Como Milei e Bukele viraram trunfos de
Trump e conservadores dos EUA
Algo curioso de
acontecer no movimento de direita que
alimenta Donald Trump com votos
nos Estados Unidos: mais
dois presidentes da América Latina juntaram-se à lista de estrelas
internacionais dele.
São eles o presidente
salvadorenho Nayib Bukele e o
argentino Javier Milei, que participaram da
Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), no sábado (24/2), no Estado
de Maryland.
O deputado brasileiro
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliado
de Trump — também participou da conferência.
Ele afirmou que há
abusos do Judiciário no caso que investiga um suposto plano golpista para impedir que
o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assumisse
o poder.
O ex-presidente
brasileiro Jair Bolsonaro (PL) já havia participado da CPAC, em 2023.
Com discursos e
conselhos diferentes, Bukele e Milei tiveram participações aplaudidas durante o
influente fórum conservador, no mesmo
palco onde Trump falou como protagonista indiscutível.
No início de sua
mensagem, o ex-presidente dos EUA classificou a presença de Milei como
"uma grande honra" e ainda abraçou o libertário argentino nos
bastidores no sábado.
"Vamos tornar
a Argentina grande
novamente", disse Trump adaptando o slogan com o qual chegou à Casa Branca
nas eleições de 2016 — feito que ele pretende repetir novamente em novembro.
Na sequência, Trump
riu, como pode ser visto em um vídeo divulgado da reunião, ocorrida a poucos
quilômetros do Capitólio dos EUA, que
há três anos foi violentamente invadido por seguidores do então presidente
americano.
Outros políticos
estrangeiros participaram da CPAC, como Santiago Abascal, o líder
do partido espanhol de direita radical Vox, e Liz Truss, a
ex-primeira-ministra britânica.
Mas como Bukele e
Milei se tornaram baluartes e trunfos do trumpismo?
·
Coincidências
O presidente da CPAC,
Matt Schlapp, destaca que a ideia de convidar Milei surgiu após ouvi-lo em um
evento parecido que ocorreu no México, em novembro de 2022, quando o argentino
apresentou um plano para cortar gastos públicos.
"Adoramos a ideia
de ter uma motosserra para representar a eliminação de despesas", disse
Schlapp à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
A motosserra foi um
dos símbolos da campanha de Milei nas eleições argentinas realizadas no ano
passado.
Se a agenda de Milei
coincide com as posições dos conservadores americanos no plano econômico, a
controversa "mão dura" de Bukele contra o crime parece enquadrar-se
na intenção de Trump de colocar a segurança como uma questão central da campanha.
Bukele declarou guerra
às gangues e reduziu as altas taxas de homicídios em El Salvador com uma
política de encarceramento em massa e um estado de emergência que, segundo os
críticos, levou a inúmeras violações dos direitos humanos.
Mas Schlapp descarta
as alegações de abuso e as classifica como "risíveis".
"O que Bukele fez
em El Salvador foi atacar o crime e os criminosos. E há muitas pessoas que
vivem em nossas maiores cidades [nos Estados Unidos] que gostariam de ver ruas
mais seguras", compara ele.
Os especialistas
sustentam que a direita americana identificou alguns benefícios em convidar
Bukele e Milei para a essa grande reunião anual.
"Para Trump e a
base de apoio conservadora, é uma oportunidade de sinalizar que o estilo de
governo com a liderança de um homem forte é popular e está ganhando força fora
dos EUA", avalia Erica Frantz, professora de Ciência Política na Universidade
Estadual de Michigan, que estuda o conservadorismo na política.
"Não creio que se
trate especificamente de mobilizar o eleitorado latino dos EUA, mas de um
esforço para sinalizar a toda a base conservadora de Trump que a retórica
autocrática é 'normal' e que a política do homem forte é o única meio",
diz Frantz.
Por outro lado, para
Bukele e Milei, participar da conferência pode garantir algumas vantagens, mas
também riscos, alertam os analistas.
·
'Batismo'
Num discurso em inglês
na quinta-feira (22/2) durante a CPAC, Bukele procurou entrar em sintonia com o
público, criticando alvos comuns da direita, como organizações
não-governamentais ou o filantropo bilionário George Soros.
Mas, como alguém
acusado pelos críticos de erodir a democracia em El Salvador e concentrar o
poder nas próprias mãos, Bukele também deixou alguns recados que podem ter
diferentes interpretações.
"Dizem que o
globalismo está morrendo na CPAC. Estou aqui para dizer que em El Salvador ele
já está morto", disse ele, provocando aplausos de pé do público.
"Mas se quisermos
que o globalismo morra aqui também, temos de estar dispostos a lutar sem trégua
contra tudo e todos que o defendem", acrescentou ele.
"O próximo
presidente dos EUA não deve apenas vencer as eleições. Ele deve ter a visão, a
vontade e a coragem de fazer o que for necessário. E, acima de tudo, deve ser
capaz de identificar as forças que irão conspirar contra ele", sugeriu.
Giancarlo Summa,
pesquisador da Escola Superior de Ciências Sociais de Paris e cofundador do
projeto Mudral (Multilateralismo e Direita Radical na América Latina), acredita
que esse discurso foi uma espécie de "batismo" político para Bukele,
que sempre evitou se definir como alguém de direita
"Ele agora
escolheu um lado. E a direita já o escolheu como ídolo", avalia Summa.
