DPOC: terceira maior causa de óbitos no
mundo ainda é pouco conhecida pela população
A Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica, também conhecida como DPOC, é um problema prevenível,
tratável, progressivo e que não tem cura. A enfermidade, caracterizada por uma
inflamação que afeta as vias aéreas e dificulta a respiração, causa sintomas
como tosse crônica, cansaço, chiado ou aperto no peito, catarro e falta de ar¹.
O avanço da doença e a falta de tratamento adequado podem limitar atividades
simples da vida diária como andar, tomar banho e até pentear o cabelo, devido à
falta de ar.
Segundo o Ministério
da Saúde (MS), o tabagismo é o principal fator de risco para a DPOC. Isso
porque, além de questões hereditárias, a origem da doença está fortemente
ligada ao efeito da fumaça de cigarro nos pulmões. Normalmente, o início dos
sintomas é lento, mas pode evoluir rapidamente levando à incapacidade por
insuficiência respiratória e até ao óbito².
"A doença
consiste em uma combinação de bronquite e de bronquiolites, que são inflamações
das vias aéreas; com o enfisema, que é a destruição dos alvéolos. Essa mistura
culmina em sintomas como tosse e falta de ar progressiva que, inclusive, muitas
pessoas não notam por ter um lento avanço."Luiz Fernando Pereira,
pneumologista e coordenador da Comissão de DPOC da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia (SBPT)
Neste ano, por meio da
pesquisa “Retrato da DPOC na visão dos brasileiros”, realizada pela
biofarmacêutica Chiesi com apoio técnico-científico da Sociedade Paulista de
Pneumologia e Tisiologia (SPPT), diversos aspectos da enfermidade foram
analisados. O levantamento ouviu 2.141 pessoas em todas as regiões do país,
entre pacientes (274), cuidadores (55) e população (1.812).
Quase metade (45%) das
pessoas entrevistadas com sintomas respiratórios, como falta de ar e tosse, não
vai ao médico para avaliar o caso e buscar um diagnóstico. 83% dos fumantes
reportaram pelo menos um sintoma de DPOC, porém 59% não buscaram atendimento
médico, o que demonstra a normalização indevida de queixas respiratórias e
reduz as chances de diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Além disso, de acordo
com a pesquisa, 30% dos pacientes já abandonaram o tratamento sem o
consentimento do médico por dificuldade de obter os medicamentos no Sistema
Único de Saúde (SUS), o que demonstra uma dificuldade social para ter acesso às
terapias para o tratamento da doença. O levantamento mostra ainda que 24% dos
pacientes já deixaram de fazer o tratamento ao notar uma melhora dos sintomas,
ignorando que a DPOC é uma doença crônica que deve ser tratada por toda a vida.
Outro fator que chamou
a atenção diz respeito ao preço dos medicamentos que, para 55% dos pacientes, é
uma barreira para a adesão ao tratamento, sendo que 16% suspenderam o
tratamento por questões financeiras. 55% dos pacientes citam o preço e 42%
mencionam a indisponibilidade de medicamentos nos postos de saúde como as
principais barreiras para o tratamento.
Há duas décadas, Sônia
Negreiros, de 76 anos, foi diagnosticada com DPOC. No entanto, apenas em 2020 a
paciente mudou o seu tratamento para a terapia tripla fixa, após uma internação
gerada por uma crise no pulmão. "Não sabiam ao certo se era Covid-19",
relembra.
Combinação fixa de um
anti-inflamatório e dois broncodilatadores, a terapia tripla foi aprovada em
2019 para o tratamento da DPOC. Antes da aprovação dessa terapia, o tratamento
de Sônia consistia em realizar inalações medicamentosas no hospital. "Eu
ainda usava dois tipos de 'bombinhas'", comenta. Hoje em dia, por meio da
terapia tripla, Sônia utiliza apenas um dispositivo duas vezes ao dia, sem a
necessidade de ter que se deslocar para uma unidade hospitalar para fazer o
controle da doença com tratamentos extras. Para ela, a qualidade de vida
melhorou de forma positiva. Depois que teve essa experiência com a terapia
tripla fixa, ela conta que não utilizou outros medicamentos.
