Ninguém
desafia Trump como o presidente do Brasil, diz NYT sobre entrevista histórica
com Lula
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi apontado
pelo The New York Times como o principal líder na resistência
às investidas autoritárias de Donald Trump. Em uma entrevista histórica feita com o
mandatário – a primeira após 13 anos – publicada nesta quarta-feira
(30), o jornal norte-americano destacou na matéria que "talvez não
haja líder mundial desafiando o ex-presidente Trump com tanta firmeza quanto
Lula".
A
reportagem, assinada pelo correspondente Jack Nicas, ressalta os efeitos da
postura combativa do presidente brasileiro diante das ameaças à
democracia, à economia e à soberania brasileira, e vai mais longe: define Lula
como "um esquerdista em seu terceiro mandato que é indiscutivelmente
o estadista latino-americano mais importante deste século". A
entrevista foi realizada no Palácio da Alvorada, em Brasília. Segundo o NYT, o
principal objetivo do presidente brasileiro é mandar um recado claro à
população norte-americana e à comunidade internacional.
“Em
nenhum momento o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um
país grande. Nós conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos
o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos o tamanho tecnológico dos
Estados Unidos. Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados”,
declarou.
“Estamos
tratando isso com máxima seriedade. Mas seriedade não significa submissão”,
disse Lula ao NYT. “Quero ser tratado com respeito”
“O
Estado democrático de direito para nós é algo sagrado [...] Porque já vivemos
ditaduras, e não queremos mais isso”
Em
discursos recentes e publicações nas redes sociais, Lula tem rebatido
declarações de Trump e reforçado o compromisso do Brasil com o Estado
Democrático de Direito, fato que tem resultado em pesquisas positivas no seu
mandato e ao mesmo tempo um racha profundo na extrema direita e no próprio
bolsonarismo, que segue defendendo o viralatismo aos EUA, o falso patriotismo e
criticando o julgamento por tentativa de golpe do Supremo Tribunal Federal
(STF), como mostra essa reportagem da Fórum.
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Trump e caso Bolsonaro como "moeda de troca"
O
estopim da crise foi o anúncio de Trump de que pretende impor tarifas de 50%
sobre produtos brasileiros. A justificativa, segundo ele, está relacionada ao
processo criminal que o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta no Brasil por
tentativa de golpe de Estado, após a derrota nas eleições de 2022. Trump
classificou o caso como “caça às bruxas” e chegou a pedir que Lula encerrasse o
processo, pedido que foi rechaçado com firmeza pelo presidente brasileiro ao
NYT. “Talvez ele não saiba que, aqui no Brasil, o Judiciário é independente”,
afirmou.
Lula
também considerou "vergonhoso" o fato de as
ameaças comerciais terem sido feitas por Trump através da rede social Truth
Social,
e não por meios diplomáticos:
“Quando
você tem um desacordo comercial ou político, você liga, marca uma reunião e
tenta resolver. O que você não faz é taxar e dar ultimato.”
O
presidente brasileiro afirmou estar estudando a adoção de tarifas retaliatórias
sobre exportações norte-americanas, caso os EUA avancem com as ameaças. Ele
destacou que quem mais vai sofrer com as medidas serão os próprios consumidores
norte-americanos, que enfrentariam aumento de preços em itens como café, carne
bovina e suco de laranja, produtos amplamente importados do Brasil.
“Nem
o povo americano nem o povo brasileiro merecem isso. Estaremos trocando uma
relação diplomática de 201 anos, de ganha-ganha, por uma relação política de
perde-perde”
A Casa
Branca, até o momento, não se pronunciou oficialmente sobre a
entrevista. No entanto, o presidente dos Estados Unidos voltou nesta
quarta (30) a fazer publicações de tom intimidador, como quem está em um surto.
Através de sua rede Truth Social, o mandatário reafirmou, em uma
sequência de postagens com letras garrafais e viés ufanista, que não haverá
adiamento na aplicação das sobretaxas a produtos de diversos países do mundo,
incluindo o Brasil. Leia aqui.
O
secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, declarou que alguns
produtos, como o café, podem ser isentados das tarifas, reconhecendo sua
importância no mercado interno norte-americano. A reportagem do New
York Times também diz que Lula e Trump jamais conversaram diretamente,
mas que Lula tenta abrir canais de diálogo, sem sucesso. “O que impede o
diálogo é que ninguém quer conversar”, afirmou.
