"Supremo
deve ser respeitado em todo o mundo", diz Lula sobre sanções de Trump a
ministros do STF
Em
entrevista publicada nesta quarta-feira (30) pelo jornal norte-americano The
New York Times, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a
legitimidade do Supremo Tribunal Federal (STF) e respondeu com preocupação à
possibilidade de sanções dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de
Moraes.
“A
Suprema Corte de um país deve ser respeitada não só no próprio país, mas pelo
mundo todo”, afirmou Lula, ao comentar a declaração do secretário de Estado
americano Marco Rubio, que disse haver “uma grande possibilidade” de que Moraes
seja enquadrado na Lei Magnitsky. No início da tarde desta quarta-feira, a
ameaça se concretizou e os Estados Unidos impuseram sanções a Moraes com base
na Lei Magnitsky.
“Se o
que você está falando é verdade é mais sério do que eu imaginava”, disse o
presidente ao repórter do jornal norte-americano.
A
resposta de Lula vem em meio ao acirramento de tensões entre Brasil e Estados
Unidos, com o pano de fundo do chamado “tarifaço” anunciado pelo presidente
Donald Trump, e críticas da ala republicana norte-americana à atuação do STF em
casos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A Lei
Magnitsky é uma ferramenta legal norte-americana criada em 2012, durante o
governo de Barack Obama, inicialmente para punir autoridades russas envolvidas
na morte do advogado Sergei Magnitsky. Após uma emenda aprovada em 2016, a
legislação passou a ter alcance global, permitindo sanções contra qualquer
pessoa acusada de corrupção ou violação grave de direitos humanos —
independentemente da nacionalidade.
A
aplicação da lei contra Moraes pode ter efeitos drásticos. Alvos da Lei
Magnitsky podem ter bens congelados nos Estados Unidos, perder acesso ao
sistema bancário internacional baseado em dólar e sofrer restrições severas em
operações financeiras, inclusive fora do território americano.
• Sanção dos EUA contra Moraes é agressão
à independência do Poder Judiciário brasileiro, diz Mercadante
O
governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, sancionou, nesta quarta-feira
(30), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com a
Lei Magnitsky, usada para punir estrangeiros acusados de corrupção ou violação
de direitos humanos.
A
decisão provocou reações imediatas no Brasil. O presidente do BNDES, Aloizio
Mercadante, divulgou uma nota em defesa de Moraes, classificando a medida como
uma “injusta agressão à soberania e à independência do Poder Judiciário
brasileiro”.
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Para
Mercadante, a punição representa uma tentativa inaceitável de interferência
externa nos assuntos internos do país.
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Confira a nota na íntegra:
“A
decisão do governo dos Estados Unidos de acionar a Lei Magnitsky para impor
sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes é uma
injusta agressão à soberania e à independência do Poder Judiciário brasileiro.
É inaceitável que um governo estrangeiro tente interferir no Poder Judiciário
brasileiro por meio pressões de qualquer tipo, especialmente com a punição a
ministros da nossa Suprema Corte.
Dentro
do que preconiza a Constituição Federal do Brasil, o ministro Alexandre de
Moraes tem desempenhado um papel fundamental na defesa do Estado Democrático de
Direito, que foi severamente ameaçado por uma tentativa de golpe, que envolveu
a invasão e a destruição da Praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro de
2023, pela elaboração de um plano de assassinato do presidente Lula, do
vice-presidente Geraldo Alckmin, do próprio ministro Alexandre de Moraes, bem
como pela tentativa de explosão de um
caminhão-tanque no aeroporto de Brasília e a invasão do prédio da
Polícia Federal, com a queima de carros e ônibus, também na capital da
República.
É
lamentável que forças políticas internas estejam atuando contra a soberania
nacional e contra o funcionamento independente dos poderes da nação, movidas
exclusivamente por interesses pessoais não republicanos. O Brasil é um país
soberano, democrático e com instituições sólidas, que seguramente irá resistir
a qualquer tipo de interferência autoritária internacional. Manifesto
publicamente minha solidariedade ao ministro Alexandre de Moraes.”
