A
guerra total contra o Brasil
Tarifas,
sabotagem e silêncio: o que está realmente acontecendo com o Brasil? O país
está sob ataque — mas a guerra não será vencida com diplomacia. Entenda por que
a crise vai muito além de Bolsonaro, e por que o Brasil pode estar diante do
maior cerco geopolítico da sua história.
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O engodo da tarifa e a verdade inominável
A
guerra já começou. Ela não foi declarada em praça pública, nem anunciada com
tanques ou mísseis. Ela chegou como sempre chegam as guerras do império:
disfarçada de legalidade, travestida de tarifa, protegida pela imprensa e
vendida como retaliação justa. Mas é mentira. A imposição tarifária de 50%
contra o Brasil pelo governo de Donald Trump não é uma reação à condenação de
Jair Bolsonaro. Essa é apenas a farsa instrumentalizada para justificar o
cerco. Bolsonaro, na lógica imperial, não passa de um boi de piranha — jogado
ao rio para distrair enquanto a matança se organiza nas margens.
O que
está em curso é uma operação geopolítica de alta complexidade, cujo objetivo
estratégico é claro: implodir as bases de soberania que o Brasil ensaia
reconstruir sob o governo Lula, minar sua capacidade de disputar hegemonia
regional e, principalmente, inviabilizar qualquer chance de reeleição em 2026.
Não por causa de Lula enquanto figura, mas por aquilo que seu projeto
representa: reindustrialização, integração sul-americana, aliança com o Sul
Global e ruptura progressiva com o eixo unipolar comandado por Washington.
A
tarifa, portanto, é apenas a ponta visível de um ataque muito mais profundo. Um
ataque que será econômico, sim — mas também informacional, psicológico,
tecnológico e institucional. O objetivo é provocar uma crise em múltiplas
frentes, gerando instabilidade, escassez, medo e desconfiança social. Como em
toda guerra híbrida, os instrumentos serão variados, mas o centro do alvo é
sempre o mesmo: a soberania nacional.
Enquanto
parte da opinião pública se perde no falso dilema "Trump por
Bolsonaro", o verdadeiro projeto avança: travar o Brasil, desacreditar
suas instituições, e interditar qualquer alternativa que aponte para um futuro
fora da tutela imperial. O império está em crise. E como todo império em
decadência, reage com violência contra qualquer país que tente afirmar
autonomia.
Neste
jogo, o Brasil não tem o direito de errar. Porque desta vez, o preço do erro
será a recolonização por vias econômicas, tecnológicas e informacionais. E ela
já começou.
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O alvo real: O Brasil soberano é inaceitável para o império
O
império não age por impulso, nem por moral. Age por interesse. E os interesses
dos Estados Unidos estão sendo frontalmente ameaçados por algo que nada tem a
ver com Jair Bolsonaro ou com sua condenação: o retorno do Brasil à cena
internacional como um ator soberano, desenvolvimentista e alinhado à nova ordem
multipolar em construção. A tarifa de 50% imposta por Donald Trump não é uma
reação à defesa das instituições brasileiras, tampouco à condenação de um
político submisso e descartável como Bolsonaro. Trata-se de um ataque frontal a
um país que ousa recuperar sua autonomia estratégica.
Desde
que Lula reassumiu o governo, o Brasil passou a caminhar na contramão dos
interesses centrais de Washington. Reaproximou-se do BRICS, defendeu a
desdolarização do comércio internacional, iniciou a regulação das big techs,
voltou a investir na reindustrialização do país por meio de empresas estatais e
políticas públicas, reafirmou o papel do Estado como planejador do futuro. Mais
do que isso, o Brasil começou a disputar mercados, rotas comerciais e cadeias
críticas com protagonismo. E o ponto de inflexão mais sensível para os EUA foi
a retomada dos projetos de integração sul-americana — em especial, a Ferrovia
Bioceânica, que ameaça romper a lógica histórica de escoamento da riqueza
latino-americana pelo Atlântico sob tutela euro-americana, conectando o Brasil
diretamente ao Pacífico e à Ásia, sem mediação de Washington.
