Demência: estudo mostra sinal que pode
prever risco até dez anos antes
Um novo estudo
descobriu um sinal que pode indicar risco de demência de cinco a dez
anos antes do surgimento dos sintomas – que incluem perda de memória, problemas
na fala e na escrita e dificuldade de compreender informações. Segundo os
pesquisadores, o estreitamento de uma faixa de tecido cerebral chamada
substância cinzenta cortical fica mais fina em pessoas que desenvolvem declínio
cognitivo.
Os resultados foram publicados no Alzheimer’s & Dementia:
The Journal of the Alzheimer’s Association. No estudo, os pesquisadores do
Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, nos Estados Unidos,
analisaram mais de mil participantes de um estudo chamado Framingham
Heart Study e mais 500 voluntários da Califórnia. No total, os
participantes tinham, em média, 70 e 74 anos. Todos foram submetidos a um exame
de ressonância magnética no cérebro.
O estudo comparou
pessoas com e sem demência no momento
da ressonância magnética. Também foram analisados os exames feitos 10 anos
antes para comparar os resultados.
“Voltamos e examinamos
as ressonâncias magnéticas cerebrais feitas dez anos antes e depois as
misturamos para ver se conseguíamos discernir um padrão que distinguisse de
forma confiável aqueles que, mais tarde, desenvolveram demência daqueles que
não desenvolveram”, disse a Sudha Seshadri, co-autora do estudo e investigadora
sênior do Framingham Heart Study, em comunicado.
Os resultados
mostraram que faixas mais finas da substância cinzenta cortical do cérebro
estavam relacionadas ao declínio cognitivo e ao
desenvolvimento de demência, enquanto faixas mais grossas da mesma região
tiveram resultados melhores nos exames de ressonância magnética.
“Embora sejam
necessários mais estudos para validar este biomarcador, começamos bem”, disse
Claudia Satizabal, principal autora do estudo. “A relação entre desbaste e
risco de demência comportou-se da mesma forma em diferentes raças e grupos
étnicos”, completa.
·
Descoberta pode ajudar no diagnóstico
precoce e em novos estudos
Na visão dos autores
do estudo, as descobertas podem ajudar a identificar precocemente pessoas com
alto risco de desenvolver demência.
“Ao detectar a doença
precocemente, temos uma janela de tempo melhor para intervenções terapêuticas e
modificações no estilo de vida, e para fazer um melhor acompanhamento da saúde
do cérebro para diminuir a progressão dos indivíduos para a demência”, comenta
Satizabal.
Além disso, os
resultados podem ajudar a minimizar custos em ensaios clínicos futuros, já que
pode ser possível selecionar participantes que ainda não desenvolveram demência
– mas que apresentam o risco através do biomarcador de afinamento da substância
cinzenta – para esses estudos. Por exemplo, eles podem participar de estudos
para medicamentos experimentais da demência.
O próximo passo,
segundo os autores do estudo, é identificar quais fatores de risco podem estar
associados ao afinamento da substância cinzenta cortical. Para Satizabal, esses
fatores podem incluir dieta, exposição a poluentes ambientais, risco
cardiovascular e genética.
“Observamos o APOE4,
que é o principal fator genético relacionado à demência, e não estava de forma
alguma relacionado à espessura da massa cinzenta”, disse Satizabal. “Achamos
que isso é bom, porque se a espessura não for determinada geneticamente, então
existem fatores modificáveis, como dieta e exercícios, que podem
influenciá-la”, finaliza.
Ø
Alzheimer: estudo mostra o que pode causar
a morte de neurônios
O Mal de
Alzheimer é uma das formas de demência mais comuns, mas, mesmo com grande
ocorrência da doença, a ciência ainda não tem sua causa totalmente esclarecida.
Um dos pontos conhecidos é que a perda de neurônios pode ser um dos
fatores principais para o desenvolvimento da doença.
Em um estudo publicado
na revista Nature Communications, pesquisadores da Northwestern
University descobriram uma possível nova causa para a degeneração de
neurônios na doença de Alzheimer. Segundo os autores, um mecanismo
presente no RNA (ácido ribonucleico) pode estar envolvido na morte de diversas
células, incluindo os neurônios.
