domingo, 30 de novembro de 2025

Tarifaço dos EUA: o truque do alívio seletivo que ameaça o Brasil

O recuo parcial de Trump sobre o tarifaço parece vitória, mas esconde uma armadilha: os EUA aliviam a pressão onde o custo político interno é alto e mantêm o garrote exatamente nos setores que poderiam impulsionar a reindustrialização e a soberania tecnológica do Brasil. Este artigo revela, com dados inéditos, como o alívio seletivo funciona como engenharia de dependência e parte de um plano maior de coerção na disputa geopolítica pelo Caribe e pela Venezuela.

<><> O momento que precisa ser compreendido com mais clareza

Nas últimas semanas, a percepção geral no debate público foi de que a tensão entre Brasil e Estados Unidos teria diminuído. O governo americano retirou a sobretaxa de 40% sobre vários produtos agrícolas brasileiros, o agronegócio reagiu com alívio, e parte da cobertura tratou o gesto como sinal de distensão. A narrativa é simples: houve diálogo, houve recuo, a situação “melhorou”. Mas, quando observamos o conjunto das medidas adotadas desde abril, a realidade revela um arranjo mais complexo. O tarifaço não foi um episódio isolado. Ele começou com uma tarifa-base de 10% sobre praticamente todas as importações e evoluiu para sobretaxas de 50% aplicadas de forma concentrada à pauta brasileira. Esse conjunto de medidas foi sustentado pelo argumento de “emergência nacional”, o que permitiu aos Estados Unidos usar tarifas como instrumento de pressão política direta. As justificativas se alinharam a críticas ao julgamento de Bolsonaro, ao papel do STF e às regras brasileiras de regulação das plataformas digitais. Tarifas e política interna brasileira passaram a caminhar na mesma frase.Do lado brasileiro, a resposta foi calibrada. O governo aprovou uma Lei de Reciprocidade para ter meios legais de responder na mesma escala, mas Lula declarou que não pretende acionar retaliações de imediato. A razão é evidente: retaliações amplas poderiam impactar cadeias produtivas, empregos e setores industriais fortemente integrados ao mercado americano. Ao mesmo tempo, não retaliar mantém o país exposto a uma ferramenta de pressão que segue ativa. O governo tenta, portanto, equilibrar proteção econômica com defesa de soberania, sem agravar tensões num momento sensível.

Esse cenário econômico ocorre em paralelo a movimentos geopolíticos relevantes. Os Estados Unidos reforçaram sua presença militar no Caribe, ampliaram monitoramento de rotas energéticas e endureceram a retórica sobre a Venezuela. O Brasil, por sua vez, tem defendido soluções diplomáticas e a não intervenção, buscando evitar que a crise venezuelana seja pretexto para uma escalada regional. Quando colocamos comércio e geopolítica no mesmo quadro, percebe-se que as tarifas funcionam como parte de uma estratégia mais ampla de pressão — uma combinação de medidas econômicas, políticas e militares que se sobrepõem no mesmo momento histórico. É nesse ambiente que o recuo parcial de Washington precisa ser lido. A retirada das sobretaxas sobre parte do agro reduz pressões internas nos EUA, ameniza efeitos sobre inflação de alimentos e acalma setores brasileiros influentes. Porém, o núcleo mais pesado das tarifas permanece exatamente onde o Brasil precisa ampliar competitividade: metalurgia, máquinas, químicos, bens intermediários e segmentos industriais de maior sofisticação. São áreas em que a substituição de mercados não é simples e onde a perda de competitividade tem efeitos duradouros. O que temos hoje, portanto, não é o fim do tarifaço, mas a transformação dele. Uma reprogramação silenciosa que mantém a pressão sobre os segmentos estratégicos da economia brasileira, ao mesmo tempo que suaviza o impacto político imediato sobre o agronegócio e sobre a inflação americana. É um novo desenho, mais sutil, porém mais eficiente, adotado justamente no momento em que o Brasil tenta combinar desenvolvimento econômico, estabilidade interna e uma postura independente diante da intensificação das tensões no entorno da Venezuela. Esse é o ponto de partida para o artigo: compreender o que mudou, o que permaneceu e por que o alívio seletivo não encerra o problema — apenas inaugura uma nova fase dele.

<><> O tarifaço não acabou — ele mudou de forma

A leitura mais direta das últimas semanas sugere que a crise teria sido atenuada graças ao gesto de Washington em retirar a sobretaxa sobre dezenas de produtos agrícolas brasileiros. Esse movimento gerou a impressão de que o tarifaço estava sendo desmontado. Mas, ao olhar a estrutura completa das medidas ainda em vigor, o que vemos é uma mudança de configuração — não o fim do instrumento. O tarifaço foi redesenhado para se tornar mais eficiente: o peso saiu da prateleira visível, onde o impacto político seria imediato, e permaneceu concentrado nos segmentos com maior relevância industrial. O alívio para o agro tem efeito claro — reduz tensão interna, melhora o clima político e ameniza custos para o consumidor americano — mas o coração do problema segue ativo. Os setores que permanecem sob sobretaxas são justamente aqueles em que o Brasil depende de estabilidade para avançar em produtividade e desenvolvimento tecnológico. Essa distinção entre o que foi retirado e o que permanece é fundamental. Na parte agrícola, o Brasil tem alternativas de diversificação de mercados, ciclos de produção mais flexíveis e cadeias já consolidadas globalmente. Mas na parte industrial, a substituição de mercado é lenta, complexa e depende de investimentos que só se justificam no longo prazo. Ao manter a pressão justamente nesse ponto, os Estados Unidos preservam uma ferramenta que afeta a reindustrialização brasileira e cria incerteza permanente para empresas que operam em cadeias internacionais. Outra característica desse novo formato é que ele permite a Washington alterar o ritmo da pressão sem provocar rupturas abruptas. A retirada parcial das tarifas reduz o desgaste imediato e dá ao governo americano espaço para combinar novos estímulos e punições conforme suas prioridades políticas. O resultado é um tarifaço mais discreto, porém mais adaptável, capaz de responder a movimentos do Brasil sem disparar alertas na opinião pública dos EUA. O efeito prático desse redesenho é claro: o instrumento de coerção continua presente, mas agora opera com menor ruído e maior precisão. O gesto de alívio não desmonta o mecanismo; apenas o torna mais ordenado, mais seletivo e mais ajustado às áreas onde o impacto estratégico sobre o Brasil é mais profundo. E é justamente essa mudança silenciosa que exige uma leitura mais cuidadosa — porque o conflito não diminuiu, apenas se reorganizou.

<><> O alívio seletivo: como Washington redesenhou a dependência brasileira

O recuo dos Estados Unidos sobre parte do tarifaço foi apresentado como gesto de distensão, mas o desenho da lista de produtos liberados revela algo mais preciso: o alívio não foi amplo, nem aleatório. Ele foi cirúrgico. Washington retirou a sobretaxa onde o impacto político interno seria mais alto — alimentos, café, carne, frutas, sucos — e manteve a pressão exatamente nos setores que estruturam a capacidade de desenvolvimento industrial brasileiro. Ao observar essa divisão, fica evidente que o alívio seletivo funciona como uma forma de reorganizar a dependência. A agricultura brasileira tem vasta rede de compradores, ampla presença global e margens de substituição relativamente rápidas: se um mercado aperta, outro absorve. Já os setores industriais, especialmente os intensivos em metalurgia, químicos, máquinas, componentes e bens intermediários, dependem de previsibilidade de longo prazo, contratos estáveis e escalas de produção que não se reconfiguram da noite para o dia. São essas cadeias que foram mantidas sob sobretaxa — justamente as que definem a capacidade de um país de gerar valor, tecnologia e autonomia produtiva.

