Dos
templos budistas às baladas em Ibiza: a incrível jornada do garoto espanhol
tido como lama reencarnado
Aos
dois anos de idade, um menino nascido na Espanha se viu sendo colocado em um
trono e reverenciado em uma cerimônia na Índia perante milhares de pessoas.
É que
Osel Hita Torres foi identificado como sendo a reencarnação de um conhecido
mestre espiritual budista, um lama, que havia morrido um ano antes dele nascer.
Em vez
de ter uma infância comum, em vez de ir à escola e brincar com outras crianças,
Osel foi levado para um monastério onde se viu isolado da família e mergulhado
na cultura budista tibetana, visitado e venerado diariamente por fiéis e
obrigado a se dedicar diariamente a estudos e práticas religiosas.
Ele
viveu assim até os 18 anos, quando tomou a decisão radical de largar tudo, e
iniciar uma longa jornada para se conectar com um mundo totalmente novo e
estranho e buscar uma identidade e personalidade próprias.
A
incrível história de Osel é contada em um episódio da quarta temporada do
podcast Que História!, da BBC News Brasil, que pode ser ouvido no YouTube,
Spotify, Amazon Music, Apple Podcasts, Castbox, Deezer e outras plataformas de
streaming.
A
história de Osel começa antes dele nascer, quando o mestre espiritual budista
Lama Thubten Yeshe e seu principal discípulo, Lama Zopa, viajaram para a ilha
de Ibiza nos anos 1970.
Lama
Yeshe era bastante conhecido nessa época por espalhar o budismo no mundo
ocidental. Ele viajava por vários países estabelecendo centros budistas. Teve
muitos seguidores, principalmente por causa de seu senso de humor e estilo de
ensino pouco convencional. Era descrito como extrovertido e caloroso, diferente
dos outros professores e mestres budistas.
Os pais
de Osel, Maria e Paco, eram jovens hippies espanhóis vivendo em Ibiza, onde
acompanharam um curso de meditação ministrado por Lama Yeshe, na primeira
visita dele e seu discípulo Lama Zopa à Espanha.
Eles
ficaram encantados com Lama Yeshe, e com o apoio dele, decidiram abrir um
retiro espiritual nas montanhas de La Alpujarra, no sul da Espanha. O próprio
Dalai Lama, o principal líder espiritual do budismo tibetano, visitou esse
retiro no alto das montanhas e o batizou de 'Terra da Clara Luz'.
Quando
Osel nasceu, em 1985, Lama Yeshe tinha morrido havia um ano, deixando seus
seguidores devastados. No entanto, eles tinham a esperança de que ele voltasse
à terra dos vivos reencarnado. No budismo tibetano, acredita-se que grandes
mestres são capazes de escolher onde e por meio de quem reencarnarão.
Mestres
reencarnados, conhecidos por tulkus, são identificados — ou
"reconhecidos" — por seus discípulos ou pessoas muito próximas a ele.
Esse processo existe há séculos — o próprio Dalai Lama foi reconhecido assim.
O
principal discípulo do Lama Yeshe, Lama Zopa, vinha tendo visões que lhe diziam
que seu mestre renasceria no corpo de uma pessoa do Ocidente. E em uma visita
ao retiro nas montanhas da Espanha, ele avistou o filho bebê de Maria e Paco,
Osel.
"Lama
Zopa já tinha tido algumas visões em que eu aparecia", contou Osel Torres
ao programa Outlook, da BBC. Foi aí que o processo começou: quando ele disse
'ah, esse bebê pode ser a reencarnação de Lama Yeshe'."
Quando
estava com 14 meses de idade, a criança foi levada à Índia para uma série de
testes que faz parte do processo de reconhecimento de um lama reencarnado. O
Dalai Lama vive na Índia desde 1959, onde lidera um governo exilado e um
movimento que luta pela independência do Tibete, que foi anexado pela China em
1951.
"Fui
levado à Índia para fazer vários testes com objetos da minha vida passada,
como, por exemplo, um rosário. Esse rosário era colocado juntos a outros, 5 ou
10 rosários diferentes. Eu ainda não falava, tinha apenas que escolher o objeto
certo. Fizeram isso com muitos objetos diferentes do Lama Yeshe. E todas as
vezes eu escolhia o certo", contou Osel.
