Debate de
Trump e Biden revela liderança 'deprimente' nos EUA
Em
entrevista à Sputnik Brasil, especialistas em política norte-americana
analisaram o debate presidencial de ontem (27) à noite entre o ex-presidente
Donald Trump e o atual presidente, Joe Biden. Apesar do embate entre os dois e
do resultado final da eleição, dificilmente algo vai mudar na política externa
dos Estados Unidos, afirmaram.
Observado
por cidadãos comuns e líderes mundiais com o mesmo afinco, o debate
presidencial dos Estados Unidos foi assistido nos quatro cantos do planeta. E
não é à toa. Defendendo seus interesses políticos e econômicos, os EUA se
intrometem nas políticas regionais, e a escolha do seu próximo líder pode
implicar em mais ou menos consequências desse policiamento global feito pelo
país norte-americano.
Dito
isso, os maiores jornais do mundo acordaram espantados com o desempenho do
atual presidente, Joe Biden, do francês Le Monde e do polonês Onet ao finlandês
Yle e ao italiano Corriere della Sera, todos concordaram que Biden teve uma
péssima atuação.
"É
a primeira vez em muito tempo, em termos de eleições americanas, que eu ouço
falar e substituir um candidato a tão pouco tempo de eleição", afirma
Lucas Leite, professor doutor de relações internacionais da Fundação Armando
Alvares Penteado (FAAP) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT/INEU).
"Joe
Biden parecia estar muito abatido, muito apático, em alguns momentos falava
muito baixo, falava de forma difícil, desentendida."
Seu
opositor, Donald Trump, "inclusive utilizou disso o tempo todo para
demonstrar como ele tem maior virilidade, mais força, mais vigor para ser
presidente dos EUA".
Apesar
dessas demonstrações, aponta Leite, isso não quer dizer que Trump seja mais
adequado para a presidência. Uma checagem de fatos do jornal The New York Times
"mostrou que Trump mentiu , ocultou ou desinformou de alguma forma pelo
menos 14 vezes, enquanto Biden em torno de três vezes", sublinha.
Para
Monica Hirst, colaboradora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e professora de política
internacional na Universidade Torquato Di Tella na Argentina, o debate foi
"deprimente".
"Um
retrato de um momento extremamente delicado e frágil da liderança
americana."
Ambos
os candidatos "projetam uma imagem frágil, com pouca consistência",
diz a analista. "Ficou claro que não há uma liderança neste momento no
país capaz de assumir um papel [de protagonismo mundial]."
"É
muito difícil, inclusive, avaliar a própria candidatura do Trump porque ela
está extremamente beneficiada pelo enfraquecimento do seu competidor",
afirma a professora.
Frente
ao mau desempenho de Biden, muitos analistas e até membros de seu próprio
partido estão pedindo por sua substituição enquanto candidato do Partido
Democrata. Isso ocorre pois o debate da CNN se deu antes da data de fechamento
das candidaturas. O próprio Biden, quando assumiu, se declarou um
"presidente de transição", mas a ideia foi abandonada durante sua
gestão na Casa Branca.
Em
seu lugar, dois nomes são cotados: a vice-presidente, Kamala Harris e o
governador da Califórnia, Gavin Newsom. O problema, diz Hisrt, é que há pouco
tempo para "construir" essa candidatura até 5 de novembro, data das
eleições norte-americanas.
·
'Zelensky não dormiu esta noite'
O
tema de política externa dos Estados Unidos dominou o primeiro bloco do debate
presidencial e o tipo de enfrentamento à Rússia foi o foco no embate entre
ambos os candidatos.
Biden
se orgulhou de ter criado uma ampla frente de nações contra a Federação da
Rússia como punição por sua operação especial, enquanto Trump criticou o
democrata por ter, em primeiro lugar, permitido o conflito, e depois por
financiar Kiev e ter arrastado os Estados Unidos para a situação.
Segundo
Trump, isso não teria ocorrido sob sua gestão. De fato, lembra Hirst, Trump
tinha um melhor diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin.
"Havia
ali uma capacidade de diálogo por trás da cortina que neste momento está
suspensa, porque o Partido Democrata é mais intervencionista, mais movido por
suas pregações normativas."
