Julio
Pompeu: País Do Sol
Há muitos e muitos
séculos, existiu um curioso país chamado Do Sol. Era uma sociedade muito
primitiva, ainda do tempo em que a humanidade se dividia em países. Mas como
toda sociedade daquele tempo, achava-se muito desenvolvida e esclarecida. Mas
havia uma diferença do país Do Sol para os outros.
O povo de todo país
daquele tempo se achava melhor e mais sábio que os demais, especialmente os de
sua elite, que se achava não apenas superior em ideias e pensamentos aos de
outros países, mas também superior aos de sua própria gente. Mas a elite do país
Do Sol era diferente.
Tinha verdadeiro asco
de seu próprio povo. E amavam as ideias, coisas e pessoas dos países mais
ricos. Apesar de serem solares como todos os outros nascidos por lá, desejavam
ser estrangeiros. Tinham vergonha do país Do Sol. Aprendiam a língua dos outros.
Aplaudiam as ideias dos outros. Tudo dos outros era bom. E tudo que vinha do
seu povo de verdade, era coisa desprezível.
Provavelmente,
pensavam assim por causa de sua história. Houve escravidão por um longo
momento. Mas mesmo após seu fim, todos permaneceram escravocratas. Antes,
haviam os escravos da lavoura e do trabalho pesado e os escravos dos trabalhos
domésticos dos patrões estrangeiros. Depois, haviam os trabalhadores, que eram
tratados do mesmo jeito que os escravos da lavoura. E a elite, que pensava do
mesmo jeito que os escravos da casa dos patrões, que defendiam os patrões e se
sentiam da família.
Esta sociedade
desenvolveu-se assim, cheia de conflitos internos e nenhum conflito externo
porque sua elite não hesitava em prejudicar o povo para satisfazer aos
estrangeiros, do mesmo jeito em que os escravos domésticos não hesitavam em
prejudicar os seus para agradar aos patroezinhos. As coisas, as ideias, as
pessoas, tudo do estrangeiro era bom e bem melhor que as coisas do país Do Sol.
Claro que isso
significava uma piora constante para a vida do povo em geral, mas esta não era
uma preocupação real das elites do país Do Sol. Preocupavam-se mesmo era com a
eventual perda da docilidade daquele povo.
Às vezes, alguns se revoltavam
contra a sociedade e contra as leis daquele lugar. E espalhavam a mais crua
violência. Enquanto a violência estivesse apenas nas periferias, não era um
problema, mas às vezes ela transbordava para as áreas da elite. Neste momento
as elites diziam que o crime passou dos limites.
Cada vez que a
violência passava dos limites atingindo alguém da elite, surgiam reivindicações
de mais violência para acabar com a violência. Até que a elite ousou fazer o
que até então só se especulava à boca miúda. Realizar a solução final da
violência. Eliminar a gente pobre.
Cercaram as áreas
pobres, amontoaram a população em pequenos espaços e bombardearam as
construções. Dilaceraram casas e corpos. Doenças, fome e sede mataram outros
tantos.
A elite comemorava a
cada centena de mortes de pobres, para eles, todos bandidos. Alguns protestaram
contra o que chamavam de genocídio, mas eram rapidamente desqualificados pela
elite. Os jornalistas, todos da elite, diziam com elegância que as coisas estavam
indo bem e que os estrangeiros estavam gostando.
Em pouco tempo, só
havia gente da elite por lá. O trabalho pesado era feito por máquinas. E a
elite Do Sol se divertia bajulando e esperando alguma migalha de consideração
dos estrangeiros que iam até lá passear por suas belas praias. Violências
continuaram acontecendo, mas agora só passavam do limite quando atingiam um
estrangeiro.
O país Do Sol teve seu
fim quando os estrangeiros o cercaram e bombardearam para acabar com aquela
gente pusilânime, bajuladora e violenta. E só então as elites dos estrangeiros
puderam aproveitar aquelas praias paradisíacas longe da gentalha de seus países.
Fonte: Terapia
Política
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