terça-feira, 29 de julho de 2025

Botox falsificado não é apenas ineficaz: pode causar paralisias e infecções

Quando você decide realizar um procedimento estético, não deve se preocupar apenas com o profissional que você vai escolher para realizar o procedimento, mas com a procedência do material utilizado. Ainda mais quando será usado algum injetável, como toxina botulínica ou preenchedores.

O perigo não está apenas em usar uma substância perigosa, como o PMMA, cujos perigos já foram amplamento difundidos. A recente apreensão de um lote falsificado de botox pela Anvisa trouxe à tona os riscos do uso de produtos conhecidos, porém sem procedência confiável.

<><> Quais são os riscos do uso de botox falsificado?

De acordo com o dermatologista Pedro Jordão Caldas Ferreira, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia - Regional São Paulo (SBD-RESP), o perigo vai muito além da ausência do resultado estético desejado, e inclui:

•        Contaminação biológica: produtos falsificados podem conter bactérias, fungos ou endotoxinas, levando a infecções locais ou até quadros sistêmicos graves, como os casos de botulismo registrados recentemente em Minas Gerais — que podem culminar no óbito do paciente devido à paralisia da musculatura respiratória;

•        Paralisias indesejadas: de acordo com a concentração e a composição, pode haver difusão exagerada da toxina, causando assimetrias severas (principalmente das sobrancelhas, pálpebras e lábios) ou comprometimento muscular funcional (fala, mastigação, deglutição);

•        Reações imunológicas: impurezas ou proteínas não controladas podem desencadear respostas inflamatórias severas e até a formação de anticorpos neutralizantes — que tornam o paciente “resistente” a futuras aplicações, mesmo com toxinas legítimas.

Além disso, a aplicação da substância desconhecida pode ocasionar:

•        Comprometimento da mímica facial, com paralisias assimétricas e prolongadas, principalmente dos lábios;

•        Ptoses (quedas) indesejadas, como das pálpebras e sobrancelhas;

•        Fibroses e aderências musculares, caso a substância injetada contenha agentes não biocompatíveis que gerem inflamação;

•        Dores intensas;

•        Formação de cicatrizes residuais.

A dermatologista Najara Gomes, médica titular da SBD, reforça que grande parte do perigo se encontra na não fiscalização de todos os seus processos. "Por se tratar de um produto biológico, qualquer desvio nos processos de fabricação, transporte ou armazenamento pode gerar consequências sérias", considera a especialista.

Ela ainda reforça que em muitas ocasiões o problema pode ser irreversível.

<><> Há como reverter o problema?

Tudo vai depender do que foi colocado na composição do produto que foi aplicado no rosto inadvertidamente. "Em falsificações mais graves, a substância presente no frasco pode não conter toxina botulínica, mas sim preenchedores de baixa qualidade ou compostos de uso proibido, como silicone industrial, parafina ou óleos minerais", reforça Gomes.

Essas substâncias não são facilmente removíveis do organismo e podem causar inflamações crônicas. "Como esses materiais não são biodegradáveis, mesmo com cirurgia, a remoção completa é difícil e muitas vezes impossível sem causar danos adicionais", completa a dermatologista.

"Nesses casos, não há antídoto nem protocolo padronizado de reversão. Dependendo do que foi injetado, o dano pode ser irreversível — exigindo cirurgias reparadoras, tratamentos prolongados ou podendo, inclusive, culminar no óbito do paciente, nos casos de botulismo", finaliza Ferreira.

<><> Como o profissional de saúde e o consumidor podem se proteger?

A ginecologista Fernanda Torras, especialista pela Santa Casa de São Paulo, que utiliza o botox em tratamentos ginecológicos, reforça a importância do profissional de saúde conferir os produtos que usa em consultório, mesmo que a procedência seja confiável. "Todo produto regularizado pela Anvisa possui registro, validade, número de lote, número de série e nota fiscal".

Torras reforça ainda a importância do armazenamento adequado, além do manuseio correto ao diluir a substância e aplicá-la no paciente: tudo isso pode influenciar no produto e causar problemas. Portanto, cabe ao paciente escolher bem o profissional que fará esse tipo de procedimento em seu rosto e corpo.

•        Ioga facial funciona? Especialistas avaliam efeitos antienvelhecimento

Franzir, estufar, contrair e esticar o rosto pode parecer bobo, mas, em alguns contextos, é coisa séria: trata-se da ioga facial.

O treino facial da moda envolve uma série de poses exageradas e movimentos repetitivos com o objetivo de trabalhar os músculos do rosto, trocando os movimentos tradicionais de ioga, como a “postura do cachorro olhando para baixo”, por orelhinha de pato com os lábios e outras expressões faciais.

Popular por ser econômica e dispensar produtos, a ioga facial tem testemunhos espalhados pelas redes sociais, com influenciadores e autoproclamados gurus prometendo um “lifting natural” capaz de tonificar, afinar e reduzir linhas finas no rosto. Mas até que ponto esses benefícios prometidos são exageros? E o que a ciência realmente comprova?

Veja o que dizem uma instrutora de ioga, uma dermatologista e o autor de um dos poucos estudos sobre ioga facial.

<><> A ciência por trás da ioga facial

O rosto é composto por camadas de pele, gordura e músculos sobre o crânio.

