Maria
Luiza Falcão: Trump recua. Chickens out. Mas o Brasil segue sob ataque
Donald Trump acaba de recuar. A tarifa de 50% sobre
as exportações brasileiras, anunciada com estardalhaço no início de junho e
prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, foi suspensa. O motivo alegado?
“Avaliação técnica em curso sobre impactos para o consumidor americano.” A verdade?
Trump chickened out. Amarelou. Recuou sob pressão.
Desde o
início, o tarifaço soava mais como chantagem política do que como uma medida
econômica racional. Carnes, café, frutas tropicais, suco de laranja e até
aeronaves brasileiras foram alvos não por ineficiência, mas por excelência. O
pretexto era “defesa da indústria americana”, mas o real motivo era político:
retaliação contra decisões soberanas do Brasil, incluindo a postura firme do
Supremo Tribunal Federal e do governo Lula em defesa da democracia.
A
adesão da extrema direita brasileira a Trump, com Eduardo Bolsonaro e aliados
buscando sanções para favorecer Jair Bolsonaro, só tornou tudo mais surreal.
Era o Brasil sendo alvejado por sua própria extrema direita, agora com assento
informal na Casa Branca.
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O recuo: pressão de dentro e de fora
A
verdade é que o tarifaço encontrou forte resistência nos EUA. Empresários da
Flórida e do Texas alertaram para o aumento de preços de alimentos.
Restaurantes, cafeterias, supermercados e a poderosa indústria de fast food
protestaram contra a medida. O café brasileiro, que chega fresco e barato,
ameaçava virar artigo de luxo. A carne também sofreria encarecimento imediato
para consumidores já afetados por inflação alimentar.
No
plano internacional, a medida isolava ainda mais os EUA em relação ao BRICS+ e
ao Sul Global. O Itamaraty, mesmo com discrição, costurava apoios nos
bastidores. Até mesmo alguns aliados europeus de Trump consideraram a ação
“exagerada”.
Trump
tentou rugir, mas teve que miar. A imagem de homem forte da economia começa a
desmoronar quando os próprios consumidores americanos reagem à alta de preços
nos supermercados, e quando os lobbies comerciais batem à porta da Casa Branca.
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Vitória brasileira? Sim. Mas o ataque mudou de forma
O
Brasil teve uma vitória parcial. Mostrou que tem aliados, que a chantagem tem
limite e que a dignidade econômica e diplomática ainda resiste. Mas é cedo para
baixar a guarda. O recuo pode ser momentâneo, um recálculo político. Soa como
uma forma de desviar a atenção do desastre do tarifaço.
O
ataque mudou de forma. Com o fracasso do tarifaço, Trump mirou diretamente o
coração da democracia brasileira, a Suprema Corte. O ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) que enfrentou os golpistas de 8 de
janeiro e resistiu às pressões de setores autoritários ligados ao bolsonarismo
foi o alvo.
A
sanção imposta a Alexandre de Moraes foi feita com base na chamada Global
Magnitsky Act, uma legislação dos Estados Unidos criada originalmente para
punir indivíduos estrangeiros acusados de corrupção ou violações graves de
direitos humanos. Inspirada no caso do advogado russo Sergei Magnitsky, morto
sob custódia após denunciar corrupção estatal, a lei permite que o governo dos
EUA congele ativos e negue vistos a pessoas que considerar envolvidas em
abusos. O problema é que, no caso brasileiro, essa legislação foi usada de
forma distorcida e politicamente motivada: não há crime, não há violação de
direitos. O que há é um juiz constitucional defendendo a democracia contra
ataques golpistas. Usar a Magnitsky Act contra Moraes é uma
aberração jurídica e uma grave afronta à soberania do Brasil.
A
ofensiva, disfarçada de ato administrativo, é, na prática, uma tentativa de
intimidar as instituições brasileiras e favorecer seus aliados internos. É mais
do que um ataque pessoal. É um ataque à soberania jurídica do Brasil.
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A soberania está em jogo
Trump chickened
out, mas não desistiu. Se o ataque econômico falhou, agora a tática é
institucional. Quando não se pode dobrar o país pela tarifa, tenta-se
desmoralizar suas instituições, seus juízes, suas leis, sua democracia. O
Brasil precisa entender a gravidade desse novo estágio.
O que
está em jogo não é apenas o comércio de café ou carne bovina. É o respeito à
soberania brasileira. É a capacidade de dizer não à chantagem, venha ela em
forma de tarifa ou de sanção.
