Relator da CPI da Braskem nega que será
'domesticado', e diz não querer destruir empresa
Escolhido relator da
CPI da Braskem, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou à Folha que o
objetivo da investigação não é destruir a reputação da empresa, mas rechaçou
que possa ser "domesticado" durante a comissão.
"Não posso estar
preocupado a priori com uma questão específica [imagem da Braskem]. Claro que
nós não temos a intenção de destruir nenhuma empresa. Mas a gente precisa que
as empresas no Brasil operem com o máximo de transparência possível, em todas
as áreas de atuação", diz.
"Quem vai definir
se deve ou não processar quem quer que seja é o Ministério Público e o
Judiciário. Para nós está muito claro qual é o nosso papel. A gente não tem
nenhum desejo de prejudicar ou atingir quem quer que seja. A gente quer
explicar para a sociedade e apontar responsabilidades e problemas que talvez
sejam sistêmicos."
Na semana passada, a
escolha do senador de Sergipe para a relatoria da CPI que vai apurar o ocorrido
em Alagoas desencadeou um mal-estar com Renan Calheiros (MDB-AL) —que, a
contragosto do governo Lula (PT), recolheu as assinaturas necessárias e
insistiu na abertura da investigação parlamentar.
Assim que o nome de
Carvalho foi anunciado pelo presidente, Omar Aziz (PSD-AM), Calheiros disse que
"mãos ocultas" o vetaram da relatoria, que "ensaiam domesticar a
CPI", e que não participaria de "simulacros investigatórios" nem
"jogos de cartas marcadas".
Embora Calheiros não
tenha apontado nomes, a leitura que se faz nos bastidores é de que a acusação
tenha dois destinatários: o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) —rival
político de Calheiros em Alagoas—, e o próprio governo, na figura do líder, Jaques
Wagner (PT-BA).
Wagner admitiu a
preocupação do governo com a Braskem, que tem a Petrobras como acionista:
"A única preocupação que o governo tem é que a empresa já foi abalroada. É
um setor importante, o setor petroquímico, para nós. E óbvio que a gente está
tentando, não recuperar a empresa, mas recuperar o ativo".
Carvalho nega que o
governo tenha participado da escolha do relator e responde às provocações de
Calheiros dizendo que todas as suspeitas levantadas por ele serão respondidas
ao final da investigação.
O senador também diz
que não vai entrar "nesse tipo de chantagem" e faz um paralelo com a
CPI da Covid, de 2021. A criação da CPI ganhou força após a falta de oxigênio
em Manaus. Na ocasião, Calheiros foi escolhido relator e Aziz, do Amazonas, presidente.
"Eu estava na CPI
da Covid. Qual era o fato determinado? O episódio de Manaus. Eduardo Braga
[MDB-AM] foi relator? O outro [do Amazonas, Omar Aziz] foi relator? Quem foi
relator? Ele [Calheiros]. Eu não vou entrar nesse tipo de chantagem", diz.
"Eu sinto muito
se ele [Calheiros] sair, porque ele é um grande senador. Mas a CPI não deixará
de funcionar e não deixará de contar com outros senadores tão valorosos quanto
ele."
Carvalho afirma que
"o governo não teve uma ação voltada" para a escolha do relator, mas
evita elencar nomes de colegas que eram contra a indicação Calheiros para o
cargo. Segundo ele, a decisão de Aziz teve o apoio de "um conjunto de senadores".
"O conjunto dos
senadores falava sobre a importância de a CPI não ser questionada sobre aquilo
que fosse apontado. Se o que tiver que ser apontado for muito duro, seja contra
pessoa física, jurídica ou os dois, que não tenha suspeição de nenhuma natureza.
Só isso. Acho que isso é uma preocupação legítima."
Como relator da CPI da
Braskem, Carvalho terá que se equilibrar entre as acusações trocadas pelo
governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB) —correligionário dos Calheiros—, e o
prefeito de Maceió e aliado de Lira, João Henrique Caldas (PL).
Ao lado de Dantas,
Calheiros e o filho, o ministro Renan Filho (Transportes), ex-governador de
Alagoas, criticam o acordo assinado pela prefeitura de Maceió por livrar a
Braskem de novas indenizações mediante o pagamento de R$ 1,7 bilhão.
Já JHC lembra que
Renan Filho foi governador de Alagoas de 2015 até o ano passado e que a empresa
teve as licenças ambientais renovadas no período. Os primeiros tremores e
rachaduras foram detectados pela população em 2018.
"Eu me vejo
cuidando de um plano de trabalho e buscando esclarecer para a sociedade o que
aconteceu. Como não somos domesticados, nós vamos fazer de tudo para que tudo o
que tenha acontecido seja exposto", diz Carvalho sobre a disputa entre os dois
grupos.
