terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Os ativistas russos que seguem arriscando suas vidas contra Putin após morte de Navalny

Após a morte do líder da oposição russa Alexei Navalny, outro preso político tenta manter viva a esperança de mudança — mesmo atrás das grades.

"A liberdade custa caro", me escreveu uma vez o ativista de oposição Vladimir Kara-Murza, em uma cela de prisão russa.

Ele citava o seu mentor político, Boris Nemtsov, assassinado em 2015 em Moscou – em um local ao lado ao Kremlin.

Agora, o maior rival do presidente russo Vladimir Putin, Alexei Navalny, está morto.

O preço da oposição política nunca foi tão alto na Rússia moderna. E o objetivo dos oposicionistas nunca esteve tão longe.

O medo de represálias é tão grande que a morte de Navalny não provocou protestos violentos e em massa. Várias centenas de pessoas foram detidas apenas por depositarem flores em sua memória.

Mas Kara-Murza recusa-se a abandonar a sua luta ou a esperança.

Esta semana, ele fez um apelo a quem apoia a oposição a "trabalharem ainda mais" para alcançar aquilo pelo que Navalny e Nemtsov lutaram: a oportunidade de viver em um país livre.

Ele próprio fez a sua escolha há muito tempo. "O preço de falar as coisas abertamente é alto", me escreveu o ativista, logo após sua prisão em 2022.

"Mas o preço do silêncio é inaceitável."

·        Homens fortes

Alexei Navalny, de 47 anos, e Vladimir Kara-Murza, de 42, são homens muito diferentes.

Navalny foi um fenômeno das redes sociais, um orador carismático com um certo egoísmo normal dos líderes natos.

Kara-Murza é um intelectual de fala mansa — mais um ator de bastidores do que um sucesso de multidões.

Ainda hoje em dia ele não é um nome familiar para a maioria dos russos.

Mas ambos os homens partilhavam o mesmo impulso e a convicção de que a Rússia de Putin não é eterna e que a liberdade política é possível.

Enquanto Navalny produzia vídeo que denunciavam a corrupção no mais alto nível do poder, Kara-Murza pressionava os governos ocidentais para que fossem impostas sanções contra funcionários do governo Putin e seus bens escondidos no exterior.

Ambos pagaram caro.

Em 2015, cinco anos antes de Navalny ser atacado com um agente nervoso, Kara-Murza desmaiou e entrou em coma.

Dois anos depois, aconteceu novamente. Testes nos EUA confirmaram que ele havia sido envenenado.

Mas ele nunca deixou de dizer o que pensava, o que incluiu denunciar a invasão em grande escala da Ucrânia por parte de Putin.

No ano passado, Kara-Murza foi condenado a 25 anos de prisão por traição – embora a acusação listasse apenas atividades pacíficas.

·        Retorno à Rússia

Quando Alexei Navalny decidiu voltar para a Rússia em 2021, após uma tentativa do governo russo de matá-lo, alguns o consideraram imprudente.

Figuras da oposição que escolheram o exílio em vez da prisão argumentam que o sacrifício sem perspectiva de mudança é fútil.

Mas Navalny pensava de forma diferente.

"Se as suas crenças valem alguma coisa, você tem que estar preparado para defendê-las. E, se necessário, fazer alguns sacrifícios", escreveu ele pouco antes de morrer, em 16 de fevereiro.

Vladimir Kara-Murza, como Navalny, tem esposa e filhos. Ele também tem residência nos EUA e passaporte britânico. Mas ele nunca hesitou em voltar para a Rússia.

"Eu acho que não tenho o direito de continuar a minha atividade política, de convocar outras pessoas a agirem, se estiver sentado em segurança em outro lugar", me escreveu Kara-Murza em 2022, já na prisão.

Para ambos os homens, o retorno foi um ato de consciência.

Agora um está morto e o outro está trancado longe de sua família, que só teve permissão para fazer um telefonema em seis meses.

"Eu mesma não falei com ele porque não queria ficar longe das crianças", descreveu Evgenia Kara-Murza aquela ligação.

A esposa do ativista permitiu que os três filhos tivessem cinco minutos cada.

"Eu estava lá com um cronômetro", disse ela.

·        Mulheres fortes

Esta semana, a viúva de Navalny gravou uma declaração em vídeo convocando seus aliados a não desistirem.

"Quero viver numa Rússia livre, quero construir uma Rússia livre", disse Yulia Navalnaya, prometendo continuar o trabalho do marido.

Evgenia Kara-Murza ficou chocada com sua bravura. "Ela está fazendo o seu melhor para passar pelo inferno com a cabeça erguida e ela é incrível."

Mas a esposa de Kara-Murza assumiu também um papel exigente.

Desde a sua prisão em abril de 2022, ela tem viajado pelo mundo, conversando com autoridades ocidentais para que elas ajudem o seu marido e outros presos políticos, e denunciando a guerra da Rússia contra a Ucrânia.

A invasão é mais uma prova, como ela diz, do "regime assassino" de Putin.

Quando conversamos, Evgenia estava prestes a voltar para os EUA para ver seus filhos. Ela estava em Londres fazendo um apelo aos ministros do Reino Unido para que intensifiquem os seus esforços em favor de seu marido, que é cidadão russo-britânico.

"Quero que eles sejam mais enérgicos na tentativa de tirá-lo de lá e exijam atenção médica adequada", disse ela. "Mas fazer com que um governo se preocupe com os seus cidadãos é difícil hoje em dia."

·        Perseguição na prisão

A perseguição de Kara-Murza continua na prisão, tal como aconteceu com Navalny.

O ativista foi mantido em confinamento solitário durante meses, sem nem mesmo acesso a pertences pessoais, como fotografias de seus filhos.

