Osnan
Silva de Souza: Demonstração de força
Em mais
um episódio da campanha para articular ataques às instituições brasileiras – e
a própria soberania nacional –, Eduardo Bolsonaro expressou-se nos seguintes
modos: “Não. Presidente Donald Trump não jogou uma bomba nuclear no Brasil —
ainda”.
Em
termos semelhantes, posicionou-se o seu irmão, Flávio Bolsonaro, alertando para
que o país se curvasse perante as chantagens norte-americanas (e da família
Bolsonaro): “Todos nós temos orgulho de ser brasileiros, mas como é que se
resolve essa situação? Se você olhar para a Segunda Guerra Mundial, o que os
Estados Unidos fizeram com o Japão? Lança uma bomba atômica em Hiroshima para
demonstrar força”.
Para
esses dois indivíduos, o Brasil deveria acatar imediatamente às imposições
estadunidenses, pois as sanções econômicas (e jurídicas e administrativas) de
Donald Trump cairiam no país – sem nenhuma capacidade de resistência ou reação
perante a superpotência – como uma bomba nuclear.
Não
obstante sejam metáforas e analogias que evidenciam a perversidade de dois
parlamentares – os grandes campeões do patriotismo – para com a sua nação, há
nelas um núcleo de eloquência. Uma eloquência histórica e filosófica.
Em A
Linguagem do Império: léxico da ideologia estadunidense, Domenico Losurdo
analisa que, embora seja sempre apresentado pela linguagem dominante para
caracterizar as ações de resistência e revide daqueles que não se alinham aos
interesses do Ocidente liberal, sobretudo do seu país-guia, o Terrorismo é um
fenômeno complexo e multifacetado, que pode se expressar desde o terrorismo de
massa, passando pelas ações que põem a população civil como refém, até embargos
e punições coletivas. São categorias que podem caminhar muito bem de mãos
dadas. Na verdade, em ambos o alvo são os cidadãos.
Quando
falamos em “terrorismo de massa”, logo se remete ao morticínio de 11 de
Setembro. No entanto – nos alerta o filósofo italiano –, “se por terrorismo de
massa entendermos o desencadeamento da violência contra a população civil com o
intuito de alcançar determinados objetivos políticos e militares”, precisamos
lembrar do que “o exemplo mais clamoroso dessa terrível forma de violência foi
o aniquilamento nuclear de Hiroshima e Nagasaki”.
Nesse
sentido, Flávio Bolsonaro recorre a uma expressão acertada quando se refere à
ação dos EUA sobre as cidades japonesas como “demonstração de força”. Voltemos
a Domenico Losurdo: “a aniquilação da população civil de Hiroshima e Nagasaki
visava, mais do que o Japão que já estava para capitular, a URSS, a quem se
lançou uma pesada advertência”. São massacradas centenas de civis desarmados
para aterrorizar o aliado, “já considerado como novo inimigo”. A fala dos dois
irmãos nos faz lembrar que o terror é um elemento constitutivo da política
externa norte-americana.
Contudo,
“o terrorismo pode assumir formas menos radicais”. Na década de 1990, após o
fim do romance com Saddam Hussein (sobretudo para agredir o Irã), Washington
impôs um “embargo impiedoso” ao Iraque, que castigou de maneira brutal a sua
população: “nenhum alívio até que Saddam se vá […]. Não importa o que Saddam
esteja disposto a fazer: enquanto ele governar, os Estados Unidos vão vetar
qualquer tentativa de aliviar as sanções”.
Um povo
inteiro é feito refém, para ser ceifado pela fome e por doenças que se tornaram
incuráveis devido ao embargo. Bush pai enviara uma mensagem inequívoca a Bagdá:
“livre-se de Saddam, ou esqueça que pode extrair petróleo”. Lia-se na Folha de
S. Paulo, em 1999: “Iraque. Mortalidade infantil cresce mais de 100% após
embargo”. As estimativas de mortes de civis durante as sanções estiveram na
faixa de 100 000 a mais de 1,5 milhão, a maioria delas crianças.
