Brasil na Caricom: Lula vai à cúpula se
mostrar como alternativa aos EUA, dizem analistas
Focado na agenda
interna do país, o presidente Lula encerrará as viagens internacionais
comparecendo a eventos que focam o Caribe, a América do Sul e Central. Ouvidos
pela Sputnik Brasil, analistas apontam que sua presença nesses encontros
reafirma o desejo de maior integração regional e de neutralizar a influência
dos Estados Unidos na região.
No quarta-feira (28),
o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chega a Georgetown, capital
da Guiana, para a cúpula da Comunidade do Caribe (Caricom). Depois, na
sexta-feira (1º), Lula vai ao encontro da Comunidade de Estados
Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) em São Vicente e Granadinas.
O peso político que o
Brasil terá nesses eventos foi discutido pelos jornalistas Melina Saad e
Marcelo Castilho, apresentadores do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, com
dois especialistas.
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Foco na integração regional
Em meio a eleições
municipais neste ano, Lula afirmou que vai focar em viagens nacionais, o que
faz de sua aparição nesses encontros regionais um forte indicativo de suas
prioridades, afirma Carolina Pedroso, professora de relações internacionais na
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Nos dois primeiros
mandatos de Lula, lembra a especialista, sua estratégia internacional teve como
ênfase aumentar e fortalecer os laços com a América Latina. "No sentido de
tornar o Brasil uma liderança da região e, consequentemente, aumentar a nossa
importância em termos globais."
A opinião é
compartilhada por Guilherme Frizzera, doutor em relações internacionais pela
Universidade de Brasília (UnB) e coordenador de relações internacionais do
Centro Universitário Internacional (Uninter). "Desde o início do primeiro
governo, Lula sempre tentou aproximar a América do Sul e depois a América
Latina da região do Caribe", afirmou.
"O Brasil,
historicamente pelo seu peso na economia, na política, por sua participação no
ambiente internacional, […] é um líder nato da América Latina", disse
Frizzera.
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Qual a força política do Caribe?
Um dos pontos de se
aproximar da região, apontam os especialistas, está na sua força política
enquanto bloco. A região tem tendência em articular seus votos nos fóruns em
que esses países fazem parte, como a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU)
e a Organização dos Estados Americanos (OEA), em que possuem 40% das cadeiras.
"O Brasil tem uma
agenda importante de democratização do sistema ONU [Organização das Nações
Unidas]", lembrou Pedroso, e um apoio quase majoritário como esse em
questões da região "pode ser um respaldo importante para as iniciativas
brasileiras".
Em seus mandatos, Lula
tem tentado reformar os instrumentos de governança global, como o Conselho de
Segurança das Nações Unidas (CSNU), de modo que ele não fique mais refém das
decisões de cinco potências.
"Esse respaldo
dos países caribenhos é sempre um ativo político importante para a diplomacia
brasileira em relação a esses temas mais amplos."
O CSNU, argumenta
Frizzera, "não está oferecendo respostas" aos conflitos atuais, uma
vez que basta o veto de um dos cinco membros permanentes para as propostas
serem bloqueadas.
Nesse sentido, é como
se Lula estivesse dizendo: "É uma instituição que tem princípios, regras e
procedimentos muito bonitos", descreveu Frizzera, "mas que não
respondem mais aos conflitos geopolíticos existentes, e a gente precisa buscar uma
alternativa".
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Lula deve mediar questão de Essequibo
Participando como
convidado especial da Caricom, Lula deve se encontrar com o presidente da
Guiana, Irfaan Ali, para discussões bilaterais. No dia seguinte, durante a
reunião da CELAC, o presidente brasileiro se encontrará com o presidente
venezuelano, Nicolás Maduro.
Segundo os
especialistas ouvidos, a questão de Essequibo certamente será um tema nas
conversas de Lula com os líderes. O tamanho e o peso político do Brasil o
tornam um "mediador natural" de conflitos na América do Sul, segundo
Frizzera.
Procurado por ambos os
líderes para mediar o conflito, aponta Pedroso, o Itamaraty tem a tradição de
sempre buscar uma solução pacífica, respeitando os atores presentes. Até porque
"essas crises que acontecem ao nosso redor de alguma maneira sempre repercutem
em nós".
"Então é
importante que o Brasil se coloque como responsável como mediação desses
conflitos porque nós temos por um lado expertise […]. E, por outro, temos
interesse real em que as coisas se resolvam pacificamente."
"A gente não tem
como fugir dos nossos vizinhos", reforçou o especialista.
·
Brasil quer substituir EUA no Caribe
O Caribe, apontaram os
analistas, funciona há séculos como um laboratório de imperialismo dos Estados
Unidos. "Os Estados Unidos sempre foram um ator que interviu no processo
político e, principalmente, econômico do Caribe", afirmou Frizzera.