Para chegar a essa
hipótese, os pesquisadores analisaram cérebros de três diferentes fontes:
modelos de camundongos com doença de Alzheimer, neurônios derivados
de células-tronco de pessoas com e sem a doença e adultos com mais de 80 anos,
mas com capacidade de memória equivalente a indivíduos entre 50 e 60 anos.
Segundo Marcus Peter,
professor na Escola de Medicina Feinberg da Northwestern
University e autor principal do estudo, cada pessoa tem diferentes
classes de RNA em suas células: o RNA mensageiro (RNAm) longo, que codifica
proteínas importantes para o funcionamento das células e que possui milhares de
nucleotídeos, e o RNA curto, que possui entre 19 e 22 nucleotídeos. Essa
segunda classe de RNA atua suprimindo a atividade do RNAm, o que resulta no
bloqueio da síntese de proteínas.
Os pesquisadores
descobriram que uma espécie de “código” embutido em RNA curto com
apenas seis nucleotídeos poderiam matar células importantes.
“Chamamos a sequência
curta de ‘código da morte’. As células morrem porque os RNAs que carregam
o código suprimem seletivamente os RNAm que codificam proteínas que são
críticas para a sobrevivência de todas as células”, explicou Marcus Peter ao Medical
News Today.
·
Como a descoberta pode levar a uma possível
causa de Alzheimer
Ainda de acordo com o
autor do estudo, as células cerebrais são protegidas pelos RNA
mensageiros, principalmente quando eles estão disponíveis em grande quantidade.
No entanto, com o avanço da idade, a quantidade de RNA “protetores”
diminui, enquanto a de RNA “tóxicos” aumenta.
Isso significa
que, quanto maior a quantidade de RNA “tóxico” no cérebro, maior é o
risco para mais mortes celulares e, consequentemente, maior a chance
de desenvolvimento de Alzheimer.
Para os autores do
estudo, essa descoberta é importante para abrir caminho para novas
pesquisas em torno do desenvolvimento de medicamentos para tratar o
Alzheimer e outras doenças degenerativas.
Para Marcus Peter,
as próximas etapas da pesquisa incluem mais testes em animais e
neurônios derivados de pacientes com a doença, além de testar medicamentos que
possam aumentar o nível de RNA protetores ou reduzir a atividade dos RNA “tóxicos”.
Ø
Alzheimer: Quais as principais dúvidas dos
brasileiros sobre a doença?
O Brasil é o quinto
país no mundo que mais pesquisa sobre a doença de Alzheimer no Google, segundo
dados levantados pela CNN através do Google Trends. Porto Rico,
Espanha, Estados Unidos e Chile ficam à frente do país, nesta ordem.
De acordo com dados
levantados na plataforma desde 2004, os anos de 2019 e 2022 compõem os de maior
número de buscas no mundo sobre a doença. O valor de 100 presente no gráfico de
pesquisa representa maior pico de popularidade de um termo. Um valor de 50
significa metade da popularidade e a pontuação pontuação de 0 significa que não
havia dados suficientes sobre o termo.
Já no Brasil, os anos
de pico das pesquisas sobre Alzheimer correspondem
a 2004 e 2005, seguidos por 2022, que registrou pontuação de 89 em março.
·
O que os brasileiros mais buscam sobre
Alzheimer no Google:
O Google Trends também
elenca as principais dúvidas dos brasileiros sobre a doença de Alzheimer. São
elas:
- O que é o Alzheimer?
- Quais os sinais de Alzheimer precoce?
- Quais são as 7 fases do Alzheimer?
- Quais são as formas de tratamento do Alzheimer?
- Alzheimer é genético?
- Qual a diferença de demência e Alzheimer
- Existem jogos para idosos que podem ajudar com o Alzheimer?
A CNN ouviu
especialistas para respondê-las.
·
O que é o Alzheimer?
De acordo com Fábio
Porto, neurologista e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer,
Regional São Paulo (ABRAz-SP), a doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa,
que se caracteriza principalmente pela perda progressiva da memória recente.
“A pessoa afetada pode
ter dificuldade em aprender novas informações, embora possa lembrar bem as
informações do passado. Isso ocorre porque a doença afeta intensamente os
hipocampos, a região do cérebro responsável pela memória recente”, explica ele.
·
Quais os sinais de Alzheimer precoce?