Domenico
Losurdo é categórico: “o embargo é a arma de destruição em massa por
excelência”. Imposto ao Iraque sob a alegação de “impedir o acesso de Saddam às
armas de destruição em massa”, o embargo ao Iraque “causou mais mortes do que
todas as armas de destruição em massa ao longo da história”. Portanto, é como
se o país árabe tivesse sofrido simultaneamente os bombardeios atômicos de
Hiroshima e Nagasaki, os ataques com gás mostarda do exército de Guilherme II e
Benito Mussolini, entre outros: “o embargo surge como a arma terrorista por
excelência”.
Embora
tenha enfatizado o caso dos iraquianos, diversos outros povos foram vitimados
pelo horror estadunidense, por meio dos seus embargos e sanções ao longo de
décadas. Lembremos da Venezuela: em 2019, durante o primeiro Governo Trump,
lia-se no The Washington Post: “Trump intensificou seus esforços para forçar a
saída do presidente venezuelano Nicolás Maduro do poder, bloqueando toda a
receita americana para a empresa petrolífera nacional”.
Na
ocasião, almejava-se minar Nicolás Maduro e fortalecer Guaidó. O secretário de
Estado, Mike Pompeo, concedeu a Guaidó o controle de certas contas do governo
venezuelano no Federal Reserve Bank de Nova York. “Esta certificação ajudará o
governo legítimo da Venezuela a proteger esses ativos em benefício do povo
venezuelano”, disse Pompeo. The Washington Post: “ao privar Maduro de uma fonte
crucial de recursos, o governo Trump aumentou drasticamente a pressão sobre seu
governo”.
“Como
podemos culpar os requerentes de asilo que fogem do desespero e da pobreza, se
estamos contribuindo exatamente para o desespero e a pobreza de que eles estão
tentando fugir?” – disse ao Intercept o deputado Greg Casar, do Partido
Democrata do Texas – “No final das contas, o que vimos na prática é que em
regra não conseguimos a liberdade de imprensa, as eleições livres e justas e a
transparência que demandamos. O que acabamos conseguindo é deixar as pessoas
cada dia mais famintas”.
Para
Greg Casar, as ações dos EUA apenas sufocam “a economia de outros países”. As
sanções “contribuíram para uma das mais graves contrações econômicas já
registradas em tempo de paz, significativamente mais grave do que a Grande
Depressão. Em decorrência disso, mais de 7 milhões de venezuelanos foram
levados a fugir do país, desencadeando a maior crise de migração do hemisfério
ocidental”.
Diante
desses fatos, parecem uma piada as análises de Lourival Sant’Anna, colunista da
CNN Brasil, alegando que as “medidas dos EUA visam desgastar o regime
gradualmente, evitando afetar diretamente a população venezuelana”. (Para o
analista, a “escalada” de Donald Trump contra o Brasil e o governo Lula é a
“materialização destrutiva da polarização”).
As
agressões do governo de Donald Trump ao Brasil – sob formas de sanções e
ataques às nossas instituições – fazem parte de um histórico de terror da
política externa norte-americana.
Se é
verdade que o momento exige de nós um posicionamento anti-imperialista altivo e
atuante, é também necessária muita cautela. Num artigo muito curioso no Brasil
247, Eduardo Guimarães anuncia “o risco de o Brasil capitular é real”. No
material, o autor critica determinado setor da Esquerda que viu Trump, Kamala
Harris e Joe Biden como “a mesma coisa”.
Assim,
segue em suas reflexões: “O Brasil, com seu destemido sistema de Justiça,
inspira a humanidade a resistir à maior ameaça surgida nos últimos 100 anos,
desde que um pintor austríaco fracassado se converteu em “herói de guerra” e se
tornou “chanceler” germânico em 1933, a fim de promover o maior holocausto da
história”.
Assim,
convoca todo o povo brasileiro a “emprestar seu apoio incondicional” aos
ministros do STF, alvos de uma ação direta do governo de Donald Trump, pois
esses magistrados “constituem a barreira democrática que nos separa do abismo
autoritário de triste memória, que olha para nós após tê-lo encarado nas formas
hediondas de Donald Trump, Jair Bolsonaro e seus sequazes”.
