Tarifaço
dos EUA: o que o mercado espera para 1° de agosto
"Esperar
para ver": este é o sentimento que toma conta dos agentes do mercado
financeiro a menos de uma semana o início das tarifas de 50% impostas pelos
Estados Unidos em produtos importados do Brasil, nesta sexta-feira (1º).
O clima
de indefinição para os efeitos no país ocorre em paralelo aos anúncios de
acordos entre Donald Trump e outros líderes globais. Neste domingo (27), foi a
vez da União Europeia, que firmou acerto de 15% para a venda de itens ao
mercado norte-americano.
Para o
Brasil, contudo, os economistas e gestores esperam a aplicação efetiva dos 50%,
mas esperam por uma negociação após choques econômicos para os dois países.
"Se
impactar na economia real [americana], os assessores de Trump vão pedir para
não continuar, porque o americano é racional. E esperamos que peçam acordos
setoriais, com setor do café e com o da laranja, por exemplo", afirma
Stephan de Sabrit, managing partner do Grupo Leste.
Com
mais de R$ 16 bilhões em gestão, Sabrit acompanha a situação com preocupação,
sobretudo porque a maioria dos investidores atendidos por ele são brasileiros.
"É
o famoso 'esperar para ver', porque Trump sempre volta atrás. A maioria dos
nossos investimentos são de médio e longo prazo. E vejo que as coisas vão se
acertar ainda no médio prazo", diz o investidor.
Ao
chegar no Brasil, Sabrit conta que se deu conta da dimensão do tarifaço, visto
que nos EUA a situação brasileira é acompanhada como mais um país na lista de
tarifas de Trump.
O clima
de expectativa também inclui o empenho da via diplomática brasileira. Gustavo
Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca a falta de interlocução entre
Brasília e Washington após diversas tentativas dos brasileiros de trazer os
americanos para a mesa de negociação.
"Esperamos
que o Brasil negocie a questão dos minerais críticos e anuncie investimentos,
adotando uma postura diplomática para postergar as tarifas. Acontece que os EUA
não estão ouvindo", afirma.
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Efeitos na bolsa
Há
semanas, mercados do mundo inteiro operam de olho nas negociações de Trump.
Esta antecipação das causas, dizem os analistas, já está embutida nos preços
dos ativos, blindando a bolsa brasileira de grandes variações nos próximos
dias.
O
movimento antecipado dos investidores faz com que o Ibovespa encerre julho com
queda de quase 4%, revertendo uma série de quatro meses seguidos de fechamentos
mensais no azul.
"Não
se espera grande volatilidade no Ibovespa, porque o mercado já precificou as
tarifas e confia nas vias diplomáticas brasileiras", diz Sung.
O que
anima os investidores, por outro lado, é a perspectiva de firmar acordos
comerciais com Trump.
Mas um
dos obstáculos do Brasil ainda é o fator político, único diferencial de todos
os outros países taxados, no qual Trump pede o fim de um processo judicial
contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Sung
espera que mais empresas recorram à Justiça americana para evitar o tarifaço
contra o Brasil. Ele faz menção ao caso da Johanna Foods, importadora americana
de suco de laranja, que acionou a Justiça na semana passada.
"Isso
vai ser uma tendência a partir de agora. Mais empresas, de diferentes setores,
vão buscar a Justiça", afirma.
• Do agro à indústria, empresas têm vendas
aos EUA suspensas antes de tarifas
Às
vésperas de entrar em vigor a tarifa de 50% prometida pelo presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, empresas brasileiras do agronegócio à indústria
têm contratos de exportação suspensos e embarques de mercadorias ao país
norte-americano cancelados.
Um dos
setores que já admite perdas é o de pescados. O presidente da Abipesca
(Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), Eduardo Lobo, disse em
entrevista à CNN que “todos os embarques de mercadorias foram suspensos e
pedidos foram cancelados”.
“Em
vigorando a taxa de 50% ninguém vai exportar e a cadeia produtora vai travar”,
completou o executivo.
Relata
situação semelhante o segmento madeireiro. Paulo Roberto Pupo, superintendente
da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada
Mecanicamente), disse à CNN que “há alguns contratos cancelados e uma série de
embarques postergados até que a situação da tarifa se defina”.
“Em
função disso, várias empresas já estão diminuindo produção, cortando turnos e
várias já têm anúncio de férias coletivas”, concluiu.
Já
importadores norte-americanos de ferro-gusa — matéria-prima para o aço —
anunciaram a suspensão de contratos com fornecedores do Brasil, segundo
Fernando Varela, presidente do Sindifer (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas
e de Material Elétrico do Estado do Espírito Santo).
Apesar
de o cancelamento de pedidos ainda não estar na mesa, Varela ressalta que
empresários encaram a proximidade do prazo e a falta de resolução com temor.
"Está chegando o dia e até agora não foi vista uma ação concreta de
negociação por parte do governo", opinou.
No
segmento de suco de laranja, não há relatos de cancelamentos de embarque ou
suspensão de contratos, segundo um representante setorial consultado pela CNN.
