quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Fala de Nikolas ao lado de Bolsonaro expõe direita acuada e mira mobilização

A fala do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) de que talvez as atuais gerações não vejam novamente um presidente da República de direita, feita ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na avenida Paulista no domingo (25), foi além da admissão de que o segmento passa por dificuldades.

Para políticos e pesquisadores ouvidos pela reportagem, a mensagem reforçou a ideia de perseguição e sufocamento do campo conservador com as investigações sob a guarda do STF (Supremo Tribunal Federal) e busca estimular a base bolsonarista a se manter mobilizada, apesar das incertezas.

Um dos poucos a discursarem na manifestação, Nikolas fez alusões à Bíblia, pregou perseverança e disse aos correligionários que a atual geração ficará marcada como a dos que "persistiram e não desistiram".

"Moisés não chegou a ver e entrar na terra prometida, mas teve um jovem chamado Calebe que entrou. Se não fosse a força de Moisés, Calebe não teria entrado. Talvez nós não veremos o Brasil prometido, mas os nossos filhos, os filhos dos nossos filhos, verão um Brasil novamente verde e amarelo", afirmou.

"Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas um dia nós veremos um presidente de direita retornar à Presidência da República do nosso país."

O parlamentar reforçou os termos ao postar no X (antigo Twitter) que "falou com o coração" quando estava no caminhão de som. "O Brasil prometido depende de nós. Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas venceremos", escreveu, lembrando a todo tempo de um inimigo a ser combatido.

"Cada geração tem um propósito. A nossa tem o objetivo de fortalecer a próxima", reiterou ele em entrevista à revista Oeste nas imediações do ato.

Outros representantes da direita negaram constrangimento, disseram concordar com a avaliação de Nikolas apesar de verem algum exagero e atribuem o cenário a uma ofensiva que estaria unindo o STF, sobretudo o ministro Alexandre de Moraes, e o governo Lula (PT) para sufocar o campo rival.

"Gostei muito da fala", diz o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG).

"Nós estamos lutando hoje e acreditamos que vamos ter a vitória. Não quer dizer que necessariamente irá demorar várias gerações, mas que, ainda que venha a demorar, não vamos arrefecer nem perder nossa força de vontade. Vou lutar para que aconteça na próxima [eleição], mas o tempo não depende de mim."

Segundo o aliado de Nikolas, a má fase se deve a "forças muito grandes", com "pessoas extremamente poderosas que estão utilizando o poder que têm para esmagar o Estado democrático de Direito e os direitos humanos e políticos [da direita]". Questionado, o mineiro diz estar se referindo a Moraes.

O vereador Rubinho Nunes (União Brasil-SP) afirma ter a mesma preocupação de Nikolas, em virtude "dos excessos praticados, da leniência de setores que deveriam se impor e da sanha autoritária por parte dos poderosos, especialmente PT e Lula, que ameaçam a alternância de poder".

Nunes, que vê a inelegibilidade de Bolsonaro como o principal exemplo da perseguição política aos conservadores e considera "uma falácia" a minuta do golpe, diz que o diagnóstico feito pelo deputado na Paulista soa como um alerta.

"É necessário que o nosso campo tenha perseverança e que comece a semear algo que talvez eu não veja [dar resultados], mas que vai aprontar esse retorno [à Presidência]", afirma o vereador da capital paulista.

A ex-deputada estadual Janaina Paschoal diz não ser "tão fatalista" quanto Nikolas na leitura de que um novo presidente de direita pode demorar várias gerações. No entanto, a advogada, que no mandato (2019-2022) conciliou acenos aos conservadores e críticas pontuais ao então presidente, reconhece que a eleição de 2026 será difícil para a direita, "justamente pelos excessos de Bolsonaro e do bolsonarismo".

O discurso do deputado também foi visto por alguns como uma espécie de anúncio antecipado de uma pré-candidatura dele ao Planalto o que só poderia ocorrer a partir de 2031, já que ele não tem a idade mínima (35 anos) para concorrer ao mais alto cargo da República.

Seguidores o saudaram como "futuro presidente" em postagens com trechos da fala na Paulista. A reportagem não conseguiu contato com o parlamentar nesta segunda-feira (26).