Trump
mostrou que recua quando encontra resistência. Mas também mostrou que não tem
limites quando sente espaço. O Brasil venceu uma batalha, mas a guerra pela
autonomia e pelo respeito está longe de acabar.
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Trump abre quase 700 exceções
O
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30/7) uma ordem
executiva que oficializa a tarifa de 50% a produtos importados do Brasil. A
decisão foi justificada como resposta a ações do governo brasileiro que,
segundo a Casa Branca, representam uma
ameaça “incomum e extraordinária” à segurança nacional, à política externa e à
economia norte-americana.
O
tarifaço estava marcado para começar na sexta-feira (1º/8). No entanto, a ordem
executiva define para o dia 6 de agosto o início da vigência para mercadorias
inseridas para consumo, ou retiradas do depósito para consumo.
Apesar
da ordem executiva, Trump deixou quase 700 itens de fora do tarifaço, como
produtos aeronáuticos civis (o que interessa à Embraer), suco e derivados de
laranja (suco e polpa), minério de ferro, aço e combustíveis, por exemplo.
A
medida se baseia na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional
(Ieepa, na sigla em inglês), de 1977, e declara a instauração de uma nova
emergência nacional nos EUA em relação ao Brasil. O texto da ordem executiva
acusa o governo brasileiro de perseguir, intimidar, censurar e processar
politicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores, o que, na
visão do governo Trump, configuraria violações graves dos direitos humanos e um
enfraquecimento do Estado de Direito.
“O
presidente Trump tem reafirmado consistentemente seu compromisso de defender a
segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos contra
ameaças estrangeiras, inclusive salvaguardando a liberdade de expressão e
responsabilizando violadores de direitos humanos por seu comportamento ilegal”,
diz comunicado oficial.
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Agosto
- Donald Trump
reiterou, também nesta quarta (30/7), que o tarifaço comercial imposto
pelo governo norte-americano a diversos países, entre os quais o Brasil,
entrará mesmo em vigor na próxima sexta-feira (1º/8), sem possibilidade de
prorrogação.
- As declarações
de Trump foram dadas em mensagens publicadas em sua própria rede social, a
Truth Social, a apenas dois dias do fim do prazo estipulado pela Casa
Branca para que os países atingidos pelas tarifas negociem eventual
redução das taxas com os EUA.
- “O prazo de 1º
de agosto é o prazo de 1º de agosto. Ele continua firme e não será
prorrogado. Um grande dia para a América!”, escreveu Trump.
- No entanto, a
ordem executiva assinada pelo próprio presidente define para o dia 6/8 o
prazo para mercadorias inseridas para consumo, ou retiradas do depósito
para consumo.
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Censura e coação contra empresas dos EUA
Segundo
o documento, membros do governo brasileiro adotaram “medidas sem precedentes”
para coagir empresas norte-americanas de tecnologia a censurar discursos
políticos, remover usuários, entregar dados sensíveis ou mudar políticas de
moderação sob ameaça de sanções severas, como multas extraordinárias, processos
criminais, congelamento de ativos ou exclusão do mercado brasileiro.
“O
presidente Trump está defendendo empresas americanas da extorsão, protegendo
cidadãos americanos da perseguição política, salvaguardando a liberdade de
expressão americana da censura e salvando a economia americana de ficar sujeita
aos decretos arbitrários de um juiz estrangeiro tirânico”, afirma a Casa
Branca.
A ordem
executiva cita nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, acusado de abusar
de sua autoridade ao emitir centenas de ordens de censura contra críticos
políticos. De acordo com o texto, quando empresas norte-americanas se recusaram
a cumprir as determinações, Moraes teria imposto multas elevadas, ameaçado
executivos com processos criminais, congelado ativos e até removido empresas do
mercado digital brasileiro.
Além
disso, a Casa Branca menciona o caso do jornalista e youtuber bolsonarista
Paulo Figueiredo, residente nos EUA, que estaria sendo processado no Brasil por
discursos realizados em solo americano, o que Washington avalia como violação
direta à liberdade de expressão protegida pela Constituição dos Estados Unidos.
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Suspensão de vistos
A
medida tarifária está inserida em uma estratégia mais ampla da política externa
adotada por Trump, sob a diretriz “América em Primeiro Lugar”. No mesmo
contexto, o presidente ordenou, no último dia 18 de julho, a revogação dos vistos de entrada nos
EUA de Alexandre de Moraes, de seus aliados no STF e de seus familiares diretos. A medida foi
implementada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, como parte de uma política
anunciada em maio para negar vistos a estrangeiros envolvidos em atos de
censura contra cidadãos americanos.
