Cobertura dos principais jornais do país da
manifestação bolsonarista ignora papel golpista das Forças Armadas
Um dia após a
manifestação convocada por Jair Bolsonaro, a repercussão no monopólio de
imprensa e comunicação confirma as análises de AND expostas no
programa A Propósito quanto aos objetivos não alcançados de
Bolsonaro. A quantidade de pessoas, mesmo que relevante politicamente, não foi
capaz de impedir o prosseguimento das investigações da PF. Pelo contrário: a
fala recuada de Bolsonaro vai ser incluída no inquérito que da PF contra
Bolsonaro e outros figurões. Porém, todas as análises culminam, no fim das
contas, em passar pano para as Forças Armadas – golpistas desde sempre.
No programa “O É da
Coisa” de Reinaldo Azevedo, foi constatado o óbvio: Bolsonaro admitiu seus
preparativos golpistas. No entanto, o articulista afirmou que o que impediu a
culminação do golpe de Estado foi a não adesão de militares. É preciso ficar
claro que a afirmação de Reinaldo expressa muito bem a posição da direita
liberal e reacionária: compromisso com os militares. A pretensa “análise
objetiva” é substituída pela amnésia: esquecimento do fato de que, antes de
Bolsonaro ascender à presidência, foram os altos oficiais militares da
ativa que propulsionaram a intervenção das Forças Armadas em assuntos
políticos e interferindo em decisões políticas através de chantagens e
dissuasão. Reinaldo, também parece ter se esquecido que, enquanto as discussões
sobre a necessidade de uma intervenção militar corriam soltas na caserna, em
2022, os “legalistas” das Forças Armadas participaram disso e calaram frente à
iniciativa. Eles só disseram “não” a Bolsonaro no final do ano, após a eleição,
premidos por ordens do Departamento de Estado norte-americano, que não quer
mais desordens na América Latina, o seu quintal. Reinaldo Azevedo é o típico
reacionário “defensor da democracia”: sabe que os generais são partidários das
teses golpistas e só discordam de Bolsonaro quanto ao método e
ao momento; por isso, Azevedo não quer enfrentá-los e denunciá-los,
por medo de enraivecê-los. Azevedo prefere entregar a carteira ao ladrão, para
não irritá-lo e evitar o assalto.
Já a jornalista Vera
Magalhães, constatou que “Bolsonaro explicitou seu desejo de articular anistia
para quem praticou alguma ação golpista”. A jornalista do monopólio de
comunicação “O Globo” afirmou que ademais de uma demonstração de apoio político
à sua figura, Jair Bolsonaro utilizou a manifestação para explicitar “um ou
mais projetos de lei propondo anistia para quem praticou alguma ação golpista
nos últimos anos”, encampando um projeto de anistia mais ampla que inclua a si
próprio e também seus aliados políticos mais imediatos, como, por exemplo,
Valdemar Costa Neto (o presidente do PL). Para Vera Magalhães, a articulação
não tem chance de vingar devido à falta de interesse por parte de Arthur Lira e
Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara de Deputados e do Senado Federal. A
jornalista do monopólio de imprensa afirma ainda que Bolsonaro teve um “êxito”
em levar à Paulista um grande número de apoiadores, mas que não conseguiu
alcançar o seu objetivo de “pressionar o Judiciário e o Legislativo”, tendo,
ainda, admitido que teve conhecimento da “minuta do golpe”.
Ricardo Corrêa, do
“Estadão”, também afirma que Bolsonaro ofereceu “bandeira branca” em troca de
anistia e que segue conduzindo a oposição: “Mesmo nas cordas, é o ex-presidente
que continua conduzindo qualquer oposição, o que foi visto com os principais nomes
na corrida de 2026 beijando sua mão diante da chegada de seu pior momento”. À
Veja, um anônimo aliado de Bolsonaro afirmou que “a multidão [presente na
Avenida Paulista] aqui é prova de que o bolsonarismo está mais vivo do que
nunca, e isso com certeza vai nos ajudar nas eleições deste ano”.
