Human Rights Watch: Israel descumpre ordem
da Corte de Haia que exige ajuda humanitária a Gaza
A organização Human
Rights Watch (HRW) afirmou, nesta segunda-feira (26/02), que Israel não cumpriu
nenhuma das medidas ordenadas pela Corte Internacional de Justiça
(CIJ), no caso em que a África do Sul acusa o
governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu de cometer genocídio
contra o povo palestino.
Ao alertar sobre as
“condições catastróficas” em Gaza, o mais alto tribunal das Nações Unidas,
sediada em Haia, havia ordenado a Israel, em 26 de janeiro, a tomar “medidas
imediatas e eficazes para permitir a prestação de serviços básicos e ajuda
humanitária” na região. O organismo determinou o prazo de um mês para que Tel
Aviv enviasse informa sobre as medidas que está tomando para evitar o crime de
genocídio.
No entanto, após um
mês, Israel continua interferindo na entrada e na distribuição de recursos no
território palestino, incluindo bens essenciais como combustível e
alimento.
A Human Rights Watch
classificou, nesse sentido, as ações do governo israelense como “punição coletiva que
equivale a crimes de guerra e inclui o uso da fome de civis como arma de
guerra”.
Segundo o gabinete de
Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), ainda menos
caminhões e missões de ajuda foram autorizados a entrar em Gaza, após a decisão
proferida pela CIJ.
“O governo israelense
está matando de fome os 2,3 milhões de palestinos em Gaza, colocando-os em
perigo ainda maior do que antes da ordem vinculativa da CIJ”, afirmou Omar
Shakir, o diretor responsável pela questão Israel e Palestina da Human Rights
Watch, acrescentando que Tel Aviv “ignorou a decisão do tribunal e, de certa
forma, até intensificou a sua repressão”.
O organismo ainda
recomendou que a comunidade internacional deveria usar “todas as formas de
influência, incluindo sanções e embargos para pressionar” Netanyahu no
cumprimento das medidas colocadas pela CIJ.
Segundo o OCHA, no
momento, apenas uma das linhas de abastecimento de água permanece operando em
Gaza, e de forma parcial, devido aos cortes e à destruição generalizada da
infraestrutura do território palestino, fruto das operações militares
israelenses.
A agência também fez
um levantamento que concluiu que o número médio diário de caminhões que
transportam alimentos, ajuda e medicamentos, caiu mais de um terço nas semanas
seguintes após a decisão do tribunal: foram 93 caminhões, entre 27 de janeiro e
21 de fevereiro de 2024, em comparação com os 147 caminhões entre 1 e 26 de
janeiro.
Já antes de 7 de
outubro, uma média de 500 caminhões de alimentos e mercadorias entravam em Gaza
todos os dias.
A Human Rights Watch
também documentou que “altos responsáveis israelenses articularam uma política
para privar os civis de alimentos, água e combustível", enquanto o próprio
Israel culpa a ONU pelos atrasos na distribuição e acusa o Hamas de desviar a
ajuda humanitária.
Entre 1 e 15 de
fevereiro, o governo de Israel apenas facilitou duas das 21 missões planejadas para fornecer combustível ao norte da área de
Wadi Gaza, localizada no centro do enclave. Menos de 20% das missões destinadas
à entrega do recurso foram facilitadas entre 1 de janeiro e 15 de fevereiro, em
comparação com os 86% das missões planejadas entre outubro e dezembro, de
acordo com o OCHA.
·
Corte de financiamentos à UNRWA
Segundo a Human Rights
Watch, as autoridades israelenses tomaram medidas para minar o trabalho da Agência das Nações Unidas de
Assistência a Refugiados Palestinos (UNRWA), o
maior fornecedor de ajuda humanitária em Gaza, do qual dependem mais de metade
das outras organizações para a realização de operações na região.
Israel alegou que pelo menos 12 dos 30 mil funcionários da
agência da ONU tiveram participação nos ataques de 7 de outubro, e incentivou países a cortarem o financiamento destinado ao
organismo.
Nesse contexto, o
ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, declarou ter bloqueado um
carregamento de farinha financiado pelos Estados Unidos com destino a Gaza
"porque se dirigia para a UNRWA".
O Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF) concluiu que 90% das crianças com menos de dois
anos e 95% das mulheres grávidas e lactantes enfrentam “grave pobreza
alimentar”. Neste mês ainda, a organização Save the Children disse que as
famílias em Gaza “são forçadas a procurar restos de comida deixados por ratos e
a comer folhas no desespero para sobreviver”, apontando que “1,1 milhão de
crianças em Gaza [estão] enfrentando a fome”.
