PF vê Bolsonaro reforçar investigação sobre
golpe; petistas rechaçam anistia
O discurso de Jair
Bolsonaro (PL) durante ato na avenida Paulista neste domingo (25) provocou
críticas de governistas e reforçou a linha de investigação de que houve uma
trama de tentativa de golpe de Estado, na avaliação de integrantes da Polícia
Federal.
Em fala aos milhares
de apoiadores que compareceram à manifestação, Bolsonaro se defendeu da
acusação, mas indicou saber da existência de minutas de texto que buscavam
anular a eleição do presidente Lula (PT).
"O que é golpe? É
tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil",
disse. "Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de
defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência", afirmou o
ex-presidente diante de seus apoiadores.
Para investigadores da
PF, é possível deduzir das declarações do ex-presidente que ele sabia da
existência das minutas e estava ciente de tratativas para tentar impedir a
posse de Lula. O ato entrará no contexto de toda a investigação sobre a trama.
Aliados de Bolsonaro
avaliam que o presidente não admitiu ter relação com a elaboração de minutas,
apenas disse que eventuais textos que existiam eram inexequíveis. Na semana
passada, Bolsonaro ficou em silêncio em depoimento à PF.
Para os
investigadores, o ex-presidente não só participou da elaboração como chegou a
fazer alterações em uma minuta para legitimar um golpe de estado.
Neste domingo, além de
tentar se defender das acusações da PF, Bolsonaro diminuiu o tom da
agressividade contra o STF (Supremo Tribunal Federal), disse buscar a
pacificação do país e pediu anistia aos presos pelo ataque golpista de 8 de
janeiro de 2023.
Ministros do STF
minimizaram o ato e disseram, em conversas reservadas, não haver surpresa com o
teor do protesto.
Já petistas criticaram
o que chamaram de tentativa de Bolsonaro de normalizar a trama para um golpe e
rechaçaram a hipótese de dar anistia a condenados pelo Supremo por participação
nos ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
A presidente nacional
do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou nas redes sociais que
Bolsonaro "continua sendo e sempre será uma ameaça à democracia".
"O que Bolsonaro
fez foi terceirizar para [o pastor Silas] Malafaia os ataques que sempre fez à
Justiça, às instituições e à verdade", escreveu a deputada no X, antigo
Twitter.
Gleisi também disse
que Bolsonaro deveria ter apresentado a sua versão sobre a tentativa de golpe à
Polícia Federal. "Seria confrontado com as provas da conspiração, que
previa tropas na rua e prisão de ministros e adversários", declarou ela.
Para a deputada, o
ex-presidente mirou a "própria impunidade" ao pedir anistia aos
condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
Já o líder do governo
na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse à Folha que Bolsonaro tentou
"naturalizar" os ataques às sedes dos Três Poderes para aliviar as
investigações sobre suposta mobilização golpista do antigo governo.
"Não pode ter
anistia. Não vamos dar anistia para quem cometeu crime contra a
democracia", disse Guimarães.
O deputado também
afirmou que os governadores que participaram do ato na Avenida Paulista são
"cúmplices de uma tentativa de golpe e reedição da democracia". Além
do governador paulista, Tarcísio de Freitas, participaram do ato Romeu Zema
(Minas Gerais), Jorginho Mello (Santa Catarina) e Ronaldo Caiado (Goiás).
O ex-ministro José
Dirceu afirmou que Bolsonaro "amarelou" no ato deste domingo. Ele
avaliou ainda que o ex-presidente atuará em duas frentes. "Uma mobilização
para pedir anistia. Outra, a golpista, que não deixará, haja visto as mudanças na
Polícia Militar de São Paulo, que pode virar uma milícia bolsonarista",
afirmou Dirceu.
"O tempo dirá
qual prevalecerá. De nossa parte, nada de anistia e sim a Constituição e as
leis", disse ainda o ex-ministro.
Líder do governo no
Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), ironizou o protesto.
Ele publicou nas redes sociais as fotos de Lula e Bolsonaro com a legenda
"eleito" e "não eleito". "A imagem que nocauteia
qualquer manifestação golpista em 36 segundos", afirmou Randolfe.