• "É um ataque ao Brasil", diz
Lindbergh após aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes
A
decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar sanções ao ministro Alexandre
de Moraes com base na Lei Global Magnitsky provocou forte reação. Em vídeo
publicado nesta quarta-feira (30), o líder do PT na Câmara dos Deputados,
Lindbergh Farias (RJ), classificou a medida como um “ataque ao Brasil” e
denunciou o envolvimento do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na articulação
das sanções, chamando-o de “canalha” e “traidor da pátria”.
A
repercussão do caso vem crescendo desde que Washington anunciou as sanções
financeiras contra Moraes, uma das figuras centrais do combate aos ataques à
democracia brasileira e relator das ações contra Jair Bolsonaro (PL) no Supremo
Tribunal Federal (STF). Trata-se da primeira vez em que um magistrado
brasileiro é enquadrado na legislação americana, originalmente criada para
punir violações de direitos humanos e corrupção.
“Vergonha
o que esse Trump está fazendo com os Estados Unidos. Isso não é mais uma
democracia. É um projeto autoritário”, disse Lindbergh, em tom incisivo. “Quero
dizer aqui que hoje o Brasil inteiro é o ministro Alexandre de Moraes. O ataque
ao ministro não é um ataque pessoal. É um ataque ao país, à nossa soberania, à
nossa democracia, ao Poder Judiciário independente".
A fala
do deputado petista aponta para uma tentativa de mobilizar solidariedade
institucional e política em defesa de Moraes, num momento em que a relação
entre os governos brasileiro e norte-americano atravessa forte turbulência.
“Ministro Alexandre de Moraes, nossa solidariedade. Hoje todo o Brasil é o
ministro Alexandre de Moraes nesta luta, na defesa das nossas instituições e da
nossa democracia”, declarou.
Lindbergh
também foi contundente ao criticar o envolvimento da família Bolsonaro na
iniciativa norte-americana. “Que vergonha essa família Bolsonaro. Traidores da
pátria. Eduardo Bolsonaro canalha, conspirando contra o Brasil, contra as
instituições nacionais”, afirmou.
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Sanção sem precedentes
A
inclusão de Moraes na lista de sanções da Lei Magnitsky é um movimento inédito
e sinaliza uma mudança de postura da gestão Trump em relação ao Brasil. A
legislação prevê o bloqueio de bens nos EUA, o impedimento de realizar
transações em dólar com instituições financeiras globais e outras restrições
severas. A medida se soma a outras ações recentes da Casa Branca contra o
Brasil, como o aumento de tarifas comerciais e a restrição de vistos a
autoridades do Judiciário.
Aliado
próximo de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro atuou diretamente, junto ao
comentarista Paulo Figueiredo, para pressionar a administração norte-americana
a adotar sanções contra o STF. O clã Bolsonaro acusa Moraes de liderar uma
suposta perseguição política contra o ex-presidente e seus apoiadores, tese
amplamente rechaçada por juristas, imprensa e autoridades brasileiras.
A
resposta do governo brasileiro, até agora, tem sido cautelosa, mantendo o foco
na defesa da soberania nacional e evitando o acirramento da crise diplomática.
• Aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes
é um ato “violento e arrogante”, diz Gleisi
A
ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), classificou como
"violenta e arrogante" a nova sanção imposta pelo governo de Donald
Trump ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em
publicação nas redes sociais nesta quarta-feira (30), Gleisi também acusou a
família Bolsonaro de traição ao país e reafirmou o apoio do governo Lula ao
Judiciário brasileiro.
