Pepe Damasceno: Avanço da bancada evangélica
sobre a República não é problema do governo; é problema nosso
Uma coisa é o governo
se render aos fatos, à vida como ela é, e não como gostaria que fosse, e não
conseguir deter o avanço da bancada evangélica sobre premissas republicanas e
iluministas, tal como a laicidade do Estado. Outra bem diferente, e deplorável,
é parcela expressiva do campo progressista naturalizar esses retrocessos e não
refletir seriamente sobre alternativas de reação.
Em mais um capítulo
desta louca cavalgada, nesta terça-feira (27), uma comissão especial da Câmara
dos Deputados aprovou a ampliação da imunidade tributária de igrejas e templos
religiosos. O autor da proposta é o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus,
Marcelo Crivella, agora deputado federal. O texto, que já havia sido aprovado
pela CCJ, em setembro do ano passado, deve ir a plenário antes da semana santa.
Cabe destacar o
festival de privilégios tributários descabidos contidos nessa PEC. Além das
igrejas e templos religiosos, ela estende a imunidade tributária a entidades
como orfanatos, hospitais, creches e comunidades terapêuticas ligadas às
instituições religiosas.
E também livra do
pagamento de impostos despesas com obras e restauração de igrejas. Mas as
benesses às custas do erário não ficam por aí. A proposta prevê devolução de
tributos pagos indiretamente nas contas de luz ou serviços de reforma, além de
proibir governos de criar impostos sobre a aquisição de bens por essas
entidades.
Causa apreensão saber
que a voracidade da bancada evangélica, apoiada em algumas proposições por
parlamentares que professam outras religiões, está longe do arrefecimento.
O quer virá por aí?
Temos o direito de
imaginar todo tipo de barbaridade. Será que vão querer obrigar a União a pagar
os vencimentos dos pastores? Ou incluir na lei dispositivo permitindo
aposentadoria especial para os missionários? Ou conceder direito a porte de
arma aos pregadores do Evangelho?
Pelo andar da
carruagem, nada pode ser descartado em termos de violação do conceito
republicano.
Sabemos que a origem
desse e outros tantos males está na maioria atrasada, reacionária e trevosa do
Congresso Nacional. Não pode haver prioridade maior para o campo progressista,
no plano institucional, do que eleger bancadas mais numerosas de deputados e
senadores, já em 2026.
Está aí um desafio
gigantesco e extremamente complexo, pois a definição de voto do eleitorado
brasileiro é produto de inúmero fatores, que vão baixo nível de consciência
social e política à pressão de milicianos, da influência dos mercadores da fé
às ameaças do crime organizado, da falta de compreensão do valor do voto para o
Legislativo à força do dinheiro nas eleições, dentre outros.
Nunca nada foi fácil
para os que lutam por uma sociedade mais justa e igualitária. É hora de
arregaçar as mangas e enfrentar esse monstro de múltiplas cabeças.
Ø
Malafaia quer ser presidente. Por Eduardo
Guimarães
No último domingo, a
tarde já ia pelo meio quando Silas Malafaia entoou uma sugestiva estrofe do
Hino da Independência: "ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo
Brasil". Quando a audiência aderiu em coro...
Silas Lima Malafaia
nasceu no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1958 - tem 66 anos. É um pastor
protestante neopentecostal brasileiro, líder da Assembleia de Deus Vitória em
Cristo.
Malafaia também é
televangelista, graduado em psicologia, presidente da editora Central Gospel,
além de ser vice-presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros
Evangélicos do Brasil, entidade que agrega cerca de oito mil pastores de quase
todas as denominações evangélicas brasileiras.
Malafaia é bastante
conhecido por sua atuação política e pelo discurso de ódio sobre temas como
homossexualidade e aborto, bem como por defender a chamada teologia da
prosperidade.
Em janeiro de 2013, a
revista Forbes o classificou como o terceiro pastor mais rico do Brasil, com um
patrimônio estimado pela publicação em 150 milhões de dólares.