Essa assimetria não é acidental. Ao aliviar o agro, os EUA reduzem pressões internas, evitam aumento da inflação alimentar e diminuem o desgaste político de tarifas amplas. Mas, ao preservar o peso sobre os setores industriais, mantêm um ponto de estrangulamento estratégico. É uma forma discreta de travar investimentos, desestimular inovação e limitar a competitividade brasileira em segmentos de maior valor agregado. O resultado é um efeito de reprimarização indireta: o Brasil tem acesso facilitado para vender o que vale menos e enfrenta obstáculos crescentes para consolidar o que vale mais. Além disso, o alívio seletivo produz outro efeito relevante: reorganiza a política doméstica brasileira. Ao beneficiar setores com forte peso econômico e eleitoral, como carne e café, o gesto reduz tensões internas e diminui a pressão para uma resposta imediata da parte do governo. Ao mesmo tempo, deixa as cadeias industriais — que sustentam empregos mais qualificados e maior conteúdo tecnológico — expostas a um ambiente de incerteza. A mensagem implícita é clara: o equilíbrio entre conforto político e autonomia produtiva continua em disputa. Em outras palavras, o alívio não desmonta o tarifaço. Ele apenas redefine suas prioridades. O que foi retirado reduz ruído. O que permaneceu concentra impacto. E, nessa combinação, os Estados Unidos criam uma forma de pressão menos visível, mas muito mais alinhada à sua lógica estratégica: desestimular qualquer movimento brasileiro de fortalecimento industrial enquanto mantêm as portas abertas para aquilo que não ameaça suas cadeias de valor. É a dependência atualizada para o século XXI — não mais imposta por grandes pacotes, mas moldada por pequenos ajustes que alteram, silenciosamente, o futuro produtivo de um país.

<><> O algoritmo do cerco: economia, regulação digital e política interna no mesmo tabuleiro

Quando analisadas separadamente, as medidas recentes dos Estados Unidos — tarifas, recuos parciais, pressões sobre plataformas digitais e críticas ao sistema de justiça brasileiro — parecem pertencer a campos distintos. Mas, quando colocadas lado a lado, formam uma arquitetura coerente. Não se trata apenas de comércio. Tampouco é apenas disputa regulatória. É um modelo de pressão que combina economia, informação e política numa mesma engrenagem. O tarifaço opera como eixo econômico desse mecanismo. Ele cria volatilidade calculada: ora aperta, ora alivia, sempre deixando claro que a normalidade depende de escolhas que o Brasil faça em áreas sensíveis para Washington. Ao mesmo tempo, o debate sobre regulação de plataformas digitais, que no Brasil avança em direção à responsabilização de empresas por conteúdo ilegal, é usado pelos Estados Unidos como argumento político. Pontos de atrito — moderação, remoção de discurso extremista, combate a redes coordenadas — são reinterpretados como ameaça à liberdade de expressão e aos interesses das big techs americanas. A crítica pública ao Brasil, nesse caso, não aparece isolada: ela reforça a ideia de que parte das tensões comerciais decorre de disputas regulatórias. Há ainda o componente político interno. Quando dirigentes americanos questionam decisões da justiça brasileira ou insinuam perseguição a figuras da extrema-direita, isso não ocorre no vácuo. Esse discurso se articula com a lógica das tarifas, ampliando sua função de pressão: o recuo só avança onde existe conveniência política, enquanto a possibilidade de endurecimento permanece como sombra sobre decisões domésticas brasileiras. Assim, comércio e política são usados simultaneamente para criar um ambiente de incerteza que favorece a capacidade de barganha dos Estados Unidos. O resultado é um algoritmo simples na forma e sofisticado no efeito: decisões econômicas pressionam a política; decisões políticas influenciam o comércio; tensões regulatórias aparecem como justificativa para manter a volatilidade. Tudo opera de forma conectada, como camadas distintas de uma mesma estratégia. Para o Brasil, isso significa lidar com uma pressão multidimensional: a economia sente o impacto das tarifas; as instituições enfrentam questionamentos externos; e o ambiente regulatório se transforma em terreno de disputa geopolítica. É um cerco silencioso, feito de pequenas peças que, somadas, moldam a margem real de ação do país.

<><> Caribe, Venezuela e o cerco de rotas: o tabuleiro oculto

O tarifaço não pode ser compreendido sem olhar para o entorno regional. Nos últimos meses, os Estados Unidos intensificaram sua presença militar no Caribe, ampliaram monitoramento de rotas marítimas e elevaram o tom sobre a Venezuela. Esse movimento não é paralelo ao conflito comercial — ele é parte do mesmo tabuleiro. Quando um país controla rotas, portos e cadeias de energia na sua periferia estratégica, ele amplia a capacidade de condicionar o comportamento de seus vizinhos por meios indiretos. Tarifas e projeção militar, nesse caso, são instrumentos que se reforçam mutuamente. A Venezuela ocupa posição central nessa equação. Além de suas reservas de petróleo e gás, o país é corredor logístico para toda a fachada norte da América do Sul. Uma pressão militar ampliada ou um bloqueio parcial no Caribe altera fluxos comerciais, encarece o transporte, aumenta o risco de seguros e afeta rotas por onde circulam cargas brasileiras. Quando Washington intensifica operações navais e sinaliza disposição para endurecer sua postura, cria um ambiente em que qualquer país da região — inclusive o Brasil — precisa levar em conta não apenas a tarifa aplicada à sua mercadoria, mas também a rota por onde essa mercadoria será escoada. É nesse contexto que a diplomacia brasileira se move com cautela. O governo tem reiterado que rejeita qualquer aventura militar na Venezuela e que defende soluções políticas e negociadas. Essa posição não é apenas ideológica; ela é estratégica. Uma escalada militar na fronteira norte alteraria cadeias logísticas, aumentaria custos de exportação e ampliaria o poder de barganha dos Estados Unidos sobre toda a região. O Brasil busca evitar esse cenário porque sabe que a pressão comercial não pode ser isolada da pressão territorial e energética. Ao mesmo tempo, o gesto americano de aliviar parte das tarifas logo após conversas diretas com Brasília mostra que o comércio faz parte da negociação mais ampla sobre o Caribe e a Venezuela. Ao retirar sobretaxas sobre alimentos, Washington reduz desgaste interno, melhora a percepção diplomática e abre espaço para cobrar, de forma implícita, maior alinhamento em temas regionais. O recuo sobre o agro, nesse sentido, não é apenas econômico: ele também libera o terreno para que os Estados Unidos exerçam influência política num momento de tensão crescente. O que se desenha, portanto, é um ambiente em que tarifas, logística, diplomacia e movimentação militar se entrelaçam. A pressão comercial ganha profundidade quando combinada à incerteza regional; a presença militar ganha alcance quando reforçada por instrumentos econômicos. O Caribe e a Venezuela funcionam como extensão do tarifaço — não porque substituam o comércio, mas porque ampliam seu impacto. E isso exige do Brasil uma leitura que vá além do preço da tarifa: é preciso entender a arquitetura territorial que condiciona por onde, quando e a que custo o país consegue circular sua própria produção.

