Moisés
Mendes: O que vai sobrar da autofagia da extrema direita no Brasil
Muitos,
e não só os alcançados por Alexandre de Moraes, vão tombar na extrema direita
antes e durante a campanha eleitoral de 2026. Serão os comidos pelo processo de
autofagia do fascismo, em meio aos ataques de Trump e às tensões internas pela
sucessão de Bolsonaro.
Alguns
comerão, outros serão comidos, na reacomodação das estruturas de comando, dos
quadros intermediários, dos mandatos e das bases bolsonaristas. O líder dessa
reacomodação forçada, que não se orienta por nenhuma racionalidade, é o
deputado foragido Eduardo Bolsonaro.
Eduardo
atira em Tarcísio de Freitas, por temer de que o extremista moderado possa
liderar o bolsonarismo sem Bolsonaro. Atira em Nikolas pela inveja da
radicalidade de resultados do transfóbico da peruca. E desqualifica Zema e
Caiado por enxergá-los pelo que são, como oportunistas sem berço bolsonarista.
Outros,
mesmo que não sejam alvos de Eduardo, tombarão na disputa de espaços na extrema
direita raiz. Porque muitos, sem essa base que vem de 2018, não irão prosperar
em 2026.
O
ônibus do fascismo, considerando-se também a reacomodação do eleitorado depois
da crise provocada por Trump, pode estar lotado demais. Há muita gente do
bolsonarismo exacerbado num espaço que deve ser redimensionado, com a perda de
alguns latifúndios.
O
movimento feito pelo deputado Helio Lopes, tentando rearmar barracas em
Brasília, como fizeram em 2022 e 2023, estava no contexto dessa reacomodação. É
preciso, desesperadamente, fidelizar e acordar a base mais inflexível através
do resgate da memória dos acampamentos. Mas quem é Helio Lopes no teatro da
extrema direita?
A
bancada do PL de Lopes saltou de 76 deputados em 2018 para 99 em 2022, pelo
vínculo do partido ao arrendatário que tentava a reeleição. Bancadas da extrema
direita cresceram em Assembleias e Câmaras de Vereadores de todo o país. Em São
Paulo, o bolsonarismo engoliu o tucanismo.
A
depuração resultará do acúmulo de crises, desde a derrota na eleição de 2022,
do golpe fracassado e, agora, das invertidas que o bolsonarismo levou com as
chantagens de Trump. É também uma crise de autoestima.
Com a
dispersão de referências na direita, com o grande número de postulantes à
missão de enfrentar Lula e com os rachas daí decorrentes, o bolsonarismo
enfrenta o drama das grandes facções da política, do tráfico e da bandidagem em
geral.
Não se
sabe hoje, e se saberá menos ainda nos próximos meses, quem irá assumir o lugar
do chefão que estará fora do jogo no meio da primavera. A bandidagem miúda já
está em guerra pelo ponto.
As
engrenagens da direita poderão estar, a partir da condenação e prisão de
Bolsonaro, muito mais nas mãos acomodadoras dos espertalhões pragmáticos,
começando pelos que comandam o Congresso – Davi Alcolumbre e Hugo Motta, como
aprendiz e como professor –, e passando pelos rebanhos sob a liderança de
Gilberto Kassab, do que nas mãos e sob a gritaria do bolsonarismo.
O
centrão pode se libertar das más influências, a direita que ainda finge ser de
centro pode voltar ao seu leito natural, como se fosse a velha Arena, e a
extrema direita talvez se veja bem menor do que já foi desde a chegada de
Bolsonaro ao poder.
O
bolsonarismo só não sairá alquebrado dessa sequência de desastres, se Trump
conseguir fazer com a ajuda dos Bolsonaros o que os Bolsonaros tentaram e
fracassaram com a ajuda dos manés no 8 de janeiro. E se Lula estiver muito
fraco.
Se a
família Bolsonaro for para Trump o que os manés não conseguiram ser para eles e
os generais, e disseminarem o caos na economia, com desdobramentos políticos
graves, a extrema direita segue em frente.
Se
Trump sobreviver ao cerco da própria base
fascista e intensificar e ampliar os ataques ao Brasil. Se Lula se
enredar na tentativa de reação. E se os brasileiros assistirem tudo de longe,
como fizeram quando do golpe contra Dilma e quando do encarceramento de Dilma,
aí tudo pode acontecer. Até um golpe liderado pelo deputado Helio Lopes.
Mas aí,
se esse for o cenário, poderemos desistir de tudo e pedir desculpas a Alexandre
de Moraes e a Lula pela covardia de um país que os deixou lutando sozinhos.
Vamos
pensar e agir positivamente e fazer o possível para que o fascismo se fracione,
se disperse e, numa autofagia radical, coma o que ainda resta da própria
cabeça.