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NYT resgata entrevista em que Bolsonaro sugeriu intervenção dos EUA
O
jornal americano ainda lembra que em janeiro Jair Bolsonaro concedeu entrevista
ao NYT, onde afirmou que depositava suas esperanças em uma intervenção de
Donald Trump para evitar processos no Brasil — uma declaração que, à
época, soou "irrealista", escreve Nicas.
O
periódico ainda completa e cita Eduardo Bolsonaro, deputado federal
autolicenciado e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o responsável
por "intensificar esforços do lobby para que os Estados
Unidos ampliquem sanções ao ministro Alexandre de Moraes com base no
Lei Magnitsky", legislação que permite punir estrangeiros acusados de
violar direitos humanos. A medida, caso avance, representaria
uma "escalada grave" do caso, completa.
Quando
Donald Trump foi entrevistado pelo NYT afirmou enxergar no julgamento criminal
de Jair Bolsonaro "um reflexo direto de sua própria batalha judicial
nos Estados Unidos". Na época, o presidente americano traçou
paralelos entre os dois, destacando semelhanças políticas e comportamentais:
ambos perderam suas respectivas reeleições, se recusaram a reconhecer a derrota
e estimularam ações que culminaram na invasão das sedes dos poderes
legislativos.
Na
edição publicada nesta quarta (30), o jornal americano relembrou essa
entrevista e destacou: "A grande diferença é que, quatro anos depois,
Sr. Trump voltou ao poder, enquanto o Sr. Bolsonaro agora enfrenta
prisão".
Políticos,
especialistas e cientistas políticos destacam que a postura combaitva do
presidente Lula frente à Trump é essencial para que o Brasil não se rebaixe às
investidas autoritárias americanas, como vem ocorrendo com outros países e até
mesmo União Europeia.
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Tarifas pesam, mas desunião global pesa mais na vida das
famílias. Por Washington Araújo
As
tarifas comerciais de Donald Trump, anunciadas em fevereiro de 2025, abalam a
economia global, aplicadas entre março e maio de 2025.
Madagascar,
México, Brasil, Estados Unidos e França, com PIBs de US$ 16 bilhões a US$ 28
trilhões, sentem impactos em julho de 2025.
Vejamos
como cinco famílias enfrentam preços elevados e sonhos ameaçados.
A
segurança alimentar, com 690 milhões em risco de fome (FAO, 2024), e a
soberania nacional estão sob pressão.
Nações
pobres como Madagascar sofrem mais; países dependentes como o México perdem
autonomia.
Educação,
saúde, indústria e agricultura enfrentam desafios, minando a visão de uma
humanidade unida.
Escolhas
sábias dos líderes podem restaurar a cooperação global, mantendo viva a
esperança de equidade.
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Madagascar: a injustiça contra os vulneráveis
Economia:
PIB nominal de US$ 16 bilhões (2025). IDH: 0,510 (baixo). Renda per capita: US$
550. População: 31 milhões.
Tarifas
de 47% sobre exportações, efetivadas em março de 2025, atingem os Rakoto em
julho de 2025.
Ravo,
agricultora em Andasibe, vê custos de fertilizantes dobrarem, elevando o arroz,
base de 70% da dieta malgaxe, em 30% (Banco Mundial, 2025).
Com
75,2% na pobreza (US$ 2,15/dia, 2022) e inflação de 7,5% (FMI, 2025), a
segurança alimentar de Jean, 8 anos, está em risco.
A
exportação de baunilha, 80% do mercado global, caiu 15% em receita, com déficit
comercial de 4% do PIB.
“Por
que nós pagamos o preço dos ricos?”, pergunta Ravo a Andry.
“Essas
tarifas alargam o abismo”, responde ele.
Programas
de combate à pobreza podem colapsar, e a soberania vacila.
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México: a dependência que sufoca sonhos
Economia:
PIB nominal de US$ 1,5 trilhão (2025). IDH: 0,758 (alto). Renda per capita: US$
11.500. População: 132 milhões.
Tarifas
de 25% sobre produtos mexicanos, aplicadas em fevereiro de 2025, impactam os
López em julho de 2025.
Com 80%
das exportações para os EUA (37% do PIB, FMI, 2024), Miguel, operário em Ciudad
Juárez, enfrenta cortes salariais de 15% nas maquiladoras.
