sexta-feira, 11 de julho de 2025

SUS oferecerá DIU hormonal e desogrestrel para tratar endometriose

Mulheres com endometriose terão duas novas opções de tratamento de base hormonal para a doença via Sistema Único de Saúde (SUS): o dispositivo intrauterino liberador de levonogestrel (DIU-LNG) e o desogestrel. Ambos foram recentemente incorporados à rede pública depois de receberem recomendação favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).

Em nota, o Ministério da Saúde detalhou que o DIU-LNG suprime o crescimento do tecido endometrial fora do útero e figura como uma opção para mulheres com contraindicação ao uso de contraceptivos orais combinados. “A nova tecnologia pode melhorar a qualidade de vida das pacientes, uma vez que sua troca só é requerida a cada cinco anos, o que contribui para aumentar a adesão ao tratamento.”

Já o desogestrel, segundo a pasta, pode reduzir a dor e dificulta a progressão da doença. Trata-se de um anticoncepcional hormonal que age bloqueando a atividade hormonal, impedindo o crescimento do endométrio fora do útero, e que poderá ser usado como primeira linha de tratamento, ou seja, prescrito já na avaliação clínica até que o diagnóstico se confirme por meio de exames.

“Vale destacar que, para estarem disponíveis na rede pública de saúde, é necessário o cumprimento de etapas necessárias, como a atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Endometriose”, informou o ministério no comunicado.

<><> Entenda

A endometriose é uma condição ginecológica inflamatória crônica que ocasiona o crescimento do tecido que reveste o útero fora da cavidade uterina. Nas mulheres com a doença, o tecido semelhante ao endométrio (que reveste o útero) cresce fora do útero em órgãos como ovários, intestino e bexiga, o que causa reações inflamatórias.

Cólica menstrual intensa, dor pélvica crônica, dor durante a relação sexual, infertilidade e queixas intestinais e urinárias com padrão cíclico estão entre os principais sintomas da endometriose.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a condição afeta cerca de 10% das mulheres e meninas em idade reprodutiva em todo o mundo, representando mais de 190 milhões de pessoas.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam aumento de 30% na assistência relacionada ao diagnóstico da endometriose na atenção primária na comparação entre 2022 (115,1 mil atendimentos) e 2024 (144,9 mil). Ao longo dos dois últimos anos (2023 e 2024), foram registrados, segundo a pasta, mais de 260 mil atendimentos.

Já na atenção especializada, o SUS registrou aumento de 70% no número de atendimentos por endometriose, passando de 31.729 em 2022 para 53.793 em 2024. Nos dois últimos anos, foram contabilizados 85,5 mil atendimentos.

Também houve um aumento de 32% nas internações pela doença, que passaram de 14.795 em 2022 para 19.554 em 2024. No mesmo período (2023 e 2024), o total foi de 34,3 mil internações.

•        Adenomiose: o que é, sintomas, tratamentos e como impacta na fertilidade

Muito confundida com a endometriose, a adenomiose é uma doeça em que há um crescimento anormal do tecido do endométrio dentro da parede do útero. É uma condição que atinge muitas mulheres, especialmente entre os 30 e 40 anos.

Apesar de ser considerada uma doença benigna, pode causar sintomas importantes como sangramento menstrual intenso, dores pélvicas e dificuldade para engravidar.

A identificação da adenomiose evoluiu nos últimos anos graças a exames de imagem mais precisos, como a ultrassonografia transvaginal com preparo e a ressonância magnética. Ainda assim, o diagnóstico definitivo, em alguns casos, só é possível após a retirada do útero, o que torna fundamental a realização de uma avaliação clínica cuidadosa, especialmente em mulheres que desejam preservar a fertilidade.

Além do desconforto físico e emocional gerado pelos sintomas, a adenomiose representa um desafio para a reprodução. Embora o diagnóstico não signifique necessariamente a impossibilidade de engravidar, a doença reduz significativamente as chances de gestação espontânea, principalmente em suas formas mais graves.