Aliás, sobre a
quantidade de pessoas presentes, pesquisadores da USP estimaram presença de 185
mil pessoas. Em contraste com os números apresentados pela Secretaria de
Segurança Pública de SP (que é da alçada do bolsonarista Tarcísio de Freitas),
o Monitor do Debate Político no Meio Digital, vinculado à Universidade de São
Paulo, estimou um número bem abaixo dos 750 mil anunciados. O cálculo dos
pesquisadores é feito com base no método Point to Point Network (conhecido como
P2PNet). Trata-se de um algoritmo que identifica o número de cabeças em fotos
aéreas tiradas por drones. O número não deixa de ser relevante, mas é bem
abaixo do que está sendo divulgado pela extrema-direita.
No dia de hoje foi
revelado, ainda, que Michel Temer se encontrou com Bolsonaro no objetivo de
aconselhá-lo a pisar no freio. Michel Temer foi procurado por ministros do STF,
que estavam preocupados com o que Bolsonaro poderia falar no ato de 25 de fevereiro.
“Se o discurso for provocativo, a Corte não terá outro caminho a não ser a
prisão. Como ele confia no senhor, poderia procurá-lo para uma conversa?”,
indagou um magistrado a Temer. No encontro com Bolsonaro, Michel Temer disse o
seguinte à Bolsonaro, segundo a Veja: “Bolsonaro, deixa eu te dizer: você tem o
STF contra você, tem a imprensa contra você e tem metade da população contra
você. Faça um ato pregando a pacificação, pregando passar uma borracha em tudo.
Se você agredir o Supremo, você será preso no dia seguinte. Estou certo disso”.
Ao que parece, Bolsonaro atendeu o pedido.
As análises dos
monopólios de imprensa enfocam somente um ator de uma das forças golpistas,
Jair Bolsonaro, e ignoram que o golpismo das Forças Armadas prossegue. As
análises repercutidas no monopólio de imprensa ignoram o principal fator
responsável pelos planos golpistas terem tomado dimensão enorme, chegando a ser
discutida repetidas vezes em reuniões que contaram com participação de
ministros, políticos, aliados do presidente e generais da reserva.
Ao ignorar que
generais muito importantes da ativa e da reserva estavam envolvidos até o
pescoço nas recentes movimentações golpistas, os principais veículos da
imprensa monopolista busca deixar na escuridão o papel das Forças Armadas na
história do país.
Ambas as análises
ignoram, por exemplo, que Bolsonaro se reuniu com o general da ativa, membro do
Alto Comando e responsável pelas Operações Terrestres, general Estevam
Theophilo Gaspar de Oliveira, e que este concordou em usar suas
tropas se o Bolsonaro assinasse o decreto.
Ignoram, por exemplo,
que o comandante da Marinha, Almir Garnier, colocou suas tropas à disposição do
então presidente golpista caso ele assim ordenasse. Ignoram também que o
próprio comandante do Exército, Freire Gomes, participou de inúmeras reuniões com
os golpistas escancarados, recebeu todas as informações dos preparativos, os
argumentos jurídicos e nada fez. Ao contemporizar com toda a articulação,
adotou uma posição conveniente de “esperar para ver no que vai dar”; só de
última hora é que adotou a posição negativa para a ruptura institucional.
Ou seja, toda a grave
tensão da crise militar estava baseada no fato de que existia uma enorme
possibilidade de as Forças Armadas, seus altos oficiais da ativa, se unirem na
posição extremista de dar um golpe de Estado. Não existia crise militar e risco
de golpe se não fosse o caráter golpista do Exército (em que os legalistas
também são golpistas, mas apenas se diferenciam dos demais por crer que “não é
a hora”). Os articulistas ignoram totalmente isso.
As FA são golpistas
desde sempre. Conservam em sua concepção, em sua mentalidade, e em suas
operações de rotina a tutela das instituições políticas do País. Se sentem
responsáveis por impedir que o Brasil rume ao “comunismo” e acham-se no direito
de determinar quando e como intervir.
Tudo isso, afinal,
revela não somente a hipocrisia destes jornalões do monopólio de comunicação do
Brasil que apoiou de forma descarada o golpe militar de 1964, mas os seus reais
interesses na defesa dessa velha ordem.
Ø
Moraes: "Não podemos baixar a guarda,
temos que ficar alertas e fortalecer a democracia"
O ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou, nesta segunda-feira (26),
que é preciso fortalecer a democracia, não baixando a guarda como fez Kleber
Bambam, que foi nocauteado pelo ex-pugilista profissional Acelino Popó Freitas
em uma luta de boxe na madrugada do domingo (25).