Ø
Jornalistas britânicos e norte-americanos
pedem que Israel libere acesso da imprensa internacional a Gaza
Mais de 50 jornalistas que
trabalham para emissoras de televisão britânicas e norte-americanas, incluindo
a BBC e a CNN, escreveram aos governos israelense
e egípcio para exigir “acesso livre e desimpedido” a Gaza para os meios de
comunicação estrangeiros.
“Quase cinco meses
após o início da guerra em Gaza, os
jornalistas estrangeiros ainda não têm acesso a este território, salvo raras
visitas sob escolta do Exército israelense”, sublinham os jornalistas em carta
publicada nesta quarta-feira (28/02).
Os signatários são
correspondentes ou apresentadores baseados em Londres que trabalham para as
redes de tevê britânicas BBC, Sky News, ITV, Channel 4 e para
os canais norte-americanos CNN, ABC, NBC e CBS.
“Fazemos um apelo aos
governos israelense e egípcio para permitirem a todos os meios de comunicação
estrangeiros acesso livre e desimpedido a Gaza”, escrevem.
“Pedimos ao governo
israelense para (...) permitir que jornalistas internacionais trabalhem em Gaza
e às autoridades egípcias para permitirem que jornalistas internacionais tenham
acesso ao ponto de passagem de Rafah”, acrescentam.
Apenas alguns meios de
comunicação, incluindo a AFP, têm jornalistas em Gaza. São
palestinos que já estavam no território antes da guerra em 7 de outubro.
Desde então, quase 30
mil pessoas foram mortas na Faixa de Gaza, bombardeada diariamente pelo
Exército israelense. A ONU estima que 2,2 milhões de pessoas correm o risco de
passar fome.
Segundo o Comitê para
a Proteção dos Jornalistas, pelo menos 85 profissionais da comunicação morreram
na Faixa de Gaza desde o início do conflito, um número ainda maior, segundo
outras fontes.
“É essencial que a
segurança dos jornalistas locais seja respeitada e que seus esforços sejam
apoiados pelo jornalismo e membros da mídia internacional”, disse o
correspondente da Sky News, Alex Crawford.
“Só posso presumir que
Israel não permite que jornalistas trabalhem livremente dentro de Gaza, porque
seus soldados fazem coisas que não querem que vejamos”, disse Jeremy Bowen,
da BBC.
"Relatórios de
jornalistas estrangeiros poderiam confirmar a afirmação de Israel de que, para
usar uma expressão comum no país, 'este é o exército mais moral do
mundo'", continuou ele, antes que "jornalistas estrangeiros pudessem
descobrir provas que confirmassem alegações de crimes de guerra e, ainda mais
grave, de genocídio". “Até entrarmos nunca saberemos”, frisou o
jornalista.
·
Dia de apoio aos jornalistas palestinos
O dia 26 de fevereiro
foi declarado “dia mundial de apoio aos jornalistas palestinos”. A iniciativa
partiu do Sindicato dos Jornalistas da Jordânia, que fez um apelo para que
todos os jornalistas e profissionais de comunicação do reino tomassem posição, em
solidariedade aos jornalistas palestinos.
Na segunda-feira,
cerca de 50 diretores de veículos de comunicação, editores-chefes e repórteres
da Jordânia decidiram se reunir e fornecer informações sobre a situação dos
colegas palestinos que atualmente cobrem a situação na Faixa de Gaza. A
iniciativa recebeu o apoio da Federação Internacional de Jornalistas.
“Este protesto visa
enviar uma mensagem aos nossos irmãos, irmãs, colegas jornalistas que trabalham
atualmente na Faixa de Gaza, que fazem um trabalho excelente e sem precedentes,
com coragem e determinação”, explica Hassan Choubaki, diretor do escritório
da Al Jazeera em Amã.
·
Mais de cem jornalistas mortos em Gaza
Hamza al-Dahdouh,
Mustafa Thuraya são alguns jornalistas palestinos que morreram cobrindo a
guerra em Gaza.
Organizações como
Repórteres Sem Fronteiras e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas denunciam
o ataque deliberado a jornalistas.
“Aqui, temos quase dez
sindicatos de jornalistas jordanianos mobilizados em prol dos jornalistas
palestinos. Nós, na Jordânia, tivemos que fazê-lo, porque estamos muito
próximos do conflito. Os repórteres palestinos documentam a realidade de Gaza
sob escombros e numa situação terrivelmente complicada", diz Basil Okoor,
editor-chefe de um canal de televisão local.
De acordo com o último
relatório da Sociedade de Jornalistas de Imprensa Palestinos, publicado no
início do ano, 102 jornalistas foram mortos na sequência dos bombardeios
israelenses, ou quase 8,5% dos jornalistas em Gaza.
Fonte: Opera Mundi/RFI
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