quinta-feira, 31 de julho de 2025

Guerra tarifária de Trump: trunfo flexível ou risco global?

A preferência do presidente americano Donald Trump por tarifas em vez de sanções tem sido descrita tanto como a "pior aposta do mundo" quanto "uma poderosa e comprovada fonte de influência" para proteger os interesses nacionais dos Estados Unidos.

Desde seu retorno à Casa Branca em janeiro, as ameaças tarifárias de Trump contra dezenas de países criaram grande incerteza entre empresas americanas e parceiros comerciais globais.

As promessas de sobretaxas elevadas sobre produtos estrangeiros, seguidas de reviravoltas abruptas, parecem servir aos objetivos políticos ou econômicos mutáveis de Trump. No entanto, os mercados financeiros permanecem tensos, sem saber o que pode sair da manga do presidente.

tarifa sobre a China, maior rival econômico e militar dos EUA, atingiu níveis históricos em abril, disparando para 145% antes de ser significativamente reduzida no mês seguinte após negociações comerciais em Londres.

O aumento repentino e a posterior reversão das tarifas mostram como Trump as utiliza de forma flexível para corrigir o que considera ser um comércio injusto, com base em disputas comerciais passadas.

"O que molda a visão do presidente é a ascensão rápida do Japão nos anos 1980, e a sensação de que os japoneses estavam superando a icônica indústria automobilística americana porque os EUA foram generosos demais em seus termos comerciais", explica Jennifer Burns, professora associada de história na Universidade de Stanford.

<><> Por que Trump prefere tarifas em vez de sanções

As tarifas têm sido o principal recurso de Trump para lidar com o enorme déficit comercial dos EUA, especialmente com a China, que somou 295 bilhões de dólares (R$ 1,4 trilhão) em 2024, segundo o Censo americano. Elas também se alinham à sua agenda America First (EUA em primeiro lugar), de proteção às indústrias locais e estímulo à criação de empregos no país.

A Casa Branca defendeu a abordagem do presidente, insistindo que as tarifas podem ser rapidamente implementadas e, ao contrário das sanções, não fecham completamente os mercados estrangeiros às empresas americanas.

"[Trump] pode colocar essa pressão quando quiser e depois recuar quando os mercados começarem a entrar em pânico ou quando isso deixar de servir ao seu propósito", disse à DW Sophia Busch, diretora associada do Centro Geoeconômico do think tank Atlantic Council. "Isso é muito mais fácil com tarifas do que com sanções."

Embora amplamente criticadas por seu potencial de alimentar a inflação, as tarifas geram receita para o Tesouro americano, ao contrário das sanções. A arrecadação de tarifas nos EUA subiu 110%, chegando a 97,3 bilhões de dólares (R$ 544,7 bilhões) no primeiro semestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Espera-se que esse valor chegue a 360 bilhões de dólares (R$ 2 trilhões) no próximo ano, segundo o Urban-Brookings Tax Policy Center, um centro de estudos sobre políticas tributárias dos EUA.

<><> Flexíveis e fáceis de implementar

As tarifas dão a Trump controle direto e unilateral, por meio de ordens executivas, sem necessidade de aprovação do Congresso americano. As sanções, por outro lado, geralmente demandam arranjos legais complexos e cooperações internacionais, como com a União Europeia.

A aposta em tarifas reflete o objetivo de Trump de obter vantagem econômica rápida e visível, mas levanta preocupações quanto aos efeitos desestabilizadores de tais políticas sobre o comércio global e a paz.

"A razão pela qual [as tarifas] têm uma reputação tão ruim é porque estão associadas a episódios de desglobalização e, no século 20, foram ligadas a conflitos armados", disse Burns. "Se tarifas baixas e mercados abertos conectam os países de maneira a evitar conflitos armados, será que estamos nos afastando disso?”

<><> Confusão entre tarifas e sanções

As decisões de Trump em seu segundo mandato sugerem o uso de tarifas para alcançar objetivos tipicamente associados a sanções, como pressionar países como Canadá, México e China em questões não comerciais, como imigração e tráfico de drogas. As tarifas anunciadas provocaram medidas retaliatórias ou ameaças, intensificando as tensões no comércio global.

De forma semelhante, a Colômbia foi ameaçada com tarifas após rejeitar voos de deportação dos EUA, enquanto tarifas contra a União Europeia foram anunciadas como resposta às regulamentações europeias sobre privacidade e clima.

