Orcrim:
desembargador negociou propina de R$ 1 mi com aliado de Beira-Mar, diz PGR
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma que o desembargador Ivo de
Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), teria negociado propina de
R$ 1 milhão para conceder habeas corpus em favor do narcotraficante Romilton
Queiroz Hosi, apontado como homem de confiança de Fernandinho Beira-Mar,
ex-líder do Comando Vermelho (CV).
O
desembargador é o principal alvo da Operação Churrascada, deflagrada na última
quinta-feira (20/6) pela Polícia Federal (PF), contra o suposto esquema de
venda de decisões judiciais. A defesa do investigado afirma que ainda não teve
acesso aos autos e vai “estabelecer a verdade” quando souber o “total conteúdo”
das acusações.
Segundo
a investigação, Ivo de Almeida usaria dois representantes para negociar
propinas de no mínimo R$ 100 mil com advogados. Os indícios de corrupção no
caso que envolve o aliado de Fernandinho Beira-Mar aparecem em conversas feitas
entre setembro de 2020 e janeiro de 2021.
As
supostas tratativas (veja abaixo) são feitas entre Wilson Vital de Menezes
Junior, apontado como intermediário do desembargador, o advogado Luiz Pires
Moraes Neto e o bacharel em direito Wellington Pires, que representavam os
interesses do narcotraficante. “Tem uma milha pelo voto do Ivo”, diz uma das
mensagens interceptadas.
• Suposta propina
Romilton
Queiroz Hosi acumula um longo histórico de denúncias e prisões por crimes como
lavagem de dinheiro e tráfico internacional de drogas. Ele já ficou mais de 10
anos foragido com uso de documentos falsos e coordenava uma rota aérea de
transporte de mais de meia tonelada de cocaína em aeroportos clandestinos.
A
PGR afirma que o desembargador teria analisado a situação processual de
Romilton e concluiu se tratar de “caso delicado que demandaria cuidado do
julgador para manipulação da decisão”.
Segundo
os investigadores, uma das dificuldades seria convencer outros membros da 1ª
Câmara Criminal do TJSP a votar a favor do habeas corpus. Com o avanço da
negociação, os advogados do criminoso teriam chegado a rascunhar o HC e a
buscar o dinheiro no Paraguai.
O
traficante, no entanto, acabou não sendo solto. “Ele não conseguiu convencer o
outro mecânico a trabalhar junto com ele, entendeu? Quando é ele, é certeza.
Agora, quanto tem o outro junto, depende de convencer lá”, explica Wilson, em
uma das mensagens, em janeiro de 2021.
• Operação Churrascada
Outros
casos sob suspeita envolvem Adormevil Vieira Santana, condenado a 7 anos de
prisão por roubo e estelionato, e Livia Carnicer Sacoman, sentenciada a 8 anos
e 4 meses por furto mediante fraude, em golpes que ultrapassam R$ 3 milhões.
A
investigação aponta que “churrasco” era um dos códigos usados pelos envolvidos
para avisar sobre os plantões judiciários nos quais Ivo de Almeida despacharia.
Nessas ocasiões, os pedidos chegam diretamente ao desembargador de plantão, que
pode decidir mesmo em ações em que não é o relator natural.
Ivo
de Almeida está afastado do cargo por ordem do Superior Tribunal de Justiça
(STJ). Na Operação Churrascada, a PGR também pediu sequestro de bens e valores
e a prisão preventiva do desembargador, que foi negada.
Procurado
pelo Metrópoles, o advogado Alamiro Velludo Salvador Netto, que defende Ivo de
Almeida, afirma que “ainda não obteve acesso aos autos que supostamente
sustentaram as medidas cautelares deferidas pelo STJ”.
“Aguarda-se,
assim, a autorização ao total conteúdo das investigações para que a defesa
possa se manifestar e, em consequência, reestabelecer no caso a verdade e a
Justiça.”
• “Churrasco” e “picanha” eram códigos
para venda de sentenças, diz PF
Diálogos
interceptados pela Polícia Federal (PF) mostram que suspeitos de envolvimento
em um suposto esquema de venda de sentenças no gabinete do desembargador Ivo de
Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), usavam expressões como
“churrasco”, “carne” e “picanha” como códigos para pagamentos de propina que
teriam sido feitos ao magistrado por decisões judiciais favoráveis.
O
desembargador foi alvo de busca e apreensão no âmbito da Operação Churrascada,
deflagrada pela PF na última quinta-feira (20/6), por ordem do ministro Og
Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também determinou o
afastamento de Ivo de Almeida (foto em destaque) de suas funções por um ano. Um
pedido de prisão foi negado. A defesa do magistrado diz que aguarda acesso ao
processo para “reestabelecer a verdade e a Justiça”.
As
mensagens, segundo a PF, foram encontradas nos celulares dos investigados,
entre eles o guarda municipal Wellington Pires, que já tinha sido alvo de uma
operação em 2021, sobre supostos desvios de hospitais públicos, o advogado Luiz
Pires Moraes Neto, e Valmi Lacerda Sampaio (morto em 2019), que era amigo do
desembargador. Nos diálogos, Ivo de Almeida é citado nominalmente como alguém
que estava “na mão” do grupo.