"A
nova sanção do governo Trump ao ministro Alexandre de Moraes é um ato violento
e arrogante. Mais um capítulo da traição da família Bolsonaro ao país",
escreveu Gleisi. “Nenhuma Nação pode se intrometer no Poder Judiciário de
outra. Solidariedade ao ministro e ao STF. Repúdio total do governo Lula a mais
esse absurdo.”
A
manifestação de Gleisi ocorre após os Estados Unidos, sob a liderança de Trump,
incluírem Moraes na lista de indivíduos sancionados com base na Lei Global
Magnitsky — instrumento jurídico que permite ao governo americano aplicar
punições a estrangeiros acusados de corrupção ou violações graves de direitos
humanos. É a primeira vez que um integrante do STF é alvo dessa legislação.
As
sanções podem resultar no congelamento de bens nos EUA, bloqueio de
transferências em dólar, mesmo que feitas fora do território americano, e
cancelamento de cartões de crédito emitidos por instituições dos Estados
Unidos.
A
medida é o mais recente episódio de uma escalada diplomática. Em menos de um
mês, o governo Trump já restringiu vistos de membros do STF e do
procurador-geral Paulo Gonet, elevou tarifas sobre produtos brasileiros e abriu
uma investigação comercial contra o Brasil.
A
sanção foi articulada por aliados de Jair Bolsonaro nos EUA, especialmente o
deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o comentarista político Paulo Figueiredo.
Ambos vêm acusando Moraes de perseguição e censura, em razão do papel central
do ministro na condução de processos contra o ex-presidente, incluindo a
tentativa de golpe para abolir o Estado Democrático de Direito.
A
retaliação norte-americana é vista por membros do governo brasileiro como
interferência indevida em assuntos internos. No último dia 9, Trump condicionou
qualquer reaproximação diplomática ao fim do que chamou de “caça às bruxas”
contra Bolsonaro.
• Safatle critica sanção dos EUA contra
Moraes: "capitalismo é extensão de interesses imperiais"
O
professor e filósofo Vladimir Safatle criticou duramente, nesta quarta-feira
(30), a decisão do governo Donald Trump de impor sanções ao ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes com base na Lei Global Magnitsky. Em
publicação na rede X (antigo Twitter), Safatle disse que a medida revela o
caráter profundamente geopolítico e imperial do sistema financeiro global.
“O uso da Lei Magnitsky para defender
interesses mafiosos norte-americanos, impedindo magistrados brasileiros até de
usar cartão de crédito, mostra como o capitalismo nada tem de global e
descentralizado. Ele é territorial, extensão de interesses nacionais e
imperiais”, escreveu.
A
crítica de Safatle se soma a uma série de reações no Brasil diante da sanção
inédita a uma autoridade do Judiciário brasileiro. A medida do governo Trump
afeta diretamente a capacidade de Moraes de realizar transações internacionais,
incluindo o uso de cartões de crédito e movimentações bancárias que envolvam o
sistema financeiro dos EUA — mesmo que de forma indireta.
A
sanção foi resultado de uma campanha liderada por aliados de Jair Bolsonaro em
Washington, incluindo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o
comentarista Paulo Figueiredo. Ambos acusam Moraes de perseguição política e
censura contra o ex-presidente e seus apoiadores.
• Ministros do STF pressionam AGU a reagir
nos tribunais internacionais contra sanções dos EUA a Moraes
Ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF) defendem que a Advocacia-Geral da União (AGU)
recorra a tribunais internacionais para contestar a aplicação da Lei Magnitsky
dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes, anunciada pelo
governo estadunidense nesta quarta-feira (30), que prevê sanções - com base na
legislação norte-americana - a pessoas acusadas de violações de direitos
humanos.
Segundo
o jornal O Globo, na avaliação de integrantes da Corte brasileira, há margem
para que o caso seja questionado não apenas nos Estados Unidos, mas também em
outras instâncias judiciais internacionais. A Lei Magnitsky é executada
diretamente pelo Poder Executivo estadunidense e não requer julgamento ou
condenação prévia para que sanções sejam aplicadas. Trata-se de uma decisão
administrativa, muitas vezes baseada em relatórios ou denúncias de órgãos
multilaterais.