"E
também houve pessoas que eu reconhecia, mesmo sem ter visto elas antes. E
lugares. Eu sabia exatamente onde ficava o quarto do Lama Yeshe, sem nunca ter
estado ali. Houve várias histórias como essa."
Outra
parte importante do processo foi o encontro com o Dalai Lama, que teria olhado
nos olhos da criança espanhola e reconhecido seu velho amigo Lama Yeshe.
Com o
reconhecimento do Dalai Lama, Osel foi entronizado em uma cerimônia com a
presença de milhares de pessoas. Imagens do evento mostram Osel, de apenas dois
anos de idade, com uma túnica de seda e um chapéu de lama amarelo, e monges
fazendo fila para se prostrar aos seus pés e fazer oferendas.
Os pais
de Osel, Maria e Paco, acreditaram que seu mestre havia retornado na forma de
seu filho. Eles entregaram o bebê para ser criado pelos monges na Índia. Ele
não era mais uma criança comum. Agora era Lama Osel.
A
primeira tarefa de Lama Osel foi visitar centros budistas em vários cantos do
mundo. Os seguidores de Lama Yeshe se reuniam em torno do jovem Osel para um
vislumbre da sabedoria de seu antigo mestre.
Quando
fez 6 anos, Osel foi levada para um monastério no sul da Índia, em Karnataka,
onde passava 6 ou 7 horas por dia se dedicando a estudos.
"Eu
não tinha aquela conexão emocional com a família ou meus pais. Eu era como um
órfão. As pessoas que cuidavam de mim mudavam constantemente. A única pessoa
que passava mais tempo comigo era um professor, que conheci aos 6 anos. Tive
uma conexão emocional muito forte com esse professor, porque via ele todos os
dias para as aulas. Ele que realmente me criou. Foi a única pessoa estável
durante toda a minha infância."
"Eu
mal via os meus pais. Eles já tinham 6 filhos quando fui reconhecido como
reencarnação de Lama Yeshe. Depois minha mãe teve outros dois filhos com outro
marido. Eles eram muito ocupados e não eram ricos. Meu pai trabalhava muito. Eu
ter sido levado para o mosteiro, na verdade, foi uma coisa boa para os meus
pais, porque para eles, não só estavam me dando uma oportunidade incrível, mas
também tinham um filho a menos para criar."
"Me
senti abandonado quando criança. E não me sentia aceito por quem eu era. Eu
tinha que ser outra pessoa para ser aceito. Isso foi um grande conflito para
mim."
Esperava-se
que Osel se tornasse um grande professor e mestre. Desde cedo, disseram a ele
que seu destino era ajudar os outros. Com essa expectativa, veio uma enorme
carga de dedicação e trabalho.
"Às
vezes eu brincava com outras crianças, mas eles não permitiam que as crianças
me tocassem ou chegassem perto de mim, porque não queriam que eu fosse
influenciado por elas. Isso faz parte da cultura dos tulku, o sistema tulku.
Tulku significa mestre reencarnado. Eles acreditam que, após a reencarnação, se
você tiver muito contato com as pessoas, pode ser influenciado. Então tentam te
manter o mais isolado possível."
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Tracy Chapman e Linkin Park
A
rotina de estudos era quebrada diariamente pelos cerca de 40 minutos em que as
pessoas podiam ver ou visitar Lama Osel. Era o contato que ele tinha com o
mundo exterior — e, curiosamente, com a cultura pop ocidental.
"Algumas
pessoas vinham e traziam contrabando", conta Osel, "coisas que você
não pode trazer, basicamente CDs de música. No começo, me davam fitas cassete,
então eu tinha uma fita cassete da Tracy Chapman. Depois eu tive um CD do
Linkin Park, um CD do Limp Bizkit, e outro de um grupo espanhol muito famoso na
época chamado Estopa, que ainda ouço até hoje."
"Eu
tinha fones de ouvido, contrabando também. Eu ouvia essas coisas no meu quarto
ou no banheiro quando tinha algum tempo livre. Tinha que guardar tudo
escondido, porque se eles encontrassem, confiscariam."
"A
primeira vez que ouvi Linkin Park foi tipo, 'Isso não é música. É só barulho. É
muito pesado, muito violento, muito agressivo, muito barulhento'. Mas aí eu
comecei a prestar atenção às letras e comecei a entender o que eles estavam
falando. As letras eram da perspectiva de um cara que achava que ninguém o
entendia. Tipo 'eu quero ser compreendido, quero ser amado. Eu me expresso e
você não quer entender. Você só quer entender o que você quer entender'. Foi
incrível porque era exatamente o que estava acontecendo comigo naquela época. E
eu me identifiquei com isso, com essas letras."