No início deste mês, Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre importações do Brasil – justificada, entre outros motivos, como retaliação ao que o americano chama de "perseguição" judicial contra Jair Bolsonaro, seu aliado próximo. O ex-presidente enfrenta julgamento sob a acusação de planejar um golpe para reverter sua derrota nas eleições de 2022, incluindo planos de assassinar rivais políticos.

<><> Sanções secundárias

Governos anteriores preferiram sanções em vez de tarifas como ferramenta de barganha com países considerados "fora da linha".

Desde que Moscou lançou sua invasão em larga escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, os EUA impuseram mais de 2,5 mil sanções à Rússia, atingindo indivíduos, entidades, transporte marítimo e aeronaves. Venezuela, Irã e Coreia do Norte também foram alvos de sanções. "Essas economias não são parceiras comerciais cruciais para os EUA", disse Busch, do Atlantic Council. Ela pontua que as tarifas de Trump sobre os principais parceiros comerciais dos EUA representam, sobretudo, "uma ameaça econômica mais doméstica".

O líder americano tem demonstrado nos últimos dias maior abertura ao uso de sanções. Referindo-se a um projeto de lei proposto pelo senador Lindsey Graham para penalidades adicionais contra Moscou caso não negocie de boa-fé um acordo de paz com Kiev, ele disse estar "considerando muito seriamente" novas sanções.

Se aprovada, a Lei de Sanções à Rússia de 2025 vai mirar autoridades e oligarcas russos, instituições financeiras e o setor de energia, com o objetivo de restringir a capacidade da Rússia de exportar petróleo e gás. O projeto, que conta com apoio de republicanos e democratas, também propõe "tarifas secundárias" de até 500% a países e empresas estrangeiras que importarem energia russa.

Tarifas semelhantes de 25% sobre compradores de petróleo venezuelano, que entraram em vigor em março, também foram criadas para pressionar importadores de energia a se alinharem à política externa dos EUA — um intento que, em outros tempos, seria buscado por meio de sanções.

Sanções secundárias geralmente incluem bloqueio de indivíduos e entidades, congelamento de ativos e restrições bancárias. A ameaça de acusações criminais nos EUA e proibição de viagens também é comumente usada. "As sanções têm mais a ver com punir países por violarem normas internacionais", disse Burns à DW. "Elas são uma resposta a ações específicas e, se essas ações cessarem, as sanções podem ser revertidas." Ao observar como a incerteza em torno da política tarifária de Trump deixou empresas americanas e parceiros comerciais globais atônitos, Burns alertou que "anos de incerteza tarifária" podem causar uma "séria desaceleração econômica, à medida que empresas e investidores aguardam um cenário mais previsível".

¨      Mais tarifas, gastos militares e compras de energia: as chaves para a rendição da UE a Trump

Ursula von der Leyen assina um acordo na Escócia que, pela primeira vez, aumenta os custos comerciais e que parecia inaceitável há apenas algumas semanas. Trump aumenta as tarifas para 15% e garante o compromisso da UE de investir US$ 750 bilhões em energia nos EUA nos próximos três anos, além de investir substancialmente mais na indústria de armamentos. Com os detalhes do acordo comercial assinado por Donald Trump e Ursula von der Leyen ainda não revelados, o pacto revela a rendição da União Europeia aos excessos do inquilino da Casa Branca, tanto em substância quanto em forma. O presidente da Comissão Europeia concordou em viajar para o campo de golfe escocês onde o magnata estava passando alguns dias de lazer privado para finalizar o acordo. Os detalhes haviam sido delineados nos últimos dias, e a viagem ocorreu justamente quando o prazo de 1º de agosto, estabelecido por Trump para evitar sua mais recente ameaça, estava se esgotando: uma tarifa genérica de 30% que Bruxelas havia descrito como "proibitiva". Àquela altura, países como a Alemanha já haviam deixado claro que estavam dispostos a fazer praticamente qualquer coisa para chegar a um acordo.

E, no final, Trump conseguiu o que queria. Pela primeira vez em décadas, conseguiu selar acordos comerciais que, na prática, significaram transações mais caras. No entanto, apenas em uma direção. A UE também se comprometeu a aumentar substancialmente suas importações daquele país, que se queixava da existência de um déficit comercial muito abaixo das promessas feitas por von der Leyen. A UE se contentou com o menor dos dois males.