Além
disso, o Brasil voltou a controlar áreas-chave como energia, fertilizantes e
minerais raros, confrontando diretamente as estratégias das potências
ocidentais sobre o controle de recursos estratégicos no século XXI. A ofensiva
de Trump — e de todo o establishment imperial que o sustenta — é uma reação
preventiva: eles sabem que se o Brasil se consolidar como eixo de um novo
arranjo multipolar, todo o edifício geopolítico da dominação unipolar entra em
colapso.
Essa é
a verdade que não se diz. O alvo da guerra tarifária não é Bolsonaro. Ele é só
o disfarce conveniente. O alvo real é o Brasil. Não qualquer Brasil — mas o
Brasil que ousa reconstruir sua soberania, sua indústria, sua infraestrutura,
sua presença internacional. Esse Brasil é intolerável para o império. Porque se
ele vinga, o Sul Global ganha força. Se ele avança, a hegemonia norte-americana
retrocede. Se ele vence, o sistema mundial muda de eixo.
E é
justamente isso que está em disputa agora.
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Bolsonaro: O peão sacrificável do xadrez imperial
Jair
Bolsonaro jamais foi um problema para os Estados Unidos. Ao contrário: foi,
durante anos, um ativo estratégico do império, perfeitamente funcional aos seus
interesses. Entreguista, submisso, alinhado ao trumpismo e às diretrizes do
Departamento de Estado, seu governo destruiu políticas de soberania, desmontou
o Estado nacional, abriu mão da proteção ambiental, subordinou os sistemas de
inteligência e segurança do país a interesses estrangeiros e colocou a política
externa brasileira de joelhos diante da Casa Branca. Nada disso incomodou
Washington. Não houve tarifa, não houve sanção, não houve editorial furioso dos
jornais ocidentais. Houve aplauso.
Agora,
com sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro se tornou
simplesmente inútil para os objetivos maiores do império. E, como qualquer
ativo descartável, está sendo entregue como cortina de fumaça. A justificativa
para a tarifa soa, na boca de Trump, como defesa da democracia — ironia
grotesca vinda de um agente da extrema-direita global. Mas, na prática, o que
temos é o uso de Bolsonaro como biombo, um boi de piranha jogado ao rio para
justificar um ataque que, na verdade, se volta contra o Brasil como nação.
Essa
manobra tem dupla função. Primeiro, distrai os analistas desavisados: ao
vincular as tarifas à condenação de Bolsonaro, a imprensa liberal e parte da
opinião pública entram na armadilha narrativa e passam a debater o
"excesso" do STF ou a "retaliação pessoal" de Trump.
Segundo, abre espaço para que os verdadeiros objetivos da guerra comercial
avancem sem resistência: desestabilizar o governo Lula, sabotar a economia
brasileira e impedir que o governo chegue competitivo às eleições de 2026.
É
preciso entender o modus operandi do império: não há aliados, só instrumentos.
Bolsonaro foi usado como linha de frente para capturar o Estado, romper com os
BRICS, esvaziar o Mercosul, sabotar a integração regional, alinhar o Brasil à
agenda da OTAN, destruir a cultura e a educação e entregar os sistemas críticos
de informação e defesa nacional. Cumprida sua função, foi descartado. Agora,
serve como narrativa. Depois, será esquecido.
O
Brasil, no entanto, não pode se permitir cair nessa armadilha. Ao tratar
Bolsonaro como centro da crise, a análise se afasta da realidade. O alvo real é
a soberania brasileira. E Bolsonaro, neste jogo, é apenas o peão sacrificado
para encobrir um xeque-mate em curso.
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O império em agonia e o cerco ao quintal
O
império está em agonia. Os Estados Unidos enfrentam uma crise estrutural
profunda, que vai além da polarização política e da decadência institucional.
Trata-se de uma crise de hegemonia, de capacidade de comando global, de
sustentação econômica e simbólica de seu papel como centro do sistema-mundo. A
dívida interna atinge níveis insustentáveis, o dólar perde força como
referência incontestável, sua legitimidade política internacional está corroída
e o avanço dos BRICS sinaliza, com clareza, que o século XXI não será comandado
por uma única potência. É o fim da unipolaridade. E o império sente cheiro de
cerco.