“Nós não podemos nos
enganar. Nós não podemos baixar a guarda. Não podemos dar uma de Bambam contra
o Popó, que durou 36 segundos. Nós temos que ficar alertas e fortalecer a
democracia. Fortalecer as instituições e regulamentar o que precisa ser
regulamentado”, disse Moraes.
O magistrado
discursava sobre os ataques às democracias de vários países e como as redes
sociais estão sendo utilizadas para esse fim. A fala aconteceu durante uma
palestra na recepção de calouros na Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo (USP), onde Moraes dá aulas de Controle de Constitucionalidade e
Ministério Público.
Segundo Moraes, não é
possível cair no “discurso fácil” de que regulamentar as mídias sociais “é ser
contra a liberdade de expressão”. “Isso
é um discurso mentiroso que pretende propagar e continuar propagando o discurso
de ódio, a lavagem cerebral que é feita em milhões e milhões de pessoas”,
prosseguiu.
Na opinião do
ministro, bastaria um artigo na lei dizendo que o que não pode no mundo real,
não pode no mundo virtual. “O que as
mídias tradicionais não podem e são responsabilizadas se fizerem, também não
pode no mundo virtual”, explicou.
Bambam ficou conhecido
por ser o vencedor da primeira edição do programa “Big Brother Brasil” (TV
Globo), em 2001. Já Popó foi tetracampeão mundial em duas categorias, pesos
superpena e leve, e supercampeão mundial unificado de boxe em duas
organizações, a WBO e a WBA.
Ø
PF avalia que, ao pedir anistia, Bolsonaro
reconheceu crimes
A Polícia Federal
avalia que, ao pedir anistia para quem participou dos atos criminosos de 8 de
janeiro de 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reconheceu a existência de
crime nas manifestações.
“Essas penas fogem ao
mínimo da razoabilidade. Não podemos entender o que levou poucas pessoas a
penarem tão drasticamente. Esses pobres coitados que estavam lá no 8 de
janeiro”, defendeu Bolsonaro neste domingo (25).
A reportagem da CNN já
havia confirmado que a declaração do ex-presidente sobre a existência da minuta
do golpe será incorporada às investigações.
“O que é golpe? É
tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil (…) Agora o
golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a
Constituição? Tenha paciência.”
Esse ponto do discurso
é interpretado pela investigação como uma evidência da tentativa de Bolsonaro
de promover um golpe de estado.
Ø
Mourão reconhece crimes do bolsonarismo e
pede anistia a golpistas
O general Hamilton
Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente de Jair Bolsonaro (PL) e atual
senador, reconheceu os crimes do bolsonarismo e protocolou no Senado, ainda no
ano passado, o Projeto de Lei 5064/23 que pretende anistiar os militantes de
extrema direita envolvidos com a intentona golpista de 8 de janeiro de 2023 de
Brasília.
O general se
antecipou, em outubro passado, ao que o pediria o capitão e ex-chefe no último
domingo (25) na Avenida Paulista. O curioso é que tanto o discurso de Bolsonaro
como o PL apresentado por Mourão descaracterizam totalmente a narrativa
bolsonarista de que o 8 de janeiro teria sido protagonizado por “petistas e
esquerdistas infiltrados”.
No projeto, que já
tramita no Congresso Nacional, Mourão quer anistiar os bolsonaristas dos crimes
de “golpe de Estado” e de “tentativa de abolição violenta ao Estado Democrático
de Direito”. Na sua opinião, as penas impostas aos golpistas pelo Supremo Tribunal
Federal são injustas.
“As condenações que o
STF vem aplicando aos acusados é, data vênia, desproporcional e, por isso
mesmo, injusta (SIC)”, diz um trecho do projeto de lei.
O texto não menciona
os crimes de dano ao patrimônio público e associação criminosa. Dessa maneira,
caso a lei seja aprovada, penas referentes a esses crimes podem ser mantidas.
O PL, no entanto, está
em tramitação e é avaliado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), que é o relator
na Comissão de Defesa da Democracia do Senado. Provavelmente não passará.
Mourão não compareceu
à manifestação de Bolsonaro na Avenida Paulista.
Fonte: A Nova DemocraciaCNN Brasil/Fórum
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