Rússia alerta contra envio de tropas
ocidentais para a Ucrânia
O presidente francês,
Emmanuel Macron, provocou nesta terça-feira (27) um terremoto na Europa ao não
descartar o envio de tropas terrestres ocidentais para apoiar a Ucrânia, uma
possibilidade que, segundo a Rússia, "não convém" ao Ocidente.
"Não convém em
nada a esses países e eles devem estar cientes disso", disse Dmitri Peskov
aos jornalistas, e considerou que o simples fato de levantar esta possibilidade
representa "um novo elemento muito importante" no conflito.
Na segunda-feira,
Macron organizou uma conferência de líderes europeus em Paris para angariar
mais apoio à Ucrânia, em um momento em que a sua ofensiva para repelir a
invasão russa entra no seu terceiro ano e o seu arsenal de munições diminui.
O presidente francês
descreveu um panorama sombrio da Rússia do presidente Vladimir Putin, à medida
que as posições de Moscou no front ucraniano e a nível interno estão se
"fortalecendo".
"Nada deve ser
descartado", "faremos tudo o que for necessário para garantir que a
Rússia não ganhe esta guerra", declarou Macron, que reconheceu, no
entanto, que não há consenso sobre o envio de tropas ocidentais para a Ucrânia.
"Estamos
convencidos de que a derrota da Rússia é essencial para a segurança e a
estabilidade na Europa", alertou, após o encontro com outros líderes como
o chefe de Governo alemão, Olaf Scholz, e o presidente polonês, Andrzej Duda.
Nesta terça-feira,
Scholz rejeitou a ideia de envira tropas de países europeus e/ou da Otan à
Ucrânia.
"O que foi
acordado entre nós no início também se aplica ao futuro, ou seja, que não
haverá soldados em solo ucraniano enviados por países europeus ou países da
Otan", declarou Scholz.
- "Não está na
agenda" -
Macron recusou-se a
detalhar a posição da França, citando a necessidade de uma "ambiguidade
estratégica", mas disse que a questão do envio de tropas fazia parte das
diferentes "opções".
O primeiro-ministro
eslovaco, Robert Fico, cujos detratores o consideram próximo de Moscou, disse
após a reunião que não havia consenso sobre este aspecto, mas que há países
"prontos para enviar os seus próprios soldados para a Ucrânia".
O primeiro-ministro da
Suécia, Ulf Kristersson, cujo país está prestes a aderir à Otan, comentou nesta
terça-feira que o envio de tropas "não está na agenda neste
momento".
Ao mesmo tempo, os
primeiros-ministros da Polônia e da República Tcheca, Donald Tusk e Petr Fiala,
afirmaram que não consideram enviar os seus soldados para a Ucrânia, mas
defenderam "apoiar tanto quanto possível" Kiev no seu esforço
militar.
As declarações de
Macron geraram agitação no seu próprio país, onde o líder da esquerda radical
Jean-Luc Mélenchon descreveu o envio de tropas para a Ucrânia como uma
"loucura" e a extrema direita considerou que o presidente
"perdeu seu sangue frio".
O presidente francês
também fez uma crítica velada à Alemanha, aliada da França, que foi
ridicularizada nos primeiros meses da guerra pelas suas promessas relativamente
brandas de apoio militar.
"Lembro-me que há
dois anos muitos à volta desta mesa diziam que iríamos oferecer sacos de dormir
e capacetes e agora dizem que temos que fazer mais e mais rápido para termos
mísseis e tanques", lamentou.
- "Contra todos
nós" -
O
"fortalecimento" da posição russa foi visto, segundo Macron, com a
morte na prisão, em 16 de fevereiro, de Alexei Navalny, principal opositor de
Putin. "A Rússia adota uma atitude mais agressiva não só na Ucrânia, mas
contra todos nós em geral", disse ele.