<><> O que é a adenomiose e seus sintomas

A adenomiose é uma doença estrogênio-sensível, ou seja, seus sintomas e progressão dependem dos níveis do hormônio estrogênio no corpo. A ginecologista Iana Carruego, da Clínica Elsimar Coutinho em São Paulo, explica que a condição se diferencia de outras doenças uterinas por afetar a parede muscular do útero, onde o tecido endometrial se infiltra.

Roberto de Azevedo Antunes, diretor da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), destaca que, em condições normais, o endométrio reveste apenas o interior da cavidade uterina. Quando esse tecido invade a parede muscular, caracteriza-se a adenomiose, o que pode resultar em dor pélvica, distorções na anatomia uterina e infertilidade. A endometriose, por sua vez, é o crescimento do tecido do endométrio em outras regiões do abdômen, como intestino, bexiga e ovários.

Entre os principais sintomas estão:

•        aumento do fluxo menstrual;

•        sangramentos fora do período esperado;

•        anemia, que leva a cansaço extremo, queda capilar e dificuldade de concentração

<><> Fatores de risco e diagnóstico precoce

A adenomiose costuma ser diagnosticada entre os 30 e 40 anos, mas está sendo cada vez mais reconhecida em mulheres mais jovens, graças ao avanço dos exames de imagem. Entre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença estão a menarca precoce (primeira menstruação mais cedo do que o esperado), obesidade, histórico de endometriose e cirurgias uterinas prévias.

Há também indícios de que dietas inflamatórias, tabagismo e consumo excessivo de álcool possam aumentar o risco de adenomiose, embora mais estudos sejam necessários para confirmar essas associações. Malformações uterinas também podem predispor ao surgimento da condição.

O diagnóstico pode ser feito com uso de exames de imagem como ultrassom transvaginal com preparo intestinal, ressonância magnética e histeroscopia com biópsia.

A ressonância é hoje o exame mais sensível para identificar a adenomiose. O diagnóstico precoce permite não só um melhor manejo dos sintomas, mas também possibilita o planejamento reprodutivo, seja antecipando a gestação ou preservando óvulos enquanto a reserva ovariana ainda é adequada.

<><> Como a adenomiose afeta a fertilidade

Segundo Antunes, a adenomiose impacta a fertilidade de maneira complexa, principalmente por promover um ambiente inflamatório no útero e alterar a expressão de moléculas essenciais para a implantação embrionária. Além disso, as distorções da "arquitetura" do útero causadas pela doença dificultam a fixação do embrião no endométrio.

Mesmo quando a gravidez ocorre, há risco aumentado de complicações como abortamentos espontâneos, partos prematuros, hipertensão gestacional e bebês com baixo peso. Estima-se que até 60% das mulheres com adenomiose também apresentem endometriose, o que pode agravar ainda mais a dificuldade de concepção.

Carruego complementa que, em casos em que a adenomiose gera nódulos que comprometem a anidação do embrião, pode ser necessária a cirurgia para retirada dessas lesões, preservando a estrutura do útero. Técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro, também são alternativas em casos mais desafiadores.

<><> Tratamento e qualidade de vida

O tratamento da adenomiose depende da gravidade dos sintomas e do desejo da paciente de ter filhos. “Os hormonais são a primeira linha de tratamento, buscando melhorar a qualidade do endométrio”, explica Carruego. Pílulas anticoncepcionais combinadas, progestágenos isolados e dispositivos intrauterinos hormonais estão entre as opções.

No entanto, medicamentos que controlam a doença tendem a suprimir a ovulação, dificultando a gravidez espontânea. Em casos específicos, como em presença de adenomiomas (nódulos únicos), a cirurgia conservadora pode ser uma alternativa para restaurar a fertilidade.

Antunes reforça que cada caso deve ser avaliado individualmente. “É fundamental uma análise completa do casal, da reserva ovariana e do planejamento familiar antes de definir o tratamento”, conclui.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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