O senador afirma
também que tudo será definido no voto: "O relator e o presidente são
partes. Ela [CPI] pode ser domesticada, claro, mas depende das votações. Como
estão votando os senadores? Estão domesticando quem?".
O senador afirma que
pretende ouvir representantes da Braskem, de empresas que deram aval à
exploração de sal-gema na região, além do ministro de Minas e Energia,
Alexandre Silveira (PSD).
Sobre a convocação de
Renan Filho ou JHC, o relator dá respostas parecidas e diz que o desenrolar da
investigação vai determinar os depoimentos. Carvalho também evita avaliações
sobre o valor do acordo fechado entre a Braskem e a prefeitura de Maceió.
"A nova lei de
improbidade mostra que tem responsabilidades anteriores. Vamos ver como é que a
coisa vai caminhar. Qualquer um pode ser convidado ou convocado a dar a sua
contribuição e ajudar a explicar o problema", diz sobre a convocação do ministro
dos Transportes.
"Nenhuma CPI
produz um efeito imediato, mas produz um debate imediato. Produz uma clareza
imediata para a sociedade da sucessão de fatos que levaram a uma situação. E é
isso que a gente precisa mostrar. E, ao final, apontar eventuais
responsabilidades e medidas que evitem que situações como essa se repita."
Ø
CPI da Braskem aprova plano de trabalho e
pede informações à Petrobras
A Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) que investiga o afundamento do solo em Maceió causado pela
exploração de sal-gema pela Braskem teve o plano de trabalho do relator Rogério
Carvalho (PT-SE), aprovado nesta terça-feira (27/2). O senador solicita que a
Petrobras envie ao colegiado dados sobre as minas na cidade já no começo dos
trabalhos. A estatal tem participação na petroquímica, tal qual a Novonor, a
ex-Odebrecht.
“Nós apresentamos o
plano de trabalho conformado por três eixos: um eixo que deve apresentar ao
longo desses mais de 40 anos, quase 50 anos, de exploração de sal-gema no
município de Maceió, as omissões, o que aconteceu, o que fizeram e deixaram de
fazer para que a gente vivesse a calamidade social, urbana e ambiental como a
gente está vivendo hoje. Tem um eixo que e avaliar todas as ações no sentido de
compensar os danos, tanto aos indivíduos quanto aos entes federados –
município, estado, União. E um terceiro eixo, que vai tratar do que fazer para
que calamidades e tragédias dessa natureza sejam evitadas”, explicou o senador
ao fim da sessão.
O colegiado aprovou
todos os requerimentos que solicitam informações “desde de as informações que o
Ministério Público tem, todos os órgãos ambientais municipais, estaduais,
nacional, todas as comunicações que estes órgãos travaram ao longo destes anos
com a Braskem, com suas antecessoras”.
Além dos pedidos de
informação, a CPI aprovou um requerimento do relator para que seja feita uma
visita presencial dos membros titulares e suplentes aos locais afetados pelo
afundamento do solo em Maceió, que deve ocorrer no fim de março ou começo de
abril, como informou o relator.
As convocações serão
votadas na quarta-feira (28) e o relator sugeriu a convocação de Abel Galindo
Marques, professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ele
teve de deixar sua residência por estar localizada em um dos bairros atingidos
pela exploração na região; José Geraldo Marques, médico, biólogo e ex-chefe do
Órgão Ambiental de Alagoas, também teve de evacuar sua casa; e Natallya de
Almeida Levino, professora da Ufal para falar sobre a extração irregular de
sal-gema na capital alagoana.
Segundo Carvalho, em
um primeiro momento os depoimentos irão “ilustrar” a situação, somente depois
haverá a convocação de autoridades. “Depois que a gente fizer isso, vamos
chamar os agentes públicos, agências, representantes do Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), dos institutos
ambientais, agentes públicos de todas naturezas, das empresas. Ninguém vai ser
poupado se for fundamental para esclarecer o que aconteceu”, prometeu ele.
Questionado sobre a
derrota de Renan Calheiros (MDB-AL), autor do requerimento que criou a CPI que
almejava a relatoria, Carvalho evitou comentar e afirmou que “formalmente ele
continua no colegiado”. Na última semana, quando o presidente da comissão, Omar
Aziz (PSD-AM), confirmou o sergipano na relatoria, Renan anunciou que deixaria
a comissão. Ao Correio, confirmou que já formalizou a decisão ao líder da
bancada, Eduardo Braga (MDB-AM), que deve apontar seu substituto.
Fonte: FolhaPress/Correio
Braziliense
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