Outros anúncios foram
a criação de uma nova coalizão para fornecer à Ucrânia "mísseis e bombas
de médio e longo alcance" e a existência de um consenso para "fazer
mais e mais rápido" no envio de armas para Kiev.
O primeiro-ministro
tcheco afirmou que há um "grande apoio" a uma iniciativa para ajudar
a Ucrânia a comprar munições fora da União Europeia. O seu homólogo holandês,
Mark Rutte, disse que o seu país contribuiria.
Paralelamente à
conferência de Paris, Zelensky criticou a UE por ter fornecido apenas 30% do
milhão de projéteis de artilharia que havia prometido. Macron reconheceu um
"compromisso imprudente".
Há questões crescentes
sobre a viabilidade do apoio a longo prazo dos EUA à Ucrânia, especialmente com
a possibilidade de um retorno de Donald Trump à Casa Branca e enquanto um novo
pacote de ajuda permanece bloqueado no Congresso.
Macron insistiu que a
Europa não deve esperar pelo resultado das eleições para garantir a sua
segurança: "É o nosso futuro (...) que está em jogo, devemos ter a
possibilidade de prescindir [dos Estados Unidos], não por causa de um desafio,
pessimismo ou medo, mas porque depende de nós".
Ø
Ucrânia: Nenhum soldado da Europa ou NATO
será enviado
Em conferência de
imprensa esta terça-feira (27.02), o chanceler alemão Olaf Scholz afirmou que o
que foi decidido entre os europeus desde o início "continua a ser válido
para o futuro", nomeadamente que "não haverá tropas no terreno, nem soldados
enviados por Estados europeus ou pela Organização do Tratado do Atlântico Norte
(NATO) para solo ucraniano".
"É importante
garantir sempre isto", acrescentou Scholz na cidade universitária de
Friburgo em Brisgóvia, no estado de Baden-Vurtemberga, no sudoeste da Alemanha,
afirmando que existe "uma grande unanimidade sobre esta questão"
entre os aliados da Ucrânia.
Scholz estava a reagir
às declarações proferidas na segunda-feira (26.02) por Emmanuel Macron, nas
quais o Presidente francês afirmou que o envio de tropas terrestres para a
Ucrânia não deve "ser excluído" no futuro, apesar de considerar que "não
existe consenso" sobre o assunto nesta fase.
"Faremos tudo o
que for necessário para que a Rússia não possa ganhar esta guerra",
afirmou Macron, no final de uma conferência internacional de apoio à Ucrânia,
que contou também com a presença de Scholz.
A conferência,
organizada de urgência pelo Presidente francês com a presença de 27 outros
países, surge num momento crítico para a Ucrânia, que se encontra na defensiva
contra o exército russo, após o fracasso da sua contraofensiva no ano passado,
e à espera de armas ocidentais adicionais.
·
Envio de armas
O chefe de Estado
francês também pareceu apontar implicitamente a mira a países como a Alemanha,
que durante muito tempo se mostraram relutantes em entregar certas armas a
Kiev.
"Muitas pessoas
que hoje dizem 'nunca, nunca' são as mesmas que diziam 'nunca tanques, nunca
aviões, nunca mísseis de longo alcance' há dois anos", afirmou Macron.
Pouco antes, em
Berlim, o chanceler alemão tinha recusado seguir o exemplo da França e do Reino
Unido no envio de mísseis de longo alcance para Kiev, argumentando que isso
"não seria razoável" porque poderia "envolver" a Alemanha
diretamente na guerra desencadeada pela Rússia.
Olaf Scholz rejeitou
categoricamente o pedido da Ucrânia de enviar mísseis alemães Taurus, que têm
um alcance superior a 500 quilómetros e permitiriam a Kiev atingir alvos no
interior do território russo.
O Taurus é o
equivalente ao Storm Shadow/Scalp, desenvolvido em paralelo pelos britânicos e
franceses, que foi entregue à Ucrânia (250 quilómetros de alcance).