<><> O dilema de Lula: respirar sem ceder

No centro desse tabuleiro está um governo que precisa, ao mesmo tempo, proteger empregos, conter pressões inflacionárias, preservar margem de manobra diplomática e defender a soberania institucional do país. O dilema é concreto: qualquer reação impulsiva ao tarifaço pode desencadear retaliações em cadeia, afetar exportações sensíveis e gerar instabilidade interna; qualquer passividade excessiva abre espaço para que a pressão econômica se consolide como ferramenta permanente de disciplinamento. Entre esses dois extremos, o Brasil vem tentando construir uma linha de atuação que combine firmeza e prudência. A aprovação da Lei de Reciprocidade deixou claro que o país não aceita, em tese, a lógica da punição unilateral. Ao criar um instrumento jurídico que permite responder na mesma escala, o Brasil envia um recado: tem meios para contra-atacar se for necessário. Ao mesmo tempo, o fato de Lula adiar o uso pleno dessa lei indica outra dimensão do cálculo. O governo sabe que uma guerra de tarifas em larga escala prejudicaria justamente os setores que mais precisam de previsibilidade, além de oferecer munição para quem aposta no caos econômico como ferramenta de desgaste político. Esse equilíbrio aparece também na forma como o Brasil tem se posicionado em relação à Venezuela e ao Caribe. A recusa a apoiar aventuras militares e a insistência em saídas negociadas não significam alinhamento automático a qualquer governo, mas uma tentativa de evitar que a região seja arrastada para uma dinâmica de conflito que ampliaria a capacidade de pressão dos Estados Unidos sobre toda a América do Sul. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro mantém canais abertos com Washington e insiste na via diplomática para reduzir tensões comerciais, evitando transformar o conflito em ruptura. Há, ainda, uma dimensão interna desse dilema. O alívio seletivo sobre o agro ajuda a neutralizar parte das pressões de um setor historicamente influente, mas deixa em segundo plano as cadeias industriais que continuam expostas às sobretaxas. O governo precisa falar com esses dois mundos ao mesmo tempo: tranquilizar produtores que viram uma melhora imediata no acesso ao mercado americano e, ao mesmo tempo, sinalizar para a indústria que a agenda de reindustrialização continua sendo prioridade, mesmo em ambiente adverso. Fazer isso sem transformar o tarifaço em disputa partidária de curto prazo é parte da dificuldade. No fundo, o dilema de Lula não é entre reagir ou aceitar; é entre reagir de um modo que fortaleça a posição estrutural do Brasil ou de um modo que apenas produza barulho. Por isso a resposta tem sido gradual, cuidadosa e, muitas vezes, incompreendida por quem espera gestos dramáticos. Em vez de um choque frontal, o governo tenta construir, passo a passo, condições para reduzir a vulnerabilidade de longo prazo — diversificando parceiros, reforçando a integração regional, impulsionando políticas industriais e defendendo, no plano internacional, limites para o uso arbitrário de tarifas e sanções. É uma escolha de tempo longo num cenário em que quase tudo empurra para o improviso.

<><> Por que o debate público ainda não captou o tabuleiro completo

A maior dificuldade para entender o tarifaço — e seus desdobramentos no Caribe, na regulação digital e na política brasileira — não está na falta de informação, mas na maneira como ela é organizada. A imprensa cobre tarifas como economia. Movimentação militar como defesa. Disputas regulatórias como tecnologia. Choques diplomáticos como política externa. Cada tema aparece isolado, como se pertencesse a caixas estanques. E, quando as peças são tratadas separadamente, o desenho estratégico por trás delas se perde. O tarifaço, por exemplo, foi amplamente noticiado como uma decisão comercial agressiva que depois teria sido parcialmente corrigida. A retirada das sobretaxas sobre parte do agro reforçou essa impressão. Mas a permanência das tarifas sobre setores industriais — e o momento em que isso ocorre — raramente é conectada ao debate sobre reindustrialização e política de desenvolvimento no Brasil. De forma semelhante, as pressões sobre o STF e as críticas à regulação das plataformas digitais costumam ser apresentadas como episódios políticos independentes, embora reforcem a mesma lógica de condicionamento externo. O mesmo vale para o Caribe e a Venezuela. A intensificação da presença militar norte-americana aparece nas manchetes, mas quase nunca é articulada com o impacto que isso tem sobre rotas comerciais, cadeias energéticas e capacidade de barganha dos Estados Unidos na região. Assim, cada elemento do tabuleiro é visível, mas a relação entre eles permanece difusa. Falta a costura — e é justamente essa costura que define o sentido do conflito. Esse tipo de fragmentação não é casual. É uma característica do debate contemporâneo, acelerado, segmentado e dominado por ciclos curtos de atenção. Ela faz com que instrumentos de pressão sutis — como o alívio seletivo das tarifas — pareçam gestos generosos, quando na verdade fazem parte de uma estratégia maior. E também faz com que sinais de coerção geopolítica se diluam em meio a disputas narrativas rápidas, dificultando a compreensão de como economia, segurança e política estão entrelaçadas. Quando observamos o quadro em conjunto, o conflito deixa de parecer uma série de eventos desconexos e passa a se revelar como uma arquitetura integrada. O tarifaço é uma peça. A regulação digital é outra. A pressão sobre instituições brasileiras, outra. A movimentação no Caribe, outra. Cada uma opera em seu campo específico, mas todas apontam para a mesma direção: ampliar a capacidade de influência dos Estados Unidos num momento em que o Brasil busca fortalecer sua autonomia produtiva e sua voz regional. Reconhecer essa dinâmica não é adotar um tom alarmista, nem supor intenções ocultas em cada gesto diplomático. É, simplesmente, considerar o quadro inteiro. Porque, quando o conflito é multidimensional, a análise também precisa ser. E compreender essa totalidade é o passo necessário para saber onde estão os riscos — e onde estão as escolhas reais — para o país.

<><> O risco estrutural: como o Brasil pode perder o século XXI sem perceber

Quando olhamos o tarifaço apenas pelo impacto imediato — custos, porcentagens, reação do agro, oscilações no comércio — a disputa parece administrável. Mas o efeito profundo das sobretaxas, sobretudo nas cadeias industriais, aponta para um problema maior: o risco de o Brasil entrar nas próximas décadas com sua autonomia produtiva comprometida. O país já convive com uma industrialização tardia, marcada por vulnerabilidades estruturais; quando tarifas calibradas atingem justamente os setores de maior valor agregado, esses pontos fracos deixam de ser desafios internos e passam a ser condicionados por decisões externas. Essa pressão funciona como um desincentivo quase invisível. Projetos industriais que dependem de previsibilidade de exportação, acordos de longo prazo e escala tecnológica ficam mais difíceis de justificar quando o maior mercado do hemisfério pode, a qualquer momento, impor uma sobretaxa de 50% a um componente essencial. Empresas que analisam investimentos de longo prazo levam isso em conta. Polos industriais, já afetados por competição global, ficam ainda mais vulneráveis quando convivem com instabilidade tarifária. Assim, o tarifaço não apenas afeta o presente; ele contamina o futuro. Há também o risco da reprimarização permanente. O alívio seletivo reforça o caminho mais fácil — exportar comida, café e proteína — ao mesmo tempo em que dificulta o movimento mais estratégico — consolidar cadeias industriais complexas. Esse padrão se reforça com o tempo: setores primários ganham estabilidade; setores industriais perdem tração. E, conforme a estrutura produtiva se acomoda nessa divisão, o país se torna mais dependente dos mercados que compram o que vale menos e menos capaz de competir nos setores que determinam a soberania tecnológica no século XXI. Do ponto de vista geopolítico, essa fragilidade econômica amplia a vulnerabilidade em outras frentes. Um país com menor capacidade industrial depende mais de tecnologia estrangeira, tem menor poder de barganha em negociações internacionais e enfrenta mais dificuldades para impor limites a pressões externas. Em contextos de tensão regional, como o que envolve o Caribe e a Venezuela, essa vulnerabilidade se torna ainda mais sensível: quem controla logística, energia e tecnologia controla também o ritmo da economia e a margem de manobra política de seus parceiros. Nada disso significa que o Brasil esteja condenado a um futuro de dependência. Mas significa que, sem uma leitura clara da arquitetura do tarifaço e de seus efeitos prolongados, o país corre o risco de negociar apenas o curto prazo, enquanto perde a disputa estrutural. O século XXI está sendo moldado agora — nas decisões comerciais, regulatórias e diplomáticas que parecem pequenas, mas acumulam força estratégica com o tempo. E é justamente por isso que tomar consciência desse cenário é fundamental: a janela de autonomia não se fecha num gesto dramático, mas em movimentos graduais que, quando percebidos tarde demais, deixam pouco espaço para reversão.