<><> Tarifas de 15% sobre as exportações da UE

O grande destaque do acordo é que as exportações da UE para os EUA terão um imposto de 15% em todos os níveis. Esta é uma grande vitória para Trump, que conseguiu que a UE aceitasse esse valor, inicialmente inaceitável e que, na verdade, já vinha aplicando há alguns meses. A UE havia afirmado anteriormente que essas taxas eram injustas, desproporcionais e ilegais. No entanto, agora as aceita. De fato, antes do início da reunião, à margem do campo de golfe, Von der Leyen reconheceu que havia um desequilíbrio nas relações comerciais que estava prejudicando os EUA.

No entanto, a UE estimou esse valor em € 236 bilhões, que cai para € 50 bilhões se os serviços forem incluídos — de um total de transações de aproximadamente € 1,5 trilhão — e prometeu ajustá-lo aumentando algumas importações, ao mesmo tempo em que defende a introdução de tarifas zero por zero sobre veículos e produtos não industriais. "Eles concordaram em abrir seus países ao comércio com tarifa zero. Esse é um fator muito importante. Ao abrir seus países, todos estarão abertos ao comércio com tarifa zero com os Estados Unidos", gabou-se Trump sobre os 27 membros da UE.

<><> Salvar as indústrias europeias?

Falando a repórteres após a reunião, Von der Leyen se referiu a "tarifas zero sobre uma série de produtos estratégicos", incluindo aeronaves e seus componentes (especialmente importantes para empresas como Airbus e Boeing), "certos produtos químicos, certos medicamentos genéricos, equipamentos semicondutores, certos produtos agrícolas, recursos naturais e matérias-primas essenciais". E ele enfatizou que a "tarifa única de 15%" imposta pelos EUA se aplicará à maioria dos setores, "incluindo automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos". A justificativa é, em grande parte, que isso proporciona segurança para as empresas em tempos "turbulentos". E por que ela está vendendo isso como uma vitória se representa um aumento exponencial em relação ao que estava em vigor antes de Trump? Porque Von der Leyen está "trapaceando" ao comparar esse valor com o que tem sido aplicado desde que o presidente dos EUA desencadeou a guerra comercial, que no caso de veículos foi um acréscimo de 25% em relação aos 2,5% anteriores. Portanto, ela considera isso uma redução. "Não devemos subestimar 15%, mas é o máximo que podemos alcançar", admitiu. O mesmo se aplica à ameaça que paira sobre os setores de semicondutores e farmacêutico, cruciais para países como Holanda e Irlanda.

<><> Redução de tarifas pagas pelos EUA

Além de assumir mais tarifas dos EUA, a UE se comprometeu a reduzir algumas das tarifas impostas pelo bloco, como a tarifa de 2,5% sobre veículos daquele país. Assim, as importações terão tarifa de 0%, enquanto as exportações terão tarifa de 15%. A UE também eliminará as tarifas que atualmente impõe a alguns produtos agrícolas, como nozes, que não estarão mais sujeitas a tarifas; lagosta e outros peixes, bem como queijo e alguns laticínios. Alimentos para animais de estimação também serão incluídos. A lista final será publicada juntamente com a declaração conjunta do acordo entre os dois blocos, segundo fontes da UE, que estimam que 70 bilhões de euros terão tarifas zero.

<><> A UE ajoelha-se após a cimeira da NATO

Há apenas um mês, ficou claro na cúpula de Haia que os membros da OTAN estavam sucumbindo à pressão de Trump — que chegou à Casa Branca ameaçando destruir a aliança — ao aceitar uma nova meta de gastos militares de 5% do PIB. Muitos países europeus, incluindo a Alemanha, reconheceram que esse era um limite incompatível com as finanças públicas, mas o mantiveram, com exceção de Pedro Sánchez, que afirmou que a Espanha cumpriria seus compromissos com a OTAN sem atingir esse valor. Agora, Trump está conseguindo que a UE se comprometa a alocar parte desses gastos à indústria de armamentos dos EUA. "Eles concordaram em comprar muito equipamento militar. Não sabemos qual é esse valor, mas a boa notícia é que fabricamos o melhor equipamento militar do mundo", reconheceu o presidente americano, que vinculou a iniciativa à OTAN e, de fato, admitiu que não há muitas diferenças entre a UE e o que a aliança representa como um todo.

