quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Como Milei e Bukele viraram trunfos de Trump e conservadores dos EUA

Algo curioso de acontecer no movimento de direita que alimenta Donald Trump com votos nos Estados Unidos: mais dois presidentes da América Latina juntaram-se à lista de estrelas internacionais dele.

São eles o presidente salvadorenho Nayib Bukele e o argentino Javier Milei, que participaram da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), no sábado (24/2), no Estado de Maryland.

O deputado brasileiro Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliado de Trump — também participou da conferência.

Ele afirmou que há abusos do Judiciário no caso que investiga um suposto plano golpista para impedir que o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assumisse o poder.

O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) já havia participado da CPAC, em 2023.

Com discursos e conselhos diferentes, Bukele e Milei tiveram participações aplaudidas durante o influente fórum conservador, no mesmo palco onde Trump falou como protagonista indiscutível.

No início de sua mensagem, o ex-presidente dos EUA classificou a presença de Milei como "uma grande honra" e ainda abraçou o libertário argentino nos bastidores no sábado.

"Vamos tornar a Argentina grande novamente", disse Trump adaptando o slogan com o qual chegou à Casa Branca nas eleições de 2016 — feito que ele pretende repetir novamente em novembro.

Na sequência, Trump riu, como pode ser visto em um vídeo divulgado da reunião, ocorrida a poucos quilômetros do Capitólio dos EUA, que há três anos foi violentamente invadido por seguidores do então presidente americano.

Outros políticos estrangeiros participaram da CPAC, como Santiago Abascal, o líder do partido espanhol de direita radical Vox, e Liz Truss, a ex-primeira-ministra britânica.

Mas como Bukele e Milei se tornaram baluartes e trunfos do trumpismo?

·        Coincidências

O presidente da CPAC, Matt Schlapp, destaca que a ideia de convidar Milei surgiu após ouvi-lo em um evento parecido que ocorreu no México, em novembro de 2022, quando o argentino apresentou um plano para cortar gastos públicos.

"Adoramos a ideia de ter uma motosserra para representar a eliminação de despesas", disse Schlapp à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

A motosserra foi um dos símbolos da campanha de Milei nas eleições argentinas realizadas no ano passado.

Se a agenda de Milei coincide com as posições dos conservadores americanos no plano econômico, a controversa "mão dura" de Bukele contra o crime parece enquadrar-se na intenção de Trump de colocar a segurança como uma questão central da campanha.

Bukele declarou guerra às gangues e reduziu as altas taxas de homicídios em El Salvador com uma política de encarceramento em massa e um estado de emergência que, segundo os críticos, levou a inúmeras violações dos direitos humanos.

Mas Schlapp descarta as alegações de abuso e as classifica como "risíveis".

"O que Bukele fez em El Salvador foi atacar o crime e os criminosos. E há muitas pessoas que vivem em nossas maiores cidades [nos Estados Unidos] que gostariam de ver ruas mais seguras", compara ele.

Os especialistas sustentam que a direita americana identificou alguns benefícios em convidar Bukele e Milei para a essa grande reunião anual.

"Para Trump e a base de apoio conservadora, é uma oportunidade de sinalizar que o estilo de governo com a liderança de um homem forte é popular e está ganhando força fora dos EUA", avalia Erica Frantz, professora de Ciência Política na Universidade Estadual de Michigan, que estuda o conservadorismo na política.

"Não creio que se trate especificamente de mobilizar o eleitorado latino dos EUA, mas de um esforço para sinalizar a toda a base conservadora de Trump que a retórica autocrática é 'normal' e que a política do homem forte é o única meio", diz Frantz.

Por outro lado, para Bukele e Milei, participar da conferência pode garantir algumas vantagens, mas também riscos, alertam os analistas.

·        'Batismo'

Num discurso em inglês na quinta-feira (22/2) durante a CPAC, Bukele procurou entrar em sintonia com o público, criticando alvos comuns da direita, como organizações não-governamentais ou o filantropo bilionário George Soros.

Mas, como alguém acusado pelos críticos de erodir a democracia em El Salvador e concentrar o poder nas próprias mãos, Bukele também deixou alguns recados que podem ter diferentes interpretações.

"Dizem que o globalismo está morrendo na CPAC. Estou aqui para dizer que em El Salvador ele já está morto", disse ele, provocando aplausos de pé do público.

"Mas se quisermos que o globalismo morra aqui também, temos de estar dispostos a lutar sem trégua contra tudo e todos que o defendem", acrescentou ele.

"O próximo presidente dos EUA não deve apenas vencer as eleições. Ele deve ter a visão, a vontade e a coragem de fazer o que for necessário. E, acima de tudo, deve ser capaz de identificar as forças que irão conspirar contra ele", sugeriu.

Giancarlo Summa, pesquisador da Escola Superior de Ciências Sociais de Paris e cofundador do projeto Mudral (Multilateralismo e Direita Radical na América Latina), acredita que esse discurso foi uma espécie de "batismo" político para Bukele, que sempre evitou se definir como alguém de direita

"Ele agora escolheu um lado. E a direita já o escolheu como ídolo", avalia Summa.