O relato, contudo, é de que a negociação de novas vendas estão paralisadas
enquanto há incertezas sobre as taxas.
Nem
todos os segmentos de exportação relevante aos EUA relatam impacto, contudo.
Representantes dos setores de café e de carne bovina disseram à CNN que ainda
não há registro de suspensão de contratos ou cancelamentos de embarques.
O setor
produtivo, por meio de associações e entidades representativas, vem pedindo ao
governo federal pragmatismo nas negociações com os EUA e a extensão do prazo
para o início da vigência da taxa. Auxiliares de Donald Trump reiteraram nos
últimos dias que os 50% valerão em 1º de agosto.
• Governo mapeia mercados para
redirecionar produtos do agro
O
governo federal mapeia mercados para o redirecionamento de produtos
agropecuários que deixarão de ser exportados para os Estados Unidos, caso a
tarifa de 50% entre em vigor em 1º de agosto.
São
duas frentes: a abertura de novos mercados e a ampliação de fluxos comerciais
para destinos para os quais os produtos já são exportados, relatam fontes ao
Broadcast Agro.
O
diagnóstico de destinos alvos está sendo feito pelo Ministério da Agricultura
juntamente com o Ministério das Relações Exteriores e Ministério do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O Oriente Médio e a Ásia estão
na mira das ações.
O foco
inicial está nos setores mais atingidos pela tarifa de 50% e mais expostos ao
mercado norte-americano, caso do suco de laranja, do café, da carne bovina, das
frutas e dos pescados, apurou o Broadcast Agro.
O
governo alinha a estratégia conjuntamente com o setor privado, sobretudo quanto
a quais mercados devem ser priorizados nas negociações bilaterais. Em outra
ponta, adidos agrícolas que atuam nas embaixadas no exterior foram orientados a
procurar importadores para colocar o país à disposição e identificar
oportunidades no exterior.
Em
paralelo, câmaras de comércio já acionam o governo para apresentar seus países
como possível destino para o redirecionamento dos produtos brasileiros, caso
dos países árabes.
Um
raio-x inicial apresentado ao setor produtivo pelo Ministério da Agricultura a
entidades que representam os exportadores do setor inclui a conclusão de
tratativas de aberturas de mercado, a habilitação de frigoríficos e a
negociação para redução tarifária de alguns produtos.
"Todas
as alternativas estão à mesa para minimizar o máximo possível os impactos do
fluxo comercial afetado com os Estados Unidos. O primeiro passo é olhar os
setores que terão vendas inviabilizadas aos EUA com a taxa de 50% e realizar
busca ativa de oportunidades", afirma um interlocutor que acompanha as
tratativas.
No
Ministério da Agricultura, há recomendação de reforçar agendas do ministro com
seus pares de outros países para acelerar as conversas com países importadores
em alto nível e destravar negociações em curso.
Entre
as possibilidades citadas estão a abertura do Japão, da Turquia e da Coreia do
Sul para a carne bovina brasileira, tratativas que estão em andamento. O
processo mais avançado é com o Japão, que já fez auditoria no sistema sanitário
nacional e deve dar o aval à proteína brasileira em novembro deste ano.
Ainda
em carne bovina, o Brasil negocia a ampliação de frigoríficos habilitados a
exportar o produto para Indonésia, Vietnã e México. Há pedido de habilitação de
pelo menos 50 plantas somando os três destinos. O aval depende da autoridade
sanitária de cada país importador.
No caso
do suco de laranja, uma das negociações no pipeline envolve o pedido de redução
de alíquota cobrada pela China para importação do produto brasileiro, que chega
lá com imposto de 7,5% ou 20%, o que hoje limita os embarques ao país.
A
Arábia Saudita também é citada como um destino para ampliar as vendas externas
de suco de laranja.
• Os ataques flagrantes de Trump ao
direito internacional não são novidade para os EUA. São bipartidários. Por Ben
Norton
O
governo Donald Trump lançou muitos ataques frontais às organizações
multilaterais e ao direito internacional.
No
entanto, essas claras violações do direito internacional não são novidade para
os presidentes dos EUA. A oposição ao multilateralismo tem sido uma
característica bipartidária da política americana por muitas décadas.
Em
fevereiro, Trump retirou os Estados Unidos do Conselho de Direitos Humanos da
ONU (CDHNU), repetindo uma ação que havia feito em 2018, durante seu primeiro
mandato.
O
governo Trump também atacou a Agência das Nações Unidas de Assistência aos
Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA) e anunciou que havia cortado
o financiamento dos EUA tanto para a UNRWA quanto para o CDH da ONU.
Então,
em julho, Trump retirou os Estados Unidos da UNESCO, a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
O
Departamento de Estado dos EUA reclamou que “a decisão da UNESCO de admitir o
'Estado da Palestina' como Estado-Membro é altamente problemática, contrária à
política dos EUA e contribuiu para a proliferação da retórica anti-Israel
dentro da organização”.
Durante
seu primeiro mandato, em 2017, Trump também retirou os EUA da UNESCO.
