondiam por 56% dos pedidos feitos para a enfermagem.
Um sistema de automação de leito implementado recentemente aqui dá autonomia ao
paciente para disparar comando por meio de um tablet para acender/apagar a luz
ou direcionar pedidos diretamente para a copa ou lavanderia. Isso vem reduzindo
a carga da enfermagem para essas tarefas, além de ajuda-los, também, a informar
necessidades assistenciais, como solicitar um medicamento para aliviar a dor.
Ao invés de ir ao quarto para ouvir o sintoma, providenciar o analgésico e
voltar para administrá-lo, a interação digital permite que o profissional já vá
ao quarto com a medicação.
A enfermagem virtual é outra
aliada que alivia a carga de trabalho da enfermagem real. Já há sistemas
disponíveis que auxiliam na checagem da administração de quimioterapia, por
exemplo. Um enfermeiro que está a distância acompanha o processo virtualmente
(fazendo dupla com o colega in loco) no acesso do prontuário, se incumbindo de
preencher a documentação. É economia de tempo de deslocamento de um
profissional e economia de tempo com tarefas administrativas de quem está na
linha de frente. Além disso, facilidade e agilidade do processo contribuem para
maior adesão ao procedimento de segurança.
E
por falar em tarefas administrativas, a IA também vem estendendo seus tentáculos
por lá. As planilhas de Excel para determinar escalas de trabalho, sem margem
para ajustes no número de profissionais em relação à demanda, começam a dar
lugar para sistemas que usam IA capazes de fazer isso. A ferramenta analisa
dados da série história do ano anterior e faz um estudo de ocupação por área e
por dia. Isso evita sobrecarga de trabalho nos dias de maior demanda ou, ao
contrário, ociosidade nos dias mais tranquilos.
Novas
tecnologias em equipamentos e dispositivos são outros trunfos da enfermagem.
Por exemplo, alguns indivíduos podem apresentar retenção urinária após a
cirurgia. Há algum tempo, acompanhávamos o quadro com exame clínico ou havia a
necessidade de deslocar o paciente até o setor de ultrassom para fazer a
medição do volume de urina dentro da bexiga. Hoje, com o ultrassom portátil é
possível fazer isso à beira leito e, dependendo do resultado, já proceder a
sondagem. Um enfermeiro ou enfermeira devidamente capacitado(a) é quem coloca o
PICC (sigla em inglês de cateter venoso central de inserção periférica), usando
o mesmo ultrassom portátil para fazer a punção da veia. O cateter de acesso
periférico traz menor risco de complicações e infecções do que o cateter venoso
central convencional. Cateteres venosos centrais são necessários em terapias
intravenosas mais prolongadas, mas devem ser mantidos estritamente o tempo
necessário. O Einstein combina tudo isso com IA: é um algoritmo que ajuda a
enfermagem a identificar qual paciente tem indicação para uso do PICC.
Existem
muitos outros exemplos, mas escolhi esses para ilustrar que inovações na
assistência à saúde são transversais a todo o corpo clínico, em diferentes
pontos de contato com o paciente ou na rotina de trabalho. Mas, assim como
acontece entre profissionais médicos, há quem se pergunte se as tecnologias vão
substituir enfermeiras e enfermeiros. No que diz respeito a isso, eu repito o
refrão que há muito falo: a tecnologia não vai substituir o profissional, pelo
contrário. Aqueles que não a abraçarem serão substituídos pelos colegas que o
fazem. Da simplificação de rotinas ao apoio à decisão, as ferramentas liberam
espaço para que o profissional exerça funções primordiais atreladas ao cuidado.
Engrossa esse coro a enfermeira Claudia Laselva, diretora de Operações e
Enfermagem do Einstein: “A tecnologia não vai substituir os profissionais de
enfermagem. Mas quem souber utilizar esses recursos vai cuidar melhor dos
pacientes e ter um posicionamento mais relevante no mercado”.
Fonte:
Por Sidnei Klajner, no Futuro da Saúde
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