quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

UE continua negociações com Mercosul; assunto é sensível para agricultores europeus

A Comissão Europeia anunciou nesta terça-feira (30/01) que daria continuidade às negociações em curso sobre o tratado de livre comércio com o Mercosul. A declaração acontece um dia após a presidência francesa ter dito que as conversas com Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai iriam acabar. Na França e outros países do bloco, a possibilidade de conclusão do acordo que está sendo renegociado é criticada pelos agricultores.

“As discussões continuam e a União Europeia deve cumprir os seus objetivos de concluir um acordo que respeite os propósitos de sustentabilidade, particularmente na agricultura", disse o porta-voz da Comissão Europeia. Na semana passada, negociadores da UE e do Mercosul se reuniram no Brasil e “as discussões em nível técnico continuarão”, disse Eric Mamer.

“Atualmente, a análise da Comissão é que as condições para a conclusão das negociações com o Mercosul não estão reunidas”, reconhece, no entanto, o porta-voz da Comissão. A próxima rodada de negociações “depende da análise que vamos fazer, sendo prematuro anunciar a próxima data, se houver nova data, da próxima negociação”, sublinhou.

Entre duas viagens ao exterior – à Índia e à Suécia –, o presidente francês, Emmanuel Macron, levantou a questão em uma reunião de ministros na tarde desta segunda-feira (29/01). Um assessor do Palácio do Eliseu sugeriu que a União Europeia considerava impossível concluir um acordo nas condições atuais. De acordo com a mesma fonte, a Comissão Europeia "instruiu seus negociadores para pôr fim às sessões de negociação que estavam em andamento no Brasil".

•        Mais de duas décadas de negociações

Após 20 anos de negociações, a Comissão Europeia e o Mercosul celebraram um acordo político em junho de 2019. Porém, o processo de ratificação desse tratado comercial está bloqueado desde então, devido a objeções levantadas por estados-membros da UE.

A França, assim como outros países europeus, enfrenta tensões no setor agrícola e "se opõe claramente" à assinatura de um tratado dessa natureza, como reiterou, na última sexta-feira (26/01), o primeiro-ministro Gabriel Attal, em encontro com agricultores. A declaração foi uma resposta ao movimento de revolta da categoria. A maioria dos produtores rurais franceses estão descontentes com a possível abertura do mercado europeu aos produtos agrícolas sul-americanos.

Entretanto, como reforça a Comissão Europeia nesta terça, as discussões foram retomadas entre os dois blocos, com os europeus buscando garantias adicionais dos países latino-americanos sobre questões relacionadas com o meio ambiente e o desmatamento.

Macron deverá discutir medidas em favor dos agricultores europeus em um encontro esta semana com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Eles irão abordar o acordo comercial entre a UE e o Mercosul, assim como a entrada de produtos ucranianos nos mercados europeus. Os agricultores denunciam que tanto no caso do Brasil quanto da Ucrânia existe uma concorrência "desleal" dos produtos importados, que não são submetidos às mesmas normas de qualidade e ambientais da UE e, por isso, desfrutam de preços mais competitivos.

•        Após Macron pedir suspensão do acordo UE-Mercosul, Brasil diz negociar 'com bloco, não com países'

Nesta terça-feira (30), a Comissão Europeia disse que as condições para a conclusão do acordo entre União Europeia e Mercosul "não estão dadas". Parte brasileira do bloco sul-americano afirma que negociações continuam.

A afirmação foi dada após o presidente da França, Emmanuel Macron, ter pedido ao bloco europeu que interrompesse as negociações sobre a implementação da parceria, segundo o jornal O Globo.

De acordo com a mídia, na semana passada Macron contatou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, solicitando o término das atuais negociações. Na noite de segunda-feira (29), um porta-voz da presidência francesa confirmou o pedido.

"O presidente expressou, em diversas ocasiões, sua oposição muito clara à conclusão do acordo a Von der Leyen. […] Entendemos que [Macron] deu instruções a seus negociadores para que coloquem fim às sessões de negociação que estavam em curso no Brasil e, em particular, à visita que a vice-presidente da Comissão Europeia [Vera Jourova] havia previsto em caso de conclusão", afirmou o porta-voz, acrescentando que o órgão europeu "entendeu que era impossível fechar" um acordo diante das condições atuais.

Depois da declaração, nesta terça-feira (30) a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil, Tatiana Prazeres, afirmou que as tratativas para o acordo ocorrem no âmbito dos blocos, e não entre países.