Vamos
por partes. É verdade que nunca é “a mesma coisa”. Há, obviamente, notáveis
diferenças entre Donald Trump e Joe Biden. No entanto, seria um equívoco
maldito não lembrarmos, por exemplo, que o genocídio do povo palestino foi
incondicionalmente apoiado e patrocinado por Joe Biden!
É,
portanto, muito compreensível o posicionamento daqueles que viram a permanência
dos Democratas e o retorno dos Republicanos como “a mesma coisa”, pelo menos no
que se refere ao Oriente Médio e mais precisamente ao destino reservado às
crianças e mulheres palestinas. Embora os historiadores não sejam bons em
prever o futuro, não é preciso muito esforço para vislumbrar que Kamala Harris
daria prosseguimento à aniquilação de Gaza.
Em
segundo lugar, não há dúvidas de que Donald Trump é uma ameaça ao campo
democrático e um desafio para aqueles que se posicionam contra o imperialismo e
colonialismo. No entanto, colocá-lo como a maior ameaça do planeta desde o
hitlerismo não é apenas um recalcamento e atropelamento da História, mas também
acaba por ignorar o sofrimento e a resistência de diversos povos frente ao
imperialismo na Ásia e África, por exemplo.
Ora!
Lembremos, primeiramente, que a política interna norte-americana – mais
precisamente o modo como os negros eram tratados pelo regime da White Supremacy
nos EUA – inspira o Terceiro Reich. Hitler não foi uma mutação na história do
Ocidente, mas filho do pensamento racial e do colonialismo europeu. Ademais,
mesmo após a queda do hitlerismo, vemos regimes de segregação racial nos EUA; o
Ocidente permanece com campos de extermínio em países do continente africano
(como o Quênia).
E os
massacres no Vietnã? E os bombardeios de quase 100% das cidades norte-coreanas?
E infinitas ações imperialistas por parte do Ocidente ao redor do planeta….
Por
fim, penso que seja um pouco problemático personalizar (ou personificar) nos
ministros do Supremo Tribunal Federal “a barreira democrática”. É inegável o
papel que alguns magistrados têm desempenhado, bem como o governo federal, em
agir diligentemente contra as agressões trumpstas em coordenação com o
bolsonarismo.
Mas não
ignoremos o protagonismo empreendido pelos trabalhadores brasileiros que têm
dado grande apoio ao governo; estão incansáveis nas redes e marcaram forte
presença na Avenida Paulista, declarando que a soberania brasileira era algo
inegociável. José Arbex Jr. foi enfático: “nenhuma resistência ao imperialismo
será bem-sucedida, se o povo não entrar em cena (…). Sem a mobilização popular
independente, você não enfrenta o imperialismo”.
Para
finalizar essas reflexões, percebamos que as ações do presidente
norte-americano têm um caráter complexo e multifacetado. Tem-se dito que o
governo de Donald Trump quer na presidência do Brasil – maior país da América
do Sul – uma figura estritamente alinhada aos seus interesses políticos e
ideológicos; outros apontam para a China e o Brics. São análises muito
pertinentes, que merecem ser destrinchadas com cautela em outro momento.
No
entanto, alguns observadores têm chamado a atenção para o papel do grande
capital – na figura das Big Techs – nas agressões infligidas ao Brasil. A
professora Priscila Caneparo dos Anjos apontou que as tarifas de 50% impostas
ao país são motivadas “pelos interesses das big techs (…). O ataque ao PIX não
vem de graça. A gente tem o Google Pay pensando em ingressar no Brasil de
maneira muito forte, bem como o Apple Pay, e o grande concorrente vai ser de
fato o Pix”.
Estejamos
atentos, unidos e organizados no enfrentamento às agressões imperialistas.
• Patriotismo, razão e emoção. Por
Francisco Calmon
É
estranha essa LEGISLAÇÃO CONGRESSUAL que permite uma licença de um deputado
federal para viver em outro país atacando o Estado brasileiro.
É
ético? É legítimo? Eleito pelo sufrágio universal da soberania popular, vai
para o exterior para atentar contra a soberania nacional, é muito esdrúxulo,
não?
