'Clã
Bolsonaro na mira da Justiça': jornais europeus repercutem investigação sobre
'Abin paralela'
"O clã Bolsonaro
na mira da Justiça" é o título da reportagem publicada no site do jornal
francês Le Monde, que destaca a suspeita de que a Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) teria utilizado o software israelense First
Mile para espionar centenas de políticos e personalidades públicas, a
mando do ex-presidente de extrema-direita e de seus filhos. O veículo destaca
que a residência e o escritório de Carlos Bolsonaro no Rio de Janeiro foram
vasculhados na segunda-feira (29/01).
O mandado de busca foi
autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, que supostamente foi um dos alvos
do esquema de espionagem ilegal da Abin. Um parecer do procurador-geral da
República, Paulo Gonet Branco, considerou as buscas necessárias, depois de
analisar mensagens de WhatsApp nas quais uma assessora de Carlos Bolsonaro
pedia ao então diretor da agência, Alexandre Ramagem, "ajuda" nas
investigações contra o ex-presidente e a família.
Carlos Bolsonaro é
apontado nas investigações policiais como integrante do que é chamado de núcleo
político do grupo, assimilado a uma organização criminosa atuante na Agência
Brasileira de Inteligência, na época em que era dirigida pelo hoje deputado Alexandre
Ramagem, de acordo com Gonet.
O site da emissora
francesa France 24 destaca a entrevista concedida ontem pelo
ex-presidente ao canal CNN Brasil. Bolsonaro negou
o envolvimento dele e do filho no suposto esquema de espionagem. "Nunca
busquei colher dados de quem quer que seja para me defender", disse.
"Nunca recebi informação, localização geográfica de quem quer que seja.
Nunca precisei, pedi ou tive qualquer relatório da Abin", afirmou.
"Abin
paralela"
Segundo o site do
jornal português Público, a PF quer esclarecer a atuação de uma
suposta "Abin paralela", que agia sob as ordens do clã Bolsonaro. O
programa israelense First Mile teria colhido informações
"sem autorização judicial" sobre cerca de 30 mil pessoas, indica o
site do jornal espanhol El País.
A publicação também
destaca a operação de busca e apreensão na casa de Bolsonaro em Angra dos Reis,
no litoral do Rio, onde o ex-presidente e os filhos estariam reunidos desde o
fim de semana. No entanto, quando os agentes da Polícia Federal chegaram, pela
manhã, nenhum deles estava no local. Após rumores de que teriam fugido, o
advogado da família, Fabio Wajngarten, indicou que Bolsonaro e os filhos haviam
saído para pescar.
O correspondente do
jornal britânico The Guardian no Rio, Tom Philipps, assina uma
matéria em que avalia que os incidentes da segunda-feira distanciam ainda mais
Bolsonaro de um futuro político. "No ano passado, ele foi proibido de
concorrer à eleições até 2030 por disseminar fake news sobre o
sistema eleitoral brasileiro", diz o texto.
The
Guardian afirma que "o populista de 68
anos" também é alvo de uma série de investigações sobre sua política nos
anos em que esteve no poder, entre 2019 e 2022. O jornal cita o gerenciamento
da epidemia de Covid-19 no Brasil, "que matou mais de 700 mil
brasileiros", além do papel de Bolsonaro no incitamento do motim de 8 de
janeiro de 2023, quando admiradores do ex-presidente invadiram a sede do
governo federal.
Ø
PF teve de fazer tratativas com familiares
para que Carlos Bolsonaro acompanhasse buscas
A Polícia Federal teve
de fazer tratativas com a família de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) para
que o vereador acompanhasse as buscas da nova fase da operação que investiga o
uso ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar adversários
políticos e obter informações sobre investigações contra a família do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Carlos, os irmãos
Flávio e Eduardo e o pai estavam em Angra dos Reis na segunda. Segundo os
advogados da família, Bolsonaro, Flávio e Carlos saíram para pescar antes das
6h e, ao tomarem conhecimento das buscas na casa, "todos retornaram
imediatamente para acompanhar e atender plenamente ao mandado judicial".