Até hoje eles mantêm
Porto Rico como uma colônia e detêm controle da baía de Guantánamo em Cuba,
onde também aplicam sanções econômicas. "Suas primeiras ações
imperialistas foram ali no Caribe e, depois, foram se ampliando", explicou
Pedroso. "Então o Caribe não é uma região desprezível para os Estados
Unidos."
"Por que Cuba é
tão importante para os Estados Unidos? Porque Cuba até hoje continua a ser uma
pedra no sapato para a diplomacia norte-americana", analisou Pedroso.
É exatamente por essa
importância que os Estados Unidos dão ao Caribe que a região é tão dependente
deles, avalia a professora da Unifesp. "Eles têm muita dificuldade de
conseguir outras parcerias porque o peso que os Estados Unidos dão àquela região
é muito grande."
A aproximação
brasileira pode, assim, servir como outro polo de poder multilateral para onde
essas nações podem se voltar. Um que, como afirmaram os analistas, respeite as
decisões domésticas dos países.
"Esse é um papel
que, a curto prazo, até médio prazo, dificilmente alguém vai substituir",
disse Frizzera, destacando que outro polo que se aproxima da região é a China.
Para o professor de
relações internacionais, ao menos por enquanto, o Brasil pode ser esse segundo
polo de influência regional no Caribe, logo atrás dos Estados Unidos.
De acordo com
Frizzera, isso pode ser feito por meio de projetos de financiamento de
infraestrutura, como foi feito em Cuba pelo BNDES e, também, pela determinação
de que "os processos de integração regional onde o Brasil lidera",
como o Mercosul, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a CELAC, passem a
ter "uma presença maior do Caribe".
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Lula chama Netanyahu de cidadão e diz que
'não esperava que Israel fosse compreender' sua declaração
Ao fazer novos
comentários relacionados às suas declarações sobre o governo de Israel, o
presidente disse que, ao comparar as mortes em Gaza às mortes de judeus na
Segunda Guerra Mundial, não usou a palavra "holocausto", e que o
termo foi parte da interpretação das autoridades israelenses.
Os comentários do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva desta terça-feira (27) fazem parte de uma
entrevista concedida ao jornalista Kennedy Alencar, que ainda não foi divulgada
na íntegra.
"Eu diria a mesma
coisa. Porque é exatamente o que está acontecendo na Faixa de Gaza. A gente não
pode ser hipócrita de achar que uma morte é diferente da outra. Você não tem na
Faixa de Gaza uma guerra de um Exército altamente preparado contra outro
Exército altamente preparado. Você tem uma guerra de um Exército altamente
preparado contra mulheres e crianças […]. Quantas pessoas do Hamas já foram
apresentadas mortas? Você inventa determinadas mentiras e passa a trabalhar
como se fosse verdade. Primeiro porque eu não disse nem a palavra holocausto.
Holocausto foi a interpretação do primeiro-ministro de Israel, não foi minha
[…]", afirmou Lula.
Seguindo suas
explanações, o presidente reafirmou a posição do Brasil em condenar os ataques
do Hamas, mas disse que não podia "ver o Exército de Israel fazendo com
inocente a mesma barbaridade".
O petista ressaltou
que desde o começo do conflito está pedindo o cessar-fogo e um corredor
humanitário para a entrada de alimentos e socorro médico.
"O Brasil foi o
primeiro país a condenar o gesto terrorista do Hamas. O primeiro país. Mas eu
não posso condenar o gesto terrorista do Hamas e ver o Estado de Israel através
do seu Exército, do seu primeiro-ministro fazendo com inocente da mesma barbaridade.
Ou seja, o que nós estamos clamando: que parem os tiroteios, que se permita que
se tenha a chegada de alimento, remédio, de médico, enfermeiro, para que a
gente tenha um corredor humanitário e tratar das pessoas. É isso",
afirmou.
Em seguida, sem citar
diretamente o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, Lula declarou que não
esperava que o governo de Israel fosse "compreender" os pedidos
porque "conhece o cidadão já há algum tempo" e sabe "o que ele
pensa ideologicamente".
"Agora veja, eu
não esperava que o governo de Israel fosse compreender. Eu não esperava. Porque
eu conheço o cidadão historicamente já há algum tempo, eu sei o que ele pensa
ideologicamente."
Na semana passada,
Lula disse que "o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo
palestino nunca aconteceu em nenhum outro momento histórico. Na verdade
aconteceu: quando Hitler decidiu matar os judeus. Não é uma guerra entre
soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e
mulheres e crianças".
A fala do presidente
teve grande repercussão, tanto dentro quanto fora do país.
Israel rejeitou a
declaração, disse que Lula era persona non grata e utilizou as mídias sociais
para criticar o petista. No Brasil, deputados da oposição abriram pedido de
impeachment contra o presidente.