Para
Hirst, apesar do discurso político de Trump na noite de ontem, seu histórico é
de uma postura menos intervencionista, coerente com o segmento republicano que
o candidato representa.
"Imagino
que [Vladimir] Zelensky não dormiu esta noite, porque a opção de uma vitória do
Trump é uma opção de, como se diz em inglês, hands-off [sem
interferências]."
·
EUA e relações com a Rússia
Em
entrevista dada a jornalistas de todo o mundo, Putin afirmou que não tem
preferência sobre o vencedor das eleições estadunidenses, uma vez que o
resultado não deve alterar a relação dos dois países.
"Putin,
neste caso, estrategicamente, está certíssimo", diz Leite. De acordo com o
pesquisador, as lideranças políticas dos EUA são incapazes de perceber "a
Rússia enquanto um Estado que tem interesses, enquanto um Estado que também se
sente ameaçado".
"Todos
os lados nos Estados Unidos acham que a única forma de contenção de um conflito
maior na Europa é justamente pela defesa intransigente da Ucrânia. Sem trazer a
própria Rússia ao debate, coisa que não vai acontecer."
Segundo
o pesquisador do INCT/INEU, "Putin sabe que independentemente de quem for,
ele vai ter que colocar as cartas na mesa com os dois […]. "É muito
improvável que, a depender de quem ganhe, mude o resultado."
Durante
o debate, em certo momento, Trump afirmou que jamais aceitaria ceder os
territórios de Donbass, Kherson e Zaporozhie para a Rússia, mas ao mesmo tempo
afirmou também que encontraria uma solução para o conflito ucraniano antes
mesmo de tomar posse.
Leite
destaca que, independentemente de quem vença a eleição, o mais provável é que
haja "um processo de negociação de uma posição estratégica que a Rússia
sai ganhando e que a Ucrânia vai sair derrotada. Agora, eles não podem falar
disso abertamente."
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Ausência da China no debate dos EUA
Um
grande destaque da noite foi a ausência de perguntas sobre o enfrentamento à
China. "O tema mais importante da projeção e do projeto de poder dos
Estados Unidos hoje em dia", define Hirst.
Na
opinião de Leite, isso pode ter acontecido porque, na prática, ambos os
governos endureceram a política externa americana em relação à China. "Os
dois consideram que a China ameaça a hegemonia americana, que os dois
consideram a China como ameaça à ordem internacional e, portanto, vão fechar
seus mercados, vão ser mais protecionistas."
Foi
justamente essa "falta de divergência" que tornou a China um
"não assunto", detalha Leite.
"Parecia
uma coisa combinada pelos dois. É um bipartidarismo silencioso", crava
Hirst.
·
Os afinamentos da política externa dos EUA
Seja
do cansaço norte-americano com o financiamento ao regime de Kiev, a ambos os
políticos terem a mesma ideia de enfrentamento à China, "as grandes
bandeiras [da política externa] não vão ser alteradas", crava Hirst.
Isso
se tornou óbvio durante o debate quando o tema de Oriente Médio veio à tona, na
qual ambos os candidatos se orgulharam de suas políticas intervencionistas,
como o assassinato do general iraniano do Corpo de Guardiões da Revolução
Islâmica do Irã (IRGC, na sigla em inglês), Qassem Soleimani.
"Estamos
falando de um funcionário de um Estado, o Estado iraniano, não de um
terrorista. […] era alguém que entrava inclusive na linha sucessória,
possivelmente, do governo do Irã […]. E eles falam daquilo de uma forma muito
aberta, claramente se vangloriando de terem utilizado esse tipo de
ataque."
"Isso
mostra que a política que está nos Estados Unidos muito dificilmente vai
mudar."
O
que deve mudar, diz Leite, são os termos do "alinhamento
estratégico". "Ou seja, nós temos um Biden que vai se apoiar nas suas
alianças em relação, por exemplo, à OTAN, e do outro, nós temos um ator que vai
se distanciar e agir de forma mais egoísta."
