terça-feira, 29 de julho de 2025

Osnan Silva de Souza: Demonstração de força

Em mais um episódio da campanha para articular ataques às instituições brasileiras – e a própria soberania nacional –, Eduardo Bolsonaro expressou-se nos seguintes modos: “Não. Presidente Donald Trump não jogou uma bomba nuclear no Brasil — ainda”.

Em termos semelhantes, posicionou-se o seu irmão, Flávio Bolsonaro, alertando para que o país se curvasse perante as chantagens norte-americanas (e da família Bolsonaro): “Todos nós temos orgulho de ser brasileiros, mas como é que se resolve essa situação? Se você olhar para a Segunda Guerra Mundial, o que os Estados Unidos fizeram com o Japão? Lança uma bomba atômica em Hiroshima para demonstrar força”.

Para esses dois indivíduos, o Brasil deveria acatar imediatamente às imposições estadunidenses, pois as sanções econômicas (e jurídicas e administrativas) de Donald Trump cairiam no país – sem nenhuma capacidade de resistência ou reação perante a superpotência – como uma bomba nuclear.

Não obstante sejam metáforas e analogias que evidenciam a perversidade de dois parlamentares – os grandes campeões do patriotismo – para com a sua nação, há nelas um núcleo de eloquência. Uma eloquência histórica e filosófica.

Em A Linguagem do Império: léxico da ideologia estadunidense, Domenico Losurdo analisa que, embora seja sempre apresentado pela linguagem dominante para caracterizar as ações de resistência e revide daqueles que não se alinham aos interesses do Ocidente liberal, sobretudo do seu país-guia, o Terrorismo é um fenômeno complexo e multifacetado, que pode se expressar desde o terrorismo de massa, passando pelas ações que põem a população civil como refém, até embargos e punições coletivas. São categorias que podem caminhar muito bem de mãos dadas. Na verdade, em ambos o alvo são os cidadãos.

Quando falamos em “terrorismo de massa”, logo se remete ao morticínio de 11 de Setembro. No entanto – nos alerta o filósofo italiano –, “se por terrorismo de massa entendermos o desencadeamento da violência contra a população civil com o intuito de alcançar determinados objetivos políticos e militares”, precisamos lembrar do que “o exemplo mais clamoroso dessa terrível forma de violência foi o aniquilamento nuclear de Hiroshima e Nagasaki”.

Nesse sentido, Flávio Bolsonaro recorre a uma expressão acertada quando se refere à ação dos EUA sobre as cidades japonesas como “demonstração de força”. Voltemos a Domenico Losurdo: “a aniquilação da população civil de Hiroshima e Nagasaki visava, mais do que o Japão que já estava para capitular, a URSS, a quem se lançou uma pesada advertência”. São massacradas centenas de civis desarmados para aterrorizar o aliado, “já considerado como novo inimigo”. A fala dos dois irmãos nos faz lembrar que o terror é um elemento constitutivo da política externa norte-americana.

Contudo, “o terrorismo pode assumir formas menos radicais”. Na década de 1990, após o fim do romance com Saddam Hussein (sobretudo para agredir o Irã), Washington impôs um “embargo impiedoso” ao Iraque, que castigou de maneira brutal a sua população: “nenhum alívio até que Saddam se vá […]. Não importa o que Saddam esteja disposto a fazer: enquanto ele governar, os Estados Unidos vão vetar qualquer tentativa de aliviar as sanções”.

Um povo inteiro é feito refém, para ser ceifado pela fome e por doenças que se tornaram incuráveis devido ao embargo. Bush pai enviara uma mensagem inequívoca a Bagdá: “livre-se de Saddam, ou esqueça que pode extrair petróleo”. Lia-se na Folha de S. Paulo, em 1999: “Iraque. Mortalidade infantil cresce mais de 100% após embargo”. As estimativas de mortes de civis durante as sanções estiveram na faixa de 100 000 a mais de 1,5 milhão, a maioria delas crianças.

