quinta-feira, 31 de julho de 2025

Traidor: A aliança de Eduardo Bolsonaro com Trump que pavimentou o tarifaço

Antes mesmo da eleição de Jair Bolsonaro (PL) à presidência, seu filho Eduardo Bolsonaro (PL/SP) já articulava para aproximar sua família de líderes da extrema-direita nos Estados Unidos (EUA). Desde 2019, a Agência Pública investiga a aliança entre bolsonaristas e trumpistas, que culminou na mais recente ofensiva do governo norte-americano contra o Brasil: o “tarifaço” de 50% sobre as importações brasileiras nos EUA, que começa a valer no dia 1º de agosto. Do lado de lá, desde seu primeiro mandato, o presidente Donald Trump e seus aliados tentam influenciar a política brasileira por meio dos Bolsonaro.

Entenda o passo a passo dessa conexão BolsoTrump.

<><> Trump apoiou Bolsonaro na eleição de 2018

Em 2019, a Pública revelou que Jair Bolsonaro contou com o apoio político de representantes do governo Trump nas eleições que levaram o brasileiro à presidência. Líderes cristãos nomeados como assessores especiais de Trump estiveram no Brasil às vésperas do pleito em um evento com Eduardo Bolsonaro, onde defenderam publicamente a eleição de Bolsonaro à presidência e gravaram vídeos enaltecendo o então candidato.

Os mesmos pastores atuaram nos bastidores para pressionar o governo do Brasil a transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que não se concretizou. Ainda assim, em dezembro de 2019, Bolsonaro inaugurou um escritório comercial brasileiro em Jerusalém.

<><> Durante governo do pai, Eduardo estreitou laços com EUA

Ao longo do governo de Jair, Eduardo ampliou os laços com a ala conservadora dos EUA. A Pública mostrou que, nesse período, ele participou de ao menos 77 encontros e eventos com representantes da extrema-direita dos EUA, incluindo reuniões com Trump e membros de sua família às vésperas da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

Em 2022, reportagem da Pública descobriu que uma comitiva de 16 americanos estava no Brasil, a convite de Eduardo, no fatídico 7 de setembro de 2021, quando Jair fez ameaças golpistas e incentivou seus apoiadores — muitos com faixas pedindo intervenção militar — a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

<><> Rede social trumpista patrocinou eventos organizados por Eduardo Bolsonaro

Às vésperas dessa manifestação, aconteceu em Brasília a 2ª edição brasileira do congresso conservador, o CPAC Brasil, um modelo importado dos EUA, que contou com patrocínio da plataforma Gettr, comandada pelo ex-assessor de Trump, Jason Miller. Miller é atualmente um dos aliados de Eduardo na ofensiva internacional contra as instituições brasileiras.

A Gettr financiou outros três eventos organizados pelo Instituto Conservador Liberal, o think tank de Eduardo. Essas iniciativas funcionaram, na prática, como pré-campanha para Jair, em desacordo com a legislação eleitoral brasileira.

Durante as eleições, Jason Miller esteve, inclusive, na manifestação de 7 de setembro em Copacabana, usada por Bolsonaro como ato de campanha. “Milhões de brasileiros patriotas nas ruas passando na sua timeline!! Não tem coração verde e amarelo que aguente!!”, postou o perfil official da GETTR.

<><> Jair copiou Trump após derrota nas eleições

Após a derrota nas eleições de 2022, a Pública mostrou que Jair Bolsonaro adotou táticas semelhantes às usadas por Trump em 2020, enquanto lideranças da extrema-direita americana desempenharam papel crucial no fortalecimento do discurso bolsonarista contra o STF, o sistema eleitoral e o resultado das eleições.

Foi o ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, por exemplo, quem cunhou o termo Brazilian Spring (primavera brasileira, em inglês), numa tentativa de associar os atos golpistas no Brasil a um movimento democrático de massa, nos moldes da Primavera Árabe. A hashtag circulou intensamente nas redes sociais e chegou aos trending topics do X, antigo Twitter, em várias ocasiões, impulsionada por influenciadores e parlamentares alinhados à extrema-direita global.