<><> O caminho da autonomia: o que o Brasil pode fazer agora

Se o tarifaço mudou de forma e se tornou um instrumento mais silencioso de pressão, a resposta brasileira também precisa operar em múltiplas frentes. Não se trata de buscar uma solução imediata, nem de transformar a disputa comercial em confronto diplomático. O desafio real é construir, passo a passo, um conjunto de proteções estruturais que reduzam a vulnerabilidade externa e ampliem a capacidade do país de decidir seu próprio caminho, mesmo diante de pressões de curto prazo. O primeiro eixo é produtivo. A reindustrialização não pode depender exclusivamente do humor de parceiros externos, nem de ciclos de commodities. Para avançar, precisa de instrumentos internos robustos: financiamento público de longo prazo, estímulo à inovação, fortalecimento das cadeias de fornecedores e políticas que protejam setores estratégicos enquanto ganham escala e competitividade. Cada ponto de previsibilidade que o país cria internamente diminui o efeito das tarifas externas. Cada elo industrial fortalecido reduz a capacidade de arbitragem de quem usa comércio como mecanismo de coerção. O segundo eixo é regional. A América do Sul só terá peso real se agir de forma coordenada diante de disputas comerciais e pressões geopolíticas. Isso vale para tarifas, mas vale principalmente para logística. Rotas alternativas, integração de portos, acordos alfandegários mais eficientes e investimentos conjuntos em infraestrutura reduzem a dependência de corredores controlados por potências externas. A estabilidade no entorno, especialmente na Venezuela e no Caribe, também é parte disso: um ambiente de menor tensão diminui a capacidade de qualquer país externo usar o território como ponto de pressão indireta.O terceiro eixo é tecnológico e informacional. A soberania do século XXI depende de desenvolver e controlar infraestrutura digital, dados, comunicação e ferramentas críticas de produção tecnológica. Países com autonomia nessa área conseguem negociar melhor, resistir a pressões regulatórias externas e evitar que seus próprios marcos legais sejam usados como justificativa para medidas comerciais adversas. No caso brasileiro, isso significa avançar simultaneamente em regulamentação democrática das plataformas, fortalecimento da indústria de tecnologia nacional e investimentos em pesquisa científica e inovação. Por fim, há o eixo diplomático. A resposta mais eficaz ao tarifaço não é sempre a mais barulhenta, mas a mais consistente. O Brasil precisa continuar dialogando, acionando mecanismos multilaterais quando necessário, e construindo consensos internacionais que limitem o uso arbitrário de tarifas e sanções como ferramentas políticas. Reforçar o peso do país em blocos como Mercosul, BRICS e G20 aumenta sua capacidade de influenciar normas globais. E manter clareza sobre seus princípios — defesa da paz, da legalidade internacional e da autonomia de cada nação — dá solidez à sua posição.

A soma desses movimentos não elimina a pressão externa, mas muda o terreno onde ela opera. Em vez de reagir apenas aos ciclos curtos de volatilidade, o Brasil passa a reorganizar sua estrutura de poder para o longo prazo. Essa é a verdadeira disputa. Não se trata apenas de tarifas ou listas de produtos, mas de como um país se prepara para enfrentar um século em que comércio, tecnologia e geopolítica estão cada vez mais entrelaçados. A autonomia não nasce de um gesto isolado; nasce de uma estratégia que reconhece o cenário, compreende a lógica do conflito e constrói, peça por peça, as condições para atravessá-lo com segurança.

 

Fonte: Por  Reynaldo José Aragon Gonçalves, em Brasil 247

 

 A sala de aula como espaço de resistência

Final de ano… e a contagem regressiva já começou na escola. Nesta época do ano, o cansaço se torna mais visível, ao mesmo tempo em que os corredores parecem respirar com um pouco mais de alívio. Mas o tão esperado sossego é apenas ilusório — sobretudo para os(as) docentes contratados(as). Não há garantias de retorno no próximo ano.

Fazer um bom trabalho não é suficiente quando o mérito é medido apenas por números.

Durante todo o ano letivo, alunos e alunas são subordinados a variadas avaliações, e nós, docentes, também. A educação, cada vez mais, parece girar em torno de índices — e não de pessoas.

Ensinar, hoje, é caminhar sobre um terreno movediço, onde cada passo parece exigir mais fé do que certeza.

Sou professora sob contrato temporário — e, talvez por isso, compreenda mais intensamente o que é o “provisório”. Mas a verdade é que toda a docência é provisória: cada aluno que passa, cada aula que se encerra, cada governo que muda de rumo e reduz ainda mais o espaço das Humanas no currículo escolar.

Ainda assim, sigo tentando resistir.

Há dias em que entro na sala e sinto o peso do desalento pairando sobre as carteiras. O olhar dos estudantes reflete a mesma exaustão que o meu. Tentamos sobreviver num sistema que valoriza o resultado, não o processo; o número, não o sentido. Mesmo assim, sigo apostando que cada conversa, cada provocação e cada silêncio compartilhado ainda podem gerar algum tipo de transformação. Talvez pequena, quase invisível — mas real.

>>> 1. O chão movediço da docência contemporânea

A educação brasileira vive uma contradição profunda: é cobrada como salvação nacional, mas é tratada como despesa. Dessa forma, precariza-se ano a ano o trabalho docente. E essa constante insegurança à qual estão sujeitos todos e todas que trabalham na educação, somada à fragmentação das políticas educacionais, corroem o sentido de missão que antes nos movia. Assim, o que deveria ser um projeto coletivo de emancipação tornou-se, para muitos, apenas um emprego de sobrevivência.

Anísio Teixeira, ainda no século XX, já denunciava que sem uma escola pública forte, não há democracia verdadeira. Sua defesa da educação integral e laica era, no fundo, um chamado à dignidade nacional. Hoje, ao ver professores e professoras lutando por contratos temporários e trabalhando em duas ou até três escolas para que possam ganhar um salário que lhes proporcione o mínimo de dignidade, sinto o peso de sua advertência.

Paulo Freire, por sua vez, nos lembra que a esperança não é cruzar os braços e esperar, mas se levantar e lutar. E essa esperança — do verbo esperançar — que ainda me faz permanecer. Sigo nesse caminho onde ensinar se tornou verdadeiramente um ato de resistência: um gesto ético diante da barbárie e da indiferença.

>>> 2. O corpo do educador como território de luta

Hoje em dia, ser professora temporária é viver em constante suspensão: não pertencemos totalmente à escola, e ela também não parece nos pertencer. Mas, paradoxalmente, é nesse estado de incerteza que percebi a força do pertencimento simbólico — o que nasce do vínculo com os alunos e alunas, e não do contrato com o Estado.

É nesse espaço, que lanço provocações, mesmo quando o silêncio da sala ecoa o desânimo que também me atravessa. Pois apesar do meu pouco tempo na área educacional, meu corpo já carrega cicatrizes invisíveis: a sobrecarga, a instabilidade, o cansaço de ensinar em tempos de descrença — e, sobretudo, em tempos de ataques constantes aos profissionais da educação, em especial professores e professoras de Humanas. Somos acusados(as) de doutrinar, quando, na verdade, o que vejo é um corpo docente que tem, cada vez mais, se submetido, sem crítica, à lógica mercadológica que tomou a educação de assalto. Não é para menos que muitas escolas — públicas! — passaram a chamar alunos e alunas de clientes.

Esse vocabulário, que tem sido cada vez mais verbalizado pelos(as) docentes tão acriticamente, revela a vitória simbólica do capital sobre o sentido da escola. Quando o estudante vira cliente, o conhecimento se transforma em produto, e o professor em mero prestador de serviço.

Bell hooks chamaria isso de domesticação do espírito: o momento em que o medo e o cansaço nos fazem confundir submissão com profissionalismo. E Boaventura de Sousa Santos diria que vivemos sob uma “epistemologia da cegueira” — uma aceitação passiva das injustiças e absurdos diários como se fossem naturais.