"As
pessoas não queriam saber quem eu era de verdade. Elas só queriam que eu
desempenhasse o meu papel. Todos ao meu redor, todos, inclusive meus pais.
Então, essa mensagem foi muito útil. Eu vi que outras pessoas também passam por
essa situação."
O rock
contrabandeado dos anos 90 acabou sendo uma janela para outro mundo. E quando
Osel chegou à adolescência, seu estoque de itens proibidos e sua curiosidade
sobre o mundo ao qual eles pertenciam só aumentavam.
"Aos
16 anos, eu já tinha dois computadores. Eu tinha um saco de pancadas e uma
guitarra. E eu compartilhava o contrabando com um amigo, que também era um
mestre reencarnado. E um dos contrabandos que ele ganhou foi um vídeo de um
show da Britney Spears. A gente não tinha nenhuma referência do que era dançar.
Sabíamos que a dança existia, mas não tínhamos ideia de como era. Quando
assistimos ao vídeo da Britney Spears, surtamos. A gente ficou tipo: 'O
quê??'."
"Começamos
a praticar em segredo. Ele me emprestava o vídeo por uma semana, e eu praticava
alguns passos de dança. Na semana seguinte, ele praticava com o vídeo. E aí a
gente se encontrava e comparava quem dançava melhor. Foi tão ridículo."
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Dois meses em uma escola na Espanha
Memorizar
letras de bandas de rock e os passos de dança de Britney Spears não era
exatamente o que Osel deveria estar fazendo. A pressão era para que estudasse o
tempo todo. Mas ele estava sedento por mais conhecimento sobre a cultura
ocidental, e fez uma proposta a seus cuidadores.
"Quando
eu tinha 16 anos, convenci a instituição de que eu precisava de uma educação
ocidental. Eu disse a eles que deve ter havido um motivo para eu ter renascido
como ocidental. Que era porque Lama Yeshe queria se conectar mais profundamente
com os ocidentais, entender a psicologia ocidental e o seu estilo de vida. Eu
disse a eles que, isolado num trono, eu não estava realmente fazendo o que
Yeshe pretendia que eu fizesse."
"Então
negociei com eles para que eu pudesse passar dois meses em uma escola em Ibiza
para estudar com adolescentes normais. Eles aceitaram, e eu mudei meu nome para
Nicolas para que ninguém descobrisse quem eu era."
E
assim, Lama Osel, usando o pseudônimo de Nicolas, aos 16 anos, passou dois
meses em uma escola secundária em Ibiza, na Espanha. Como era de se esperar, o
choque cultural foi imenso.
"A
primeira coisa que realmente me chocou foi a falta de respeito dos jovens para
com os adultos. Na minha cultura e na cultura tibetana, os pais e os
professores são sagrados porque, antes de tudo, os pais nos dão a vida. Eles
nos criam. E os professores são aqueles que nos dão sabedoria. Portanto, há um
grande respeito, até mesmo pelas escrituras, por livros. Mesmo um papel com
alguma coisa escrita é sagrado porque comunica algo que podemos aprender. É
sabedoria. Eu fiquei realmente surpreso com a falta de respeito das crianças
com os pais e os professores. Isso foi algo que realmente me chocou."
"Nas
primeiras três semanas, sofri bullying todos os dias, o tempo todo. Mas eu
estava feliz porque achava que havia ali uma conexão humana. Era tipo: 'Ei, eu
existo!'."
"Eles
sempre me provocavam e riam de mim. Eu achava que estava rindo junto com eles,
e não que eles estavam rindo de mim. E eles riam ainda mais porque eu ria das
coisas que eles diziam. Eu era muito ingênuo. Eu não tinha ideia do que era
bullying."
"Mas
depois começaram a gostar de mim. Eles perceberam que eu ficava feliz rindo com
eles, e começaram a me tratar com respeito, porque eu era puro nesse
sentido."
Nesses
dois meses, Osel experimentou e gostou muito de algumas novidades, como andar
de moto ("poder ir sozinho para onde eu quisesse, em qualquer direção,
sabe, era uma liberdade absoluta") e beijar uma garota pela primeira vez.