Domenico Losurdo é categórico: “o embargo é a arma de destruição em massa por excelência”. Imposto ao Iraque sob a alegação de “impedir o acesso de Saddam às armas de destruição em massa”, o embargo ao Iraque “causou mais mortes do que todas as armas de destruição em massa ao longo da história”. Portanto, é como se o país árabe tivesse sofrido simultaneamente os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, os ataques com gás mostarda do exército de Guilherme II e Benito Mussolini, entre outros: “o embargo surge como a arma terrorista por excelência”.

Embora tenha enfatizado o caso dos iraquianos, diversos outros povos foram vitimados pelo horror estadunidense, por meio dos seus embargos e sanções ao longo de décadas. Lembremos da Venezuela: em 2019, durante o primeiro Governo Trump, lia-se no The Washington Post: “Trump intensificou seus esforços para forçar a saída do presidente venezuelano Nicolás Maduro do poder, bloqueando toda a receita americana para a empresa petrolífera nacional”.

Na ocasião, almejava-se minar Nicolás Maduro e fortalecer Guaidó. O secretário de Estado, Mike Pompeo, concedeu a Guaidó o controle de certas contas do governo venezuelano no Federal Reserve Bank de Nova York. “Esta certificação ajudará o governo legítimo da Venezuela a proteger esses ativos em benefício do povo venezuelano”, disse Pompeo. The Washington Post: “ao privar Maduro de uma fonte crucial de recursos, o governo Trump aumentou drasticamente a pressão sobre seu governo”.

“Como podemos culpar os requerentes de asilo que fogem do desespero e da pobreza, se estamos contribuindo exatamente para o desespero e a pobreza de que eles estão tentando fugir?” – disse ao Intercept o deputado Greg Casar, do Partido Democrata do Texas – “No final das contas, o que vimos na prática é que em regra não conseguimos a liberdade de imprensa, as eleições livres e justas e a transparência que demandamos. O que acabamos conseguindo é deixar as pessoas cada dia mais famintas”.

Para Greg Casar, as ações dos EUA apenas sufocam “a economia de outros países”. As sanções “contribuíram para uma das mais graves contrações econômicas já registradas em tempo de paz, significativamente mais grave do que a Grande Depressão. Em decorrência disso, mais de 7 milhões de venezuelanos foram levados a fugir do país, desencadeando a maior crise de migração do hemisfério ocidental”.

Diante desses fatos, parecem uma piada as análises de Lourival Sant’Anna, colunista da CNN Brasil, alegando que as “medidas dos EUA visam desgastar o regime gradualmente, evitando afetar diretamente a população venezuelana”. (Para o analista, a “escalada” de Donald Trump contra o Brasil e o governo Lula é a “materialização destrutiva da polarização”).

As agressões do governo de Donald Trump ao Brasil – sob formas de sanções e ataques às nossas instituições – fazem parte de um histórico de terror da política externa norte-americana.

Se é verdade que o momento exige de nós um posicionamento anti-imperialista altivo e atuante, é também necessária muita cautela. Num artigo muito curioso no Brasil 247, Eduardo Guimarães anuncia “o risco de o Brasil capitular é real”. No material, o autor critica determinado setor da Esquerda que viu Trump, Kamala Harris e Joe Biden como “a mesma coisa”.

Assim, segue em suas reflexões: “O Brasil, com seu destemido sistema de Justiça, inspira a humanidade a resistir à maior ameaça surgida nos últimos 100 anos, desde que um pintor austríaco fracassado se converteu em “herói de guerra” e se tornou “chanceler” germânico em 1933, a fim de promover o maior holocausto da história”.

Assim, convoca todo o povo brasileiro a “emprestar seu apoio incondicional” aos ministros do STF, alvos de uma ação direta do governo de Donald Trump, pois esses magistrados “constituem a barreira democrática que nos separa do abismo autoritário de triste memória, que olha para nós após tê-lo encarado nas formas hediondas de Donald Trump, Jair Bolsonaro e seus sequazes”.