De acordo com Diogo
Haddad, neurologista do Hospital Nove de Julho e pesquisador da Doença de
Alzheimer, os sintomas iniciais e principais são sempre relacionados à perda de
memória. Problemas com linguagem, atenção e execução das tarefas diárias são
pontos de atenção, mas, de acordo com o profissional, todas elas devem estar
ligadas à memória.
·
Quais são as formas de tratamento do
Alzheimer?
Diogo Haddad destaca a
importância de buscar ajuda médica ao menor sinal de comportamento que pode
estar relacionado ao Alzheimer.
“Essa fase pré-clínica
talvez seja a grande galinha dos ovos de ouro do Alzheimer. Hoje conhecemos
essa entidade como comprometimento cognitivo leve (CCL), momento onde
conseguimos encontrar um déficit cognitivo dentro de testes neuropsicológicos,
porém, onde não existe qualquer perda da funcionalidade. Esse pode ser um
grande momento para tratamento da doença”, enfatiza o neurologista.
Além do tratamento
médico, o processo familiar e de apoio é muito essencial.
“Tento sempre colocar
que a doença de Alzheimer deve vir em conjunto com um tratamento de todos que
estão ao redor da doença. Ela carrega como fardo o acometimento das pessoas que
estão ao redor da pessoa com a doença, que devem estar preparados para lidar
com as alterações, não apenas de memória, mas também de comportamento e de
execução de atividades corriqueiras”, afirma Diogo.
·
Quais são as 7 fases do Alzheimer?
Fábio Porto explica
que a progressão da doença pode ser dividida em várias fases, que podem variar,
mas basicamente seguem a progressão de fase normal, declínio cognitivo
subjetivo, comprometimento cognitivo leve até demência.
- Fase 1: A pessoa tem um marcador da doença no cérebro, mas
a cognição está normal e não apresenta sintomas.
- Fase 2: Ocorre um declínio cognitivo, mas muito leve, às
vezes chamado de declínio cognitivo subjetivo. A pessoa percebe que não
está igual, mas os testes de memória apresentam resultados normais.
- Fase 3: Conhecida como comprometimento cognitivo leve, a
pessoa tem um declínio cognitivo perceptível, mas não apresenta
dificuldade funcional significativa. A pessoa tem um problema de memória,
mas consegue viver bem, fazer as coisas cotidianas, mesmo que com pequenas
dificuldades.
- Fase 4: Início da demência leve, com perda funcional para
atividades mais complexas, como trabalhar, lidar com finanças e planejar
um jantar.
- Fase 5: Demência moderada, onde a pessoa tem dificuldade
para escolher a própria roupa.
- Fase 6: Demência moderada grave, com dificuldades para se
vestir, tomar banho e usar o banheiro. Pode ocorrer incontinência.
- Fase 7: Fase grave da doença, onde a pessoa não consegue
mais falar, andar ou deglutir.
>>>> Alzheimer
é genético?
Segundo Fábio, existem
sim genes de risco na doença de Alzheimer, mas estes não são garantia de que a doença será de fato
desenvolvida.
O profissional explica
que, embora a doença de Alzheimer seja genética, é uma genética de risco ou de
chance aumentada, também conhecida como “genética não-Mendeliana”. “Isso
significa que ter um gene de risco não garante que você desenvolverá a doença, mas
aumenta a probabilidade”, explica ele.
·
Qual a diferença entre demência e
Alzheimer?
Diogo explica que a
Doença de Alzheimer não é diferente da demência, e sim um tipo desse grupo de
sintomas. “A demência pode ser um denominador e sintoma para um monte de
doenças, como o próprio Alzheimer, é importante não confundir”, diz ele.
Em resumo, enquanto a
demência se refere aos sintomas, a doença de Alzheimer é uma das causas deles.
·
Existem jogos para idosos que podem ajudar
com o Alzheimer?
Segundo Fábio, jogos
podem ser ferramentas eficazes para aumentar o estímulo cognitivo. Podem ser
responsáveis por retardar o progresso da doença em pessoas com demência e
reduzir o risco em indivíduos saudáveis.
O profissional indica
jogos como Caça-Palavras e Sudoku, que envolvem a memória.
“A recomendação é unir
a estimulação cognitiva – treinamento de memória, atenção e linguagem – com
atividades prazerosas e de lazer. Isso torna a atividade mais agradável,
incentivando a pessoa a continuar praticando por mais tempo”, explica ele.
Fonte: CNN Brasil
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