Também nas redes
sociais, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo
Teixeira (PT-SP), afirmou que "quem pede anistia é que já sabe que será
condenado".
A investigação da
Polícia Federal que mira Bolsonaro tem como uma de suas bases mensagens e
delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro na
Presidência da República.
Outros elementos ainda
em fase de investigação são a reunião de teor golpista na qual, em julho de
2022, o então presidente sugere formas para atacar o sistema eleitoral e, já
após a eleição, o papel dele na elaboração de uma suposta minuta de decreto na
qual seria fundamentado o golpe de Estado.
No ato deste domingo,
poucos aliados de Bolsonaro discursaram e aqueles que falaram tentaram adotar
tom ameno. Quem destoou foi o pastor Silas Malafaia, organizador do protesto,
que disparou críticas ao STF.
Aliados viram o
discurso dele como excessivo e buscaram desprender a imagem de Bolsonaro da do
evangélico.
Bolsonaro pede foco nas eleições e diz
que um Poder não pode tirar ninguém do ‘palco político’
Inelegível até 2030
por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Jair Bolsonaro disse neste
domingo, 25, que não se pode concordar que um Poder da República “tire do palco
político quem quer que seja”. O ex-presidente pediu que seus aliados e apoiadores
foquem nas eleições de 2024 e 2026 e afirmou que o governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como seu possível sucessor, está
“consagrado na política”.
Bolsonaro convocou
para este domingo um ato na Avenida Paulista, em São Paulo, depois de ter sido
um dos alvos da operação Tempus Veritatis (hora da verdade, em latim) da
Polícia Federal (PF) no último dia 8, quando teve que entregar seu passaporte
às autoridades. A PF apura a participação do ex-presidente em uma articulação
para dar um golpe de Estado que impediria a realização das eleições de 2022 ou
a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Em 2024 agora, temos
eleições municipais, vamos caprichar no voto, em especial para vereadores e
para prefeitos também. E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence.
Sabemos o que deve ser feito no futuro para que o Brasil tenha um presidente que
tenha Deus no coração, que ame a sua bandeira, que se emocione cantando o Hino
Nacional, que respeite a família brasileira e que ame de verdade o seu povo”,
declarou Bolsonaro, em trio elétrico na Paulista.
“E também para dizer
que não podemos concordar que um Poder tire do palco político quem quer que
seja, a não ser por um motivo extremamente justo. Não podemos pensar em ganhar
as eleições afastando os opositores do cenário político”, emendou o ex-presidente.
Bolsonaro foi condenado pelo TSE a ficar sem os direitos políticos durante oito
anos por ter promovido uma reunião com embaixadores estrangeiros, em 2022, na
qual atacou as urnas eletrônicas.
No discurso deste
domingo, sem mencionar nomes, Bolsonaro afirmou que é “lamentável o abuso por
parte de alguns” e disse que seus apoiadores ainda podem fazer muito “pela
nossa pátria”.
Ex-ministro da
Infraestrutura, Tarcísio é considerado herdeiro político natural de Bolsonaro.
Aliados do governador dizem, contudo, que ele pode não concorrer a presidente
em 2026 caso o governo Lula esteja bem avaliado e o petista dispute a
reeleição. Tarcísio tem receio de sair antes da hora do governo de São Paulo e
ficar sem cargo.
Bolsonaro convocou o
ato na Paulista para mostrar força política em meio ao avanço das investigações
da PF. “(O ato) É para termos uma fotografia para o mundo e para o Brasil do
que é a garra do povo brasileiro”, disse Bolsonaro no trio elétrico aos manifestantes
reunidos na Paulista.
Ao gravar um vídeo no
último dia 12 para chamar os apoiadores para a manifestação, o ex-presidente
disse que queria um movimento “pacífico em defesa do nosso Estado Democrático
de Direito”.
Ele também pediu que
os militantes não carregassem faixas ou cartazes “contra quem quer que seja”,
mas apenas fossem ao local vestidos de verde e amarelo. Em atos anteriores na
Paulista, durante seu governo, Bolsonaro chegou a atacar verbalmente o Supremo
Tribunal Federal (STF) e seus ministros, como Alexandre de Moraes.
Fonte:
FolhaPress/IstoÉ
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