É nesse
contexto que o Brasil passa a representar não apenas uma ameaça circunstancial,
mas um desafio sistêmico. Porque entre todos os países do Sul Global, poucos
têm o potencial de romper com a lógica de subordinação com tanta força quanto o
Brasil. Pela sua dimensão territorial, seu mercado interno, seus recursos
naturais, sua capacidade energética, sua cultura, sua localização estratégica
e, sobretudo, pela sua história política recente — um país que conhece os
efeitos do colonialismo econômico e começa, mais uma vez, a reorganizar suas
forças em direção à soberania.
Para os
Estados Unidos, manter o controle sobre a América Latina não é apenas uma
questão geopolítica — é uma condição de sobrevivência histórica. Trata-se do
quintal imperial, da retaguarda onde o império recompõe musculatura toda vez
que sofre um revés em outro front. Foi assim nas guerras asiáticas, nas crises
do Oriente Médio e agora na disputa com a China. A América Latina, e o Brasil
em especial, sempre funcionaram como zona de compensação, espaço de exploração
e plataforma de reafirmação de poder. Se esse espaço for perdido, o império
colapsa de dentro.
Por
isso o cerco ao Brasil é implacável. A guerra tarifária é apenas o primeiro
movimento. Virão pressões diplomáticas, tentativas de isolar o país em
organismos internacionais, sabotagem de projetos estratégicos, corte de
financiamento externo, manipulação cambial, pressão sobre reservas
internacionais, ataques ao sistema político por dentro e por fora. Tudo sob o
disfarce da legalidade. Tudo sob a retórica da “defesa da democracia” ou da
“preocupação com os rumos do Brasil”.
O que
está em curso não é uma disputa comercial. É uma ofensiva imperial para manter
o Brasil no lugar de onde nunca deveria sair: o lugar da submissão, da
obediência, da irrelevância estratégica. E mais uma vez, como em 1964, como em
2016, como em 2018, os instrumentos de guerra não serão apenas os tanques, mas
as tarifas, os algoritmos, os editoriais, os acordos, os juízes, as bolsas de
valores, os think tanks, as embaixadas e os tribunais internacionais.
Estamos
diante de um império decadente, mas ainda perigoso. Um império que não tem mais
poder para comandar o mundo, mas ainda tem força para destruir países que
tentem se libertar.
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A mídia brasileira como cúmplice: Colaboracionismo editorial
É
impossível compreender a profundidade da guerra que o Brasil enfrenta sem olhar
para dentro. A guerra é internacional, sim. Mas ela conta, desde sempre, com
colaboradores internos que cumprem função tática na desestabilização do país.
Entre eles, a grande mídia brasileira ocupa um papel central. Estadão, Folha de
S.Paulo, O Globo e seus satélites digitais — do campo liberal ao campo da
extrema-direita, como Revista Oeste, Jovem Pan, O Antagonista, Gazeta do Povo e
outros — não estão apenas noticiando a crise. Estão participando dela como
operadores narrativos de um projeto antinacional.
O jogo
é duplo e cínico. Esses veículos, quando confrontados com as tarifas abusivas
de Trump, fazem editoriais “preocupados”, demonstrando apreensão com os
impactos para a economia, com os custos para o agronegócio e com a
“irracionalidade” da medida. Mas no mesmo espaço, nas mesmas páginas, seguem
atacando sistematicamente o STF, o ministro Alexandre de Moraes, a Justiça
Eleitoral e qualquer instância que enfrente o bolsonarismo — mesmo este já
tendo sido descartado pelo próprio império que os mesmos veículos ora criticam.
A
contradição não é descuido — é estratégia. Esses veículos sabem exatamente o
que estão fazendo. Estão tentando pavimentar a ideia de que o verdadeiro
problema não é a guerra tarifária, mas a atuação das instituições nacionais. Ao
atacar diariamente o STF, colocam em dúvida sua legitimidade. Ao desacreditar
Alexandre de Moraes, enfraquecem a única figura que ainda exerce um controle
institucional sobre o avanço da extrema-direita digital. E ao atacar o governo
Lula em meio ao cerco externo, agem como quinta-coluna: atuam de dentro para
favorecer a desestabilização que vem de fora.