Segundo uma fonte da
PF, testemunhas ouvidas pelos policiais na região apontam que o grupo saiu um
pouco mais tarde, por volta das 6h40. Nesse momento, segundo a mesma fonte, a
PF já estava na casa de Carlos Bolsonaro no Rio de Janeiro e na Câmara dos Vereadores
do Rio de Janeiro.
A PF iniciou as buscas
na casa por volta das 8h40. Às 9h30, de acordo com a fonte, a PF começa a
tratativas com familiares para que Carlos se apresente e acompanhe as buscas.
O vereador chegaria à
casa 11h, acompanhado do pai.
O advogado Eduardo
Kuntz diz que o grupo estava sem sinal e só ficou sabendo da busca às 10h,
quando um segurança que havia voltado para buscar combustível viu mensagens
sobre a busca que tinham sido enviadas a ele.
Segundo Kuntz, Tércio
Arnaud, assessor da família Bolsonaro, teve bens apreendidos na busca.
Por isso ele estava no
local acompanhando as buscas.
>>> Veja,
abaixo, a cronologia:
🕔 5h
💬 Segundo o advogado de Bolsonaro Fabio Wajngarten, o
ex-presidente e os filhos saem para pescar. Testemunhas ouvidas pela PF indicam
que foi mais tarde, às 6h40 (leia mais abaixo).
🕕 6h10
🚨 Segundo fonte da Polícia Federal, neste horário os agentes da
PF chegaram à Câmara dos Vereadores do Rio e ao condomínio Vivendas da Barra,
também na capital, onde Carlos tem casa.
🕡 6h40
🚨 Polícia Federal entra na casa de Carlos no condomínio, segundo
fonte da PF.
🕡 6h40
🚨 Esse é o horário em que, segundo vizinhos ouvidos pela PF,
Carlos saiu da casa de Angra para pescar com o pai.
🕖 7 horas
💬 Neste momento, começam as diligências no gabinete de Carlos
Bolsonaro na Câmara dos Vereadores, segundo da Casa
“Agentes da Polícia
Federal estiveram no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro na Câmara do Rio na
manhã desta segunda-feira (29), para cumprir mandado judicial de busca e
apreensão. A diligência ocorreu das 7h às 9h, e foi acompanhada pela segurança
da Casa e um assessor do parlamentar”, diz a nota da Câmara.
🕣 8h40
asa em Angra Casa em
Angra dos Reis (RJ) onde Jair Bolsonaro realizou uma live nas redes sociais no
domingo (28) — Foto: Isabelle Magalhães/TV Rio Sul
asa em Angra Casa em
Angra dos Reis (RJ) onde Jair Bolsonaro realizou uma live nas redes sociais no
domingo (28) — Foto: Isabelle Magalhães/TV Rio Sul
🚨 Neste horário, a PF começa a fazer buscas na casa de Angra.
🕤9h30
🚨 A PF começa a negociar com familiares para que Carlos se
apresente.
🕚10h57
🚨 Quando o relógio marcava quase 11h, Carlos Bolsonaro e o pai,
Jair, foram vistos chegando à casa de Angra.
Ø
Espionagem ilegal na Abin: PF intima
general Heleno para depor
A Polícia Federal
intimou nesta terça-feira (30) o general Augusto Heleno para depor no inquérito
que apura ilegalidades e esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), durante a direção Alexandre Ramagem, entre 2019 e 2022.
O depoimento foi
marcado para a próxima terça-feira (6), na sede da PF, em Brasília. Heleno foi
ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e a Abin era então subordinada à pasta que
ele comandava.
Ontem (29), a Polícia
Federal (PF) realizou mandados de busca e apreensão contra Carlos Bolsonaro,
filho do ex-presidente. A operação é um desdobramento da ação realizada na
quinta-feira (25), que teve como alvo o próprio Ramagem. A PF também cumpriu
mandados no gabinete do parlamentar municipal na Câmara dos Vereadores, na
capital fluminense.
As investigações
revelaram, segundo fontes ligadas ao caso, que Carlos teria sido beneficiado
pela chamada Abin paralela em pelo menos duas situações. A assessora teria
solicitado informações sobre inquéritos sigilosos envolvendo membros do clã.
O ministro Alexandre
de Moraes, que autorizou a operação, afirmou que a existência de uma
"organização criminosa infiltrada na Abin" foi significativamente
comprovada pelas evidências coletadas até o momento.