Steve Bannon, no seu programa, afirmou que Bolsonaro não deveria reconhecer a derrota. E entrevustou Paulo Figueiredo. “A minha pergunta é: é esse o começo da primavera brasileira? Porque o povo está se levantando e ele não concedeu [não aceitou o resultado]”, perguntou. Figueiredo respondeu: “Parece o início de uma revolução. A questão principal não é se houve fraude real no processo de contagem, porque isso é apenas uma parte. A eleição foi muito injusta desde o início. Bolsonaro jogou e concorreu sob regras diferentes de todos os outros candidatos, incluindo Lula”.

Já em 2023, investigação da Pública em parceria com o UOL e o CLIP (Centro Latinoamericano de Investigação Jornalística) descobriu que a campanha de Eduardo Bolsonaro pagou um funcionário do consultor político argentino Fernando Cerimedo, responsável por disseminar desinformação sobre as urnas eletrônicas. Cerimedo criou um dossiê que circulou amplamente usando falsas estatísticas para afirmar que as urnas foram fraudadas e realizou uma live com mais de 400 mil views compartilhada por influenciadores e políticos bolsonaristas. Ele chegou a ser investigado no inquérito do STF que apura a tentativa de golpe de Estado.

<><> Após vitória de Lula, Eduardo ampliou ações nos EUA

Após os ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, Eduardo Bolsonaro abriu uma empresa nos EUA em sociedade com o influenciador Paulo Generoso – conhecido por compartilhar notícias falsas e por ter apoiado os atos golpistas. Após a derrota nas eleições, a família Bolsonaro movimentou mais de R$ 1 milhão nos EUA.

Em abril de 2024, a Pública foi o primeiro veículo a revelar que Eduardo Bolsonaro e o influenciador Paulo Figueiredo articulavam com parlamentares norte-americanos a imposição de sanções contra o Brasil, como forma de pressionar o STF.

<><> Eduardo Bolsonaro: fiador do tarifaço

Em março de 2025, Eduardo se licenciou do mandato na Câmara dos Deputados e se mudou para os EUA, onde intensificou sua atuação na ofensiva internacional contra as instituições brasileiras, resultando no anúncio do tarifaço pelo presidente Trump, feito em 9 de julho deste ano. Na semana que o tarifaço está previsto para começar, Eduardo defende a chantagem de Trump para pressionar o Congresso brasileiro a conceder anistia a seu pai e aos demais condenados por tentativa de golpe de Estado. A Procuradoria Geral da República (PGR) pediu a condenação de Jair, que está desde 18 de julho usando uma tornozeleira eletrônica imposta por medida cautelar.

¨      Em nota, Eduardo Bolsonaro comemora sanção a Moraes e diz que “o custo será insuportável”

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, atualmente radicado nos Estados Unidos, celebrou nesta quarta-feira (30) a decisão do governo norte-americano de sancionar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A medida foi oficializada com base na Lei Global Magnitsky, que permite aos EUA punirem estrangeiros acusados de graves violações de direitos humanos ou corrupção.

Em nota conjunta assinada com o comentarista político Paulo Figueiredo, também em exílio, Eduardo classificou a sanção como “histórica” e afirmou que, pela primeira vez, Moraes enfrentaria “consequências concretas”. Os dois compararam o ministro ao presidente venezuelano Nicolás Maduro e o descreveram como “o arquiteto da censura, da repressão política e da perseguição judicial no Brasil”.

“Hoje, os Estados Unidos da América, sob a liderança do presidente Donald J. Trump, do Secretário de Estado Marco Rubio e do Secretário do Tesouro Scott Bessent, confirmaram o que milhões de brasileiros já sabiam: Alexandre de Moraes é um violador de direitos humanos”, afirmaram.

Segundo eles, as sanções financeiras são severas, mas ainda “leves diante do que Moraes impôs a milhares de brasileiros inocentes”. A nota alega que o ministro teria sido responsável por “exílio, silêncio forçado, humilhação pública, prisão sem julgamento, confisco de bens, destruição de reputações e famílias”, e cita ainda a morte de um apoiador, identificado apenas como “Clezão”.

A declaração mais incisiva do texto é um aviso direto a autoridades brasileiras: “O custo de apoiar Alexandre de Moraes, seja por omissão, cumplicidade ou conveniência, será insuportável. Para os indivíduos e também para suas famílias.” Para Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, a medida adotada por Washington é apenas o início de uma nova fase de enfrentamento ao que chamam de “tirania judicial” no Brasil.