Segundo
a PF, era Valmi quem anunciava as datas de “churrasco”, codinome usado para
batizar plantões judiciários nos quais Ivo de Almeida despacharia, para que
pedidos deles chegassem diretamente ao desembargador enquanto o relator natural
dessas ações estivesse em folga.
Em
uma das mensagens, datada de 2018, Valmi avisa a Wellington: “Vamos fazer mais
um churrasco no dia 23/08”. Dias depois, Wellington diz: “Eu tô em São Roque e
tem uma picanha aí para levar procê ver se vai assar ela no dia 23 ou não
[sic]”. Valmi, então, pede pressa para mandar as “folhas” e “analisar rápido”.
Wellington envia cópias de uma execução de pena de uma mulher condenada a 8
anos de prisão por furto mediante fraude de R$ 3 milhões.
Nas
mensagens seguintes, o advogado Luiz Pires Moraes Neto perguntou se já teria
uma “posição”. “Se for preciso correr atrás da carne.” Na conversa, é sugerido
um pagamento a um posto de gasolina. Valmi era sócio de um posto que recebeu
pagamentos de Luiz Pires, segundo a PF. Nesse caso, a Procuradoria-Geral da
República (PGR) não menciona se houve ou não decisão de Ivo de Almeida
favorável.
Após
a morte de Valmi, quem surgiu como o interlocutor de Ivo de Almeida foi Wilson
Vital Menezes Junior, que se apresentava como “filho” de Valmi, apesar de não
terem esse grau de parentesco. Nesses diálogos, mais recentes, há indícios de
que o desembargador mudou decisões para beneficiar condenados defendidos pelo
advogado por meio de propina.
• Suspeitas contra desembargador alvo
da PF vão de propina a rachadinha
Depósitos
em espécie de R$ 641 mil, pagamento em dinheiro para empresa do próprio filho,
diálogos sobre propinas entre investigados e decisões judiciais favoráveis a
advogados que faziam transferências bancárias a pessoas próximas. Esses são os
indícios que pesam contra o desembargador Ivo de Almeida, do Tribunal de
Justiça de São Paulo (TJSP), suspeito de venda de sentenças.
O
magistrado foi alvo de busca e apreensão no âmbito da Operação Churrascada,
deflagrada na última quinta-feira (20/6) pela Polícia Federal (PF), por ordem
do ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também
determinou o afastamento de Ivo de Almeida (foto em destaque) de suas funções
por um ano. Detalhes da investigação foram revelados pelo jornalista Fausto
Macedo, do Estadão, e confirmados pelo Metrópoles.
A
investigação surgiu a partir da Operação Contágio, deflagrada em 2021, para
apurar supostos desvios milionários de hospitais públicos geridos por
Organizações Sociais de Saúde (OSS). Naquela diligência, um dos alvos era o
guarda municipal Wellington Pires. Suspeito de lavagem de dinheiro para o
esquema, ele também é advogado e foi flagrado em conversas sobre supostas
compras de decisões do desembargador.
Pires
é apontado como o homem que fez a ponte entre representantes do desembargador e
o advogado Luiz Pires Moraes Neto. O pedido de busca e apreensão feito pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) na operação da semana passada contém
dezenas de trocas de mensagens da dupla com esses intermediários. O primeiro a
fazer essas tratativas era Valmi Lacerda Sampaio, falecido em 2019.
• Diálogos sobre propina
Formalmente,
não havia vínculos entre Valmi e Ivo de Almeida, mas ele era amigo do
desembargador e, quando faleceu, o magistrado foi a seu velório. Era Valmi quem
anunciava as datas de “churrasco”, codinome usado para batizar plantões
judiciários nos quais Ivo de Almeida despacharia, para que pedidos deles
chegassem diretamente ao desembargador enquanto o relator natural dessas ações
estivesse em folga.
Em
uma das mensagens, datada de 2018, Valmi avisa a Wellington: “Vamos fazer mais
um churrasco no dia 23/08”. Dias depois, Wellington diz: “Eu tô em São Roque e
tem uma picanha aí para levar procê ver se vai assar ela no dia 23 ou não
[sic]”. Valmi, então, pede pressa para mandar as “folhas” e “analisar rápido”.
Wellington envia cópias de uma execução de pena de uma mulher condenada a 8
anos de prisão por furto mediante fraude de R$ 3 milhões.
Nas
mensagens seguintes, o advogado perguntou se já teria uma “posição”. “Se for
preciso correr atrás da carne.” Na conversa, é sugerido um pagamento a um posto
de gasolina. Valmi era sócio de um posto que recebeu pagamentos de Luiz Pires.
Nesse caso, a PGR não menciona se houve ou não decisão de Ivo de Almeida
favorável.