Para Summa, a CPAC
trabalha para criar laços de afinidade entre direitistas que têm inimigos
comuns e, ao participarem do evento, tanto Bukele quanto Milei optaram por ter
boas relações com Trump caso ele vença as eleições em que provavelmente será
candidato contra o atual presidente, Joe Biden.
Milei manifestou
simpatia por Trump desde o início campanha no ano passado e, embora o discurso
no CPAC tenha sido marcado por um certo tom acadêmico em questões de mercado e
de Estado, também incluiu críticas à classe política, à mídia e à "agenda assassina
do aborto".
"Não permitir o
avanço do socialismo, não endossar a regulação, não permitir o avanço da agenda
assassina (do aborto) e não se deixar levar pelo canto da sereia da justiça
social", listou Milei.
"Venho de um país
que comprou todas aquelas ideias estúpidas e, em vez de ser um dos países mais
ricos do mundo, está no 140º lugar", continuou ele.
"Se [as pessoas]
não lutarem pela liberdade, serão levadas à miséria."
Milei viajou para a
CPAC depois de se reunir com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em
Buenos Aires, na sexta-feira (23/2), num momento em que enfrenta crescentes
dificuldades políticas internas e procura apoio internacional para os planos de
ajustes econômicos.
O embaixador dos EUA
na Argentina, Marc Stanley, comunicou confidencialmente ao governo Milei que
não seria adequado que o presidente participasse da reunião da CPAC, de acordo
com vários relatos publicados pela imprensa.
A resposta que Stanley
recebeu foi que Milei evitaria referir-se às questões de política interna dos
EUA durante o evento.
No entanto, alguns
analistas observam que a participação do argentino na CPAC já fez com que
assumisse um risco.
"Se Biden vencer
a eleição, é provável que o fato de Bukele e Milei terem se aproximado de Trump
crie tensões", afirma Frantz.
A especialista lembra
que, durante o atual mandato de Biden, os EUA "já se mostraram bastante
incomodados com as graves violações dos direitos humanos do governo
Bukele".
"Se Milei cumprir
as promessas eleitorais, especialmente no que diz respeito às políticas que
suprimem os direitos das mulheres, é provável que o governo Biden responda e
tome uma oposição", conclui a cientista política.
Ø
Democratas pedem outro nome no lugar de
Biden, aponta pesquisa; Michelle Obama é favorita
Uma pesquisa realizada
somente entre eleitores do Partido Democrata dos Estados Unidos pode mudar o
rumo das eleições presidenciais marcadas para novembro deste ano.
O estudo, feito pela
consultora Rasmussen Reports, mostra que 47% desse eleitorado defende a
substituição de Joe Biden, de 81 anos, por um candidato mais jovem, enquanto
37% preferem a candidatura à reeleição do atual mandatário e 15% dizem não ter
opinião sobre o tema.
O debate a respeito da
candidatura de Biden à reeleição tem se intensificado nos Estados Unidos nas
últimas semanas, devido a vários episódios controversos protagonizados pelo presidente
norte-americano, que vão desde mencionar uma suposta
reunião recente com o já falecido ex-presidente francês François Miterrand
(morto em 1996) até tratar o líder egípcio Abdel Fattah Al-Sisi como
“presidente do México”.
Por esse motivo, vem
crescendo o setor que considera inviável uma nova vitória eleitoral de Biden,
ainda mais em uma disputa contra o ex-presidente Donald Trump (2017-2021), cuja
candidatura como representante do opositor Partido Republicano vem se tornando
cada vez mais provável.
O magnata venceu as
cinco primárias estaduais realizadas no país este ano. Sua vitória mais expressiva aconteceu neste sábado (24/02), quando superou sua principal adversária, a ex-diplomata Nikki
Haley, no estado da Carolina do Sul, onde ela nasceu e onde foi governadora
entre 2011 e 2017. Ademais, impôs uma diferença de 20 pontos: 59,8% contra
39,5%.
·
Michelle Obama favorita
O estudo da Rasmussen
Reports também mostrou quais são os nomes favoritos do eleitorado democrata no
caso de Biden ser substituído.
Nesse quesito, quem
aparece em primeiro lugar é a ex-primeira-dama do país, Michelle Obama. A
esposa do ex-presidente Barack Obama (2009-2017) é apontada por 20% dos
entrevistados como a melhor opção do partido para a disputa presidencial.
O segundo nome mais
citado é o da atual vice-presidente Kamala Harris, preferida por 15% dos
entrevistados, segundo a pesquisa.
Com relação à idade,
as duas figuras mais citadas levariam a uma mudança significativa, já que ambas
possuem 21 anos a menos que Biden: Michelle completou 60 anos em janeiro
passado e Kamala alcançará a mesma idade no próximo mês de outubro.
Em terceiro lugar na
pesquisa também aparece uma mulher: Hillary Clinton, de 76 anos, ex-senadora
por Nova York, ex-secretária de Estado (durante o governo de Barack Obama) e
candidata derrotada por Trump nas eleições de 2016. Ela aparece no estudo com 12%
das preferências.
Apesar desses números,
a mudança na candidatura do Partido Democrata dependerá exclusivamente de uma
decisão do atual presidente dos Estados Unidos. A direção da legenda já afirmou
que apoiará Joe Biden se ele decidir que concorrerá à reeleição.
Sendo assim, a única
possibilidade de que exista uma mudança é se o próprio Biden anunciar sua
desistência da candidatura.
Fonte: BBC News
Mundo/Opera Mundi
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