Os
líderes da Europa, destaca Leite, devem estar "extremamente
preocupados" após a visão de Biden no debate. "Especialmente porque
eles sabem que, se Trump vencer, a pressão sobre eles em relação aos custos com
a OTAN vai ser muito maior."
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Democratas 'entraram
em pânico' após ver Biden no debate presidencial, diz líder da Câmara dos EUA
Os
membros do Partido Democrata entraram em pânico após ver o desempenho do
presidente dos EUA, Joe Biden, no primeiro debate para as eleições de novembro
contra o candidato do Partido Republicano, o ex-presidente Donald Trump
(2017-2021), na noite desta quinta-feira (27), afirmou o líder da Câmara de
Representantes, Mike Johnson.
"Os
democratas entraram em pânico, e por boas razões. Eles agora são obrigados a
admitir publicamente o que nós já sabíamos: que Joe Biden não pode ser
presidente por outro mandato", declarou o legislador do Partido
Republicano em sua conta na rede social X.
Já
o ex-presidente da Convenção Nacional Republicana dos Estados Unidos, Jim
Gilmore, apontou que Joe Biden tem poucas chances de ser reeleito em novembro.
"Os
democratas têm um problema, o seu candidato [Biden] provavelmente não pode
vencer", destacou.
No
entanto, ele acrescentou que é difícil impedir que um presidente em exercício
se candidate à reeleição.
O
copresidente da campanha nacional do presidente, Mitch Landrieu, por sua vez,
informou à rede de televisão CNN, que organizou o debate, que "não é
provável" que Biden seja substituído. Ele acrescentou que ainda faltam
vários meses de campanha e que acredita que Biden será o candidato democrata,
assim como Trump será o republicano.
O
próprio presidente dos EUA afirmou que espera ser reeleito, confirmando que
continuará sua campanha para as eleições de novembro.
"Quando
for reeleito, com sua ajuda, quero que saibam que não vou tirar Roy Cooper
[governador] da Carolina do Norte", proclamou ele mais cedo, na cidade de
Raleigh, capital do estado.
Biden
também comentou sobre sua participação no debate:
"Vou
dizer uma obviedade, mas vocês sabem que não sou uma pessoa jovem. Não ando tão
bem como costumava, não falo com a mesma fluidez de antes e não debato tão bem
como antes. Mas tenho clareza sobre o que sei: sei como dizer a verdade",
acrescentou o presidente.
Cerca
de 77% dos eleitores registrados que assistiram ao debate disseram que Trump
teve um desempenho melhor, enquanto apenas 33% dos entrevistados afirmaram que
Biden ganhou o debate, de acordo com uma pesquisa da CNN.
Debate
Realizado
pela rede CNN, o debate ocorreu na cidade de Atlanta e teve duração de 90
minutos em um estúdio sem plateia. Apenas o microfone de quem falava ficou
aberto.
A
idade de Biden, 81 anos, que o torna o homem mais velho a servir como
presidente dos Estados Unidos, foi explorada pelo adversário, de 78 anos, bem
como a saúde mental e física do atual presidente.
Trump
e Biden voltarão a debater em 10 de setembro em um evento moderado pela ABC
News. Apesar das críticas, o presidente afirmou que "fez as coisas
bem" no debate.
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Pentágono desmente
fala de Biden durante debate presidencial
A porta-voz
adjunta do Pentágono, Sabrina Singh, admitiu na terceira vez que foi perguntada
que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mentiu ao se denominar como o
primeiro líder dos EUA sob o qual militares não morreram no exterior.
Biden
fez uma afirmação falsa no início do debate com seu antecessor e concorrente na
corrida eleitoral, Donald Trump, ao se autodenominar como um dos presidente dos
Estados Unidos que não perderam tropas fora do país.
De
fato, durante a presidência de Biden, tropas norte-americanas morreram tanto
durante a retirada dos EUA do Afeganistão quanto em ataques a bases militares
dos EUA no Oriente Médio.
"Para
saber mais sobre os comentários do presidente e o debate em si, encorajo que
dirijam as perguntas à Casa Branca. Eu o vi expressar grande compaixão e
condolências às famílias que foram afetadas", disse Singh ao responder uma
pergunta se o Pentágono podia comentar a declaração de Biden.