Na esquerda, as palavras de Nikolas que pintam um futuro sombrio para a direita foram analisadas com cautela. O discurso nos bastidores é o de que o bolsonarismo, embora momentaneamente combalido, tem condições de dar demonstrações de fôlego nas eleições municipais de outubro.

O próprio Bolsonaro, ao se dirigir aos manifestantes, citou o pleito deste ano: "Vamos caprichar no voto, em especial, para vereadores e prefeitos também. E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence". Inelegível, o ex-mandatário não indicou até o momento quem seria seu sucessor.

"No que depender do PSOL, nenhum projeto autoritário e antipopular voltará a governar o Brasil", diz a presidente nacional do partido, Paula Coradi, ao ser instada a comentar a fala do parlamentar.

"O fato é que a direita e a ultradireita não têm projeto para o país. Seu poder político se baseia na tática do medo para mobilizar o eleitorado conservador com pautas de costumes baseadas em mentiras", segue a dirigente do partido que tem Guilherme Boulos como pré-candidato a prefeito de São Paulo.

A socióloga Esther Solano, que é professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e estuda o bolsonarismo desde 2017, enxerga no discurso de Nikolas o reconhecimento de que "termina um período" em que a direita é liderada por Bolsonaro, enquanto se abre uma disputa por seu espólio político.

Para a pesquisadora, o ex-presidente "enfrenta problemas que são inegáveis até para a própria base dele" e está em curso um debate entre os simpatizantes sobre "o bolsonarismo sem Bolsonaro".

Ela diz que, ao entrevistar cidadãos bolsonaristas, inclusive de perfil mais radical, sobre o futuro, ouve também analogias bíblicas e a previsão de que o grupo atravessará "um longo deserto". Parte deles considera, inclusive, que Lula poderá ser reeleito ou fazer seu sucessor.

"Há uma estratégia [de Nikolas] para manter a base aquecida, o que se faz basicamente com simbologia. Vemos esse tom cristão, com moralização da política, guerra espiritual e ideia de bem contra o mal."

Na ótica do cientista político Jorge Chaloub, professor das universidades federais do Rio de Janeiro e de Juiz de Fora, a mobilização dos apoiadores foi um dos eixos da manifestação. "Ele [Nikolas] está tentando acenar para ele mesmo. É um discurso interessado, de alguém que fala em líderes do futuro e ao mesmo tempo se apresenta como um candidato a ocupar esse posto", diz.

 

       Mistério! Por que o general que sabe tudo ainda não foi chamado a depor? Por Carlos Newton

 

É impressionante. Desde o início de 2023 a imprensa vem publicando sucessivas reportagens sobre as movimentações golpistas para evitar a posse do presidente eleito Lula da Silva. De tal forma que grande parte da trama já passou a ser mais do que sabida e tomou a consistência de fatos públicos e notórios, embora ainda estejam em início de investigação pela Polícia Federal.

Note-se que a apuração feita pelos jornalistas é muito mais completa e eficaz, deixa no chinelo a força-tarefa dirigida pela brilhante cabeça do ministro Alexandre de Moraes, que parece mais interessado em acumular investigações no chamado “inquérito do fim do mundo” do que em descobrir a verdade propriamente dita.

CAMINHO DIRETO

Se o ministro Alexandre de Moraes estivesse interessado em rapidamente apurar como se processou o golpe que não aconteceu, não teria maior dificuldade. Bastava convidar o general Marco Antonio Freire Gomes a depor, como comandante do Exército no final do governo Bolsonaro que se recusou a aderir ao movimento, impedindo o golpe.

Ao demonstrar ser um militar de verdade, cumpridor da lei e discretíssimo no desempenho das funções, o general Freire Gomes foi o verdadeiro responsável pela manutenção do país nos trilhos democráticos. Estamos cansados de publicar essa informação aqui na Tribuna da Internet, embora a imprensa tenha a mania de dizer que foi o Supremo que “salvou” a democracia etc. e tal, porém minha ironia não chega a tanto.

O STF não salvou coisa alguma. Pelo contrário, fez uma lambança histórica, ao interpretar casuisticamente a Constituição, de modo a libertar Lula, devolver-lhe os direitos políticos, para depois promover a recuperação social e financeira dos empresários e governantes mais corruptos do país, como a família Odebrecht e Sérgio Cabral, para ficarmos em apenas dois exemplos.