<><> A ameaça como novo manual diplomático no mundo

O acordo com Trump ocorre após ele ter publicado uma carta nas redes sociais há 20 dias para Ursula von der Leyen, informando-a de que estava impondo uma tarifa de 30% sobre produtos europeus. A decisão veio na esteira do famoso Dia da Independência dos EUA, 2 de abril, quando ele anunciou tarifas para o mundo inteiro. O presidente dos EUA fez um jogo de ameaças com seus parceiros europeus e saiu vitorioso. Trump implementou um novo padrão diplomático, que envolve ameaças comerciais para, a partir daí, garantir um bom acordo para seus interesses. E ele está conseguindo. Por alguns meses, a frase "Trump sempre se acovarda" circulou em Washington. Mas, no fim das contas, é o resto do mundo que finalmente está se acovardando. Com exceção do Canadá, do Brasil e da China, os demais estão entrando no jogo da ameaça, na estrutura proposta por Trump e em suas condições.

A era do diálogo, do multilateralismo e das alianças entre os EUA e a UE, blocos com visões de mundo semelhantes, deu lugar a ameaças e coerção.

<><> Compras de energia para quase metade do consumo

Outra grande vitória de Trump é o compromisso da UE em aumentar substancialmente as importações de energia dos EUA. O presidente falou em US$ 750 bilhões (cerca de € 680 bilhões), que von der Leyen especificou que serão entregues ao longo de três anos, ou US$ 250 bilhões por ano (cerca de € 225 bilhões). Este número é extremamente alto, considerando que as importações de energia da UE de países terceiros totalizaram € 427 bilhões em 2024, segundo dados da Comissão Europeia. "Substituiremos o gás e o petróleo russos por compras significativas de GNL, petróleo e energia nuclear americanos", confirmou von der Leyen.

<><> E a autonomia energética?

Uma das supostas lições aprendidas com a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin foi a dependência excessiva do país da Rússia em termos de energia. O Nord Stream, o gás barato para a indústria alemã, cargos para ex-líderes europeus na Gazprom, como o ex-chanceler social-democrata Gerhard Schröder, e uma série de obrigações com a Rússia em troca de crescimento sustentado em energia barata foram todos descartados após fevereiro de 2022. A pandemia de COVID-19, aliada à guerra na Ucrânia, conscientizou a União Europeia de suas dependências e fragilidades em relação a países estrangeiros. A União Europeia decidiu cortar o fornecimento de energia à Rússia e investir na independência energética por meio de energias renováveis. Tudo isso agora é questionado com o acordo com os EUA, já que o compromisso é importar um terço do consumo anual da Europa de outro continente: ou seja, um terço da energia consumida pelos europeus dependerá de um país de outro continente, com as implicações de perda de autonomia, de recursos próprios e de compromisso com um caminho de transição energética europeia. E, além disso, o acordo é com um país, os Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, tem como bússola energética o "drill, baby drill", que é puro extrativismo e energia nuclear, ao mesmo tempo em que abre minas de carvão, que na Europa são sinônimo de energia poluente, prejudicial ao meio ambiente, cara e insustentável.

<><> Von der Leyen assina, mas os 27 ficam atrás

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, selou o acordo na tarde deste domingo, no campo de golfe escocês de Donald Trump. Ela viajou de Bruxelas para formalizar um acordo que evita uma guerra comercial, mas também demonstra a posição dominante de Trump sobre a União Europeia. Trump entrou em guerra, impondo tarifas unilaterais, buscando usá-las para eliminar desequilíbrios comerciais que têm mais a ver com a competitividade de empresas e produtos do que com barreiras à circulação de mercadorias. E a UE não respondeu na mesma moeda: preferiu um acordo, mesmo que ruim, a uma guerra comercial. E esta não é uma decisão tomada exclusivamente pela Comissão Europeia, que tem jurisdição sobre o comércio internacional na UE, mas sim algo aprovado pelos 27, que têm sido constantemente informados e consultados pelo Executivo da UE. E o que os 27 decidiram é que não queriam uma guerra, que preferiam um acordo ruim a nenhum acordo. E foi isso que conseguiram: assinaram, pela primeira vez, a aceitação de tarifas unilaterais dos EUA.

<><> Aço, alumínio e cobre, 50%

Há algo que não está incluído no acordo europeu de 15%: alumínio, aço e cobre, que estão sujeitos a uma tarifa geral de 50% para importações para os EUA. Apesar dos esforços europeus para diminuir a barreira de entrada no mercado americano, decretada unilateralmente por Donald Trump, o acordo assinado por Ursula von der Leyen não se aplica a essas matérias-primas essenciais à indústria norte-americana.