A Casa
Branca alega que a política externa dos EUA prioriza os interesses nacionais e
protege seus valores fundamentais, como a liberdade de expressão e a defesa de
eleições livres. Para o governo Trump, as ações do Judiciário e do Executivo
brasileiro não apenas ferem esses princípios, como também configuram ameaças
diretas à estabilidade de empresas americanas que operam no país.
“Preservar
e proteger os direitos de liberdade de expressão de todos os americanos e
defender as empresas americanas da censura forçada permanecerão na vanguarda da
estratégia de política externa do presidente Trump”, diz a nota oficial.
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Oliveiros Marques: Tarifaço é luta ideológica
Com a
assinatura da ordem executiva por Trump, o tarifaço imposto ao Brasil pelo
governo norte-americano confirmou ser o que já parecia: a economia mundial
sendo utilizada como arma em uma guerra ideológica. A extrema-direita busca se
impor por meio de barreiras tarifárias, numa tentativa desesperada de conter
países soberanos que buscam se fortalecer no cenário global e oferecer melhores
condições de vida ao seu povo.
Confesso
que errei feio. Trump é tão aloprado quanto os seus assessores e aqueles que os
influenciam.
A
família Bolsonaro, organização criminosa lesa-pátria, responsável pela facção
brasileira na articulação dessas medidas, mostra mais uma vez sua disposição de
sabotar o próprio país. Incapaz de impor sua vontade por tanques invadindo as
instituições brasileiras, recorre agora aos aliados nos Estados Unidos para
promover um verdadeiro ataque à soberania e à economia nacional - tudo em nome
da defesa de seus próprios interesses. Ataques que colocam em risco setores
econômicos inteiros e milhares de empregos.
Pode
até soar irresponsável o que direi nas próximas linhas - e penso que seja mesmo
-, mas não é possível enfrentar uma guerra ideológica dessa magnitude fora do
campo político. Tratar esse tipo de agressão como se fosse apenas uma questão
econômico-comercial pode se constituir em um grande erro. Não há espaço, neste
estágio, para negociações produto por produto, setor por setor. Não haverá
convescote por telefone, nem pedido de bênção no Salão Oval que resolva o
problema criado pela família Bolsonaro.
Se o
governo brasileiro não falar grosso agora, em 2026 Trump - com todo o seu
aparato de inteligência e poder financeiro - tentará nomear o próximo
presidente do Brasil. A ausência de justificativa econômica no texto da ordem
executiva, assim como os recuos em produtos mais sensíveis à economia
norte-americana, deixa evidente que estamos diante de um movimento
político-ideológico orquestrado pela extrema-direita que se articula ao redor
do globo. Nem é preciso mencionar a sanção ao ministro Alexandre de Moraes,
imposta sob a chamada Lei Magnitsky.
Mas, em
meio a essa desgraça, algo de positivo se revela: agora está muito claro para o
país quem são os vendilhões do templo. Resta saber quem caminhará com eles - e
quem ficará com o Brasil.
¨ Soberania e
democracia são inseparáveis. Por Emir Sader
Em
resposta ao ataque do governo norte-americano, Lula resgatou uma categoria que
repousava no esquecimento ou mesmo no museu: a categoria de soberania.
Soberania
remete ao discurso do nacionalismo, de defesa da nação diante dos interesses
externos. Um país soberano é o que defende e preserva seus interesses nacionais
diante dos ataques do imperialismo.
Um país
soberano é o que preserva seus interesses próprios. No Brasil, o governo de
João Goulart era um governo nacionalista, que colocava em prática o que se
denominava de reformas de base. Reforma agrária, limitação da remessa de lucros
das empresas estrangeiras, entre outras.
O golpe
militar de 1964 liquidou, ao mesmo tempo, a democracia no Brasil e a política
de soberania nacional. A ditadura militarizou o Estado brasileiro, terminando
com a democracia, que havia sido conquistada duas décadas antes. E,
simultaneamente, promoveu uma política de subordinação aos interesses
externos, a ponto que o primeiro ministro de Relações Exteriores da ditadura
militar afirmou, nada mais, nada menos, que “O que é bom para os Estados Unidos
é bom para o Brasil”.