Mas não são!

Nada disso é natural.

A docência ainda é — e precisa continuar sendo — território de luta, lugar de conflito, de reinvenção e de sentido.

>>> 3. A sala de aula como microcosmo de resistência

Em sala, tento criar brechas: rodas de conversa, dramatizações, provocações que convidem à escuta e à reconstrução de sentido.

São nesses momentos que sinto o que Vygotsky chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): o espaço entre o que os alunos e alunas já sabem e o que podem vir a saber, se houver diálogo, confiança e mediação. É também o espaço entre o que eu sou e o que ainda posso me tornar como professora.

Ao ler James V. Wertsch, percebo que essa ponte se alarga: a Aproximação Sociocultural que ele propõe nos lembra que o pensamento é sempre mediado pela cultura e que ensinar é criar contextos onde o aprender se torna uma prática social. Consequentemente, não se trata apenas de transmitir saberes, mas de habitar linguagens, narrativas, símbolos e memórias coletivas. O saber não surge de forma isolada, mas do coletivo, da troca: muitas vezes, um ajuda o outro a avançar, a lembrar, a interpretar.

A educadora Nilse Mascellani dizia que o aprender deve ser experiência sensível, poética, criadora. E José Pacheco, com sua pedagogia das comunidades de aprendizagem, reafirma que a escola não é prédio, mas encontro.

Quando misturo teatro com debate, quando provoco os estudantes a reconstruírem o que foi dito na aula anterior, estou, ainda que de forma bastante limitada ao tempo dentro da sala de aula, ecoando todos eles: Freire, Vygotsky, Wertsch, Nilse e Pacheco — e também ecoando a mim mesma, naquilo que ainda acredito ser possível.

Nesses momentos, a sala de aula se torna, então, microcosmo de resistência, onde o humano se reinscreve apesar do caos burocrático e de todas as limitações impostas. Ali, entre risos, dúvidas e olhares perdidos, a esperança ainda respira.

>>> 4. Contra a pedagogia tecnocrática: o chamado à rebeldia

Vivemos sob o império da pedagogia tecnocrática, que transforma a educação em mercadoria e os professores(as) em meros executores de planilhas. Querem nos convencer que ensinar é somente cumprir metas. Mas não há algoritmo capaz de substituir o brilho de um olhar quando alguém finalmente compreende o que parecia impossível.

Dermeval Saviani já alertava que a pedagogia do capital reduz a formação humana à capacitação técnica. E Anísio Teixeira sonhava com uma escola pública que libertasse, não que domesticasse.

Essa domesticação é o que o neoliberalismo faz conosco: tenta arrancar da escola o que ela tem de mais humano — o encontro, o diálogo, o erro, o tempo do pensar.

Por isso, reafirmo: ensinar é um ato de desobediência amorosa. É dizer “não” ao automatismo, “sim” à dúvida, “sim” à criação.

A educação não cabe nas metas de desempenho porque o pensamento não se mede — ele floresce.

E quando tudo parece ruir —quando as humanas são reduzidas, quando colegas se acomodam e se calam —, procuro lembrar que a resistência começa na palavra, na arte, na conversa, no gesto de não desistir.

Isso não significa que eu não tenha dúvidas… muitas dúvidas. Mas talvez sejam elas que ainda me mantêm em movimento, “esperançando”. Porque esperançar: é verbo, é ação, como apontava Freire.

A escola não é ruína: é trincheira! E cada aula que insisto em dar é, em si, um ato político.

Sigo, dessa forma, com a certeza de que a docência é resistência, e resistir é a forma mais bela de ensinar.

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber.

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.” — Geraldo Vandré

 

Fonte: Por Janethe Fontes, em Outras Palavras

 

MS investe R$ 2,2 milhões na Hemorrede da BA para garantir soberania nacional na produção de medicamentos

O Brasil dá mais um passo para consolidar a soberania nacional na produção de medicamentos, com a modernização do parque tecnológico da Hemorrede pública do país.

Nesta sexta-feira (28), o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou a entrega de 604 equipamentos de alta tecnologia que, além de qualificar os serviços de hemoterapia, garantirão um aumento inicial de 30% no aproveitamento do plasma, gerando economia de R$ 260 milhões por ano ao governo federal com a redução da necessidade de importação de medicamentos.

O estado da Bahia recebeu 11 novos equipamentos, em um investimento total de R$ 2,2 milhões. Cinco municípios foram beneficiados com os novos serviços: Barreiras, Eunápolis, Feira de Santana, Salvador e Vitória da Conquista.

O plasma é a parte líquida do sangue que, ao ser processada, se transforma em medicamentos essenciais para o cuidado de pacientes com hemofilia, doenças imunológicas, outras condições de saúde e também para cirurgias de grande porte.

“Durante muito tempo, o Brasil não produzia os fatores que derivam do plasma e tínhamos que importar o tempo todo, gerando insegurança para quem tem doenças que dependem dos hemoderivados. Cada vez mais, as imunoglobulinas são utilizadas não só para doenças infecciosas, mas para outros tipos de doenças também — as imunoglobulinas hiperimunes. É um passo muito importante no cuidado à saúde para salvar a vida de tantas pessoas"”, disse o ministro da Saúde.

Alinhada ao programa Agora Tem Especialistas e com investimento de R$ 116 milhões do Novo PAC Saúde, a iniciativa beneficiará 125 serviços de hemoterapia em 22 estados.

Os equipamentos, que já começaram a ser entregues e instalados, devem chegar em sua totalidade até o primeiro trimestre de 2026.

Na Bahia, o diretor da Hemoba, Luiz Catto, comemorou as entregas do Ministério da Saúde. “Os novos equipamentos entregues à Hemoba representam um avanço significativo para a qualidade e a segurança do nosso trabalho. Com essa modernização, ampliamos a capacidade de processamento e preservação do plasma, fortalecendo os serviços na capital e no interior do estado. Esse investimento do Ministério da Saúde reforça nosso compromisso com a excelência na assistência hemoterápica”, destacou Catto.

Em 2024, a Hemoba enviou 8.064 bolsas de plasma para a Hemobrás, já em 2025, o volume subiu para 11.936 bolsas, número que deve aumentar com a modernização e a ampliação da capacidade de armazenamento.

<><> Importância dos equipamentos

A aquisição e a entrega de blast-freezers, de congelamento ultra-rápido (tecnologia avançada com a qual a hemorrede pública ainda não contava); de ultrafreezers, de congelamento rápido; e de freezers aumentam a capacidade de produção e de armazenamento do plasma com qualidade industrial.

Isso significa que, com a ampliação da oferta, a nova fábrica da Hemobrás, inaugurada em 2025, poderá atingir sua plena capacidade de produção de medicamentos estratégicos para o SUS, com o processamento de até 500 mil litros de plasma por ano.

A medida representa um avanço para a rede pública de saúde e para o Brasil, já que reduzirá a dependência de importações, assegurando ainda mais tratamentos e mais vidas salvas.

Ou seja, a iniciativa representa mais cuidado com pessoas que têm, por exemplo, doenças raras, deficiências de coagulação e imunodeficiências congênitas.

<><> Tecnologia garante mais qualidade, segurança e medicamentos nacionais 

Medidas para fortalecer a autossuficiência nacional em hemoderivados vêm sendo tomadas nos últimos três anos.

De 2022 a 2025, a disponibilização de plasma pelas unidades de Hemorrede para a Hemobrás passou de 62,4 mil litros para 242,1 mil litros, um aumento expressivo de 288%.   

Na ocasião, o ministro ressaltou que a Hemobrás é, atualmente, a maior fábrica de hemoderivados da América Latina, criada pelo Ministério da Saúde.