Para Summa, a CPAC trabalha para criar laços de afinidade entre direitistas que têm inimigos comuns e, ao participarem do evento, tanto Bukele quanto Milei optaram por ter boas relações com Trump caso ele vença as eleições em que provavelmente será candidato contra o atual presidente, Joe Biden.

Milei manifestou simpatia por Trump desde o início campanha no ano passado e, embora o discurso no CPAC tenha sido marcado por um certo tom acadêmico em questões de mercado e de Estado, também incluiu críticas à classe política, à mídia e à "agenda assassina do aborto".

"Não permitir o avanço do socialismo, não endossar a regulação, não permitir o avanço da agenda assassina (do aborto) e não se deixar levar pelo canto da sereia da justiça social", listou Milei.

"Venho de um país que comprou todas aquelas ideias estúpidas e, em vez de ser um dos países mais ricos do mundo, está no 140º lugar", continuou ele.

"Se [as pessoas] não lutarem pela liberdade, serão levadas à miséria."

Milei viajou para a CPAC depois de se reunir com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Buenos Aires, na sexta-feira (23/2), num momento em que enfrenta crescentes dificuldades políticas internas e procura apoio internacional para os planos de ajustes econômicos.

O embaixador dos EUA na Argentina, Marc Stanley, comunicou confidencialmente ao governo Milei que não seria adequado que o presidente participasse da reunião da CPAC, de acordo com vários relatos publicados pela imprensa.

A resposta que Stanley recebeu foi que Milei evitaria referir-se às questões de política interna dos EUA durante o evento.

No entanto, alguns analistas observam que a participação do argentino na CPAC já fez com que assumisse um risco.

"Se Biden vencer a eleição, é provável que o fato de Bukele e Milei terem se aproximado de Trump crie tensões", afirma Frantz.

A especialista lembra que, durante o atual mandato de Biden, os EUA "já se mostraram bastante incomodados com as graves violações dos direitos humanos do governo Bukele".

"Se Milei cumprir as promessas eleitorais, especialmente no que diz respeito às políticas que suprimem os direitos das mulheres, é provável que o governo Biden responda e tome uma oposição", conclui a cientista política.

 

Ø  Democratas pedem outro nome no lugar de Biden, aponta pesquisa; Michelle Obama é favorita

 

Uma pesquisa realizada somente entre eleitores do Partido Democrata dos Estados Unidos pode mudar o rumo das eleições presidenciais marcadas para novembro deste ano.

O estudo, feito pela consultora Rasmussen Reports, mostra que 47% desse eleitorado defende a substituição de Joe Biden, de 81 anos, por um candidato mais jovem, enquanto 37% preferem a candidatura à reeleição do atual mandatário e 15% dizem não ter opinião sobre o tema.

O debate a respeito da candidatura de Biden à reeleição tem se intensificado nos Estados Unidos nas últimas semanas, devido a vários episódios controversos protagonizados pelo presidente norte-americano, que vão desde mencionar uma suposta reunião recente com o já falecido ex-presidente francês François Miterrand (morto em 1996) até tratar o líder egípcio Abdel Fattah Al-Sisi como “presidente do México”.

Por esse motivo, vem crescendo o setor que considera inviável uma nova vitória eleitoral de Biden, ainda mais em uma disputa contra o ex-presidente Donald Trump (2017-2021), cuja candidatura como representante do opositor Partido Republicano vem se tornando cada vez mais provável.

O magnata venceu as cinco primárias estaduais realizadas no país este ano. Sua vitória mais expressiva aconteceu neste sábado (24/02), quando superou sua principal adversária, a ex-diplomata Nikki Haley, no estado da Carolina do Sul, onde ela nasceu e onde foi governadora entre 2011 e 2017. Ademais, impôs uma diferença de 20 pontos: 59,8% contra 39,5%.

·        Michelle Obama favorita

O estudo da Rasmussen Reports também mostrou quais são os nomes favoritos do eleitorado democrata no caso de Biden ser substituído.

Nesse quesito, quem aparece em primeiro lugar é a ex-primeira-dama do país, Michelle Obama. A esposa do ex-presidente Barack Obama (2009-2017) é apontada por 20% dos entrevistados como a melhor opção do partido para a disputa presidencial.

O segundo nome mais citado é o da atual vice-presidente Kamala Harris, preferida por 15% dos entrevistados, segundo a pesquisa.

Com relação à idade, as duas figuras mais citadas levariam a uma mudança significativa, já que ambas possuem 21 anos a menos que Biden: Michelle completou 60 anos em janeiro passado e Kamala alcançará a mesma idade no próximo mês de outubro.

Em terceiro lugar na pesquisa também aparece uma mulher: Hillary Clinton, de 76 anos, ex-senadora por Nova York, ex-secretária de Estado (durante o governo de Barack Obama) e candidata derrotada por Trump nas eleições de 2016. Ela aparece no estudo com 12% das preferências.

Apesar desses números, a mudança na candidatura do Partido Democrata dependerá exclusivamente de uma decisão do atual presidente dos Estados Unidos. A direção da legenda já afirmou que apoiará Joe Biden se ele decidir que concorrerá à reeleição.

Sendo assim, a única possibilidade de que exista uma mudança é se o próprio Biden anunciar sua desistência da candidatura.

 

Fonte: BBC News Mundo/Opera Mundi

 

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