O
diesel importado encarece passagens de ônibus em 20%, consumindo um terço da
renda.
Lupita,
16 anos, pode abandonar o curso técnico; Carmen, diabética, adia consultas, com
12% sem acesso à saúde (Banco Mundial, 2023).
“Sonhávamos
com um mundo unido”, diz Lupita.
“Os EUA
controlam nosso destino”, retruca Miguel.
O
déficit fiscal de 4% do PIB ameaça a autonomia mexicana.
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Brasil: sonhos acadêmicos em suspenso
Economia:
PIB nominal de US$ 2,2 trilhões (2025). IDH: 0,754 (alto). Renda per capita:
US$ 10.200. População: 216 milhões.
Tarifas
sobre aço e soja, aplicadas em abril de 2025, atingem os Silva em Sinop em
julho de 2025.
Carlos,
de uma cooperativa, teme demissões, com os EUA absorvendo 40% da soja (FMI,
2024).
Fertilizantes
subiram 25%, impactando milho e soja; carne e feijão encareceram 15%, com
inflação de 5,3% (Banco Central, 2025).
Joana
vê escolas sem laboratórios. Mariana, 14 anos, sonha ser agrônoma, mas Lucas e
Beatriz perdem seminários sobre interdependência global.
“Falavam
de um mundo como um só país”, diz Beatriz.
“Essas
tarifas nos dividem”, responde Joana.
O Bolsa
Família não contém a inflação, ameaçando soberania econômica.
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Estados Unidos: a crise do cotidiano
Economia:
PIB nominal de US$ 28 trilhões (2025). IDH: 0,921 (muito alto). Renda per
capita: US$ 81.000. População: 345 milhões.
Tarifas
sobre alumínio, aço brasileiro e suco de laranja, aplicadas em março de 2025,
atingem os Johnson em julho de 2025.
Mark,
engenheiro em Detroit, teme demissões, com o aço brasileiro, 10% das
importações, 30% mais caro (Departamento de Comércio, 2024).
Sarah
enfrenta suco de laranja 40% mais caro, hambúrgueres com alta de 20%, e
inflação de 3,5% (FMI, 2025).
Emily,
10 anos, vê o café da manhã virar luxo.
“Sonhávamos
com um mundo unido”, diz Mark.
“Essas
tarifas nos isolam”, retruca Sarah.
A
indústria automotiva sofre, e a soberania interna está em risco.
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França: a herança agrícola ameaçada
Economia:
PIB nominal de US$ 3,2 trilhões (2025). IDH: 0,903 (muito alto). Renda per
capita: US$ 49.000. População: 68 milhões.
Tarifas
retaliatórias da UE sobre vinhos, aplicadas em maio de 2025, impactam os Dubois
em julho de 2025.
Pierre
e Claire, viticultores na Provença, preveem perdas no mercado americano, que
absorve 30% das exportações de vinho, gerando €14 bilhões anuais (Eurostat,
2024).
Insumos
subiram 20%, e o preço do vinho caiu 10%. Sophie, 18 anos, pode abandonar a
enologia.
“Pensávamos
num mundo que valorizava nossa cultura”, diz Pierre.
“Cada
nação puxa para si”, lamenta Claire.
O
agronegócio, 7% do PIB, e a soberania cultural estão em risco.
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Um futuro de escolhas e resiliência
Ravo,
Miguel, Carlos, Mark e Claire enfrentam desafios, mas mantêm a fé.
“Passamos
por crises”, diz Ravo. “O futuro será justo, se lutarmos”.
Eles
acreditam na humanidade unificada, inclusiva e multilateral.
Madagascar
sonha com equidade, com 75,2% na pobreza.
O
México busca autonomia, com 80% das exportações atreladas aos EUA.
O
Brasil almeja educação, com 20,9% de pobreza (IBGE, 2024).
Os EUA
anseiam por estabilidade, com inflação de 3,5%.
A
França quer preservar sua herança, com €14 bilhões em exportações de vinho.
Esse
destino repousa nas decisões dos líderes, que podem abraçar a cooperação,
fortalecer a segurança alimentar e combater desigualdades.
Se
agirem com coragem, o ideal de um mundo unido seguirá vivo, sustentado pela
tenacidade dessas famílias.
Como
ensina Eduardo Galeano, “a utopia está no horizonte: caminho dois passos, ela
se afasta dois passos, mas me faz caminhar”.
Fonte:
Fórum

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