O ponto
aqui não é apenas ideológico — é de classe. A maioria da elite brasileira,
expressa nesses meios de comunicação, não aceita a soberania nacional como
valor em si. Ela aceita um Brasil submisso, desde que esse Brasil continue
garantindo seus privilégios. Por isso, essas elites preferem a instabilidade de
um país sabotado à reconstrução de um país autônomo. Preferem a tutela
estrangeira a um governo popular reeleito. Preferem o caos a Lula 2026.
Ao se
apresentarem como críticos das tarifas e, ao mesmo tempo, sabotadores das
instituições democráticas, esses veículos se tornam cúmplices ativos da guerra
híbrida em curso. Não estão do lado do Brasil. Estão do lado do império — mesmo
que finjam não perceber.
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A guerra total: Tarifas, plataformas, desinformação e capital
A
guerra que o Brasil enfrenta não se limita às tarifas anunciadas por Donald
Trump. Essas tarifas são apenas a face visível de um ataque muito mais amplo e
profundo, que mobiliza simultaneamente o comércio, a tecnologia, a comunicação,
o sistema financeiro, as instituições jurídicas e os aparelhos ideológicos. O
nome disso é guerra híbrida total. E ela já está em curso.
No
campo econômico, além das tarifas, o país enfrenta a ameaça concreta de sanções
coordenadas pelo eixo OTAN, com possibilidade real de restrições a
investimentos estratégicos, travamento de financiamentos multilaterais e até
mesmo o congelamento de reservas brasileiras no exterior, caso o Brasil insista
em afirmar autonomia diante da ofensiva imperial. Já há movimentações
silenciosas de bancos, fundos e agências classificadoras, preparando o terreno
para justificar um ataque financeiro “técnico” com base em “instabilidade
institucional” ou “insegurança jurídica”.
No
campo tecnológico, o risco é ainda mais grave. O Brasil é hoje dependente das
plataformas digitais controladas por corporações norte-americanas e israelenses
para operar serviços críticos: comunicação governamental, segurança pública,
publicidade, logística, mídia, processamento de dados e até saúde. Todo o
sistema sensível de segurança nacional brasileiro está vulnerável ao apagão
informacional caso essas corporações decidam seguir o alinhamento político do
governo dos EUA. Basta uma diretriz — um algoritmo derrubado, uma nuvem
desabilitada, uma API bloqueada — e o país experimenta o colapso coordenado de
suas capacidades de comando e controle.
Na
esfera comunicacional, a guerra híbrida atua por meio da desinformação massiva,
sabotagem narrativa e manipulação algorítmica do debate público. Plataformas
como X (ex-Twitter), Instagram, Facebook, YouTube e WhatsApp são hoje
instrumentos diretos de guerra psicológica, utilizados para inflamar
ressentimentos, promover o caos simbólico, gerar descrença nas instituições e
disseminar discursos antidemocráticos. A direita radical brasileira continua
operando com redes de financiamento transnacional, muitas das quais já ligadas
a think tanks conservadores dos EUA e de Israel.
No
plano jurídico, o lawfare continua sendo usado como instrumento de paralisia
política. A tentativa de enquadrar ações legítimas do Estado como abuso de
poder, interferência ou censura é parte de um movimento articulado para impedir
que o Brasil regule as plataformas e defenda sua soberania informacional. A
imposição de barreiras “democráticas” à atuação do STF, da Justiça Eleitoral ou
do Congresso visa, em última instância, neutralizar os últimos freios ao avanço
do projeto antinacional.
Tudo
isso se combina para produzir o que o império deseja: instabilidade crônica,
desconfiança generalizada, paralisia decisória e deslegitimação de qualquer
projeto de país. O objetivo não é apenas enfraquecer o governo Lula. É impedir
que o Brasil se veja como um país capaz de se governar por si. Essa é a lógica
do cerco. E ele já está apertando.