• João Cezar de Castro Rocha: "Brasil
é o principal alvo da extrema direita mundial"
Em
entrevista ao programa Boa Noite 247, o historiador e escritor João Cezar de
Castro Rocha alertou para o papel central do Brasil no projeto da extrema
direita global, classificando o país como "o principal alvo da extrema
direita mundial". Segundo ele, a atual conjuntura política brasileira
repete estratégias articuladas historicamente por interesses internacionais,
sobretudo dos Estados Unidos, com o objetivo de impedir a consolidação de um
projeto nacional soberano.
<><>
Golpes híbridos e desestabilização internacional
Para
João Cezar, a atual ofensiva contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva faz
parte de uma longa tradição de intervenções norte-americanas na América Latina.
Ele comparou o momento político atual ao período entre 1961 e 1964, que
precedeu o golpe militar, destacando a atuação de instituições como o IBAD e o
IPES, financiadas por capital estrangeiro para desestabilizar governos
nacionalistas.
Play
Video
"Entre
61 e 64 este país viveu um típico golpe de Estado planejado pela CIA",
afirmou. Segundo ele, a atuação da extrema direita hoje retoma essa mesma
lógica: "O que está em jogo no Brasil hoje é um processo permanente de
tentativa de desestabilização do governo Lula".
João
Cezar também lembrou que a CIA financiou greves de caminhoneiros no Chile antes
do golpe de 1973. Em sua avaliação, há semelhanças com o incentivo atual à
paralisação de caminhoneiros no Brasil por setores bolsonaristas. "Já
começou uma nova postagem: ‘se os caminhoneiros pararem, você apoia?’”,
relatou, associando a movimentação ao histórico de ações desestabilizadoras.
<><>
A atuação de Donald Trump e o papel da soberania nacional
O
historiador apontou que o governo brasileiro tem reagido de forma eficaz diante
dessas ameaças, como ao acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) para
denunciar a tentativa de ingerência externa por parte dos Estados Unidos, sob a
presidência de Donald Trump.
“É
indispensável que o Brasil consiga apoio na comunidade internacional para
resistir à pressão que virá”, afirmou. Para ele, o governo Lula tem adotado a
postura correta ao manter um discurso forte: “Historicamente, a única forma de
enfrentar um valentão com a psicologia do Trump é encará-lo. Se você baixar a
cabeça, acabou”.
João
Cezar citou uma fala recente de Lula à jornalista Christiane Amanpour, da CNN,
como exemplo dessa firmeza: “Se o presidente Trump estivesse no Brasil e
tivesse tentado o Capitólio, ele estaria preso no Brasil”.
<><>
Entreguismo, militarização da Amazônia e ataque à identidade nacional
Na
avaliação do historiador, a extrema direita bolsonarista tem se comprometido
com interesses estrangeiros e abandonado completamente qualquer ideal
nacionalista. “Não pode haver patriotismo na terra estrangeira”, disse, ao
comentar manifestações de apoio explícito de parlamentares bolsonaristas a
Donald Trump, com uso da bandeira dos EUA no Congresso Nacional.
Ele
também destacou o papel de Elon Musk no apoio ao bolsonarismo e seu interesse
pela Amazônia. “O Elon Musk tem hoje mapeado todos os recursos militares da
Amazônia melhor do que o governo brasileiro, porque a Amazônia só está
conectada pelo satélite da Starlink”, alertou.
<><>
O bolsonarismo em crise de identidade
João
Cezar sustenta que o bolsonarismo está enfraquecido ao trair sua suposta
ideia-força: o patriotismo. “O bolsonarismo comprometeu seu principal capital
político. Eles puseram boné, bateram continência pra bandeira dos Estados
Unidos”, criticou.
Para
ele, enquanto o lulismo tem uma ideia-força clara — inclusão social e soberania
nacional —, o bolsonarismo se revela incapaz de sustentar um projeto de país.
“Se amanhã o Lula dissesse que apoia a escala 6 por 1 ou é contra taxar os
bilionários, o lulismo acabaria. Porque estaria contrariando sua ideia-força”,
explicou.
<><>
Defesa da soberania como eixo de resistência
Ao
final da entrevista, João Cezar defendeu a necessidade de união nacional para
proteger a soberania brasileira diante do ataque articulado da extrema direita
transnacional. “Do que se trata agora é de unir forças para defender o governo,
unir forças para defender a soberania nacional e não hesitar na denúncia do
comportamento absolutamente asqueroso desses deputados”, concluiu.