As
sanções previstas incluem o bloqueio de bens localizados em território
norte-americano, como contas bancárias, investimentos e imóveis. Além disso, o
uso do sistema financeiro dos EUA é automaticamente vedado ao atingido. Na
prática, isso significa que transações em dólar e cartões de crédito de
bandeiras de empresas estadunidenses ficam suspensos, mesmo fora da jurisdição
dos Estados Unidos.
Para os
ministros do STF, a iniciativa da Casa Branca fere princípios básicos da
legalidade internacional, uma vez que as punições são impostas sem julgamento e
com efeitos extraterritoriais. Com isso, os magistrados esperam que a AGU
reforce sua atuação internacional para resguardar autoridades brasileiras.
A
Advocacia-Geral da União já monitora outro processo nos EUA envolvendo
Alexandre de Moraes. O órgão, responsável pela representação jurídica dos Três
Poderes, acionou seu escritório nos Estados Unidos para acompanhar ações
judiciais movidas contra o ministro por duas empresas: a plataforma Rumble e o
conglomerado Trump Media & Technology Group.
As
companhias alegam que Moraes teria ferido a Primeira Emenda da Constituição
americana — que assegura a liberdade de expressão — ao determinar a exclusão de
contas de influenciadores brasileiros de extrema direita na plataforma Rumble.
Segundo a ação, a decisão do ministro configuraria tentativa de censura.
• Além de Moraes, veja quem mais já foi
alvo da Lei Magnitsky dos EUA
A
sanção imposta nesta quarta-feira (24) ao ministro Alexandre de Moraes pelo
governo do ex-presidente Donald Trump reacendeu o debate sobre a aplicação da
Lei Magnitsky, um instrumento criado pelos Estados Unidos para punir indivíduos
acusados de corrupção e violações de direitos humanos em qualquer parte do
mundo.
Desde
que foi adotada com escopo global em 2016, a lei já foi usada contra mais de
650 pessoas, segundo o relatório mais recente do Departamento do Tesouro dos
EUA, referente a 2023. As sanções incluem bloqueio de bens e contas, proibição
de entrada nos EUA e restrições comerciais com empresas americanas — medidas
que, na prática, têm efeitos extraterritoriais.
A norma
foi originalmente sancionada em 2012 pelo então presidente Barack Obama, com
foco em punir autoridades russas envolvidas na morte do advogado Sergei
Magnitsky, em 2009. Mas a partir de 2017, passou a ser aplicada globalmente. A
primeira leva de sanções incluiu nomes como o empresário dominicano Ángel
Rondón Rijo, ligado à Odebrecht, e o ex-presidente da Gâmbia Yahya Jammeh.
Nos
anos seguintes, também foram sancionados o presidente do Conselho Eleitoral da
Nicarágua, Roberto José Rivas, o deputado guatemalteco Julio Juárez, e, mais
recentemente, os ex-dirigentes paraguaios Horacio Cartes e Hugo Velázquez,
acusados de corrupção.
Em
2020, os EUA puniram ainda o departamento de polícia de Xinjiang e quatro
autoridades chinesas por abusos contra minorias étnicas, como os uigures.
A
inclusão de Alexandre de Moraes, no entanto, é vista como atípica e
politicamente sensível. O ministro não responde a acusações formais de
corrupção e atua dentro das regras de um regime democrático.
As
sanções, no entanto, não exigem condenação judicial. Basta uma decisão
administrativa do governo americano, com base em relatórios ou investigações
próprias. A lei autoriza o bloqueio de ativos dolarizados mesmo fora dos EUA,
impede o uso de cartões de crédito internacionais de bandeiras americanas e
pode levar à suspensão de contas em plataformas como Google, YouTube, Gmail e
redes sociais com sede nos EUA.
Fonte:
Brasil 247

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