Epstein,
Trump e a guerra tarifária
Enquanto
Trump esconde os monstros do império, o Brasil é punido por ousar ser soberano.
No maior escândalo moral do século XXI, a elite americana se debate para
ocultar a podridão que sustenta sua supremacia. E, como sempre, mira seus
canhões para o Sul. Este artigo desvenda as conexões subterrâneas entre os
arquivos secretos de Epstein, a implosão do trumpismo, a guerra tarifária
contra o Brasil e a disputa global por informação, tecnologia e poder. É hora
de transformar a crise do império em nossa arma. Quando eles sangram, nós
avançamos.
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Quando o império começa a feder
Há um
cheiro podre que atravessa o Atlântico. Não é o mofo de uma república em
ruínas. É o odor pútrido de um império em decomposição. A mesma nação que, por
décadas, se vendeu como guardiã da moral ocidental, paladina dos direitos
humanos e juíza do planeta está agora ajoelhada diante de seu próprio abismo: o
escândalo Epstein voltou à cena e, desta vez, não pode mais ser varrido para
debaixo do tapete da mídia corporativa ou das narrativas de segurança nacional.
Mas o
que está em jogo aqui não é apenas a exposição de uma rede de pedofilia
envolvendo bilionários, políticos e celebridades. O que implodiu foi o núcleo
simbólico da hegemonia americana — a ideia de que os EUA operam sob princípios
éticos superiores, em nome de Deus, da democracia e do progresso. O que estamos
assistindo é o momento exato em que o império começa a feder por dentro,
corroído não por forças externas, mas pelo seu próprio conteúdo apodrecido: o
moralismo hipócrita, o autoritarismo camuflado de liberdade e a elite
degenerada que governa sob o véu da ordem.
A
ironia histórica é total: foram os próprios trumpistas, forjados na paranoia
conspiratória e alimentados por narrativas de guerra cultural, que agora exigem
a verdade que o próprio Trump não quer revelar. A base MAGA está em guerra com
seus generais. O trumpismo, antes máquina coesa de mobilização, virou um circo
de facções hostis. Os influenciadores queimam bonés vermelhos ao vivo,
enquanto, no Congresso, o Partido Republicano se divide entre os que ainda
acreditam no “grande salvador” e os que veem o Titanic afundar em câmera lenta.
Esse
colapso narrativo interno tem repercussões globais. E aqui está o ponto
central: o Brasil não pode assistir a isso como espectador. Em meio à guerra
tarifária desencadeada por Trump, a crise moral que engole os Estados Unidos
abre uma janela histórica para uma contraofensiva diplomática, discursiva e
estratégica. Não se trata apenas de reagir. Trata-se de atacar — com
inteligência, com precisão, com soberania.
O
escândalo Epstein é mais do que um drama político. É um raio-X da falência do
Ocidente como projeto civilizatório. E mais ainda: é uma oportunidade
geopolítica de ouro para países do Sul Global denunciarem a hipocrisia imperial
e reafirmarem sua autonomia diante da chantagem econômica, cultural e
tecnológica que define a nova face da guerra híbrida.
O
Brasil está sendo alvejado por tarifas, sabotado por think tanks alinhados ao
trumpismo, espionado por big techs e ameaçado por uma elite global que já
provou que não tem limites morais. Mas, agora, o império sangra. E, quando o
império sangra, o Sul precisa avançar — com estratégia, com coragem e com a
consciência plena de que a disputa pela soberania começa na narrativa.
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A implosão do projeto Trump: a guerra interna da direita americana
O
trumpismo sempre viveu do caos, mas agora está sendo tragado por ele. O que
antes era uma máquina de guerra cultural bem azeitada, onde influenciadores,
políticos e estrategistas operavam em harmonia sob a liderança messiânica de
Donald Trump, virou um campo minado. Um terreno fértil para a autofagia, onde
cada célula da besta começa a devorar a outra, sem coordenação, sem comando,
sem propósito.
O caso
Epstein não foi apenas um gatilho para indignação moral — foi a faísca que
revelou a ruptura entre a base conspiracionista e o centro de comando do
trumpismo. A promessa de expor a lista de clientes do pedófilo bilionário era
uma das pedras angulares do “great awakening” da extrema-direita americana. Era
o Santo Graal do QAnon, a verdade oculta que justificava toda a cruzada contra
o “deep state liberal”. Só que, quando finalmente teve o poder para divulgar os
documentos, Trump recuou. E o recuo custou caro.