• Paulo Nogueira Batista: "Trump
socorre Bolsonaro porque quer um Brasil vassalo"
"Trump
socorre Bolsonaro porque quer um Brasil vassalo", afirmou o economista
Paulo Nogueira Batista Jr., em entrevista ao programa Brasil Agora, transmitido
pela TV 247 no YouTube. Segundo ele, o apoio do presidente norte-americano ao
ex-mandatário brasileiro está diretamente relacionado ao papel geopolítico do
Brasil dentro do grupo BRICS, e ao temor dos Estados Unidos de perder o domínio
financeiro global.
Durante
a entrevista, Paulo Nogueira analisou a recente intensificação do confronto
entre os Estados Unidos e o grupo BRICS — formado por Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul —, especialmente após a cúpula realizada no Rio de
Janeiro, no segundo mandato do presidente Lula. Para ele, a reação de Donald
Trump ao grupo está diretamente ligada à ameaça que representa ao papel do
dólar como moeda hegemônica mundial.
“O
Trump tem sido preciso ao se opor à criação de uma nova moeda que possa ameaçar
o status do dólar como moeda de reserva”, declarou o economista. Ele também
destacou que o próprio Lula, ao defender uma moeda alternativa para transações
internacionais, “colocou bem o problema, fez isso publicamente”.
<><>
Brasil sob pressão e o retorno de Bolsonaro
Ao
comentar as sanções impostas por Trump a autoridades brasileiras e ameaças
relacionadas à política externa do país, Nogueira foi categórico: “A melhor
maneira de solapar a participação do Brasil nos BRICS é promover a volta de
Jair Bolsonaro, porque Bolsonaro disse que, caso voltasse a ser presidente, ele
sairia dos BRICS”.
Ele
reforçou que os Estados Unidos enxergam no atual governo brasileiro um
obstáculo à submissão geopolítica. “No Lula eles não encontram vassalo,
encontram alguém que tem pretensões de independência”, afirmou. Por isso, na
avaliação do economista, Trump tenta favorecer Bolsonaro com vistas a realinhar
o Brasil aos interesses de Washington.
<><>
Críticas à grande imprensa brasileira
Nogueira
também criticou o editorial recente do Estado de S. Paulo, que sugeriu que o
Brasil abandonasse os BRICS. “É uma peça de vassalagem, não tem dúvida. Repete
o que Bolsonaro já havia dito antes, pedindo a saída do Brasil do grupo”,
disse. Para ele, há um equívoco na percepção de que os BRICS seriam dominados
pela China ou alinhados a Rússia: “Os BRICS não são e nunca foram uma aliança
política, um bloco. É um mecanismo de cooperação, como o G7 ou o G20”.
Ele
lembrou que, no Novo Banco de Desenvolvimento, sediado em Xangai, os países
fundadores — incluindo o Brasil — têm igual poder de voto, com 20% cada. “Ali é
paritário. A China tem influência, claro, mas não controla o banco nem a
formação política dos BRICS”, explicou.
<><>
Risco de ruptura e o futuro geopolítico
Sobre a
possibilidade de o Brasil deixar os BRICS em caso de novo governo de extrema
direita, Nogueira alertou: “Se for o Bolsonaro, um filho dele ou a Michelle, o
risco seria muito alto”. Já sobre Tarcísio de Freitas, atual governador de São
Paulo e possível presidenciável, o economista considerou que “parece um pouco
menos irracional”, embora também represente um risco.
Para
Nogueira, abandonar os BRICS seria uma atitude “irracional”, ainda mais em um
cenário internacional marcado por maior confrontação entre Estados Unidos e os
países do Sul Global.
<><>
Diversificação das reservas e soberania monetária
O
economista também chamou atenção para a concentração das reservas cambiais
brasileiras em dólares e títulos do Tesouro dos EUA. “O Brasil está
excessivamente concentrado em dólares. Deveria ter comprado ouro, outros metais
preciosos, armazenados aqui”, defendeu. Ele citou o caso da Venezuela, que teve
reservas em ouro confiscadas em Londres, como exemplo dos riscos de depender do
sistema financeiro ocidental.
Segundo
ele, diversificar as reservas é uma necessidade cada vez mais urgente diante
das posturas de Trump. “Não estou dizendo que é provável que os Estados Unidos
façam alguma violência com os ativos brasileiros. Mas é possível. E como a
mudança da composição das reservas é um processo lento, já deveria ter
começado.”
• Medidas cautelares. Por Marcelo Aith
Em nova
decisão proferida nesta quinta-feira (24), o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), manteve as medidas cautelares impostas ao
ex-presidente Jair Bolsonaro e rejeitou os embargos de declaração apresentados
por sua defesa. Embora tenha negado o recurso, Alexandre de Moraes reforçou os
limites da proibição de uso de redes sociais, esclarecendo que entrevistas e
discursos públicos não podem ser usados como meio indireto de divulgação
digital por terceiros.