Após
a morte de Valmi, quem surgiu como o interlocutor de Ivo de Almeida foi Wilson
Vital Menezes Junior, que se apresentava como “filho” de Valmi, apesar de não
terem esse grau de parentesco. Nesses diálogos, mais recentes, há indícios de
que o desembargador mudou decisões para beneficiar condenados defendidos pelo
advogado por meio de propina.
• Negociações de HC
Um
dos casos é o de Adormevil Vieira Santana, condenado a 7 anos de prisão por
roubo e estelionato. Nessa tratativa, Wellington abordou Wilson Vital por
mensagens: “Esse HC, esse menino já puxou um bom tempo já, tá até cumprindo
pena. Vê o que dá pra fazer. Se a gente consegue fazer alguma coisa, que dá pra
fazer e quanto é?”. Após aceitar a propina supostamente para o desembargador,
Wilson afirma a Wellington: “Estava com o nosso amigo ontem, falou para você ir
mandando aos poucos. Assim ele já vai se acertando com os outros 2 que estão
junto com ele”.
Nos
diálogos, os advogados discutem a venda de obras de arte da família de
Adomervil para fazer pagamentos ao magistrado. No caso de Adomervil, o
desembargador lhe concedeu prisão domiciliar — ele cumpria pena em regime
fechado. A PGR aponta que a decisão não apenas beneficiou Adomervil
seletivamente — outros acusados não tiveram a mesma sorte — como contradiz com
o próprio histórico de entendimentos do desembargador. A PF encontrou
transferências de R$ 100 mil para o posto de Valmi feitas por Luiz Pires.
Em
outro caso, até mesmo um grande traficante de drogas seria beneficiado.
Romilton Queiroz Hosi, que acumula um longo histórico de denúncias e prisões
por crimes como lavagem de dinheiro e tráfico internacional de drogas. Ele já
ficou foragido com uso de documentos falsos e coordenava uma rota aérea de
transporte de mais de meia tonelada de cocaína em aeroportos clandestinos. Hosi
é tido por investigadores como aliado de Fernandinho Beira-Mar, ex-líder do
Comando Vermelho (CV). Até mesmo propina a policiais ele já teria pago para
escapar da prisão.
Nesse
caso, a PGR destaca que Luiz Pires chegou a buscar dinheiro no Paraguai em meio
a uma negociação de propina de R$ 1 milhão para o desembargador. Wilson Vital
teria pedido um rascunho do habeas corpus para Luiz Pires. Em meio à tratativa,
segundo indicam as mensagens, o desembargador teria tido dificuldade para
convencer um segundo magistrado a votar a favor do habeas corpus. O traficante
acabou não sendo solto, mas as mensagens mostram uma suposta negociação da
propina.
• Rachadinha e depósito
Em
meio às investigações, a PF e a PGR identificaram supostos indícios de
rachadinha no gabinete do magistrado no TJSP, que foi alvo de busca e apreensão
na Operação Churrascada. Somente entre 2016 e 2022, R$ 641 mil em depósitos
foram feitos nas contas de Ivo de Almeida. Havia até mesmo transferências
mensais de três servidores para as contas do magistrado. Um servidor transferiu
R$ 33 mil e uma servidora enviou R$ 15 mil.
A
PF ainda identificou, no mesmo dia de uma petição movida por Luiz Pires ao
gabinete de Ivo de Almeida, um depósito de fonte não identificada de R$ 65 mil,
em dinheiro vivo, na conta da incorporadora do filho do desembargador, Ivo de
Almeida Junior, de 43 anos. Ele foi um dos alvos da Operação Churrascada.
O
episódio que liga o filho do magistrado ao suposto esquema ocorreu em 2016,
quando Luiz Pires defendia investigados presos em flagrante pela tentativa de
roubar um caminhão de alimentos avaliados em R$ 320 mil com uso de armas de
fogo. Inicialmente defendido por outras advogadas, um dos investigados pediu
habeas corpus sob a justificativa de que houve excesso de prazo. Ele estava
preso há 14 meses. O pedido foi rejeitado pelo desembargador.
Após
a negativa, as advogadas deram procuração a Luiz Pires, que reiterou o pedido
com os mesmos argumentos. No mesmo dia em que ele peticionou, o depósito em
espécie foi feito na conta da empresa do filho do desembargador. Em julgamento,
o magistrado acolheu o pedido e mudou seu posicionamento.
A
história da empresa do filho do desembargador não acaba aí. A PF também afirma
que a empresa vendeu um apartamento à esposa de Valmi Sampaio, que é apontado
como um operador de propinas de Ivo de Almeida.
Procurado
pelo Metrópoles, o advogado Alamiro Velludo Salvador Netto, que defende Ivo de
Almeida, afirma que “ainda não obteve acesso aos autos que supostamente
sustentaram as medidas cautelares deferidas pelo STJ”. “Aguarda-se, assim, a
autorização ao total conteúdo das investigações para que a defesa possa se
manifestar e, em consequência, reestabelecer no caso a verdade e a Justiça”,
pontua.
Fonte:
Metrópoles
Nenhum comentário:
Postar um comentário