Influenciadores
como Dan Bongino, Laura Loomer, Alex Jones, Jack Posobiec e Michael Flynn
partiram para o ataque. Em vídeos e postagens virais, acusaram o próprio Trump
e sua equipe de traição, covardia, conivência. Pam Bondi, ex-procuradora da
Flórida, foi chamada de “agente da elite pedófila”. Kash Patel, antigo fiel
escudeiro de Trump na inteligência, passou a ser visto como parte da
conspiração que a base jurava combater. Até o boné vermelho, símbolo máximo da
identidade MAGA, virou objeto de escárnio: foi queimado em praça pública por
aqueles que antes o usavam como armadura.
É o
início da guerra civil simbólica da direita americana. De um lado, o trumpismo
institucional, que busca recompor a governabilidade e se preparar para 2026. Do
outro, uma base radicalizada que não aceita meia-verdade, negociação nem
“compromissos com o sistema”. Eles querem sangue. Querem nomes. Querem
execuções públicas — políticas, midiáticas, morais.
Esse
racha tem consequências devastadoras. O Partido Republicano está paralisado. No
Congresso, tentativas de criar uma comissão bipartidária para divulgar os
“Epstein files” foram sabotadas por aliados de Trump, temendo o que pode ser
revelado — e, principalmente, quem pode ser revelado. Figuras ligadas ao
Partido, a Wall Street, à monarquia saudita, à mídia conservadora… Todos têm
algo a temer.
Trump,
que durante anos dominou a narrativa da extrema-direita, agora está encurralado
entre duas escolhas ruins:
- Divulgar os
arquivos e correr o risco de explodir alianças fundamentais;
- Ou continuar
negando acesso aos documentos e ser acusado de proteger os próprios
inimigos.
Independentemente
da escolha, o trumpismo racha. E, nesse racha, algo essencial se dissolve: a
unidade simbólica do império.
Esse
colapso narrativo é um terremoto que repercute em toda a arquitetura ideológica
da extrema-direita global.
A besta
que Trump alimentou — com mentiras, ressentimento e messianismo — agora morde a
própria mão que a criou.
E, para
o Brasil, isso não é apenas uma notícia: é uma oportunidade estratégica.
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Epstein como metáfora da elite decadente
Jeffrey
Epstein não era um desvio de conduta. Ele era a regra não dita. Um ponto de
convergência entre finança desregulada, poder institucional e depravação moral.
A ilha de pedofilia em que bilionários, políticos, acadêmicos e aristocratas
circulavam sem vergonha nem punição é o retrato nu do império americano no
século XXI: uma oligarquia amoral que vende ao mundo um discurso de civilização
enquanto se alimenta da exploração dos corpos, das mentes e dos recursos do
planeta.
A elite
que frequentava Little St. James não é uma exceção. É a mesma elite que comanda
think tanks em Washington, que determina as políticas do FMI, que impõe tarifas
contra o Brasil, que sabota governos progressistas na América Latina, que
financia guerras na África e na Ásia e que, agora — escancaradamente — tenta
censurar os próprios arquivos de seus crimes.
Epstein
é a metáfora perfeita do Ocidente em decadência: um financista que construiu um
império de tráfico humano com a cumplicidade silenciosa do Estado, da mídia, do
Judiciário, de universidades como Harvard e MIT, de agências de inteligência e
de reis, príncipes, CEOs e ex-presidentes. Sua fortuna não veio de méritos, mas
de chantagens, tráfico de influência e silêncio comprado. É o capitalismo
tardio em sua forma mais obscena: sem trabalho, sem lei, sem moral.
A
tentativa de esconder os arquivos do caso Epstein revela que o que está em jogo
é a sobrevivência de um sistema. Um sistema que não pode permitir que seus
monstros sejam reconhecidos — porque esses monstros não são aberrações. São
pilares.
E é por
isso que Trump recua. Porque sabe que a “client list” não incrimina apenas seus
inimigos — mas também seus aliados, seus financiadores, seus cúmplices. A elite
global que o cerca. A mesma elite que financia campanhas de guerra cultural nos
países do Sul, que interfere em eleições, que infiltra agências de inteligência
em redes sociais, que se apropria de dados e de narrativas para manter seu
domínio.
Aqui
está o ponto mais profundo: Epstein não é apenas sobre pedofilia. É sobre
poder.
É sobre
o tipo de poder que opera nas sombras, que manipula os corpos dos vulneráveis,
as mentes das massas e os algoritmos das democracias. É o poder da
desumanização rentável. Da dominação cognitiva. Do estupro transformado em
método.
E,
quando essa elite é exposta — quando o verniz civilizatório se quebra e revela
o pântano moral que sustenta o império — abre-se uma brecha narrativa
gigantesca. Porque não há mais como sustentar o discurso ocidental de
superioridade ética. A máscara caiu.
E essa
é a hora do contra-ataque.