“Para você ter cada vez mais desenvolvimento de novas tecnologias para a imunoglobulina, nós construímos a Hemobrás, que passou a ter soberania nacional. E um dos passos importantes para o funcionamento da Hemobrás — para a gente aumentar a nossa soberania — é guardar bem esse plasma. Esse plasma precisa ser bem acondicionado, de forma rápida, congelado em condições adequadas após o processamento industrial”, afirmou Padilha.

Com os novos equipamentos, essa oferta tende a aumentar, já que os 604 blast freezers, ultrafreezers e freezers asseguram o congelamento do plasma em temperaturas extremamente baixas (–30°C), condição essencial para manter a qualidade das proteínas utilizadas na fabricação de medicamentos.

Eles também permitem armazenar maior volume com segurança e precisão, garantindo que o material chegue à Hemobrás em condições ideais para processamento para, então, se transformar em imunoglobulinas, albumina e fatores de coagulação, por exemplo. 

<><> A importância da doação voluntária de sangue

O anúncio do fortalecimento da Hemorrede pública acontece nesta semana nacional do doador de sangue.

No país, em 2024, mais de 3,3 milhões de bolsas foram coletadas, o que representa 1,6% da população brasileira.  

Atualmente, apenas 13% do plasma coletado no país por meio de doações voluntárias é utilizado em transfusões, o que significa que 87% ainda podem ser destinados à produção de hemoderivados.

*Isso reforça a importância dos novos equipamentos, já que sem plasma adequadamente armazenado, não há matéria-prima suficiente para se produzir medicamentos.*

Em todo o mundo, a demanda por imunoglobulinas e outros hemoderivados vem crescendo, elevando preços e gerando instabilidade no abastecimento internacional.

Durante a pandemia de covid-19, por exemplo, o Brasil enfrentou dificuldades para adquirir imunoglobulina, essencial para o tratamento de múltiplas doenças.

Por isso, ampliar a produção nacional é questão de soberania sanitária. 

*Tecnologia 100% nacional garante triagem mais rápida nas bolsas de sangue*

Na ocasião, o ministro também ressaltou que a Hemorrede Pública Brasileira é uma referência internacional, sendo a única com 100% de aplicação do exame NAT, que detecta precocemente riscos de transmissão.

“A Fiocruz receberá um grande investimento para uma nova fábrica em Santa Cruz, através de uma parceria público-privada, com previsão de investimento de 5 bilhões de reais e potencial para aumentar o PIB do estado do Rio de Janeiro em 1%”, finalizou Alexandre Padilha.

Parte integrante da Hemorrede pública, a Rede de Testes de Ácido Nucleico (Rede NAT) está totalmente implementada nos hemocentros públicos do país desde 2011, garantindo um dos mais altos padrões de segurança transfusional do mundo.

Um dos marcos dessa trajetória é o NAT Plus, kit desenvolvido integralmente por Bio-Manguinhos/Fiocruz, reconhecido internacionalmente como a primeira tecnologia registrada capaz de detectar malária em testes moleculares de triagem de sangue — uma inovação 100% brasileira que salva vidas todos os dias. Além disso, ele detecta HIV, hepatite B e hepatite C.

A Rede NAT utiliza testes moleculares de última geração que identificam vírus antes mesmo da formação de anticorpos, reduzindo significativamente a janela imunológica e aumentando a segurança de doadores e receptores.

Todos os anos, cerca de 3,5 milhões de amostras são analisadas.

•        Ministério da Saúde anuncia mais de R$ 422 milhões do Agora Tem Especialistas para garantir mais atendimentos para o SUS na Bahia

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou mais de R$ 422 milhões que vão custear um pacote de ações do programa Agora Tem Especialistas para o estado da Bahia.

Para aumentar a oferta de atendimentos de saúde de média e alta complexidade no estado, incluindo os oncológicos, ele anunciou a inauguração, em Vitória da Conquista (BA), de um serviço de radioterapia, essencial para o tratamento do câncer no tempo certo; a expansão dos serviços de saúde para as Obras Sociais Irmã Dulce, entidade filantrópica; novas Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) e o investimento de R$ 25 milhões para olaboratório público Bahiafarma. Essas duas últimas iniciativas visam fortalecer a soberania sanitária nacional com a produção de medicamentos para tratamentos oncológicos, doenças raras, degeneração macular, entre outros.

Ao destacar os avanços no cuidado oncológico, o ministro Alexandre Padilha reforçou o papel da Bahia como referência nacional na expansão da assistência ao câncer. “Eu poderia estar em qualquer lugar do Brasil hoje, mas escolhi estar na Bahia porque o presidente Lula reconhece que o governo do estado está realizando a maior transformação do país no cuidado diagnóstico e no tratamento do câncer. Quando a pessoa faz os exames — mesmo sem sentir nada — e recebe um diagnóstico precoce, é possível vencer o câncer”, disse o ministro, em Lauro de Freitas (BA), durante a inauguração do Hospital Estadual Costa dos Coqueiros, o primeiro de transição e longa permanência do país para pacientes que necessitam de cuidados prolongados.  

Na ocasião Padilha afirmou ainda que o governo federal atua em parceria com o governo do estado para abrir novos hospitais e levar o tratamento para o interior da Bahia com médicos especializados, equipamentos modernos e serviços que permitam diagnóstico mais rápido, cirurgia e radioterapia sempre que forem necessários. “Nós vamos erradicar o câncer de colo de útero no Brasil”, afirmou. 

O aumento do custeio dos serviços de saúde especializados vai beneficiar diretamente 26 Policlínicas Regionais de Saúde que atendem a demanda de 416 municípios, além da Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) de Caetité (BA) e de cincohospitais: o Hospital Ortopédico da Bahia (HOEB); o Hospital de Cuidados Paliativos - Monte Serrat; o Hospital Senhor do Bonfim; o Hospital das Clínicas de Alagoinhas (HCA); e o Hospital Estadual Costa dos Coqueiros. Essas unidades de saúde contarão com o incremento de R$ 352,2 milhões do total anunciadoreferente ao incremento do Teto MAC (de média e alta complexidade).

<><> Medidas para fortalecer a soberania sanitária nacional

Com as 24 novas Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) anunciadas por Alexandre Padilha, o Ministério da Saúde chega a 31 PDPs; quatro serão executadas pelo estado da Bahia, que, por meio do laboratório público Bahiafarma, produzirá estes quatro biológicos: Eculizumabe (para doenças raras), Bevacizumabe (degeneração macular e neoplasias), Nivolumab (melanoma avançado e câncer de pulmão) e Pertuzumabe (câncer de mama).

Ao todo, as 31 PDPs contarão com mais de R$ 5,5 bilhões por ano para a compra de vacinas, medicamentos e dispositivos de empresas públicas e privadas no Brasil. 

“Estamos destinando R$ 25 milhões adicionais para obras e equipamentos para a Bahiafarmaproduzir medicamentos modernos para o tratamento do câncer. O paciente do SUS terá a segurança de que vai ter acesso a estes medicamentos para o tratamento do câncer, que serão produzidos nacionalmente aqui, na Bahia. Não teremos mais o risco de não podermos garantir para a população essas medicações por conta de guerras, crise internacional ou por alguma indústria estrangeira que não quiser vendê-los para o Brasil”, concluiu Alexandre Padilha.

Em Salvador (BA), o ministro participou da inauguração do novo prédio de Oncologia do Hospital Aristides Maltez, que irá receber R$ 24 milhões a mais, permanentemente, do Ministério da Saúde para ampliar em mais de 30% a capacidade dos atendimentos oncológicos no estado.  