De acordo com a
decisão do ministro, a investigação aponta para a existência do "núcleo
político" envolvido na espionagem, que teria monitorado indevidamente
"inimigos políticos" e buscado informações sobre investigações
relacionadas aos filhos de Jair Bolsonaro durante seu mandato presidencial.
Durante o governo de
Jair Bolsonaro (PL), a Polícia Federal (PF) estima que aproximadamente 30 mil
cidadãos brasileiros foram alvo de monitoramento ilegal pela Agência Brasileira
de Inteligência (Abin), de acordo com Andrei Passos, diretor-geral da PF.
O ex-diretor-geral da
Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou, em entrevista
à CNN, que as informações divulgadas pela imprensa brasileira foram distorcidas
e que está havendo "uma perseguição contra a direita".
Ø
Lula demite diretor adjunto da Abin após PF
afirmar que a agência prejudicou investigações
O governo Lula decidiu fazer mudanças na cúpula da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) e demitiu o diretor adjunto da agência,
Alessandro Moretti.
Ele será substituído
por Marco Cepik, que vai deixar o comando da Escola de Inteligência da Abin
A troca acontece após
mais uma fase da operação da Polícia
Federal que investiga a suposta espionagem
ilegal pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), durante o governo do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Depois da ação, o
ministro relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, levantou o sigilo
da decisão que autorizou as ações e revelou as afirmações da PF sobre a atuação
da cúpula da agência nomeada pelo presidente Lula.
·
Substituto
Cepik é cientista
político e já foi diretor-executivo do Centro de Estudos Internacionais sobre
Governo (CEGOV) em Porto Alegre (RS). Os diretores de sete departamentos
da agência também serão substituídos, o que mostra uma ampla reestruturação do
órgão de inteligência.
A avaliação é de que
apesar de não haver uma denúncia concreta contra Moretti, houve um processo de desgaste,
principalmente com a desconfiança por parte do governo federal sobre a relação
do agora ex-diretor com Anderson
Torres (veja mais abaixo).
Com isso, a situação
ficou insustentável e a mudança foi efetivada para pacificar inclusive a
própria agência. Ao mesmo tempo, a mudança estrutural na Abin garante a
permanência do atual diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Correia, que também
estava sendo criticado, inclusive por integrantes da Polícia Federal,
instituição à qual ele pertence e já comandou no segundo governo Lula.
·
'Possível conluio'
No inquérito, a PF
afirmou que integrantes da atual cúpula da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) interferiram e até prejudicaram as investigações ao
dificultar o acesso a dados.
"A preocupação de
'exposição de documentos' para segurança das operações de 'inteligência', em
verdade, é o temor da progressão das investigações com a exposição das
verdadeiras ações praticadas na estrutura paralela, anteriormente, existente na
Abin", diz relatório da PF enviado ao STF.
Para a PF, há
inclusive um possível "conluio" entre os investigados da gestão
anterior da agência com os integrantes da atual gestão, "cujo resultado
causou prejuízo para a presente investigação, para os investigados e para a
própria instituição", completa o documento.
Em nota divulgada após
as críticas do relatório da PF se tornarem públicas, a Abin afirmou que
contribui com as investigações.
"Tem 10 meses que
a atual gestão vem contribuindo com os inquéritos da PF e STF. A Abin é a maior
interessada em esclarecer eventuais ilícitos e vai continuar colaborando com as
investigações", afirmou a agência.
·
Perfil
Moretti estava no cargo desde março de 2023. Delegado da Polícia Federal, ele assumiu em março de 2022 a
Inteligência do órgão, cargo que ocupou até o fim do governo Bolsonaro.
Antes disso, ele havia
atuado como secretário-executivo da Secretaria da Segurança Pública do Distrito
Federal entre 2019 e 2021, na gestão de Anderson Torres — ex-ministro de
Bolsonaro.
No início dos anos
2000, o delegado integrou equipes e coordenou investigações contra
contrabandistas em São Paulo e a máfia dos caça-níqueis no Rio de Janeiro.
Também foi chefe de operações da PF em Minas Gerais e número 2 da Inteligência
da PF em gestões petistas.
Fonte: rfi/Sputnik
Brasil/g1
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