Vamos por partes. É verdade que nunca é “a mesma coisa”. Há, obviamente, notáveis diferenças entre Donald Trump e Joe Biden. No entanto, seria um equívoco maldito não lembrarmos, por exemplo, que o genocídio do povo palestino foi incondicionalmente apoiado e patrocinado por Joe Biden!

É, portanto, muito compreensível o posicionamento daqueles que viram a permanência dos Democratas e o retorno dos Republicanos como “a mesma coisa”, pelo menos no que se refere ao Oriente Médio e mais precisamente ao destino reservado às crianças e mulheres palestinas. Embora os historiadores não sejam bons em prever o futuro, não é preciso muito esforço para vislumbrar que Kamala Harris daria prosseguimento à aniquilação de Gaza.

Em segundo lugar, não há dúvidas de que Donald Trump é uma ameaça ao campo democrático e um desafio para aqueles que se posicionam contra o imperialismo e colonialismo. No entanto, colocá-lo como a maior ameaça do planeta desde o hitlerismo não é apenas um recalcamento e atropelamento da História, mas também acaba por ignorar o sofrimento e a resistência de diversos povos frente ao imperialismo na Ásia e África, por exemplo.

Ora! Lembremos, primeiramente, que a política interna norte-americana – mais precisamente o modo como os negros eram tratados pelo regime da White Supremacy nos EUA – inspira o Terceiro Reich. Hitler não foi uma mutação na história do Ocidente, mas filho do pensamento racial e do colonialismo europeu. Ademais, mesmo após a queda do hitlerismo, vemos regimes de segregação racial nos EUA; o Ocidente permanece com campos de extermínio em países do continente africano (como o Quênia).

E os massacres no Vietnã? E os bombardeios de quase 100% das cidades norte-coreanas? E infinitas ações imperialistas por parte do Ocidente ao redor do planeta….

Por fim, penso que seja um pouco problemático personalizar (ou personificar) nos ministros do Supremo Tribunal Federal “a barreira democrática”. É inegável o papel que alguns magistrados têm desempenhado, bem como o governo federal, em agir diligentemente contra as agressões trumpstas em coordenação com o bolsonarismo.

Mas não ignoremos o protagonismo empreendido pelos trabalhadores brasileiros que têm dado grande apoio ao governo; estão incansáveis nas redes e marcaram forte presença na Avenida Paulista, declarando que a soberania brasileira era algo inegociável. José Arbex Jr. foi enfático: “nenhuma resistência ao imperialismo será bem-sucedida, se o povo não entrar em cena (…). Sem a mobilização popular independente, você não enfrenta o imperialismo”.

Para finalizar essas reflexões, percebamos que as ações do presidente norte-americano têm um caráter complexo e multifacetado. Tem-se dito que o governo de Donald Trump quer na presidência do Brasil – maior país da América do Sul – uma figura estritamente alinhada aos seus interesses políticos e ideológicos; outros apontam para a China e o Brics. São análises muito pertinentes, que merecem ser destrinchadas com cautela em outro momento.

No entanto, alguns observadores têm chamado a atenção para o papel do grande capital – na figura das Big Techs – nas agressões infligidas ao Brasil. A professora Priscila Caneparo dos Anjos apontou que as tarifas de 50% impostas ao país são motivadas “pelos interesses das big techs (…). O ataque ao PIX não vem de graça. A gente tem o Google Pay pensando em ingressar no Brasil de maneira muito forte, bem como o Apple Pay, e o grande concorrente vai ser de fato o Pix”.

Estejamos atentos, unidos e organizados no enfrentamento às agressões imperialistas.

•        Patriotismo, razão e emoção. Por Francisco Calmon

É estranha essa LEGISLAÇÃO CONGRESSUAL que permite uma licença de um deputado federal para viver em outro país atacando o Estado brasileiro.

É ético? É legítimo? Eleito pelo sufrágio universal da soberania popular, vai para o exterior para atentar contra a soberania nacional, é muito esdrúxulo, não?