No ato em defesa de
Jair Bolsonaro no último domingo (25), o pastor Silas Malafaia não proferiu
crenças ou santidades. Falou dos atos dos políticos ao longo da última década e
até hoje. Discursando antes de Bolsonaro, fez um cozido à base de direito e religião
para rearticular, a seu bel prazer, democracia e Estado de Direito.
Essa comédia tem três
atos.
Ato 1: Malafaia dá sua
versão para a história recente do Brasil pinçando momentos como a contestação
das eleições por Aécio Neves em 2014, o tratamento benevolente e inexistente
que diz que protestos dos militantes da esquerda receberam, passando pelo golpeachment
de Dilma e o golpe lavajatista que encarcerou Lula, abusando do interdito de
chamá-lo de ex-presidiário, e o que pintou como "parcialidade" de
Alexandre de Moraes.
Ato 2: Malafaia
pergunta à multidão a quem ela obedecia. Aos brados, o rebanho cravou um
"Ao povo". Encenou, desse modo, a disputa pela unidade social com
povo ao seu lado.
Ato 3: encerrando sua
participação, Malafaia disse à multidão que ela era "maioria cristã".
Sob esse epíteto, reuniu evangélicos e católicos, apontando para alianças e
limites do que ele imagina ser um ecumenismo tupiniquim.
Para colocar
evangélicos e católicos no mesmo bolso, Malafaia elucubrou um cristianismo
generalizado. E se apropria dele para imprimir uma marca discursiva religiosa
no que chama de "maioria da sociedade brasileira". A religião é a
linguagem que edifica uma ordem em que Malafaia disputa a unidade social.
No alto do carro de
som, ela chorava. Em tom de pregação, dizia que "o Brasil é do
Senhor" e que o povo brasileiro é de bem e "defende os valores e
princípios cristãos".
Não era a primeira vez
que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro cumpria o papel de aglutinar o
eleitor religioso em torno de seu marido. Mas, no domingo 25, em ato na avenida
Paulista em defesa dele, foi mais direta:
"Por um bom tempo
fomos negligentes ao ponto de falarmos que não poderia misturar política com
religião, e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento da libertação. Eu creio em
um Deus todo poderoso capaz de restaurar e curar nossa nação".
O discurso de Michelle
é apontado por especialistas como um aceno à supremacia cristã e uma ameaça
para a laicidade do Estado. Segundo eles, política e religião sempre estiveram
entrelaçados no Brasil. O problema é quando alguém planeja impor os valores de
determinada religião a toda a nação – como teria acontecido no governo
Bolsonaro.
O perigo da fala de
Michelle é apontar para uma teocracia, uma forma de governo submetida a normas
de uma religião.
Michelle Bolsonaro e
seu marido, porém, antes de serem os senhores de Silas Malafaia, são parte de
seu projeto para suprir com lucro a ausência de Jair Bolsonaro na política.
Engana-se quem acha que a mulher do "mito" tem estofo para presidir um
regime teocrático sem contestação.Esse papel caberá a outro.
Malafaia sabe que não
será preso; ele amarrou muito bem a questão jurídica com uma rentabilidade
descomunal que prescinde de sonegação ou qualquer ilícito. Traduzindo: Malafaia
ganha tanto dinheiro entoando o discurso messiânico e falsário que conquista legiões
de incautos que seria burrice cometer um só ato que o expusesse ao rigor da
lei.
Um fato: Bolsonaro
será preso e ficará inelegível. E Michelle , nem de longe, pode substituí-lo.
Não há quem movimente
multidões como Malafaia, mas ele só entra na política para pilotar uma ditadura
teocrática com ele mesmo como ditador, um líder que poderá permanecer no Poder
até o próprio fim, deixando o trono para um herdeiro a fabricar ou escolher.
Fonte: Brasil 247
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