"Uma
menina me pegou e disse: 'Vou te mostrar como se beija'. E isso, para mim, foi
como se eu estivesse no paraíso. Fiquei flutuando por duas semanas. Fiquei tão
feliz. Foi tipo, 'Uau!'."
Esses
dois meses foram muito marcantes para Osel. Ele sentiu gosto pela
independência, de poder tomar decisões próprias. E mais ainda, gosto pela vida
de um jovem comum — o que não era, e ele sabia disso. Ele se sentia um estranho
toda vez que visitava sua família na Espanha a cada dois anos.
"Comecei
a perceber que o relacionamento entre meus irmãos era muito diferente do
relacionamento deles comigo. Eles não me tratavam da mesma forma que tratavam
uns aos outros. E percebi que, na verdade, eu era bastante narcisista e
egocêntrico por causa da minha educação. E eu não gostava disso. Meus irmãos
mal falavam comigo, simplesmente me ignoravam. Isso realmente me afetou
muito."
"E
esse foi um dos momentos em que pensei que precisava sair dessa situação para
me encontrar e saber como me relacionar com os outros e como eles podem se
relacionar comigo de uma maneira melhor."
Ao se
aproximar de seu aniversário de 18 anos e da maioridade legal, Osel começou a
traçar um plano. Ele conseguiu permissão para visitar sua família durante a
realização de um evento no mosteiro e pôde assim, estar na Espanha quando fez
18 anos. No dia do aniversário, avisou o monastério que não voltaria. A reação
foi imediata.
"Durante
um ano, recebi um monte de cartas e muita pressão para voltar ao monastério. Eu
recebi vários e-mails de pessoas decepcionadas comigo. Eu lia, chorava e depois
apagava tudo. Foi muito difícil pra mim, porque eu queria que as pessoas fossem
felizes, mas depois compreendi que a felicidade das pessoas não era minha
responsabilidade."
"Quando
era criança, eu sempre tive dois grande receios. Eu nunca achei que poderia ser
como o Lama Yeshe, porque ele é basicamente outra pessoa. E o outro era que eu
nunca seria capaz de fazer todo mundo feliz. Depois eu percebi que não fazia o
menor sentido eu ter esses traumas. Minha vida é minha vida. Não é a vida de
outra pessoa. Ninguém tem direito de decidir sobre a vida que eu tenho de
viver. Esse direito é meu."
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Mulheres nuas e balada em Ibiza
Osel
entrou em uma fase de reprogramação, de tentar se libertar do condicionamento
que deu a ele a identidade de lama encarnado. Ele tinha passado a vida seguindo
uma série de regras e ensinamentos e sendo venerado como um semideus. Agora que
estava longe do monastério, chegou a hora de fazer o oposto.
"Eu
percebi que ser rebelde era super saudável, pelo menos para mim. A maneira como
minha mente funcionava, de uma forma muito egocêntrica, era algo que eu
precisava mudar. Eu me sentia muito atraído pelo proibido. Então, basicamente,
quando saí do mosteiro, fui de um extremo ao outro, literalmente."
"Por
exemplo, eu nunca tinha visto uma mulher nua. Então, no primeiro dia em Ibiza,
minha mãe achou que seria interessante me levar a uma praia de nudismo. Ela
simplesmente me deixou lá e foi embora. Eu fiquei em choque, fiquei meia hora
sem me mexer, olhando para o chão porque estava com muita vergonha. Quando
minha mãe voltou, eu não estava nem um pouco feliz. Fiquei muito
perturbado."
"Naquela
noite ela me levou para uma discoteca em Ibiza. Minha mãe pagou o ingresso e eu
entrei sozinho. Tava um barulho insuportável! Eu mal conseguia me mexer de
tanta gente. Era 2003, as pessoas fumavam cigarros dentro das casas noturnas
naquela época, então havia muita fumaça. Eu não conseguia respirar. As pessoas
dançavam mexendo os ombros, de tão espremidas."
"Então
eu pensei, 'Ok, vou relaxar e beber um pouco de álcool'. Tomei um gole de vodca
com coca-cola e quase vomitei, quase morri, não conseguia respirar. Era um
inferno aquilo. Depois de 15 minutos, saí. Meus ouvidos faziam 'bííííííííííí'…
meu cabelo e a roupa cheiravam a cigarro. Eu estava todo molhado com o suor de
outras pessoas. Então eu disse à minha mãe: 'Por favor, nunca mais me leve para
essa praia ou essa discoteca'."