¨      Falta de firmeza dos europeus na negociação do acordo com Trump custará milhares de empregos na UE

As reações negativas sobre a aplicação de tarifas aduaneiras de 15% na maioria das exportações europeias para os EUA se multiplicam. Críticos afirmam que a União Europeia deveria ter adotado uma posição mais firme e condenam o pacto que poderá prejudicar o bloco por vários anos. A Comissão Europeia se defende e diz que foi o “melhor acordo possível em circunstâncias muito difíceis”. Alemanha, Itália e Irlanda deverão ser os países mais afetados. “À medida que o verão (europeu) se transforma em outono”, foi com esta metáfora que o jornal britânico The Guardian descreveu o acordo comercial entre União Europeia e os EUA. Enquanto algumas lideranças do bloco fizeram declarações mornas, outros políticos se indignaram com as consequências desastrosas deste pacto desequilibrado. O crescimento econômico da zona do euro que já está fraco, deve ficar ainda mais lento. “A Comissão Europeia não foi capaz de utilizar todo o peso da Europa nas negociações. Mesmo que a presidente do executivo europeu, Ursula von der Leyen proclame vitória para tentar salvar o seu cargo, no plano estratégico o acordo é uma derrota para a Europa”, analisou o economista francês Christian Saint-Étienne. A vitória permanece, assim, nas mãos do presidente americano, Donald Trump, que conseguiu colocar a Europa sob suas próprias condições. Na guerra comercial criada por ele, o republicano segue com sua tática de dividir para reinar melhor. As novas tarifas dos EUA entrarão em vigor a partir de sexta-feira (1º).

<><> Perdas & danos

A indústria cosmética europeia, com quase 13% de sua produção destinada ao mercado americano, foi duramente atingida. Os perfumes e cosméticos que eram isentos ao entrarem nos EUA serão agora taxados em 15%. Só na França, isso ameaça 5 mil empregos. As pequenas e médias empresas francesas também serão muito afetadas. Segundo a Confederação de Pequenas e Médias Empresas (CPME), “as consequências do pacto serão muito negativas para a economia francesa e terão repercussões desastrosas no país”. Já as montadoras de automóveis alemãs foram menos afetadas do que se temia com a redução da sobretaxa de 30%, inicialmente ameaçada por Donald Trump, para 15%. Porém, analistas do setor alertam que mesmo essa taxa mais baixa custará bilhões de euros à indústria automobilística alemã. Na contramão da luta climática, Von der Leyen concordou em derrubar a tarifa de carros americanos de 10% para 2,5%. Na prática, carros das três grandes montadoras americanas – GM, Ford e Chrysler – receberão sinal verde para transitar nas ruas europeias. Enquanto isso, nos EUA, Trump busca desmantelar as políticas que limitam as emissões de gases de efeito estufa em veículos fabricados no país.

Quanto aos setores poupados pelo tarifaço de Trump, podemos citar os produtos farmacêuticos que encabeçam a lista das exportações europeias para os EUA. Eles devem permanecer isentos de qualquer alíquota. Porém, se Trump mudar de ideia, Bruxelas já adiantou que haverá retaliações. Segundo a Eurostat, agência de estatísticas da UE, a Europa exportou cerca de € 120 bilhões de fármacos no ano passado para o mercado americano, o equivalente a 22,5% do total dos bens europeus exportados para os EUA. Tarifas zero também serão aplicadas em outros setores estratégicos, como aeronaves e peças de aeronaves, alguns produtos químicos, equipamentos semicondutores e certos produtos agrícolas, além de matérias-primas essenciais.

<><> Impacto geopolítico

A explicação oficial é a de que a Europa quer acabar com toda a dependência do gás da Rússia, que ainda fornece 20% do gás natural liquefeito (GNL) para a União Europeia, por isso, o pacto prevê que os europeus comprem US$ 750 bilhões em produtos energéticos americanos – gás natural liquefeito, petróleo e combustíveis nucleares – nos próximos três anos e invistam US$ 600 bilhões nos EUA, incluindo a aquisição de equipamentos militares produzidos no país. Segundo analistas, a Comissão Europeia não tem nenhum poder sobre o mercado de petróleo e gás e que, ao fechar o acordo com os EUA, Von der Leyen agiu além dos limites definidos pelo seu mandato. Na semana passada, Von der Leyen se reuniu com o presidente chinês Xi Jinping. Foi um encontro tenso marcado, principalmente, pelas disputas comerciais. Agora, Pequim vê a União Europeia concedendo praticamente tudo aos EUA. A fragilidade dos europeus nas negociações com Trump pode encorajar os chineses a serem tão inflexíveis quanto os americanos.

 

Fonte: El Diario/RFI

 

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