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O que fazer: Nomear a guerra e mobilizar a nação
Diante
da gravidade do cenário, não há mais espaço para ambiguidade. O Brasil precisa
compreender que não está diante de uma simples disputa comercial ou de uma
divergência diplomática com os Estados Unidos. O que está em curso é uma guerra
híbrida de escala total, que combina ataques econômicos, tecnológicos,
narrativos, institucionais e jurídicos para enfraquecer a soberania nacional e
inviabilizar qualquer projeto de país autônomo. E, como toda guerra, essa
também exige reação imediata, estratégica e firme. O primeiro passo é nomear a
guerra pelo que ela é. Sem eufemismos. Sem fingir que se trata de uma crise
isolada ou de um “desentendimento político”. É preciso dizer em alto e bom som:
o Brasil está sob ataque internacional, e esse ataque não tem como alvo um
governo ou um líder, mas sim a possibilidade de um Brasil soberano, capaz de
decidir seu destino sem tutela estrangeira. Silêncio, hesitação ou discursos
moderados só favorecem os agressores.
O
segundo passo é preparar a sociedade para tempos muito difíceis. A guerra
híbrida é cruel porque atinge a população em múltiplas frentes. Ela se
manifesta em aumento da inflação, bloqueios comerciais, sabotagem de cadeias
produtivas, instabilidade financeira, cortes de crédito internacional e, no
limite, apagões informacionais. É preciso falar a verdade ao povo: os próximos
meses serão duros, mas a resistência coletiva e a clareza política são o que
pode impedir que o país seja empurrado para o caos e para uma nova submissão
histórica. Transparência com o povo é uma arma de defesa nacional.
Em
paralelo, o governo precisa agir com força total na frente cultural e
comunicacional. A guerra de informação é uma das trincheiras mais importantes
do conflito atual, e o Brasil está atrasado nessa arena. É urgente abandonar a
comunicação institucional burocrática e criar uma contra-ofensiva simbólica
poderosa, que convoque artistas, jornalistas, intelectuais, influenciadores e
professores a defenderem a democracia e a soberania brasileira. Essa é uma
batalha de narrativas, e não há vitória possível se o país não disputar o
imaginário coletivo.
Mas
comunicação não basta. É preciso um plano nacional de resiliência estratégica.
Isso significa proteger cadeias produtivas essenciais, fortalecer a indústria,
investir em ciência e tecnologia, nacionalizar sistemas críticos de dados e
infraestrutura digital, proteger juridicamente os ativos brasileiros no
exterior e ampliar as reservas cambiais para resistir a ataques financeiros.
Também significa intensificar alianças concretas com o Sul Global, com países
que compartilham o mesmo desafio de enfrentar um império em decadência, mas
ainda extremamente perigoso.
Acima
de tudo, o país precisa recuperar o espírito de resistência nacional. Não se
trata de um nacionalismo vazio, mas da consciência de que só um povo mobilizado
pode impedir que o Brasil seja saqueado e recolonizado. O que está em jogo é a
autonomia do país, o futuro das próximas gerações e a dignidade coletiva. Não
há espaço para ilusões. O momento exige coragem, clareza e ação.
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A Tragédia da dependência: O Brasil é um alvo fácil porque sempre foi um país
capturado
É
necessário dizer, com toda a dureza que a situação exige: mesmo com vontade
política, mesmo com lucidez estratégica, o governo brasileiro tem muito pouco
espaço real para responder à altura da guerra híbrida que enfrenta. Isso não é
resultado de incompetência conjuntural — é o reflexo direto de séculos de
subordinação estrutural aos centros imperiais, que transformaram o Brasil em um
dos países mais vulneráveis do mundo à interferência externa. A máquina pública
brasileira, em quase todas as suas camadas, depende de sistemas, tecnologias,
cadeias logísticas, circuitos financeiros e fluxos de informação que não estão
sob controle nacional.
Grande
parte do sistema de comunicação oficial do Estado depende de plataformas
estrangeiras. A nuvem de dados de ministérios, agências e até órgãos de
segurança ainda passa por servidores que obedecem legislações de potências
rivais. Os sistemas de vigilância e inteligência, em muitos casos, são
fornecidos por empresas israelenses ou norte-americanas. A base produtiva
nacional foi desmantelada ao longo de décadas de neoliberalismo, e a capacidade
de retomar o controle sobre setores estratégicos — como refino de petróleo,
semicondutores, fertilizantes, tecnologias militares, biotecnologia, satélites
e infraestrutura digital — foi sistematicamente sabotada pelas elites
brasileiras e seus aliados externos.