Sônia fumou por 43
anos. Essas quatro décadas causaram DPOC e, também, um problema cardíaco. “Tive
que fazer um longo tratamento até descobrir a DPOC. Fiz diversos cateterismos e
cirurgias no coração, além de tratamentos para o pulmão com outros remédios”,
indica. Até que, em 2020, a paciente recebeu a indicação do seu pneumologista
para o uso da terapia tripla fixa.
“Desde o dia que eu
comecei a usá-lo, não parei mais. O medicamento não me deixa mais ter falta de
ar. Antes, eu usava dois tipos de ‘bombinhas’ também, mas quando comecei com a
terapia tripla, parei com os outros medicamentos”, destaca.
Na avaliação da
paciente, o assunto deve ser repercutido em âmbito nacional para que o
diagnóstico e o tratamento sejam facilitados. No entanto, ela pondera: é
complicado o acesso às medicações. “Muita gente tem esse problema e, apesar de
ter indicação para tratar com esse remédio, sei que o custo é alto e nem todo
mundo tem condições de pagar”, lamenta.
• Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas
Documento oficial do
Sistema Único de Saúde (SUS), o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
(PCDT) estabelece critérios para o diagnóstico de uma doença ou agravo à saúde;
tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando
couber; posologias recomendadas; mecanismos de controle clínico; e
acompanhamento e verificação dos resultados terapêuticos a serem seguidos pelos
gestores do SUS.
De acordo com o
Ministério da Saúde, os PCDT devem incluir recomendações de condutas,
medicamentos ou produtos para as diferentes fases evolutivas da doença ou do
agravo à saúde de que se tratam, bem como aqueles indicados em casos de perda
de eficácia e de surgimento de intolerância ou reação adversa relevante,
provocadas pelo medicamento, produto ou procedimento de primeira escolha.
Apesar de realizar a
orientação de tratamentos, o PCDT voltado à DPOC não abrange as terapias
triplas em apenas um dispositivo inalatório para pacientes graves. Esse cenário
preocupa, visto que a terapia pode melhorar a qualidade de vida, além de evitar
o aumento de crises, internações e mortalidades decorrentes do agravamento da
DPOC1.
Sabendo da relevância
da inclusão da terapia tripla fixa no PCDT, a Chiesi submeteu, no mês de
outubro, um dossiê à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no
Sistema Único de Saúde (Conitec) solicitando a inclusão desse tratamento para
DPOC.
A partir da análise, a
Comissão tem 180 dias para dar seu parecer favorável ou desfavorável, e abrir
uma Consulta Pública para ouvir a opinião de profissionais de saúde, pacientes
e toda a sociedade a respeito da incorporação da terapia no SUS.
Atualmente, a terapia
tripla fixa é usada por hospitais da rede pública em apenas três estados
brasileiros: Goiás, Pernambuco e Minas Gerais. Recentemente, o Conselho
Estadual de Saúde de São Paulo também recomendou a incorporação da tecnologia
na rede pública do estado.
No Brasil, a terapia
tripla fixa em spray pode ser prescrita desde 2019, quando foi aprovada pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Contudo, para que ela seja
disponibilizada gratuitamente para os pacientes no SUS seria preciso, via de regra,
uma recomendação favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias
ao SUS (Conitec) e, em seguida, a compra e distribuição pela rede pública.
A relevância do avanço
do tema é abordada pelo pneumologista e coordenador da Comissão de DPOC da
SBPT. De acordo com o especialista, Luiz Fernando Pereira, a terapia tripla
pode reduzir mortes. “Melhoramos a qualidade de vida e diminuímos a quantidade
de crises desses pacientes, além de reduzir a quantidade de mortes. Por isso,
destacamos a importância do acesso à terapia tripla, seja no inalador em pó ou
pressurizado”, ressalta.
• Falta de conhecimento sobre a doença
Sabe-se que a
bronquite e o enfisema pulmonar são doenças conhecidas pela população. Na
bronquite, ocorre a inflamação dos brônquios, estruturas pulmonares
responsáveis por levar e trazer o ar a cada respiração. A doença, de acordo com
o MS, gera um estreitamento das vias aéreas e também facilita o acúmulo de
secreção dentro delas.