REUNIÕES NO ALVORADA

Sabe-se que os generais do núcleo duro do Planalto fizeram insistentes apelos aos comandantes militares por um golpe contra a eleição de Lula. Também é sabido que Freire Gomes e os ex-comandantes Almir Garnier (Marinha) e Baptista Junior (Aeronáutica) foram chamados cerca de dez vezes por Bolsonaro para reuniões no Palácio da Alvorada em novembro e dezembro, após a vitória de Lula.

Eram reuniões fora da agenda presidencial, convocadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, ou pelo próprio presidente. A primeira foi dia 1º de novembro —dois dias após a vitória de Lula e discutiu dois assuntos: o fechamento de rodovias e os acampamentos golpistas com bolsonaristas diante dos quartéis.

O golpe não era tratado diretamente. Em alguns casos, Bolsonaro apenas buscava conversar e se aproximar dos chefes militares. Mas houve algumas reuniões em que Bolsonaro e militares de seu entorno defenderam intenções golpistas de reverter o resultado eleitoral.

O QUE FALTA

O depoimento de Freire Gomes certamente preencheria as lacunas, informando a reação do Alto Comando do Exército ao tomar conhecimento dessa situação.

O general pode esclarecer também a influência de governos estrangeiros. Sabe-se que em julho de 2022 o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, tocou no assunto com o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.

Em seguida, os encarregados de negócios dos EUA no Brasil, Douglas Knoff, e do Reino Unido, Melanie Hopkins, participaram de reuniões sigilosas com generais do Exército para sondar a posição da Força. E comunicaram que haveria forte oposição de seus países a qualquer tentativa de ruptura democrática.

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P.S. – Tudo isso e muito mais pode ser esclarecido pelo general Freire Gomes, caso o ministro Moraes tenha a humildade de convidá-lo a depor. É claro que o general Freire Gomes, esse discreto herói nacional, aceitará explicar como repudiou as intenções de ruptura democrática, porque fazê-lo significa um dever para ele. Mas quem se interessa?

 

       Bolsonaro quer garantir a sua própria anistia e a de seus aliados. Por Pedro do Coutto

 

Com a manifestação na Avenida Paulista no domingo, que reuniu um grande número de pessoas, o ex-presidente Jair Bolsonaro abriu uma nova etapa de sua campanha contra o governo, porém absolutamente fora do tempo, uma vez que  representa mais uma investida contra o resultado das urnas de 2022.

Foi um acontecimento fora de tom já que uma das reivindicações está na falsa proposta de uma pacificação quando na realidade refere-se a uma radicalização e que tem como objetivo impedir a condenação do bolsonarismo e de Jair Bolsonaro. Uma das propostas é a anistia dos manifestantes de 8 de janeiro de 2023.

BLINDAGEM

As correntes bolsonaristas procuraram blindar o processo que se volta contra aqueles que recorreram ao vandalismo na busca de uma ruptura, bem como os que estão por trás de tais ações.  No fundo, Bolsonaro buscou dar uma demonstração de apoio popular e político que viesse a intimidar a Polícia Federal e o Judiciário. Afinal, as investigações chegam cada vez mais perto do ex-presidente.

Além disso, deixou claro o desejo de convocação dos seus apoiadores para articular projetos de lei propondo anistia para quem praticou alguma ação golpista nos últimos anos.

BENEFÍCIO PRÓPRIO

É claro que,  apesar de falar em nome daqueles que estão presos pelo 8 de janeiro,  fica evidente o alcance maior da sua ideia de uma anistia para abranger também a si próprio e aos demais aliados políticos que venham a ser tornados réus e posteriormente condenados e presos por algum dos vários momentos em que ações golpistas foram colocadas em marcha.

A ação de Bolsonaro à frente do ato causará uma reação do governo e também do Poder Judiciário no posicionamento e na voz inspirada no sentimento democrático para analisar e neutralizar os efeitos de uma investida que embora marcada por um sentido de desespero, nem por isso poderá ser ignorada.

 

Fonte: FolhaPress/Tribuna da Internet

 

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