A
defesa do ex-presidente havia protocolado embargos em 22 de julho, pedindo que
a decisão anterior, de 17 de julho, fosse esclarecida quanto à possibilidade de
Jair Bolsonaro conceder entrevistas. Segundo os advogados, o ex-presidente se
comprometeria a não se manifestar publicamente até a definição do alcance da
proibição.
No
entanto, o ministro já havia sinalizado, em 21 de julho, que a vedação à
presença nas redes sociais incluía também “transmissões, retransmissões ou
veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das
plataformas digitais, inclusive de terceiros”. O objetivo seria impedir o uso
indireto dessas mídias para burlar a ordem judicial, sob pena de revogação das
medidas cautelares e eventual decretação de prisão preventiva.
Na
decisão de ontem, Alexandre de Moraes destacou que, dias antes, foram
publicadas postagens nas redes sociais com imagens do ex-presidente exibindo o
equipamento de monitoramento eletrônico e realizando discurso direcionado ao
público digital. Diante do possível descumprimento, a defesa foi intimada a
prestar esclarecimentos em 24 horas.
A
resposta dos advogados argumentou que Jair Bolsonaro não poderia ser
responsabilizado por conteúdos republicados por terceiros, dada a lógica
imprevisível da comunicação digital. Alexandre de Moraes, no entanto, rejeitou
essa justificativa e afirmou que há elementos que demonstram coordenação prévia
entre o ex-presidente e seus apoiadores para a publicação do material. Essa
conduta, segundo ele, revela a intenção de “embaraçar a ação penal” e reproduz
um modus operandi já identificado em investigações sobre as chamadas “milícias
digitais”.
O
ministro mencionou ainda que essas práticas buscariam instigar até mesmo chefes
de Estado estrangeiros a interferir em investigações em curso no Brasil, o que
poderia configurar atentado à soberania nacional. Entre os possíveis crimes
associados, Alexandre de Moraes cita coação no curso do processo (art. 344 do
Código Penal), obstrução de investigação de organização criminosa (Lei
12.850/13) e atentado à soberania (art. 359-I do Código Penal).
Um
ponto central da decisão é a reafirmação de que Bolsonaro não está proibido de
conceder entrevistas ou fazer discursos, desde que respeitados os horários e
limites impostos pelas medidas restritivas. O problema, segundo Moraes, está na
“instrumentalização” dessas falas para criar conteúdo voltado à circulação
digital, com o claro propósito de burlar as restrições às redes sociais.
A Corte
entende que a replicação sistemática de discursos por perfis coordenados –
ainda que não controlados diretamente por Jair Bolsonaro – poderá levar à
conversão das cautelares em prisão preventiva. “Não seria lógico e razoável
permitir a utilização do mesmo modus operandi criminoso com diversas postagens
nas redes sociais de terceiros”, escreveu Alexandre de Moraes, citando a
atuação de “milícias digitais” já alvo de investigações.
Um
episódio citado na decisão ocorreu na Câmara dos Deputados, quando Bolsonaro
discursou e, logo depois, a íntegra da fala foi publicada nas redes do deputado
Eduardo Bolsonaro, também investigado. O ministro considerou esse episódio uma
irregularidade isolada e não decretou a prisão do ex-presidente, mas fez uma
advertência clara: “se houver novo descumprimento, a conversão será imediata”.
A
decisão mantém a linha dura adotada por Alexandre de Moraes nos inquéritos que
envolvem o ex-presidente, mas levanta discussões sobre a viabilidade prática da
medida. A ressalva feita pelo ministro – de que entrevistas são permitidas,
desde que não resultem em conteúdos para redes sociais – parece, na prática, de
difícil execução. Na era da comunicação instantânea, é improvável que qualquer
manifestação pública não seja filmada, compartilhada e difundida por
apoiadores.
Essa
limitação, embora juridicamente válida, pode representar uma armadilha jurídica
para o investigado. A cada fala pública, o risco de “descumprimento reflexo” da
cautelar se renova, independentemente de sua intenção direta. E, embora
Alexandre de Moraes ressalte que a Justiça “é cega mas não é tola”, há dúvidas
sobre como distinguir ações deliberadas de burlas acidentais ou espontâneas,
quando a viralização ocorre por iniciativa alheia.
O cerco
jurídico se fecha, mas a complexidade operacional do caso acende alerta.
Prender o ex-presidente por atos de terceiros, neste momento, geraria um
tumulto político e jurídico de grande escala. Em vez disso, uma flexibilização
prudente da cautelar – com ênfase no monitoramento do conteúdo e na prova da
intenção dolosa – poderia preservar o equilíbrio entre o devido processo legal
e a liberdade de expressão.
Fonte:
Brasil 247/A Terra é Redonda

Nenhum comentário:
Postar um comentário