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O tarifaço como cortina de fumaça e reação imperial
Enquanto
o império sangra por dentro, ele tenta desviar os olhos do mundo para fora.
A
clássica manobra dos impérios decadentes: quando o centro apodrece, aponta-se o
dedo para as periferias. Quando o moralismo desmorona, recorre-se à força
bruta. Trump aumentou as tarifas sobre o Brasil não porque o Brasil ameaça os
EUA com armas — mas porque ameaça com soberania.
O
tarifaço de julho de 2025, justificado por um discurso tosco de “proteção da
indústria americana”, é, na verdade, uma ação estratégica de contenção
geopolítica. A guerra econômica é o teatro visível de uma guerra híbrida maior
— que envolve sabotagem narrativa, bloqueio tecnológico, chantagem diplomática
e intimidação simbólica.
O
Brasil se tornou, nos últimos anos, um laboratório de resistência ao
imperialismo informacional. A aproximação com os BRICS+, o avanço em setores
estratégicos como semicondutores, bioeconomia e inteligência artificial
soberana, e a recusa em se submeter às big techs americanas colocaram o país no
radar do complexo civil-militar estadunidense. Trump, que precisa de um inimigo
externo para reunificar sua base fraturada, encontrou no Brasil a vítima
perfeita: latino, progressista, soberanista, altivo.
Mas o
que está por trás desse movimento não é apenas cálculo eleitoral — é medo.
Medo de
que o Sul fale. Medo de que o Sul pense. Medo de que o Sul reaja.
O
tarifaço é a tentativa de abafar a podridão do caso Epstein com barulho
econômico. É o uso da punição comercial para restaurar uma autoridade moral já
destruída. É o gesto de um império que não pode mais dar o exemplo — então
volta a dar ordens.
Mas as
ordens já não impõem obediência. Porque o mundo mudou. O Sul Global acordou. E
o Brasil, mesmo pressionado, mesmo ameaçado, tem agora a chance histórica de
transformar essa agressão em tração política internacional. De sair da posição
de réu para a de acusador. De passar do discurso de reação para a estratégia de
exposição ativa do império decadente.
A crise
Epstein, somada à guerra tarifária, não é coincidência. É causalidade
estratégica.
O
império moralmente nu tenta cobrir sua genitália com tarifas.
Só que
o tecido é fino demais — e o mundo já viu tudo.
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A oportunidade histórica para o Brasil: contra-ataque narrativo
O
império está ferido. E, quando o império sangra, o erro mais grave é hesitar. A
crise que envolve os arquivos de Jeffrey Epstein e a guerra tarifária
desencadeada por Donald Trump contra o Brasil não são eventos isolados: fazem
parte de um mesmo movimento estratégico, que combina o colapso moral da elite
ocidental com uma tentativa desesperada de reafirmação do poder por meio da
coerção econômica. Para o Brasil, esse cenário representa uma oportunidade
histórica rara — talvez única — de inverter o tabuleiro e transformar a
agressão em tração geopolítica.
A
narrativa dominante nos grandes centros do Norte Global ainda tenta proteger os
escombros do império com véus de autoridade moral. Mas esses véus estão
rasgados. A ocultação deliberada dos nomes e das relações incriminadas nos
“Epstein files”, a degeneração pública da base trumpista e o uso de tarifas
como instrumento de punição contra o Brasil revelam uma operação maior: a de um
império que perdeu a guerra da ética e tenta compensar essa perda com violência
econômica, manipulação cognitiva e chantagem simbólica. O Brasil não pode
reagir a isso como uma vítima — deve reagir como um ator estratégico,
consciente de que soberania também se exerce no campo narrativo.
A
primeira frente de contra-ataque deve ser discursiva. A diplomacia brasileira
precisa assumir uma postura firme e altiva diante do mundo, denunciando que o
país está sendo alvo de uma guerra híbrida disfarçada de política comercial. É
preciso internacionalizar a crise, levando o tema aos fóruns multilaterais —
ONU, BRICS+, G77, CELAC — e escancarando o que está em curso: uma tentativa de
contenção neocolonial de uma potência emergente que ousa disputar os espaços da
tecnologia, da informação e da autonomia energética. Mais do que contestar
tarifas, o Brasil precisa desmontar o moralismo imperialista que sustenta tais
medidas. Precisa dizer, com clareza, que o mesmo governo que sabota nossas
exportações se recusa a expor a rede de poderosos cúmplices de um pedófilo
bilionário. Isso não é retórica — é estratégia.