A PF
cochilou, Marcos do Val escafedeu-se. A facilidade com que os patriotários
fogem está desmoralizando o sistema judicial.
E os
capixabas vão aprender a votar e não eleger mais fascistas paranoicos como
representante?
As
figuras da extrema-direita que choram junto com Bolsonaro pela tornozeleira
eletrônica e sentem dores de cotovelo pelo alucinado Eduardo, eram as mesmas
que comemoravam o golpe à Dilma e as perdas na família de Lula enquanto estava
preso.
Se não
houver união dos poderes, dos empresários e trabalhadores, e a sociedade
organizada não sair às ruas, o intento bolsonarista de sabujísmo aos steites
pode ser fortificado.
É
mister tirarmos lições desse quadro conjuntural, exemplos: confiar nos steites
não dá mais; depender de tecnologias sem outros opções é risco que não pode
continuar a ser subestimado; conviver com adversários ideológicos sem anteparo,
como se fossem companheiros, é ingenuidade irresponsável; é urgente investir no
trabalho da base da sociedade para renovar democraticamente esse Legislativo
que atua contra o povo.
A
famiglia Bolsonaro opera contra o Brasil.
Ela será a culpada por tudo que os Estados Unidos fizerem contra o nosso
país.
O
meliante Bolsonaro afirmou que doravante só segue a lei de Deus, MAS SE NUNCA
SEGUIU, sempre prevaricou perante as leis terrenas e os mandamentos da bíblia,
na qual encontramos: prevaricar significa infringir a lei de Deus, desviar-se
do caminho reto, abandonar o dever e desobedecer aos mandamentos divinos.
É um
termo que abrange a ideia de faltar ao cumprimento da justiça, agir com
desonestidade e abandonar os princípios morais estabelecidos por Deus.
Quem
furta, quem açula a violência e assassinatos, e dá sinais de pedofilia,
misoginia, racismo, ofende as leis terrenas e celestiais.
Bolsonaro
como Trump e Netanyahu, são encarnações do demo, são filhos da besta-fera
A
guerra dos EUA não é com o governo, é contra o Estado democrático de direito,
um esquema sujo e golpista movimentado pela famiglia e pela extrema-direita. E
deverá vir novas medidas de agressão às instituições do estado.
Lula,
como comandante em chefe das Forças Armadas, deveria convocar os comandantes
para falar sobre a guerra do Trump e ouvir as opiniões, antes que conspiradores
agitem por lá.
Para a
água chegar a ferver, ela precisa passar pelo processo de ebulição, onde a
temperatura do líquido atinge o seu ponto de transformação em vapor (100°C ao
nível do mar).
Bolsonaro
para chegar à prisão tem que passar pela ebulição, ou seja: de um estado de
grande agitação, excitação ou fervor, seja em relação a emoções, ideias ou
eventos. É uma metáfora para um estado de efervescência, onde algo está prestes
a explodir ou tomar proporções maiores.
O
ministro Alexandre de Moraes está como piloto dessa ebulição para decretar a
prisão, que ao meu sentir já passou do ponto.
Este é
o cenário adequado para Lula inaugurar as caravanas patrióticas em defesa da
soberania da nação brasileira e do Estado democrático de direito,
intensificando as visitas aos estados.
É o
momento certo e necessário para as centrais sindicais, os movimentos sociais,
os partidos democratas e patrióticos, desfraldarem a bandeira contra o
imperialismo estadunidense e na defesa uníssona da soberania brasileira
Há
meses estávamos preocupados com a comunicação do governo com o povo, agora, por
mais que ainda a comunicação seja um tanto o quanto voltada à bolha militante,
vemos cada vez mais a aproximação do coração da pátria com o povo.
O
governo tem a chance de ouro de redefinir o senso comum do que é ser patriota,
após quatro anos de falso patriotismo do bolsonarismo.
Esta
luta é nossa! Lula precisa de todos e todas. O repúdio ao imperialismo e ao
bolsonarismo deve ser o eixo a nortear os movimentos e partidos democratas e
patriotas.
Fonte:
A Terra é Redonda/Brasil 247

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