·
Membros da NATO
Através de um
porta-voz, o gabinete do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, indicou que
"um pequeno número" de militares britânicos encontra-se no terreno
"para apoiar as forças armadas ucranianas, particularmente em termos de
formação médica". Mas garantiu que o Reino Unido não tem planos para
enviar mais tropas para a Ucrânia: "Não estamos a planear um
destacamento em grande escala", afirmou.
Também o
primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, disse hoje que o envio de tropas para
a Ucrânia "não está na ordem do dia" neste momento, numa altura em
que o país está prestes a tornar-se membro da NATO.
Na
segunda-feira, o Parlamento húngaro ratificou hoje a adesão da Suécia à NATO, o passo final necessário para o país nórdico que deseja aderir
à Aliança Atlântica desde a invasão russa da Ucrânia.
A
candidatura de Estocolmo foi aprovada por uma esmagadora maioria de deputados (188 votos em 199 lugares), após quase dois anos de
espera.
Ø
Aliado de Navalni convoca protesto para o
dia da eleição na Rússia
Um dos mais próximos
aliados de Alexei Navalni pediu para que os apoiadores do opositor morto na
semana retrasada façam um protesto em nome dele contra o presidente russo,
Vladimir Putin.
O "testamento
político de Alexei Navalni", como disse no YouTube o ativista Leonid
Volkov, seria um protesto no qual os manifestantes simplesmente apareceriam
para votar ao mesmo tempo, às 12h, causando longas filas em seções eleitorais.
A eleição russa começa
de forma pontual e remota no dia 15 de março, mas seu dia principal e
encerramento será no 17. Como a lei russa é rígida contra protestos não
autorizados, a ideia de lotar seções eleitorais surgiu como engenhosa.
Ela foi expressa pelo
próprio Navalni em uma postagem feita por seu time em redes sociais no dia 1
passado, quando bolou o "Meio-Dia contra Putin". Quinze dias depois,
o ativista caiu morto durante uma caminhada na prisão em que cumpria mais de 30
anos de cadeia, no Ártico, segundo o relato oficial.
O Kremlin reagiu à
postagem de Volkov, que era um dos braços-direitos de Navalni e vive no exílio.
"Essas pessoas, os ditos apoiadores [de Navalni], são conhecidos pelos
seus apelos provocativos para quebrar a lei, e haverá consequências para quem atender
tais chamados", disse o porta-voz Dmitri Peskov.
Putin é o franco
favorito para vencer a eleição e estender até ao menos 2030 sua permanência no
Kremlin, iniciada quando foi indicado primeiro-ministro em agosto de 1999. Em
2028, se estiver na cadeira, será o mais longevo líder da história moderna
russa, ultrapassando o ditador soviético Josef Stálin.
Ele enfrentará apenas
três oponentes "pro forma", dado que dois nomes que sugeriam uma
plataforma de oposição foram barrados pela Comissão Central Eleitoral.
A morte de Navalni,
que nunca foi um líder popular no sentido de densidade eleitoral, segue sob
mistério. Seu corpo foi enfim entregue à família no sábado (24), mas não há
ainda uma certificação acerca da causa da morte vista como natural nos laudos preliminares a que seus aliados
tiveram acesso.
Em 2020, o opositor
havia sido envenenado na Sibéria, e ao deixar a Rússia em coma para tratamento
na Alemanha, violou a liberdade condicional a que estava submetido, levando a
um processo de sentenças sucessivas que o deixaram na cadeia até a morte.
A dúvida agora é sobre
seu enterro. Segundo a equipe de Navalni, que opera com advogados dentro da
Rússia mas é baseada no exterior, não foi possível encontrar um lugar para um
velório público ainda. A mãe do ativista, Ludmila, havia acusado as autoridades
russas de obrigá-la a enterrá-lo rapidamente e seu exposição pública.
Fonte: AFP/Lusa
Nenhum comentário:
Postar um comentário