Quando
novamente questionada por um repórter se o comentário de Biden era preciso, a
porta-voz do Departamento da Defesa evitou novamente responder de forma direta.
"Acho
que você e outros relataram algumas mortes militares. E você também viu o
presidente expressar suas mais profundas condolências a essas famílias."
Na
terceira pergunta sobre o tema, Singh respondeu novamente de maneira evasiva.
"Como vocês [jornalistas] relataram, claro, durante a administração
militares morreram."
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Eleição de Trump pode
provocar proliferação nuclear na Ásia, diz mídia norte-americana
Segundo
a revista Foreign Affairs, Donald Trump pode retirar as Forças Armadas dos EUA
da península coreana por considerar que a Coreia do Sul está se aproveitando do
potencial militar norte-americano.
A
reeleição de Donald Trump, ex-presidente dos EUA (2017–2021), nas eleições de
novembro, poderia levar à retirada das Forças Armadas dos EUA da península
coreana, ocasionando mudanças nas armas nucleares da Ásia, teoriza Victor Cha,
vice-presidente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na
sigla em inglês), dos EUA, em um artigo para a revista norte-americana Foreign
Affairs.
Como
observou Cha no artigo, de quarta-feira (26), a reeleição de Trump pode ser
ainda mais devastadora para os países asiáticos, pelo republicano poder ver
Seul como aproveitando a presença militar dos EUA para seu próprio bem.
O
autor do texto acrescenta que se a Coreia do Sul começar, em resposta, a
desenvolver seu programa nuclear, isso dará à China e à Coreia do Norte uma
desculpa para desenvolver suas capacidades de armas nucleares. Esse processo,
por sua vez, poderia incentivar semelhantes programas por outros países
asiáticos, como Mianmar e Japão.
Cha
acrescenta que Trump também pode tentar negociar um acordo de desnuclearização
com a Coreia do Norte para neutralizar a ameaça nuclear na península coreana.
A
próxima eleição presidencial dos EUA será realizada em 5 de novembro de 2024.
Os principais rivais na corrida eleitoral são o atual presidente, o democrata
Joe Biden, e Trump. Ambos os candidatos já garantiram votos suficientes de
delegados nas primárias anteriores para garantir a nomeação de seus partidos,
enquanto quase todos os seus rivais anunciaram sua retirada da corrida.
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EUA concederam US$ 6,5
bilhões em ajuda militar a Israel desde outubro de 2023, diz mídia
Apesar
da ajuda, o premiê israelense Benjamin Netanyahu se queixou do que disse serem
fortes atrasos nas remessas nos últimos meses.
Os
EUA forneceram a Israel US$ 6,5 bilhões (R$ 35,76 bilhões) em ajuda militar
desde 7 de outubro de 2023, relata na quarta-feira (26) o jornal
norte-americano The Washington Post (WP).
"[…]
Aproximadamente US$ 3 bilhões [R$ 16,5 bilhões] foram aprovados em maio",
escreve a publicação, citando um alto funcionário da Casa Branca.
O
valor teria sido anunciado em uma reunião da delegação israelense, chefiada por
Yoav Gallant, ministro da Defesa do país, com autoridades norte-americanas, em
meio a acusações de Israel sobre a lentidão de Washington em fornecer ajuda.
Gallant
se reuniu na terça-feira (25) com Lloyd Austin, chefe do Pentágono, como parte
de uma visita oficial a Washington, e na quarta-feira (26) com Jake Sullivan,
conselheiro de Segurança Nacional dos EUA. Após as reuniões, Gallant disse que
houve um progresso significativo na resolução da situação sobre os atrasos nas
remessas de armas dos EUA para Israel.
Anteriormente,
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, expressou publicamente sua
indignação com os atrasos nas entregas de armas dos EUA a Israel. Segundo ele,
os EUA há quatro meses reduziram drasticamente os suprimentos militares de que
Israel precisava para a guerra na Faixa de Gaza. A medida provocou
ressentimento tanto em Washington quanto em Israel entre os oponentes da
coalizão governista.
Fonte:
Sputnik Brasil
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