Essa
vulnerabilidade não é um acidente — é o projeto. O subdesenvolvimento
brasileiro foi planejado e imposto como condição de controle externo. O Brasil
foi educado para ser dependente, treinado para ser obediente, programado para
não resistir. E essa lógica segue operando dentro do próprio Estado, que ainda
está parcialmente capturado por uma burocracia tecnocrática formada sob as
cartilhas de Washington, de Harvard, da OCDE, do FMI e da OMC. Até mesmo os
softwares utilizados para rodar as planilhas da administração federal são, em
sua maioria, licenciados por empresas estrangeiras. O Brasil não controla nem
seus próprios dados — quanto mais seus algoritmos, seus fluxos financeiros ou
sua infraestrutura crítica.
Portanto,
não basta decretar resistência. É preciso compreender que o Estado brasileiro
está travado dentro de um modelo estrutural que o impede de se proteger
verdadeiramente. E não haverá soberania possível sem ruptura com esse modelo. O
enfrentamento à guerra híbrida passa por uma reconstrução profunda: da matriz
tecnológica, da cadeia produtiva, do sistema educacional, da cultura
institucional e da mentalidade de dependência que ainda domina as decisões
estratégicas da República.
Essa é
a verdade dolorosa: o Brasil é frágil porque foi desenhado para ser frágil. E
se quiser sobreviver a esse novo ciclo de agressão imperial, terá que fazer
mais do que reagir — terá que se reinventar. De baixo para cima. De dentro para
fora. E com pressa.
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O Brasil precisa reagir com estratégia e coragem
O
Brasil está em guerra. Mas diferentemente das guerras convencionais, essa não
se travará nas fronteiras geográficas, nem poderá ser vencida apenas com
diplomacia ou medidas pontuais. Trata-se de uma guerra híbrida e total,
conduzida por um império em decadência que não aceita perder o controle sobre
uma colônia estratégica que começa a dar sinais de independência. E essa guerra
não será vencida apenas com vontade política. A verdade, por mais dura que
seja, é que o Brasil está extremamente vulnerável. Décadas — séculos — de
subordinação estrutural, dependência tecnológica, sabotagem industrial e
desmonte do Estado nacional criaram um país capturado por dentro, onde até os
instrumentos de defesa estão, em muitos casos, sob o domínio do próprio
agressor.
A
máquina pública brasileira opera dentro de infraestruturas, legislações,
softwares e lógicas impostas ou tuteladas pelo mesmo império que agora tenta
sufocar o país. As decisões estratégicas estão condicionadas por sistemas
externos. As redes sociais por onde circula a opinião pública são controladas
por empresas estrangeiras. Os dados sensíveis da população estão armazenados
fora do alcance do Estado nacional. As elites internas, por sua vez, seguem
comprometidas com a lógica do entreguismo e do colaboracionismo. É uma guerra
assimétrica, brutal, e o Brasil parte dela com desvantagem histórica.
Ainda
assim, é preciso lutar. Porque não lutar significa aceitar o desaparecimento do
país como projeto de futuro. E é justamente por sabermos das limitações
objetivas do Estado que a luta precisa extrapolar o Estado. Precisamos de uma
mobilização nacional que seja também cultural, educacional, tecnológica,
territorial e simbólica. Uma nova pedagogia da soberania precisa ser construída
em todos os espaços: nas escolas, nas universidades, nas redes, nas artes, nas
periferias, no campo, nas cidades, no chão das fábricas, nos gabinetes e nas
ruas. Não basta reagir. É preciso reconstruir o país desde sua base.
A
guerra já começou. Não virá adiante — ela já está nos estrangulando agora. E
quanto mais demorarmos para entender sua natureza, mais avançará a destruição.
A geração que vive o Brasil hoje tem diante de si a missão histórica de impedir
que esse país se torne irreversivelmente uma colônia digital, energética,
cognitiva e informacional. O preço da hesitação é a perda definitiva da
soberania. Mas o preço da consciência pode ser o início de uma refundação
nacional.
Não se
trata de bravata. Trata-se de sobrevivência. O Brasil não pode mais fingir que
está em paz. Porque o inimigo já não está mais à porta — ele já opera dentro da
casa.
Fonte:
Por Reynaldo José Aragon Gonçalves, em Brasil 247

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