 

Fonte: Ascom Ministério da Saúde

 

Ângela Carrato: O que a mídia não quer ver na tentativa de fuga de Bolsonaro e na fraude do banco Master

Se o Brasil tivesse mídia corporativa minimamente digna deste nome, era para as manchetes de hoje e do resto da semana abordarem insistentemente dois temas:

— Quem estava por trás da fracassada tentativa de fuga de Jair Bolsonaro, que lhe valeu a mudança de prisão domiciliar para preventiva;

— Os desdobramentos da liquidação extrajudicial do banco Master e da prisão de seu dirigente, Daniel Vorcaro, considerada a maior fraude financeira de todos os tempos no país.

Com o fim do processo no STF, que levou à condenação de Bolsonaro e mais seis integrantes do principal núcleo da tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023, todos eles já vão iniciar o cumprimento de suas penas.

Daí, o importante agora seria a mídia concentrar-se nos detalhes envolvendo esta tentativa de fuga, bem como na possibilidade de Daniel Vorcaro, que teve o pedido de habeas corpus negado, colocar em prática o que prometia: contar “toda a história” do Master, uma delação premiada que vem tirando o sono de muita gente.

Mas a pergunta que não quer calar é: esta mídia quer ir fundo nestes aspectos ou seus interesses são outros?

A mídia sabe que Bolsonaro (não o bolsonarismo) está acabado. A insistência em mantê-lo nas manchetes passa pelo expediente de não deixar que se apague da memória popular o seu nome, até que defina o candidato que terá seu apoio na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2026.

Nenhum dos grandes veículos acredita que Bolsonaro possa ser anistiado, mas manter o assunto em pauta é fundamental para o combate que sempre empreenderam contra a reeleição de Lula.

Quanto ao banco Master, o objetivo é oposto. Apagar, o mais rápido possível, da memória das pessoas, a grossa corrupção perpetrada por este banco, em parceria com o Banco de Brasília (BRB), de propriedade do governo do Distrito Federal. Não por acaso, a mídia prefere tratar o assunto por seu nome técnico: gestão temerária.

Se a mídia corporativa brasileira fosse minimamente digna deste nome, era para estar indo fundo na elucidação de quem auxiliou ou tramou com Bolsonaro o fracassado plano de fuga.

Indícios para tanto não faltam. É quase impossível, por exemplo, ele sozinho ter conseguido queimar a tornozeleira como o fez, sem se queimar, especialmente, como ele disse, tendo alucinações.

Não é estranho uma pessoa, tão doente como alega estar, encontrar-se praticamente sozinho em casa, acompanhado apenas da filha adolescente?

Não é igualmente estranho que uma de suas visitas antes da tentativa de fuga, o deputado federal Nicolas Ferreira (PL-MG), tenha utilizado o telefone celular no recinto, mesmo sendo amplamente sabido que era proibido?

Com quem Nicolas conversou?

Mais estranho ainda é saber que a pouco mais de 200 metros da mansão onde Bolsonaro cumpria prisão domiciliar, existe uma pista para pouso e decolagem de aeronaves. A pista, que tem autorização da ANAC para realizar voos de dia e de noite, pertence à residência do irmão do ex-automobilista e empresário Nelson Piquet. Os leitores mais atentos devem se recordar que foi a Piquet que Bolsonaro confiou a guarda de parte de seu acervo e presentes recebidos durante o mandato.

Vale registrar que Piquet esteve com Bolsonaro em 5 de novembro.

Até uma criança é capaz de ligar os pontos. O “culto religioso” na porta do condomínio onde se localiza a mansão de Bolsonaro serviria para desviar a atenção da polícia, enquanto Bolsonaro tentaria, com a tornozeleira danificada, vencer os 200 metros que o separam da pista de voo.

Sobre esse assunto, nem um pio, com a mídia preferindo concentrar-se na visita (para além de protocolar) da ex-primeira dama, Michelle, ao marido, nas lamúrias dos filhos e na sexta ou sétima versão de Bolsonaro e aliados sobre a tentativa de tirar a tornozeleira.

Tanto espaço para o que não é essencial em relação a Bolsonaro parece talhado sob medida para que a corrupção do banco Master e de seu dono praticamente desaparecesse do noticiário.

E assunto para ser abordado não falta.

O jornal Folha de S. Paulo, na segunda-feira (17), quando Vorcaro foi preso pela Polícia Federal no aeroporto de Guarulhos, prestes a embarcar para a ilha de Malta, publicava como manchete que a instituição havia sido vendida.

O jornal, único a dar a notícia, divulgou, sem qualquer apuração, a versão do banco? Onde ficam a seriedade e a credibilidade jornalísticas?

Uma linha de apuração que deveria estar sendo seguida – mas a mídia foge dela como o diabo da cruz – é a relação entre Daniel Vorcaro, políticos de extrema-direita e bolsonaristas, sendo ele próprio um bolsonarista de primeira hora.

No meio político, as principais conexões de Vorcaro são o presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União-AP), o deputado federal Ciro Nogueira, líder do PP, e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Cada um a seu modo, tem rabo preso com Vorcaro. O chefe do fundo de pensão do Amapá, Jocildo Lemos, indicado por Alcolumbre, ignorou alertas sobre riscos e investiu R$ 100 milhões em títulos do banco Master, o que causou prejuízos a servidores e aposentados.

Já Ciro Nogueira atuou como lobista de Vorcaro e foi um dos principais articuladores junto ao governador do Distrito Federal, nas negociatas para salvar o Master com dinheiro público via compra pelo Banco de Brasília (BRB).

Nogueira é ainda o elo das tramoias de Vorcaro em outra frente: um de seus assessores, Victor Linhares, é investigado na Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal.

A operação liga a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) a um intrincado esquema de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis, que passa por fintechs instaladas na avenida Faria Lima, o coração financeiro da capital paulista.

Ciro Nogueira é um dos principais articuladores da candidatura do governador de São Paulo, o extremista de direita Tarcísio de Freitas, à presidência da República em 2026.

As questões em torno das falcatruas do banco Master deveriam estar colocando em primeiro plano uma figura proeminente do governo Bolsonaro, o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Queridinho da mídia, Campos Neto, atual vice-presidente do conselho de administração e chefe global de Políticas Públicas do Nubank, desde julho de 2025, assumiu o lobby das fintechs e tentou uma manobra após reclamar que essas entidades financeiras, que ganharam força durante o governo Bolsonaro, enfrentavam uma carga financeira maior do que os bancos tradicionais.

A equiparação de bancos com fintechs irritou a Federação Nacional de Bancos (Febraban), que denunciou a jogada para as fintechs pagarem menos. Não seria o caso da mídia ouvir os banqueiros tradicionais sobre esse assunto?

Não seria o caso, também, de questionar os motivos que não levaram Campos Neto a investigar as políticas absurdas levadas a cabo pelo banco Master quando à frente do Banco Central?

Igualmente esquecido pela mídia estão os 18 fundos de pensão de estados e municípios que aplicaram em carteiras do banco Master. Somados, os valores chegam a R$ 1,87 bilhão.

Além do já citado Fundo do Estado do Amapá, investiram no Master entre outros, o fundos do Amazonas, do Rio de Janeiro, e de cidades como Angélica (MS), Aparecida de Goiânia (GO), Araras (SP), Cajamar (SP), Campo Grande (MS) e Congonhas (MG).

Coincidentemente, estes estados e quase todas as cidades são administrados por políticos que integram a base bolsonarista.

Apesar de indícios de farta conexão entre bolsonarismo e corrupção financeira, a mídia corporativa prefere tentar fazer pressão contra o governo Lula. Prova disso são algumas manchetes dos principais jornais brasileiros da terça-feira (25).

O jornal O Globo, por exemplo, destaca no que define como “déficit ampliado”, que “O rombo dos Correios e de mais 12 estatais agrava quadro das contas públicas”.

Sem citar que o maior rombo nas contas públicas brasileiras é o pagamento de R$ 1 trilhão a título de juros da dívida pública, a publicação dá sequência à campanha permanente para tentar inviabilizar que o governo Lula consiga investir em políticas públicas.

Campanha agravada pelo permanente combate da família Marinho a todas as estatais brasileiras.