Já o enfisema pulmonar
pode ser caracterizado pela destruição dos alvéolos por conta da inflamação das
estruturas, que se rompem e, depois, formam pequenas bolhas que dificultam a
passagem do ar e da oxigenação do sangue.
Contudo, quando o
termo DPOC entra em cena, poucas pessoas têm conhecimento acerca da
enfermidade. Na avaliação do pneumologista, o termo não se popularizou. “A
sigla nunca pegou no meio leigo, apesar de ser consagrada desde a década de
1960 entre os profissionais de saúde”, comenta. Ainda que o termo não tenha
ampla visibilidade, isso não impede a alta incidência e a gravidade.
Estima-se que, em
2019, a DPOC foi a terceira causa de mortes no mundo, responsável por 6% de todos
os óbitos, totalizando 3,3 milhões de pessoas³. No Brasil, anualmente, 40 mil
indivíduos falecem devido à condição. Os dados, apresentados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), chamam atenção para a necessidade de conscientização
sobre a doença.
Dessa forma, pensando
em aumentar o conhecimento sobre a DPOC e a sua prevenção, foi criado o Dia
Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, em 2002, pela Iniciativa Global
Para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (GOLD). Desde então, mais de 50 países
realizam anualmente, no mês de novembro, atividades voltadas para os objetivos
da campanha².
• A relevância do diagnóstico
Para confirmar se um
indivíduo tem DPOC, são analisados o histórico clínico, exames de imagem do
tórax e a espirometria). Esses exames buscam verificar a limitação do fluxo
aéreo e quantificar a gravidade do quadro, além de buscar distinguir a DPOC de
outros distúrbios?.
"O diagnóstico é
feito, normalmente, entre 45 e 55 anos, com a comprovação pela espirometria,
que é um exame de capacidade pulmonar. Você confirma a doença, mas o acesso ao
exame no Sistema Único de Saúde (SUS) é mínimo. O número de aparelhos para o
número de candidatos possíveis da DPOC é ínfimo e esse é um grande
problema"Luiz Fernando Pereira, pneumologista e coordenador da Comissão de
DPOC da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT)
De acordo com a SBPT,
apenas 12% dos pacientes são diagnosticados com a condição?. Segundo o
pneumologista, atualmente, a doença conta com 80% de subdiagnósticos. “Estamos
fazendo o diagnóstico de apenas 20% dos pacientes e isso é um dado preocupante
devido às repercussões da doença e a forma como ela avança, já que a falta de
ar progressiva, no futuro, limita a vida do paciente. É uma doença que você
convive com crises que aceleram a perda de capacidade pulmonar e a perda de
qualidade de vida”, explica.
No que diz respeito ao
tratamento, a pesquisa "O retrato da DPOC na visão dos brasileiros",
realizada pela Chiesi, com o apoio da SPPT, indica que 64% dos pacientes
entrevistados fazem tratamentos por meio de convênio médico e/ou particular, enquanto
apenas 22% fazem o acompanhamento por meio do SUS. Ainda nesse cenário, 14% das
pessoas do levantamento indicaram que contam com ambas as redes para os seus
cuidados.
Já no âmbito das
barreiras para o tratamento da DPOC, o preço dos remédios foi a questão mais
citada pelos entrevistados (55%), seguido da disponibilidade dos medicamentos
em postos de saúde (42%) e, sequencialmente, à alteração do estilo de vida
(30%), acesso à consulta médica (20%) e informação sobre o uso dos remédios
(16%).
De acordo com o
médico, com tratamento e acompanhamento adequado, os pacientes podem evitar
internações e estender a expectativa de vida. No cenário nacional, atualmente,
a intervenção médica para a doença é feita com broncodilatadores e corticoides
inalatórios. Contudo, na rede pública, esses medicamentos estão disponíveis
apenas em terapia aberta, isto é, dispositivos diferentes, ainda que já exista
a terapia tripla fechada, que combina um anti-inflamatório e dois
broncodilatadores em um único dispositivo.
Fonte: Correio
Braziliense
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