Sob a camada superior da pele, ou derme, há uma camada de coxins de gordura subcutânea, que se apoiam sobre os músculos, explica Anetta Reszko, dermatologista em Nova York e professora assistente clínica de dermatologia no Weill Cornell Medical College. Esses músculos nos ajudam a sorrir, franzir a testa, mastigar e fazer outras expressões faciais.

“A gordura e os músculos trabalham juntos para dar volume ao rosto”, diz Reszko. “Mas, com o tempo, à medida que envelhecemos, ou se deixamos de usar esses músculos por causa do Botox, eles podem atrofiar (e) ficar menores.”

Essa atrofia pode fazer com que os coxins de gordura sobre os músculos despenquem, dando ao rosto uma aparência mais flácida ou encovada, de acordo com Reszko.

“A ideia da ioga facial é trabalhar abaixo desse nível, desenvolvendo a camada muscular que fica sob a gordura”, afirma Murad Alam, vice-presidente do departamento de dermatologia e professor da Feinberg School of Medicine da Universidade Northwestern, em Chicago. “Ao desenvolver o músculo, você restaura parte do contorno do rosto.”

Alam, que também atua como dermatologista, conduziu um dos poucos estudos conhecidos para testar essa hipótese da ioga facial, em 2018, com um pequeno grupo de adultos de meia-idade.

Após 20 semanas de exercícios diários de 30 minutos, um painel de dermatologistas observou melhora no volume facial dos 16 participantes que completaram o programa, segundo o estudo.

“O local onde notamos a maior mudança foi nas bochechas”, diz Alam. “O que faz sentido, já que os músculos das bochechas estão entre os maiores do rosto; então, se você os exercita, o crescimento será mais perceptível.”

Devido ao tamanho reduzido da amostra e à ausência de medições diretas, seriam necessários outros ensaios clínicos para confirmar esse efeito de ganho de volume, observa Alam. De modo geral, pesquisas médicas sem envolvimento de medicamento ou dispositivo são difíceis de financiar.

“Isso substitui procedimentos estéticos? Não exatamente, porque a melhora não foi tão significativa e outros aspectos do envelhecimento (estético) não foram estudados”, afirma Alam. “Mas pode ser útil para pessoas que absolutamente não querem fazer procedimentos estéticos, por preocupações com segurança, custo ou conveniência.”

<><> O que mais a ioga facial pode fazer?

Na prática dermatológica de Reszko, ela recomenda os exercícios de ioga facial para aumentar a circulação sanguínea e do fluido linfático no rosto.

Nossos rostos têm centenas de linfonodos que usam fluido para drenar resíduos e combater infecções, segundo Reszko. Durante o sono, o fluido linfático pode se acumular no rosto por conta da posição deitada, causando uma aparência “inchada” ao acordar.

Movimentar, esticar e massagear o rosto por 10 a 15 minutos todos os dias pode ajudar a reduzir esse inchaço, afirma Reszko, citando outras técnicas, como as pedras gua sha da medicina tradicional chinesa, que têm propósito semelhante. Essa drenagem pode ser especialmente útil para pacientes que passaram por cirurgia estética recentemente ou para quem tem alergias crônicas.

Aumentar o fluxo sanguíneo para o rosto também pode fazer com que a pele pareça mais corada e hidratada, segundo Reszko, embora esse efeito normalmente seja temporário.

Se você tende a acumular tensão no pescoço, ombros, mandíbula, testa ou em outras partes do rosto, a ioga facial também pode ajudar a relaxar esses músculos, segundo Annelise Hagen, instrutora de ioga e autoproclamada pioneira da técnica, autora do livro The Yoga Face.

“A tensão é uma grande inimiga para muitos de nós. Fazemos caretas o tempo todo sem perceber”, diz Hagen. “Grande parte do meu trabalho é ensinar as pessoas a perceberem isso, serem mais conscientes, relaxarem e respirarem.”

Para Hagen, a ioga facial é mais que um treino ou um bio-hack estético — é uma forma de se conectar mais com o próprio rosto.

Em suas aulas, ela pode incentivar as pessoas a levantar os cantos da boca em um sorriso neutro, como o “rosto do Buda sorridente”. Ou, para o pescoço e a mandíbula, faz o “sopro do leão”, abrindo bem a boca, colocando a língua para fora, revirando os olhos e expirando.

“Quando você aborda o rosto sob uma perspectiva iogue, trata-se de estar consciente do que fazemos com ele e reconhecer que é uma espécie de manifestação do que está dentro de nós”, diz Hagen. “Algumas pessoas podem ver isso de forma diferente, mas tudo que te fizer sentir mais sereno, calmo e em paz com o rosto que você tem, acho legítimo.”

<><> A ioga facial pode fazer mal?

De modo geral, os exercícios de ioga facial são inofensivos, segundo Alam. Para causar rugas, linhas de expressão, hematomas ou outros traumas no rosto, seria necessário aplicar força a ponto de causar dor. Por outro lado, se alguém quiser realmente adotar uma rotina diária de ioga facial, Reszko sugere evitar movimentos que esfreguem ou estiquem a delicada região abaixo dos olhos. A pele ao redor dos olhos tende a ser mais fina e sensível que a do restante do rosto.

Para intervenções mais drásticas, como firmar rugas ou tratar a acne, ela recomenda procurar um dermatologista certificado.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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