“E este não é, nem de longe, o último passo e, como bem disse o secretário Rubio, é apenas um aviso”, escreveram. “Chegou a hora da escolha: estar com Moraes, ou com o Brasil.”

Por fim, os dois conclamaram outros países a seguirem o exemplo dos Estados Unidos e reforçaram sua confiança no governo Trump. “Somos muito gratos e conclamamos os demais líderes do mundo livre a se juntarem aos Estados Unidos”, finalizam. 

¨      Confira as cinco mentiras importadas do bolsonarismo para Trump sancionar Alexandre de Moraes

O governo de Donald Trump adotou a versão deturpada do funcionamento da Justiça brasileira disseminada pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro e por seu aliado golpista, o blogueiro de extrema direita Paulo Figueiredo, neto do último general-presidente da Ditadura Militar, João Baptista Figueiredo (1918-1999).

Nesta quarta-feira (30), o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STFAlexandre de Moraes, acusando-o de promover “detenções arbitrárias”, “censura” e “perseguição política”.

A medida, baseada na Lei Global Magnitsky — geralmente usada contra regimes autoritários acusados de graves violações de direitos humanos — é inédita contra um magistrado de uma democracia consolidada e reflete diretamente as acusações repetidas por Jair Bolsonaro e seus aliados.

<><> O que dizem os EUA e o que mostram os fatos

O comunicado de Washington acusa Moraes de "autorizar prisões ilegais", "suprimir a liberdade de expressão" e "conduzir uma caça às bruxas" contra opositores, citando inclusive supostos impactos sobre cidadãos e empresas dos EUA.

No entanto, nenhum desses pontos encontra respaldo em órgãos independentes de direitos humanos, nem se sustenta diante da realidade institucional brasileira:

>>> 1. “Alexandre de Moraes autorizou detenções preventivas arbitrárias”

# Realidade:

  • Prisões decretadas com base no Código de Processo Penal, confirmadas pelo plenário do STF.
  • Investigados com pleno acesso à defesa e julgamento público.
  • Nenhuma entidade internacional classificou essas detenções como ilegais ou abusivas.

>>> 2. “Houve supressão da liberdade de expressão”

# Realidade:

  • Bloqueios atingiram perfis que incitaram crimes e atos golpistas, não opiniões legítimas.
  • A Constituição brasileira não protege discursos criminosos.
  • Plataformas como X (ex-Twitter) e Meta cumpriram as ordens judiciais sem contestação.

>>> 3. “Moraes persegue politicamente Jair Bolsonaro e opositores”

# Realidade:

  • As investigações têm base em provas documentais, delações e depoimentos.
  • As decisões são colegiadas no STF e não partem apenas de Moraes.
  • Empresários, militares e civis envolvidos nos atos de 8 de janeiro também foram alvos, mostrando que não há seletividade partidária.

>>> 4. “Ordens afetaram cidadãos e empresas dos EUA”

# Realidade:

  • Determinações focaram em brasileiros envolvidos em redes de desinformação, mesmo no exterior.
  •  houve censura a veículos jornalísticos estadunidenses nem bloqueios por nacionalidade.
  • Plataformas dos EUA cumpriram decisões dentro da jurisdição brasileira.

>>> 5. “Há abuso grave de direitos humanos que justifica a Lei Magnitsky”

# Realidade:

  • A lei é aplicada contra regimes acusados de tortura, assassinatos e corrupção sistêmica — cenários inexistentes no Brasil.
  • O país mantém imprensa livre, sistema de freios e contrapesos e revisões judiciais ativas.
  • Nenhuma corte internacional ou ONG de direitos humanos endossa essas acusações.

Sem base jurídica ou factual

A aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes não encontra precedentes. Enquanto ela é voltada a países como Rússia e Mianmar, o Brasil segue com instituições democráticas em funcionamento pleno.

Ao importar argumentos do bolsonarismo, Washington adota uma medida sem base técnica, que serve mais como combustível político para grupos golpistas do que como uma sanção efetiva. Nenhuma instância internacional — como a ONU ou a Corte Interamericana de Direitos Humanos — apontou violações de direitos humanos por parte do STF ou de Moraes.

Na prática, a decisão tem mais efeito simbólico do que jurídico e amplia um conflito narrativo que deslegitima a Justiça brasileira.

 

Fonte: Por Alice Maciel, da Agência Pública/Brasil 247/Fórum

 

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