O Itamaraty, através
do chanceler Mauro Vieira, afirmou que as manifestações do governo israelense
foram "inaceitáveis" e "mentirosas" e convocou o embaixador
brasileiro no país, Frederico Meyer, para consultas.
Vieira enfatizou a
gravidade das distorções das declarações e das alegadas mentiras, descrevendo a
abordagem da chancelaria israelense como uma "vergonhosa página da
história da diplomacia de Israel".
No final da semana
passada, Lula sustentou as declarações durante um evento no Rio de Janeiro,
além de endossar a criação do Estado palestino.
De acordo com o
Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, o número de palestinos mortos chegou a
29.782. Do lado israelense, há cerca de 1.350 mortes e 250 pessoas foram
sequestradas.
Ø
Polêmica de López Obrador com mídia
norte-americana impacta campanhas presidenciais
A polêmica entre o
presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e o veículo de imprensa
norte-americano The New York Times teve um impacto nas campanhas presidenciais
do país. No contexto da controvérsia, números de telefone de vários políticos e
personalidades do país foram divulgados nas redes sociais.
A situação afetou
diretamente as candidaturas presidenciais de Claudia Sheinbaum, do partido
governista Morena, e Bertha Xóchitl Gálvez Ruiz, da coalizão opositora 'Força e
Coração por México', que denunciaram que, durante o fim de semana, seus números
de telefone foram divulgados nas redes sociais e, desde então, estavam
congestionados.
Sheinbaum afirmou que
recebeu em seu telefone pessoal "chamadas incessantes e mensagens de
ódio", como a recebida por homem identificado como "José
Martín", que dizia: "Não sou um robô, você não me representa.
Candidata narcotraficante Claudia, ditador narcotraficante López Obrador. Se
quer culpar alguém, vá ao Palácio e reclame com seu chefe".
"É óbvio o que
eles querem fazer, mais uma vez seus ataques são tão grosseiros quanto
inofensivos. Os números que deveriam preocupá-los são os das pesquisas",
disse a candidata governista.
·
Oposição aproveita o escândalo para
impulsionar campanha
Já a opositora Gálvez
aproveitou o escândalo para impulsionar sua campanha eleitoral e publicou um
vídeo. "Como resultado do péssimo exemplo dado pelo presidente López
Obrador, muitos mais números de telefone foram divulgados com má intenção.
Também vazaram meu número e, desde então, as mensagens não pararam de chegar.
Se você ainda não tem, aqui está (...) decidi não mudar", comentou.
Gálvez disse que,
apesar de receber mensagens criticando seu "excesso de peso" e seus
"dentes tortos", não estava preocupada, pois "isso pode ser
corrigido".
"O que não pode
ser corrigido é o carinho das centenas de mensagens de apoio, incentivo e
solidariedade que tenho recebido, e essas permanecem. Então, preocupem-se,
porque isso ninguém pode parar", acrescentou.
·
Divulgação de números de políticos
Na última quinta-feira
(22), o presidente López Obrador informou em coletiva de imprensa que recebeu
uma solicitação "em tom ameaçador", "prepotente" e
"com ultimato" da chefe de correspondentes do The New York Times no
México, Natalie Kitroeff, que pedia comentários em menos de oito horas, sobre
uma reportagem na qual estavam trabalhando.
O artigo revelava uma
investigação já encerrada feita pelo governo dos Estados Unidos sobre um
suposto financiamento do narcotráfico a López Obrador em sua campanha eleitoral
de 2018, que também envolvia os filhos do presidente. Por isso, o presidente mexicano
denunciou que o jornal norte-americano era um "panfleto sujo" que
usava temas "falsos" para fazer publicações "enganosas".
Mas a controvérsia
aumentou quando López Obrador comentou a carta enviada por Kitroeff e leu
publicamente o número de telefone da jornalista, causando tumulto e reações
contrárias de Washington e até de uma plataforma de vídeos que removeu a
conferência de imprensa do presidente mexicano.
"Este vídeo foi
removido porque viola a política do YouTube sobre assédio e 'bullying'",
dizia uma mensagem nos canais oficiais de Andrés Manuel López Obrador e Governo
do México.
No entanto, minutos
depois, o vídeo do evento foi republicado com uma versão editada que não
continha mais o trecho em que o presidente mencionava o número da jornalista.
·
Escândalo gerou reação da ONU
O escândalo gerado
pela divulgação dos contatos telefônicos chegou a tal ponto que o Escritório do
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos no México alertou
que a proteção dos dados pessoais "é uma obrigação" que recai "especialmente"
sobre aqueles que têm "uma responsabilidade pública".
"Proteger os
dados pessoais é uma obrigação que deve ser observada por todos, especialmente
por aqueles que detêm uma responsabilidade pública. Juntamo-nos aos apelos para
não divulgar informações que prejudicam os direitos à privacidade e dignidade
das pessoas", defendeu o escritório da ONU.
Fonte: Sputnik Brasil
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