Mas aos
poucos, Osel foi tomando gosto pelas baladas de Ibiza e em pouco tempo estava
se envolvendo na organização de raves que duravam a noite toda. Foi quando a
mãe dele resolveu enviar o filho para estudar em Madri.
"Foi
um desastre porque eu estava tendo aulas particulares e morando sozinho em um
apartamento, isso era novo pra mim. Não sabia como cuidar de uma casa, não
sabia nem como usar dinheiro."
"No
mesmo dia em que eu deveria fazer uma prova na escola, eu comprei uma passagem
e voltei para Ibiza. Eu cheguei e disse, 'Oi mãe. Voltei!'. Ela disse: 'Mas
você não tinha uma prova hoje?'. Eu disse: 'É, mas eu estou aqui'."
"Ela
ficou furiosa e contatou um amigo dela, que também era discípulo do Lama Yeshe.
Ele estava morando no Canadá com a esposa e perguntou se eles podiam me
hospedar e arrumar uma escola para que eu fizesse ali as provas de conclusão da
escola secundária. Então, ela me enviou ao Canadá."
Do
Canadá, Osel foi para a Suíça seguir com os estudos e, finalmente, voltou para
Madri, para se formar em cinema. Aprendeu a tocar djembê, um instrumento
africano de percussão, e se apresentou em festivais pelo mundo todo. Ele
viajou, fez filmes e conheceu pessoas de todas as esferas. Até morou na rua por
um tempo, em Veneza e Nápoles.
"Passei
15 anos viajando, conhecendo pessoas e vivendo todas essas aventuras malucas.
Conheci todos os tipos de pessoas de todos os níveis da sociedade… boas e más,
de ambos os extremos. Pra mim é muito importante simplesmente conhecer,
entender, entrar em contato e ser influenciado por todos esses aspectos da
vida, através das pessoas, através da conexão humana."
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'Não submeteria meu filho ao processo que enfrentei'
Depois
de mais de uma década de aprendizado e aventuras, Osel encontrou uma parceira,
se tornou pai, o que o fez refletir sobre sua própria infância.
"Me
tornei pai aos 32 anos. Eu e minha parceira ficamos juntos por dois anos. Nos
separamos, mas criamos nosso filho juntos. Tive muitos traumas na infância e me
esforcei muito para poder oferecer ao meu filho algo diferente, algo melhor.
Meu filho é uma criança muito feliz, com uma estabilidade emocional incrível.
Ele é muito amado. Basicamente, estou oferecendo a ele tudo o que nunca tive
quando criança."
"Eu
não submeteria meu filho ao processo que enfrentei. Nunca. Porque não é
saudável para uma criança. Quanto às novas reencarnações, eu sempre propus que
deixassem a criança com a família até os 7 anos no mínimo. Assim pelo menos
elas têm uma noção do conceito de família e um pouco de estabilidade emocional,
antes de serem enviadas aos mosteiros. Estou tentando influenciar a instituição
a mudar um pouco o sistema tulku. Mas é uma questão tão cultural que está
difícil banir esse costume."
Após as
várias aventuras e mudanças na sua vida, Osel Torres encontrou o caminho de
volta à comunidade budista que deixara para trás aos 18 anos. Hoje, ele se
dedica ao ambientalismo. Fundou uma organização dedicada ao plantio de árvores.
Ele
também faz turnês dando palestras sobre budismo e organizando retiros,
compartilhando sua perspectiva única sobre a união da filosofia oriental com o
estilo de vida ocidental. Assim como o nada convencional Lama Yeshe, ele agora
se tornou um professor, à sua própria maneira, também nada convencional.
E o
legado de Lama Yeshe? Como Osel vê hoje a ideia de ser a reencarnação do Lama?
"Eu
fui bastante descrente por muito tempo, por muitas décadas. E eu evitei, por
muito tempo, ler os livros ou assistir a vídeos dele, porque não queria ser
influenciado pelo Lama Yeshe. Mas quando comecei a pesquisar, fiquei realmente
chocado. No momento em que comecei a ler a biografia dele, surtei porque me
identifiquei muito. Eu realmente analisei, estudei, eu reconheci muitas
semelhanças. Conversei com muitas pessoas. E cheguei à conclusão de que, sim,
acredito que exista algum tipo de continuidade mental em mim, vinda de Lama
Yeshe."
Fonte:
BBC News

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