Nada
mais antagônico à soberania do que a política colocada em prática pelos
governos da ditadura militar. O país foi caracterizado então como
subimperialista, de tal forma ele representava na região os interesses dos
Estados Unidos e reproduzia sua política a nível regional.
Desapareciam
a democracia e a soberania. Quando foi restabelecida a democracia, mais de duas
décadas depois, o país seguiu sendo o mais desigual do continente mais desigual
do mundo.
Como se
poderia caracterizar o governo como democrático, se tão desigual? Como poderiam
conviver a igualdade diante da lei e a desigualdade profunda na realidade
concreta?
O país
carrega essa contradição até hoje. A eleição, pela primeira vez, de um líder
sindical, nordestino, de um partido de esquerda, à presidência da República, só
aprofunda as contradições que caracterizam a história brasileira.
Quando
Lula retoma a categoria de soberania, reafirma a decisão do seu governo de ter
uma política externa independente, soberana. Porém, ao mesmo tempo, apesar das
políticas antineoliberais dos governos do PT, o capital financeiro, de caráter
especulativo, segue sendo hegemônico no plano econômico.
Para
passar do antineoliberalismo ao pós-neoliberalismo, isto é, superando a etapa
histórica atual, seria necessário consolidar a democracia política e estendê-la
ao plano social. Seria indispensável, ao mesmo tempo, fazer da soberania a
referência central da política externa, em relação aos interesses externos, e
da política interna, promovendo os interesses da grande maioria da população
como os determinantes de todas as políticas do governo.
Que o
governo tenha não apenas a soberania, mas a democracia, sua irmã gêmea, como
seus eixos fundamentais. Não apenas da democracia formal, mas da democracia
real, aquela que faz com que todos sejamos iguais não somente perante a lei,
mas na realidade concreta.
¨ Trump esgarça
relações que Lula tenta tecer. Por Denise Assis
Como
tenho dito desde o início da chantagem imposta ao Brasil, mais do que
econômica, trata-se de uma questão política. Quando Donald Trump escreve em
letras maiúsculas que a “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro deve cessar
“IMEDIATAMENTE”, o que ele faz é lançar um ultimato. E isso não se faz a um
país soberano, com poderes autônomos e leis próprias.
A
decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar a Lei Magnitsky, impondo
sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, representa
um sinal muito forte de que, na sexta-feira (01/08), quando se encerra o prazo
prometido por Trump para anunciar sanções contra o Brasil — incluindo uma
tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os EUA —, ele não
recuará.
Desta
vez, ele pretende enterrar o rótulo de “TACO” que o acompanha desde o início de
seu governo, termo usado para apontar que, após cada ameaça ou medida mais dura
contra um país, ele voltava atrás. Isso levou os norte-americanos a enxergarem
em Trump um sinal claro de que costuma “amarelar”.
Ofendido
e amuado como uma criança contrariada — traços que exibe frequentemente em sua
personalidade —, Trump quer desfazer essa imagem às custas do Brasil. Ele
ignora os 201 anos de relações bilaterais e o impacto que medidas desse tipo
têm sobre produtos manufaturados brasileiros importados pelos Estados Unidos.
Desde que saia bem na foto, não se importa com as consequências.
Além de
ser uma enorme afronta ao país, o presidente norte-americano deixa evidente sua
disposição de continuar impondo ao Brasil uma política de opressão. Justamente
ele, que alega que nossa pátria é “uma ditadura”. Palavras ocas, repetidas a
partir do discurso de um deputado fujão: Eduardo Bolsonaro. Preocupado apenas
em salvar a pele do pai, sem chances de escapar de uma pesada condenação por
cinco crimes — entre eles, tentativa de golpe de Estado —, o filho de Jair tem
conseguido prejudicar uma nação inteira e, de quebra, o consumidor médio dos
EUA, que passará a pagar muito mais caro pelo café da manhã ou terá de abrir
mão do tradicional suco de laranja e do cafezinho. Eduardo não mediu
consequências, pensando apenas em interesses próprios e familiares. Merece
punição exemplar.
Trump
viu na situação uma oportunidade para dinamitar o bloco dos BRICS, ferindo o
Brasil por meio de sua economia. A medida tomada hoje mostra que ele leu cedo
o New York Times. Melhor assim. Se leu, entendeu que Lula não vai
ceder aos seus caprichos.
Fonte: Jornal
GGN/Metrópoles/Brasil 247

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