quinta-feira, 31 de julho de 2025

Inalamos cerca de 68 mil microplásticos por dia em nossas casas, diz estudo

Um novo estudo sugere que os humanos podem estar inalando cerca de 68 mil microplásticos por dia presentes no ar de suas casas e carros. O trabalho, realizado por pesquisadores da Universidade de Toulouse, na França, foi publicado nesta quarta-feira (30) na revista Plos One.

Os microplásticos são fragmentos de polímero que podem variar de menos de 5 milímetros (0,2 polegada) até 1 micrômetro (1/25 mil de polegada). Eles são liberados de objetos feitos com plástico, como potes, embalagens, tecidos, entre outros.

Diversos estudos já mostraram que a água, alimentos e, até mesmo, órgãos humanos podem estar contaminados com essas partículas. Também já foram encontradas evidências de que os microplásticos podem estar suspensos no ar em uma ampla variedade de ambientes internos e externos. Tudo isso levantou preocupações dos cientistas a respeito dos potenciais efeitos na saúde relacionados à penetração dos microplásticos no corpo humano.

Para compreender melhor essa questão, pesquisadores do atual estudo coletaram amostras de ar de seus próprios apartamentos e carros. Usando uma técnica chamada espectroscopia, eles mediram as concentrações de microplásticos, incluindo aqueles de um a 10 micrômetros de diâmetro, em 16 amostras de ar.

Os pesquisadores descobriram que a concentração média de microplásticos detectados nas amostras de ar dos apartamentos era de 528 partículas por metro cúbico, e nos carros, 2.238 partículas por metro cúbico. Noventa e quatro por cento das partículas detectadas eram menores que 10 micrômetros.

Os autores, então, combinaram os resultados do estudo com dados publicados anteriormente sobre exposição a microplásticos em ambientes fechados, estimando que adultos inalam cerca de 3,2 mil partículas de microplástico por dia na faixa de 10 a 300 micrômetros de diâmetro, e 68 mil partículas de 1 a 10 micrômetros por dia — 100 vezes mais do que estimativas anteriores para exposições de pequeno diâmetro.

"Descobrimos que mais de 90% das partículas de microplástico presentes no ar interno, tanto em residências quanto em carros, eram menores que 10 µm, pequenas o suficiente para serem inaladas profundamente nos pulmões", afirmam os pesquisadores.

"Este também foi o primeiro estudo a medir microplásticos no ambiente da cabine do carro e, no geral, detectamos concentrações internas até 100 vezes maiores do que as estimativas extrapoladas anteriormente, revelando o ar interno como uma importante e até então subestimada via de exposição à inalação de partículas finas de microplástico", completam.

As descobertas sugerem que os riscos à saúde devido à inalação de microplásticos podem ser maiores do que se pensava anteriormente. Por isso, mais pesquisas são necessárias para confirmar e expandir esses achados.

•        Procedimento médico promete retirar microplásticos do corpo; funciona?

Além de disseminados na natureza, pesquisas recentes têm revelado que os microplásticos, pequenas partículas de plástico com menos de cinco milímetros de diâmetro, estão presentes em diversos órgãos e tecidos do corpo humano, como cérebro, coração, fígado, rins, pulmões, placenta e líquidos corporais.

Provenientes da degradação de materiais plásticos no meio ambiente, esses fragmentos entram no organismo humano de várias formas, desde ingestão de alimentos e água contaminados, até a inalação de partículas suspensas no ar.

Embora ainda haja muitas incertezas sobre os efeitos de longo prazo da exposição a microplásticos na saúde humana, diversos estudos ligam a presença das partículas em placas arteriais a um aumento significativo de ataques cardíacos, derrames e da mortalidade em geral. Agora um grupo de médicos londrinos, da Clarify Clinics, especializada em tratamentos de desintoxicação sanguínea, está oferecendo aos seus clientes um serviço que promete remover todos os microplásticos do seu sangue.

Segundo a CEO da empresa, Yael Cohen, o serviço de filtragem de sangue sob medida, chamado Clari by Marker, aprovado com certificação CE (Conformidade Europeia) oferece uma abordagem inovadora para reduzir a inflamação e melhorar o bem-estar geral dos pacientes”, afirmou ela à Wired.

<><> Como funciona o serviço de filtragem de microplásticos do sangue?

Na entrevista à Wired, Cohen explica que o tratamento inovador da Clarity Clinics oferece o serviço de filtragem de sangue personalizada em sua filial de Londres. O tratamento utiliza a técnica de aférese, tradicionalmente empregada em doações de plasma e terapias de troca plasmática.

Na unidade, a clínica atende semanalmente de 10 a 15 pessoas. Após a consulta, o paciente se acomoda em uma poltrona enquanto o sangue é retirado por uma cânula, e separado em plasma e células sanguíneas.

Durante o procedimento, que dura cerca de duas horas, o plasma é filtrado para remover microplásticos e outras substâncias indesejadas, antes de ser reintroduzido no corpo do paciente. Segundo Cohen, entre 50% e 80% do volume de plasma podem ser processados de cada vez.

Durante uma sessão, cujo valor ultrapassa US$ 12 mil (cerca de R$ 70 mil), "Os pacientes atendem ligações, fazem Zooms, assistem a filmes, dormem. Os que dormem são os meus favoritos", afirma Cohen. "Uma vez que está funcionando, você não sente nada. É muito confortável", conclui.

Para ela, os motivos que levam os pacientes à Clarify são variados, e incluem fadiga crônica, "névoa cerebral", Covid longa, uso de medicamentos para perda de peso, como o Ozempic, e preocupações com fertilidade ou demência. No entanto, a eficácia científica do procedimento ainda é objeto de debate.

<><> O tratamento Clari é eficaz?

Mesmo amplamente documentada, observar a correlação entre a presença de microplásticos no corpo e certos problemas de saúde não prova que os fragmentos microscópicos são a causa desses problemas. Sem essa relação causal, os procedimentos da Clarify operam em uma área cinzenta.

Isso significa que, embora a clínica londrina venda esperança, quando oferece tratamentos que supostamente removem microplásticos, PFAS (substâncias per e polifluoroalquil) e pesticidas do sangue, a ciência ainda não confirma que os contaminantes realmente causam problemas de saúde.

Essa falta de evidências suficientes para confirmar a relação de causa e efeito fazem parte de um relatório da OMS de 2022. Nele, a agência especializada em saúde não afirma que os microplásticos são seguros, mas reconhece que seus potenciais riscos continuam desconhecidos.

Embora estudos científicos recentes tenham encontrado associações entre a presença de microplásticos no corpo e danos às células e ao coração, esses estudos são classificados como “observacionais”, nos quais os pesquisadores só observam e registram dados, sem intervir ou controlar variáveis.

Ainda assim, o método é baseado na plasmaférese, um procedimento médico legítimo reconhecido como seguro e benéfico para tratar certas condições, como doenças autoimunes e neurológicas. Mas não necessariamente eficaz para remover microplásticos do corpo humano.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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