Em janeiro, ele foi transferido para uma nova prisão com condições mais duras — privado até de seus livros.

Sua saúde, prejudicada pelo envenenamento, está piorando. A pressão pela libertação de Kara-Murza intensificou-se desde a morte de Navalny.

"O dano nervoso está se espalhando para o lado direito agora. É uma condição séria que pode levar à paralisia", me disse Evgenia Kara-Murza.

Esta semana, ela teve uma rara oportunidade de ver seu marido em um link de vídeo da prisão para um tribunal de Moscou. Ele estava tentando fazer com que o Comitê de Investigação abrisse um processo criminal por seu envenenamento.

Kara-Murza usava um uniforme preto que ficava solto no corpo, uma mudança radical em relação às jaquetas de tweed que já foram sua marca registrada.

Mas a sua determinação parecia mais firme do que nunca ao exortar os russos a não cair no desespero.

"Não temos esse direito", disse ele aos poucos apoiantes e jornalistas autorizados a comparecer no tribunal, e insistiu que a Rússia seria livre.

"Ninguém pode impedir o futuro."

·        Mas que futuro?

Evgenia Kara-Murza assistiu o vídeo do tribunal "mil vezes".

"Acho que ele está fazendo a coisa certa – e uma coisa ótima", ela me disse.

"As pessoas sentem-se de coração partido e desmoralizadas e as palavras edificantes de pessoas que se recusaram a ceder à pressão e à intimidação são realmente importantes."

"Estou muito orgulhosa de Vladimir por permanecer fiel a si mesmo, apesar deste inferno."

Evgenia compartilha a fé do marido no futuro, bem como sua força. Mesmo agora, com tantos ativistas na prisão ou no exílio.

“O que é fundamental é permanecer um ser humano e tentar fazer tudo o que puder”, argumenta ela. "Não desistindo."

Ela aponta para o fim da União Soviética e para os protestos em massa que sempre inspiraram o seu marido.

"Não havia nada antes – até surgir uma oportunidade para uma ação coletiva em massa no final da década de 1980 e início da década de 1990. Depois disso as pessoas saíram às ruas", diz ela.

"Precisamos fazer todo o possível para estarmos preparados para o momento em que o regime mostrar rachaduras. Para quando tivermos essa chance."

 

Ø  EUA criaram 12 bases de espionagem na Ucrânia nos últimos 8 anos, diz mídia

 

Com o apoio da CIA, os Estados Unidos criaram 12 instalações de espionagem no território ucraniano, próximo da fronteira com a Rússia, informou o New York Times, citando funcionários da Ucrânia, EUA e Europa.

"Hoje, isto transformou a Ucrânia (...) em um dos mais importantes parceiros de inteligência de Washington na luta contra o Kremlin", afirmou a mídia norte-americana.

"O posto de intercepção faz parte de uma rede de bases de espionagem criadas com o apoio da CIA ao longo dos últimos oito anos e incluindo 12 locais secretos ao longo da fronteira russa."

 

Segundo a reportagem, as agências de inteligência estadunidenses trabalharam conjuntamente com oficiais ucranianos, incluindo o atual chefe da Direção Principal de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia, Kirill Budanov.

Além disso, a CIA treinou espiões ucranianos que operam na Rússia, Europa, Cuba e outros locais. "Sem a CIA, não teríamos tido a oportunidade de resistir aos russos", disse Ivan Bakanov, ex-chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) à publicação.

Mesmo após a retirada de funcionários norte-americanos, em fevereiro de 2022, os oficiais de inteligência dos EUA permaneceram na região ocidental do país. Esses funcionários repassaram informações, inclusive onde a Rússia planejava atacar e quais sistemas de armas seriam usados.

Ainda segundo a reportagem, ocasionalmente os ucranianos violaram os termos impostos pela Casa Branca, o que irritou as autoridades norte-americanas. Os ucranianos, considerando injustificada a cautela de Washington, "começaram a organizar assassinatos e outras operações letais". Os EUA ameaçaram retirar o apoio, mas nunca o fizeram, afirmou o New York Times.

·        EUA 'deveriam lidar com seus problemas internos', diz autoridade eleitoral de Belarus

Os Estados Unidos deveriam abandonar seu papel de vigilante mundial e lidar com seus próprios problemas, afirmou o presidente da Comissão Eleitoral Central de Belarus, Igor Karpenko.

A fala foi feita em resposta às alegações de Washington sobre as eleições no país europeu.

Neste domingo (25), foram realizadas as eleições legislativas, que contaram com a participação de 72,98% da população. Em comparação, na eleição presidencial norte-americana de 2020, apenas 66% dos eleitores compareceram para votar. A taxa foi considerada o recorde do século pelas autoridades estadunidenses.

No início do dia, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, condenou as eleições parlamentares em Belarus como uma "farsa", afirmando que foram realizadas em um "clima de medo".

"Não sei como eles avaliaram tudo do outro lado do oceano, é muito estranho... Provavelmente, os Estados Unidos já estão cansados de tentar o papel de cão de guarda mundial. Eles deveriam lidar com seus problemas internos", disse Karpenko.

Há muitas dúvidas sobre as eleições nos Estados Unidos, incluindo as últimas eleições presidenciais, acrescentou Karpenko. Uma recente pesquisa feita pelo jornal Washington Post e pela Universidade de Maryland apontou que um terço dos entrevistados creem que houve fraude na eleição norte-americana de 2020.

O presidente belarusso, Aleksandr Lukashenko, aproveitou o dia para anunciar que vai concorrer a reeleição em 2025.

 

Fonte: BBC News Mundo/Sputnik Brasil

 

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