Em
contraste superficial com Trump, o governo Joe Biden empregou cinicamente uma
retórica sobre multilateralismo. Mas era apenas marketing, pois Washington
ainda agia de forma agressiva e unilateral.
Em
2021, Biden fez com que os EUA voltassem a integrar o Conselho de Direitos
Humanos da ONU . Seu Secretário de Estado, Antony Blinken, insistiu que
Washington estava defendendo a chamada " ordem internacional baseada em
regras".
Em
2023, o governo Biden até voltou a integrar a UNESCO — embora este tenha sido o
mesmo ano em que o governo dos EUA patrocinou um genocídio em Gaza , inundou
Israel com US$ 18 bilhões em ajuda militar e vetou unilateralmente inúmeras
resoluções do Conselho de Segurança da ONU que pediam um cessar-fogo.
Na
verdade, Trump assumiu o crédito em 2025 por suspender o financiamento dos EUA
para a UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, mas a Reuters
publicou uma verificação de fatos observando que ela já havia sido interrompida
pelo governo Biden em 2024 .
Mais
uma vez, a oposição ao direito internacional é bipartidária em Washington.
Críticos
democratas retrataram Trump como uma ameaça única devido à sua flagrante
oposição ao direito internacional.
A
grande mídia frequentemente repete esse tropo enganoso , criando a narrativa de
que o governo dos EUA apoiava o multilateralismo e o direito internacional até
que Trump apareceu e destruiu tudo.
Isso é
completamente falso, a-histórico e absurdo.
Não é
preciso voltar muito na história para ver os inúmeros exemplos de Washington
atacando descaradamente o direito internacional.
George
W. Bush assinou a Lei de Invasão de Haia em 2002, ameaçando intervir
militarmente caso Haia julgasse autoridades americanas ou seus aliados. No
mesmo ano, ele também "desassinou" o tratado que institui o Tribunal
Penal Internacional (TPI).
Quando
a Casa Branca de Trump impôs sanções ao TPI em fevereiro de 2025, citou a Lei
de Invasão de Haia da era Bush (oficialmente chamada de Lei de Proteção aos
Militares Americanos) para justificar a ação agressiva.
Bush
também se retirou de um importante tratado internacional sobre mudanças
climáticas em 2001. Trump fez o mesmo mais tarde, retirando-se do Acordo de
Paris, que é um tratado internacional juridicamente vinculativo sob a
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Então,
é claro, Bush invadiu o Iraque em uma guerra criminosa de agressão, que o
Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, disse claramente violar o direito
internacional . Um milhão de iraquianos morreram devido a essa guerra imperial
ilegal.
Não são
apenas os republicanos que travam essas guerras políticas contra o direito
internacional; os democratas também.
Sabe
quem ajudou a estabelecer o precedente para o ataque à UNESCO? Barack Obama.
Ele cortou o financiamento americano à UNESCO em 2011 , depois que o órgão da
ONU votou pela admissão da Palestina.
Em
2016, Obama assinou o maior acordo de ajuda militar dos EUA ao regime colonial
israelense da história, no valor de US$ 38 bilhões.
Da
mesma forma, Obama travou guerras na Síria, Líbia e Iêmen, sem mencionar suas
guerras com drones no Paquistão e na Somália e sua continuação da ocupação
militar dos EUA no Afeganistão.
Ronald
Reagan também tinha muitas semelhanças com Donald Trump. Em 1983-84, décadas
antes de Trump chegar ao poder, Reagan retirou os EUA da UNESCO .
O
governo Reagan reclamou que o órgão da ONU era "coletivista",
discutiu propostas de desarmamento (leia-se: paz) e considerou a Nova Ordem
Econômica Internacional exigida pelos países anteriormente colonizados do Sul
Global.
Um
funcionário do Departamento de Estado dos EUA sob Reagan também atacou a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), o programa ambiental das Nações
Unidas, a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a União Internacional de
Telecomunicações, informou o New York Times na época.
Na
década de 1980, Reagan desrespeitou o direito internacional ao travar inúmeras
guerras criminosas de agressão.
Em
1983, os EUA invadiram a pequena nação caribenha de Granada para derrubar
violentamente seu governo revolucionário anti-imperialista.
O
governo Reagan também lançou uma guerra sangrenta contra a Nicarágua ,
recorrendo a táticas terroristas e esquadrões da morte de extrema direita em
uma tentativa desesperada de derrubar seu governo sandinista de esquerda.
A
Nicarágua entrou com uma ação judicial contra os Estados Unidos em 1984 na
Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU. O regime americano perdeu o caso,
mas Washington se recusou a pagar reparações à Nicarágua , que ainda são
legalmente devidas até hoje.
Em
suma, o que Donald Trump está fazendo hoje — retirando os EUA dos órgãos da
ONU, rasgando tratados sobre mudanças climáticas e atacando organizações
multilaterais — é exatamente o que o império americano tem feito há décadas,
independentemente de quem seja o presidente do regime.
O
próprio Trump não é o único problema; ele é um sintoma da profunda podridão
estrutural. O problema é o imperialismo americano, e ele é completamente
bipartidário.
Fonte:
CNN Brasil/Brasil 247

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