Traidor:
A aliança de Eduardo Bolsonaro com Trump que pavimentou o tarifaço
Antes
mesmo da eleição de Jair Bolsonaro (PL) à presidência, seu filho Eduardo
Bolsonaro (PL/SP) já articulava para aproximar sua família de líderes da
extrema-direita nos Estados Unidos (EUA). Desde 2019, a Agência
Pública investiga a aliança entre bolsonaristas e trumpistas, que culminou
na mais recente ofensiva do governo norte-americano contra o Brasil: o
“tarifaço” de 50% sobre as
importações brasileiras
nos EUA, que começa a valer no dia 1º de agosto. Do lado de lá, desde seu
primeiro mandato, o presidente Donald Trump e seus aliados tentam influenciar a
política brasileira por meio dos Bolsonaro.
Entenda
o passo a passo dessa conexão BolsoTrump.
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Trump apoiou Bolsonaro na eleição de 2018
Em
2019, a Pública revelou que Jair
Bolsonaro contou com o apoio político de representantes do governo Trump nas
eleições que levaram o brasileiro à presidência. Líderes cristãos nomeados como
assessores especiais de Trump estiveram no Brasil às vésperas do pleito em um
evento com Eduardo Bolsonaro, onde defenderam publicamente a eleição de
Bolsonaro à presidência e gravaram vídeos enaltecendo o então candidato.
Os
mesmos pastores atuaram nos bastidores para pressionar o governo do Brasil a
transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que
não se concretizou. Ainda assim, em dezembro de 2019, Bolsonaro inaugurou um
escritório comercial brasileiro em Jerusalém.
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Durante governo do pai, Eduardo estreitou laços com EUA
Ao
longo do governo de Jair, Eduardo ampliou os laços com a ala conservadora dos
EUA. A Pública mostrou que, nesse
período, ele participou de ao menos 77 encontros e eventos com representantes
da extrema-direita dos EUA, incluindo reuniões com Trump e membros de sua
família às vésperas da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
Em
2022, reportagem da Pública descobriu que uma
comitiva de 16 americanos estava no Brasil, a convite de Eduardo, no fatídico 7
de setembro de 2021, quando Jair fez ameaças golpistas e
incentivou seus apoiadores — muitos com faixas pedindo intervenção militar — a
atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Rede social trumpista patrocinou eventos organizados por Eduardo Bolsonaro
Às
vésperas dessa manifestação, aconteceu em Brasília a 2ª edição brasileira do
congresso conservador, o CPAC Brasil, um modelo importado dos EUA, que contou
com patrocínio da plataforma Gettr, comandada pelo ex-assessor de Trump, Jason
Miller. Miller é atualmente um dos aliados de Eduardo na ofensiva internacional
contra as instituições brasileiras.
A
Gettr financiou outros três
eventos organizados pelo Instituto Conservador Liberal, o think
tank de Eduardo. Essas iniciativas funcionaram, na prática, como
pré-campanha para Jair, em desacordo com a legislação eleitoral brasileira.
Durante
as eleições, Jason Miller esteve, inclusive, na
manifestação de 7 de setembro em Copacabana, usada por Bolsonaro como ato de
campanha. “Milhões de brasileiros patriotas nas ruas passando na sua timeline!!
Não tem coração verde e amarelo que aguente!!”, postou o perfil official da
GETTR.
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Jair copiou Trump após derrota nas eleições
Após a
derrota nas eleições de 2022, a Pública mostrou que Jair
Bolsonaro adotou táticas
semelhantes às usadas por Trump em 2020, enquanto lideranças da extrema-direita
americana desempenharam papel crucial no fortalecimento do discurso
bolsonarista contra o STF, o sistema eleitoral e o resultado
das eleições.
Foi o
ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, por exemplo, quem cunhou o termo Brazilian Spring (primavera
brasileira, em inglês), numa tentativa de associar os atos golpistas no Brasil
a um movimento democrático de massa, nos moldes da Primavera Árabe. A hashtag
circulou intensamente nas redes sociais e chegou aos trending topics do X,
antigo Twitter, em várias ocasiões, impulsionada por influenciadores e
parlamentares alinhados à extrema-direita global.