A PF cochilou, Marcos do Val escafedeu-se. A facilidade com que os patriotários fogem está desmoralizando o sistema judicial.

E os capixabas vão aprender a votar e não eleger mais fascistas paranoicos como representante?

As figuras da extrema-direita que choram junto com Bolsonaro pela tornozeleira eletrônica e sentem dores de cotovelo pelo alucinado Eduardo, eram as mesmas que comemoravam o golpe à Dilma e as perdas na família de Lula enquanto estava preso.

Se não houver união dos poderes, dos empresários e trabalhadores, e a sociedade organizada não sair às ruas, o intento bolsonarista de sabujísmo aos steites pode ser fortificado.

É mister tirarmos lições desse quadro conjuntural, exemplos: confiar nos steites não dá mais; depender de tecnologias sem outros opções é risco que não pode continuar a ser subestimado; conviver com adversários ideológicos sem anteparo, como se fossem companheiros, é ingenuidade irresponsável; é urgente investir no trabalho da base da sociedade para renovar democraticamente esse Legislativo que atua contra o povo.

A famiglia Bolsonaro opera contra o Brasil.  Ela será a culpada por tudo que os Estados Unidos fizerem contra o nosso país.

O meliante Bolsonaro afirmou que doravante só segue a lei de Deus, MAS SE NUNCA SEGUIU, sempre prevaricou perante as leis terrenas e os mandamentos da bíblia, na qual encontramos: prevaricar significa infringir a lei de Deus, desviar-se do caminho reto, abandonar o dever e desobedecer aos mandamentos divinos.

É um termo que abrange a ideia de faltar ao cumprimento da justiça, agir com desonestidade e abandonar os princípios morais estabelecidos por Deus.

Quem furta, quem açula a violência e assassinatos, e dá sinais de pedofilia, misoginia, racismo, ofende as leis terrenas e celestiais.

Bolsonaro como Trump e Netanyahu, são encarnações do demo, são filhos da besta-fera

A guerra dos EUA não é com o governo, é contra o Estado democrático de direito, um esquema sujo e golpista movimentado pela famiglia e pela extrema-direita. E deverá vir novas medidas de agressão às instituições do estado.

Lula, como comandante em chefe das Forças Armadas, deveria convocar os comandantes para falar sobre a guerra do Trump e ouvir as opiniões, antes que conspiradores agitem por lá.

Para a água chegar a ferver, ela precisa passar pelo processo de ebulição, onde a temperatura do líquido atinge o seu ponto de transformação em vapor (100°C ao nível do mar).

Bolsonaro para chegar à prisão tem que passar pela ebulição, ou seja: de um estado de grande agitação, excitação ou fervor, seja em relação a emoções, ideias ou eventos. É uma metáfora para um estado de efervescência, onde algo está prestes a explodir ou tomar proporções maiores.

O ministro Alexandre de Moraes está como piloto dessa ebulição para decretar a prisão, que ao meu sentir já passou do ponto. 

Este é o cenário adequado para Lula inaugurar as caravanas patrióticas em defesa da soberania da nação brasileira e do Estado democrático de direito, intensificando as visitas aos estados.

É o momento certo e necessário para as centrais sindicais, os movimentos sociais, os partidos democratas e patrióticos, desfraldarem a bandeira contra o imperialismo estadunidense e na defesa uníssona da soberania brasileira

Há meses estávamos preocupados com a comunicação do governo com o povo, agora, por mais que ainda a comunicação seja um tanto o quanto voltada à bolha militante, vemos cada vez mais a aproximação do coração da pátria com o povo.

O governo tem a chance de ouro de redefinir o senso comum do que é ser patriota, após quatro anos de falso patriotismo do bolsonarismo.

Esta luta é nossa! Lula precisa de todos e todas. O repúdio ao imperialismo e ao bolsonarismo deve ser o eixo a nortear os movimentos e partidos democratas e patriotas.

 

Fonte: A Terra é Redonda/Brasil 247 

 

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