"O Mercosul negocia com a Comissão [Europeia], não com Estados-membros. À luz do entendimento da última reunião do Mercosul, as negociações seguem no nível técnico. É difícil cravar uma data [para a conclusão da negociação]. Não faria isso aqui", afirmou Prazeres, citada pela mídia.

Não é a primeira vez que Macron se diz contra o acordo, mas este é o momento de maior pressão de agricultores franceses contra o governo, o que pode ter levado o presidente a sinalizar de forma mais incisiva sua rejeição.

Ontem (29) agricultores iniciaram o bloqueio de estradas ao redor de Paris, mobilizando ao menos mil tratores para interditar as sete principais vias que levam à capital francesa.

Entre o que é denunciado pela classe estão a queda de receita, as baixas aposentadorias, a complexidade administrativa, a inflação desatada por normas ambientais e a concorrência estrangeira, especialmente o acordo negociado entre a União Europeia e os países do Mercosul.

Quando se fala no acordo, a França sempre traz à tona a questão ambiental, dizendo que o Brasil não cumpriu metas específicas nessa área. No entanto, na visão de analistas e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os argumentos escondem um protecionismo francês, que não quer abrir seu mercado para o Mercosul.

 

       Ordem mundial vigente foi feita para 'legitimar atuação e interesses' dos EUA, apontam analistas

 

No mínimo complacentes e, no pior dos casos, grandes instigadores de conflitos ao redor do mundo, os EUA agora fazem grande estardalhaço a favor do direito de navegabilidade, após o bloqueio houthi no mar Vermelho. Onde estava tamanha comoção pública norte-americana quando o assunto eram vidas perdidas? Os EUA só se importam com dinheiro?

O bloqueio naval realizado na entrada do mar Vermelho pelo movimento iemenita Ansar Allah, conhecido pela alcunha de houthi, tem gerado grandes preocupações nas nações ocidentais. Estima-se que 15% do comércio mundial passe pela região, e há rumores de que a Europa já está vendo aumentos no preço dos alimentos, devido ao impedimento marítimo.

Como resposta, os Estados Unidos e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) têm lançado ataques ao país, no intuito de fazê-los mudarem de ideia. Essa resposta enfática não foi vista por parte do Ocidente durante o conflito na Faixa de Gaza, que já deixa 25 mil mortos, e tampouco no próprio Iêmen, que vive uma das maiores crises humanitárias do século XXI.

Na verdade, aponta Andrew Traumann, professor de relações internacionais na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e autor do livro "Os Militares e os Aiatolás: Relações Brasil-Irã (1979–1985)", há um histórico de inércia por parte dos Estados Unidos e seus aliados.

"Se formos buscar conflitos de 30 anos atrás, por exemplo, a gente vê que nem as grandes potências nem a ONU fizeram nada para impedir, por exemplo, o genocídio em Ruanda", declarou ele à Sputnik Brasil.

A guerra, explica Traumann, "sempre vai ser movida por interesses financeiros e geoestratégicos".

Então, quando não há interesses econômicos como "hidrocarbonetos e minérios valiosos", ou quando as tensões não ocorrem em uma área importante para a geopolítica da OTAN, "a gente não vê tanto esse afã do Ocidente na questão da paz".

"Isso é uma coisa que é muito, muito, muito antiga. Isso é algo que a gente sempre viu durante a Guerra Fria. Os Estados Unidos sempre se envolveram em guerras onde viam que os seus interesses estavam sendo contrariados."

Nesse sentido, sublinha Francisco Carlos Teixeira, professor titular da cadeira de história moderna e contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), "toda a estrutura daqui que nós podemos chamar de ordem mundial", como a ONU e o sistema de pagamentos SWIFT, "foi capturada pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais".

"Foi o caso da Organização para a Proibição de Armas Químicas [OPAQ], quando os EUA quiseram invadir o Iraque e houve a perseguição ao embaixador brasileiro [José Maurício Bustani], que era o presidente da organização", lembrou o historiador.

Outro exemplo, afirma Teixeira, é o conflito na Ucrânia, que "tornou muito claro que esses organismos internacionais foram feitos para legitimar a atuação e os interesses americanos e da Aliança Atlântica". Ele traça uma comparação que mostra a desigualdade entre países alinhados com o Ocidente e os que o confrontam.

"É só ver a resolução do Tribunal de Haia [Tribunal Penal Internacional] que, de uma forma descarada, acusa o presidente Vladimir Putin de crimes de guerra e, por outro lado, se cala em relação a [Benjamin] Netanyahu [premiê israelense] e seus ministros."

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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