Steve
Bannon, no seu programa, afirmou que Bolsonaro não deveria reconhecer a
derrota. E entrevustou Paulo Figueiredo. “A minha pergunta é: é esse o começo
da primavera brasileira? Porque o povo está se levantando e ele não concedeu
[não aceitou o resultado]”, perguntou. Figueiredo respondeu: “Parece o início
de uma revolução. A questão principal não é se houve fraude real no processo de
contagem, porque isso é apenas uma parte. A eleição foi muito injusta desde o
início. Bolsonaro jogou e concorreu sob regras diferentes de todos os outros
candidatos, incluindo Lula”.
Já em
2023, investigação da Pública em parceria com o UOL e o CLIP (Centro
Latinoamericano de Investigação Jornalística) descobriu que a campanha
de Eduardo Bolsonaro pagou um funcionário do consultor político argentino
Fernando Cerimedo, responsável por disseminar desinformação sobre as urnas
eletrônicas. Cerimedo criou um dossiê que circulou amplamente usando falsas
estatísticas para afirmar que as urnas foram fraudadas e realizou uma live com
mais de 400 mil views compartilhada por influenciadores e políticos
bolsonaristas. Ele chegou a ser investigado no inquérito do STF que apura a
tentativa de golpe de Estado.
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Após vitória de Lula, Eduardo ampliou ações nos EUA
Após os
ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, Eduardo Bolsonaro abriu uma empresa nos EUA
em sociedade com o influenciador Paulo Generoso – conhecido por compartilhar
notícias falsas e por ter apoiado os atos golpistas. Após a derrota nas
eleições, a família Bolsonaro movimentou mais de R$ 1
milhão nos EUA.
Em
abril de 2024, a Pública foi o primeiro veículo a revelar que Eduardo
Bolsonaro e o influenciador Paulo Figueiredo articulavam com parlamentares
norte-americanos a imposição de sanções contra o Brasil, como forma de
pressionar o STF.
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Eduardo Bolsonaro: fiador do tarifaço
Em
março de 2025, Eduardo se licenciou do mandato na Câmara dos Deputados e se
mudou para os EUA, onde intensificou sua atuação na ofensiva internacional
contra as instituições brasileiras, resultando no anúncio do tarifaço pelo
presidente Trump, feito em 9 de julho deste ano. Na semana que o tarifaço está
previsto para começar, Eduardo defende a chantagem de Trump para pressionar o
Congresso brasileiro a conceder anistia a seu pai e aos demais condenados por
tentativa de golpe de Estado. A Procuradoria Geral da República (PGR) pediu a condenação de Jair, que
está desde 18 de julho usando uma tornozeleira eletrônica imposta por medida
cautelar.
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Em nota, Eduardo Bolsonaro comemora sanção a Moraes e diz
que “o custo será insuportável”
O
deputado federal Eduardo Bolsonaro, atualmente radicado nos Estados Unidos,
celebrou nesta quarta-feira (30) a decisão do governo norte-americano de
sancionar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A
medida foi oficializada com base na Lei Global Magnitsky, que permite aos EUA
punirem estrangeiros acusados de graves violações de direitos humanos ou
corrupção.
Em nota
conjunta assinada com o comentarista político Paulo Figueiredo, também em
exílio, Eduardo classificou a sanção como “histórica” e afirmou que, pela
primeira vez, Moraes enfrentaria “consequências concretas”. Os dois compararam
o ministro ao presidente venezuelano Nicolás Maduro e o descreveram como “o
arquiteto da censura, da repressão política e da perseguição judicial no
Brasil”.
“Hoje,
os Estados Unidos da América, sob a liderança do presidente Donald J. Trump, do
Secretário de Estado Marco Rubio e do Secretário do Tesouro Scott Bessent,
confirmaram o que milhões de brasileiros já sabiam: Alexandre de Moraes é um
violador de direitos humanos”, afirmaram.
Segundo
eles, as sanções financeiras são severas, mas ainda “leves diante do que Moraes
impôs a milhares de brasileiros inocentes”. A nota alega que o ministro teria
sido responsável por “exílio, silêncio forçado, humilhação pública, prisão sem
julgamento, confisco de bens, destruição de reputações e famílias”, e cita
ainda a morte de um apoiador, identificado apenas como “Clezão”.
A
declaração mais incisiva do texto é um aviso direto a autoridades brasileiras:
“O custo de apoiar Alexandre de Moraes, seja por omissão, cumplicidade ou
conveniência, será insuportável. Para os indivíduos e também para suas
famílias.” Para Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, a medida adotada por
Washington é apenas o início de uma nova fase de enfrentamento ao que chamam de
“tirania judicial” no Brasil.