Já a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo vão direto para o que imaginam possa ser um duro golpe para o governo e respectivamente mancheteiam: “Motta rompe com líder do PT e agrava desgaste de Lula na Câmara” e “Alcolumbre e Motta ampliam crise entre Congresso e governo”.

A mesma Folha que sempre tratou o “coronel” Arthur Lira, ex-presidente da Câmara, com toda a deferência, mantém a postura no que diz respeito ao seu apadrinhado e sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB).

A publicação de Luis Frias se esquece de que Motta é hoje um dos políticos mais odiados do Brasil, identificado com toda a tentativa de blindagem de parlamentares no que se refere a processos e investigações criminais.

Já o Estado de S. Paulo parece apostar no desgaste de Lula e em dificuldades para o Palácio do Planalto conseguir aprovar de agora em diante o que quer que seja, de projetos do interesse público, ao nome de Jorge Messias como ministro do STF.

As duas manchetes lembram muito a cobertura que esses veículos fizeram do período que antecedeu à abertura do golpe, travestido de impeachment, contra a presidente Dilma Rousseff.

Também naquela época, a gota d’agua que desencadeou o processo foi a posição de Dilma ao não ceder às chantagens do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Mais existem diferenças fundamentais entre 2016 e 2025.

Pesquisa de opinião da Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizada entre 19 e 23 de novembro, revela um quadro amplamente negativo sobre o desempenho do Congresso Nacional.

Os dados mostram que grande parte da população vê a atuação de deputados e senadores como entrave para o avanço do país. Para 40,8% dos ouvidos, o Congresso Nacional atrapalha o desenvolvimento do Brasil, superando os 19,8% que acreditam que o parlamento contribui para o avanço do país.

A percepção negativa se repete em outros importantes indicadores: 37% classificam a atuação do Congresso como ruim ou péssima, ao passo que apenas 17% a consideram positiva.

O levantamento também deixa clara a visão predominante de que o Congresso atua motivado por interesses próprios, distantes das necessidades da sociedade. A título de exemplo, apenas 16,4% acreditam que o parlamento defenda os interesses da população.

Some-se a isso se Dilma estava no início de seu segundo mandato e não tinha clareza sobre a real atuação de seus inimigos, Lula sabe exatamente com quem está lidando.

Sabe quais são os inimigos internos e externos da democracia e do desenvolvimento soberano do Brasil.

Seja como for, essa atuação da mídia corporativa não deixa de funcionar como uma prévia do que teremos nas eleições de 2026.

Como sempre, haverá o triste espetáculo de uma mídia golpista, antinacional e trabalhando contra os interesses da maioria da população brasileira.

A boa notícia é que as próximas eleições podem também nos livrar de todo um conjunto de aventureiros, fisiológicos e corruptos há tempos encastelados no Congresso Nacional.

•        Bolsonaro na Papuda faria jus ao caso e seria pedagógico, para ele e toda a nação. Por Tânia Mandarino

A rigor, a condição de ex-presidente da República não garante automaticamente o direito a cela especial.

O benefício de cela especial é tipicamente previsto na legislação apenas durante a fase de prisão preventiva (enquanto o processo está em andamento) para categorias como ministros de Estado, oficiais das forças armadas, magistrados, membros do ministério múblico, advogados, professores e jornalistas (em legislação específica), e não para o réu que já condenado.

Nesse sentido, o condenado passaria a pagar pelo crime que praticou no mesmo presídio que os demais, a não ser que se enquadre em outras prerrogativas legais (ou que haja critérios médicos).

No caso do ex-presidente Fernando Collor, o STF entendeu que a condição de ex-presidente da República garante o cumprimento da pena em ala especial de presídio, com cela individual.

Eu disse “ala especial de presídio, com cela individual” e não superintendência da polícia federal!

Lula, quando era ex-presidente, passou 580 dias preso na superintendência da polícia federal porque estava cumprindo pena após condenação em segunda instância, ou seja, antes do trânsito em julgado de sua condenação.

A prisão de Fernando Collor de Mello, após a determinação do cumprimento imediato da pena (trânsito em julgado) pelo STF, ocorreu em um presídio comum, e não na sede da Polícia Federal.

Ainda que em uma cela especial dentro de uma ala especial da unidade prisional, Collor, após o trânsito em julgado de sua condenação, foi para o Presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió (AL).

Depois saiu, por questões de idade e estado de saúde alegadas pela defesa (apneia do sono, transtorno bipolar e Parkinson inicial).

Bolsonaro, portanto, teria que ter iniciado o cumprimento da pena definitiva em ala especial da Papuda, ainda que em cela individual.

Mantê-lo na superintendência da PF é muita deferência para um traidor da pátria, golpista, que foi o chefe da orcrim que quis abolir o Estado de Direito no Brasil.

As questões de saúde alegadas agora também vejo como muito precoces, uma vez que, até ontem, ele estava tranquilo comendo farofas, leite condensado, cachorros quentes e todo pirilampo em potentes motocicletas e jet ski.

Compará-lo a Lula então, que nem pena definitiva tinha quando passou injustamente 580 dias preso na PF, é uma infâmia falaciosa que deve ser rechaçada por todos nós.

Não é punitivismo, não é vingança! É escrever corretamente a História, por linhas retas!

Bolsonaro na Papuda faria jus ao caso e seria pedagógico, para ele e para toda a nação.

•        Sem líder claro, direita está dividida após prisão de Bolsonaro, diz Economist

Uma reportagem da revista britânica The Economist publicada nesta sexta-feira (28/11) afirma que a direita brasileira está dividida após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, e que não surgiu ainda um líder claro para ser o candidato à eleição presidencial de 2026.

"A menos de um ano das eleições, a direita brasileira não tem um líder claro. As disputas internas entre os potenciais candidatos estão aumentando", afirma a Economist.

A reportagem cita como possíveis candidatos os governadores Tarcísio de Freitas (de São Paulo), Ronaldo Caiado (de Goiás) e Romeu Zema (de Minas Gerais), além de Eduardo e Flávio Bolsonaro.

A revista afirma que há alguns meses "o cenário era bastante diferente", com queda da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, devido ao aumento do preço dos alimentos e da pouca presença da esquerda nas mídias sociais. Nesse momento, a direita parecia estar em vantagem.

"Em muitos aspectos, a própria família de Bolsonaro é culpada pela mudança na sorte da direita", afirma a reportagem, citando o que chama de lobby de Eduardo Bolsonaro junto aos republicanos contra o julgamento de seu pai.

A resposta americana veio na forma de um tarifaço do governo de Donald Trump contra produtos brasileiros.

"Enquanto Lula chamava a família Bolsonaro de 'traidores da pátria', os ambiciosos candidatos de direita se viram em uma situação delicada. Tentando se dissociar das impopulares tarifas, eles também queriam demonstrar apoio a Bolsonaro: qualquer candidato de direita precisa de sua bênção para ser competitivo nas eleições", afirma a revista.

A Economist pontua que, com as negociações entre Trump e Lula e anúncios de recuos no tarifaço, a direita entrou em uma disputa interna envolvendo a família Bolsonaro e outros candidatos, enquanto o governo Lula "recuperou sua confiança", aprovando medidas populares como o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda.

A revista afirma que a direita "está perdendo o debate sobre soberania, tarifas e impostos", e por isso agora "está atacando o ponto fraco de Lula: a segurança" — citando a ação policial no Rio de Janeiro contra traficantes em outubro.

"Muita coisa ainda pode dar errado para Lula. A maioria dos brasileiros acha que o político de 80 anos não deveria se candidatar novamente. Sua reforma do imposto de renda pode aumentar a inflação ao impulsionar o consumo", afirma a revista.

"Mas, por ora, o maior beneficiário do legado caótico de Bolsonaro é Lula."

 

Fonte:Viomundo/BBC News Brasil