No
campo da comunicação, o contra-ataque passa por acionar as redes alternativas
de informação, as mídias populares e os núcleos de soberania digital no Sul
Global. É hora de amplificar a crise moral do império e usá-la como espelho
invertido para revelar a hipocrisia estrutural do Ocidente. A história está nos
oferecendo a chance de desnudar o discurso civilizatório de quem sempre nos
tratou como colônia. É necessário mostrar, de forma clara e didática, que
Epstein, as tarifas, a sabotagem das big techs, os ataques à Petrobras e a
espionagem sistemática de dados fazem parte de uma mesma máquina: a máquina da
dominação ocidental sobre as subjetividades, as economias e os recursos do Sul.
Simultaneamente,
o governo brasileiro deve responder com soberania concreta. Isso significa
acelerar os projetos que mais incomodam Washington: a construção de uma
infraestrutura digital própria, a regulamentação soberana das plataformas, os
acordos tecnológicos com países fora da órbita americana e a defesa
intransigente da autonomia científica, energética e industrial do país. Cada
avanço nessa direção será um ato de insubordinação geopolítica — e deve ser
comunicado como tal. Porque, nesta fase da guerra, cada algoritmo regulado,
cada dado protegido, cada chip fabricado em solo nacional é também um golpe
simbólico contra o império decadente.
Por
fim, é necessário transformar esse momento em conteúdo pedagógico, em formação
crítica. A guerra híbrida é travada na consciência das massas, e o caso
Epstein, articulado à guerra tarifária, precisa ser explicado ao povo como o
que de fato é: um capítulo do confronto entre o velho império em colapso e o
novo mundo que tenta nascer sob os escombros da dominação. Produzir
conhecimento, articular comunicadores populares, formar redes de educadores
soberanos — tudo isso faz parte do contra-ataque. Não se trata de “responder à
altura”, mas de atacar a partir de uma nova altura, de uma consciência
histórica que reconhece no império americano não um modelo a ser seguido, mas
uma ameaça a ser superada.
O
momento é esse. O império moralmente nu tenta calar o Brasil com tarifas e
censurar seus próprios crimes com silêncio. Mas o Brasil não será calado. O
Brasil precisa falar — e precisa falar como potência.
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Quando o inimigo sangra, o Sul deve avançar
A
história não é feita de momentos de calma. Ela é moldada nos abismos. E há um
cheiro de abismo no ar. O império que, por décadas, ditou as regras, que
invadiu países em nome da moral, que desestabilizou governos em nome da
liberdade, agora se vê cercado por seus próprios demônios — e não há como
voltar.
O caso
Epstein não é apenas um escândalo: é a revelação última do que sempre esteve
por trás do verniz civilizatório do Ocidente. Não há mais máscaras. Não há mais
desculpas. A elite americana — financeira, política, judiciária e midiática —
está moralmente exposta, eticamente falida, psicologicamente em ruínas. E,
enquanto ela sangra, o império tenta sobreviver à sua maneira: apertando o
cerco sobre os povos do Sul. O tarifaço contra o Brasil, a guerra
informacional, a sabotagem digital e a chantagem tecnológica não são desvios —
são a doutrina do desespero imperial.
Mas é
justamente nesse momento que se abre a janela. Não para a conciliação — mas
para o avanço. Quando o império sangra, o Sul não pode hesitar. Não pode
esperar reconhecimento. Não pode mendigar inclusão. Precisa avançar — com
narrativa, com estratégia, com soberania e com audácia histórica.
O
Brasil tem hoje a chance rara de virar o jogo. De sair da posição de “nação
ameaçada” para assumir o papel de acusador moral e geopolítico de um sistema em
colapso. Tem a oportunidade de liderar, com inteligência e coragem, a nova
arquitetura de poder que emerge sob os escombros da velha ordem. Mas isso exige
mais do que indignação. Exige lucidez. Exige método. Exige governo com visão,
diplomacia com nervo, comunicação com pulso e uma sociedade civil mobilizada,
consciente de que soberania não se ganha — se conquista.
A
guerra já não é só por territórios, contratos ou commodities. A guerra é por
sentido. É pela verdade. É pela memória e pela linguagem. E, se não ocuparmos
esse espaço, outros ocuparão — com algoritmos, mentiras, mísseis e tarifas.
A crise
Epstein é uma fenda. Um momento de fraqueza estrutural. Um clarão no castelo da
dominação. E toda fenda, na história, é uma chance.
A
pergunta que fica não é “o que vão fazer conosco?”. A pergunta que deve guiar o
Brasil agora é outra: “o que vamos fazer enquanto o império sangra?”
Porque
há momentos em que hesitar é se ajoelhar.
E o
Brasil — com tudo que sofreu, com tudo que resistiu, com tudo que já construiu
— não pode mais se ajoelhar.
Fonte:
Por Reynaldo José Aragon Gonçalves, em Brasil 247

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