“E este
não é, nem de longe, o último passo e, como bem disse o secretário Rubio, é
apenas um aviso”, escreveram. “Chegou a hora da escolha: estar com Moraes, ou
com o Brasil.”
Por
fim, os dois conclamaram outros países a seguirem o exemplo dos Estados Unidos
e reforçaram sua confiança no governo Trump. “Somos muito gratos e conclamamos
os demais líderes do mundo livre a se juntarem aos Estados Unidos”,
finalizam.
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Confira as cinco mentiras importadas do bolsonarismo para
Trump sancionar Alexandre de Moraes
O
governo de Donald Trump adotou a versão
deturpada do funcionamento da Justiça brasileira disseminada pelo deputado
licenciado Eduardo Bolsonaro e por seu
aliado golpista, o blogueiro de extrema direita Paulo Figueiredo, neto do último
general-presidente da Ditadura Militar, João Baptista Figueiredo (1918-1999).
Nesta
quarta-feira (30), o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou
sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, acusando-o de
promover “detenções arbitrárias”, “censura” e “perseguição política”.
A
medida, baseada na Lei Global Magnitsky — geralmente
usada contra regimes autoritários acusados de graves violações de direitos
humanos — é inédita contra um magistrado de uma democracia consolidada e
reflete diretamente as acusações repetidas por Jair Bolsonaro e seus aliados.
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O que dizem os EUA e o que mostram os fatos
O
comunicado de Washington acusa Moraes de "autorizar prisões
ilegais", "suprimir a liberdade de
expressão" e "conduzir uma caça às bruxas" contra
opositores, citando inclusive supostos impactos sobre cidadãos e empresas
dos EUA.
No
entanto, nenhum desses pontos encontra respaldo em órgãos independentes
de direitos humanos, nem se sustenta
diante da realidade institucional brasileira:
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1. “Alexandre de Moraes autorizou detenções preventivas arbitrárias”
# Realidade:
- Prisões
decretadas com base no Código de Processo Penal, confirmadas pelo plenário
do STF.
- Investigados com
pleno acesso à defesa e julgamento público.
- Nenhuma entidade
internacional classificou essas detenções como ilegais ou abusivas.
>>>
2. “Houve supressão da liberdade de expressão”
# Realidade:
- Bloqueios
atingiram perfis que incitaram crimes e atos golpistas, não opiniões
legítimas.
- A Constituição
brasileira não protege discursos criminosos.
- Plataformas como
X (ex-Twitter) e Meta cumpriram as ordens judiciais sem contestação.
>>>
3. “Moraes persegue politicamente Jair Bolsonaro e opositores”
# Realidade:
- As investigações
têm base em provas documentais, delações e depoimentos.
- As decisões são
colegiadas no STF e não partem apenas de Moraes.
- Empresários,
militares e civis envolvidos nos atos de 8 de janeiro também foram alvos,
mostrando que não há seletividade partidária.
>>>
4. “Ordens afetaram cidadãos e empresas dos EUA”
# Realidade:
- Determinações
focaram em brasileiros envolvidos em redes de desinformação, mesmo no
exterior.
- houve censura a veículos jornalísticos
estadunidenses nem bloqueios por nacionalidade.
- Plataformas dos
EUA cumpriram decisões dentro da jurisdição brasileira.
>>>
5. “Há abuso grave de direitos humanos que justifica a Lei Magnitsky”
# Realidade:
- A lei é aplicada
contra regimes acusados de tortura, assassinatos e corrupção sistêmica —
cenários inexistentes no Brasil.
- O país mantém
imprensa livre, sistema de freios e contrapesos e revisões judiciais
ativas.
- Nenhuma corte
internacional ou ONG de direitos humanos endossa essas acusações.
Sem
base jurídica ou factual
A
aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes não encontra precedentes. Enquanto ela
é voltada a países como Rússia e Mianmar, o Brasil segue com instituições
democráticas em funcionamento pleno.
Ao
importar argumentos do bolsonarismo, Washington adota uma medida sem base
técnica, que serve mais como combustível político para grupos golpistas do que
como uma sanção efetiva. Nenhuma instância internacional — como a ONU ou a
Corte Interamericana de Direitos Humanos — apontou violações de direitos
humanos por parte do STF ou de Moraes.
Na
prática, a decisão tem mais efeito simbólico do que jurídico e amplia um
conflito narrativo que deslegitima a Justiça brasileira.
Fonte: Por
Alice Maciel, da Agência Pública/Brasil 247/Fórum

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