quarta-feira, 30 de julho de 2025

Prisão de Zambelli na Itália foi possível mesmo com deputada tendo cidadania do país; entenda

A prisão da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) na Itália, nesta terça-feira (29), gerou dúvidas sobre um possível processo de extradição para o Brasil, já que Zambelli possui cidadania italiana.

O professor Gustavo Sampaio, da Universidade Federal Fluminens (UFF), explicou em entrevista à GloboNews que a legislação e, principalmente, a jurisprudência italiana permitem a extradição de nacionais em determinadas circunstâncias.

“Se a nacionalidade de exercício real, de vivência concreta, não for a italiana, mas sim a brasileira, como é o caso de Zambelli, a Itália pode sim autorizar a extradição”, explicou o professor de Direito Constitucional.

Segundo Sampaio, a Constituição italiana, assim como a brasileira, prevê a não extradição de cidadãos nacionais. No entanto, a Corte de Cassação e o Conselho de Estado — as mais altas instâncias judiciais da Itália — já consolidaram o entendimento de que a nacionalidade “prevalente” deve ser levada em conta.

🔎Caso uma pessoa possua mais de uma nacionalidade, a prevalente é a que tem prioridade sobre outras. Ela é a nacionalidade considerada como principal ou mais relevante em determinadas situações, como para fins de direitos e deveres civis, políticos e sociais.

Zambelli foi presa após ser considerada foragida pela Justiça brasileira. Em 14 de maio, ela foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos e 8 meses de prisão por envolvimento na invasão hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em parceria com o hacker Walter Delgatti.

Após a condenação, Carla Zambelli deixou o Brasil rumo a Argentina em 25 de maio. De lá, seguiu para a Europa – passando pelos Estados Unidos – e se estabeleceu na Itália .

<><> Processo pode ser longo

A extradição de Carla Zambelli, no entanto, não é automática. Sampaio destaca que, assim como no Brasil, o processo na Itália é complexo e envolve diferentes instâncias.

“A decisão final cabe ao Executivo, mas precisa passar por uma análise prévia de juridicidade, que pode ser feita pelo Conselho de Estado”, afirmou.

Apesar disso, ele acredita que, diante da cooperação entre os dois países e da visibilidade do caso, a tramitação pode ser mais rápida do que o habitual.

<><> E se a extradição for negada?

Mesmo que a Itália decida não extraditar Carla Zambelli, isso não significa impunidade.

“O Estado italiano assume o dever de processá-la e julgá-la com base nas provas apresentadas pelo Brasil. A negativa de extradição não é uma carta branca para escapar da Justiça”, explicou Sampaio.

Caso a extradição seja concedida, Zambelli será submetida ao julgamento no Supremo Tribunal Federal, por ter cometido os crimes enquanto exercia mandato parlamentar.

A Câmara dos Deputados também poderá analisar a perda definitiva do mandato.

 

¨      Zambelli já se acorrentou na Câmara antes de virar fenômeno eleitoral e ser condenada a 10 anos de cadeia

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) já se acorrentou na Câmara dos Deputados – antes de ser eleita parlamentar – pelo impeachment da Dilma antes de virar fenômeno eleitoral e ser condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 14 de maio deste ano.

Zambelli deixou o Brasil em 25 de maio maio em direção à Argentina, depois seguiu para a Europa. A parlamentar afirma que deixou o país por causa de um tratamento médico. Ela pediu licença do mandato de deputada.

Carla Zambelli foi condenada por unanimidade pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica.

De acordo com a denúncia, a deputada orientou o hacker Walter Delgatti Neto a invadir o sistema para inserir documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

A deputada também responde por porte ilegal de armas e constrangimento ilegal. Na véspera das eleições, em 2022, Carla Zambelli sacou uma arma e apontou para um homem no meio da rua nos Jardins, área nobre de São Paulo.

📌A parlamentar começou com ativismo de rua, em 2011, transitou pelo movimento feminista e se consolidou como um fenômeno eleitoral na esteira do bolsonarismo. Nos últimos anos, passou por desgaste e queda de prestígio com aliados.

➡️g1 fez uma lista com os principais pontos da carreira política da deputada:

  • 2011: Deputada fundou o movimento Nas Ruas

Em 2011, Zambelli fundou o grupo Nas Ruas, que se juntou aos protestos contra o governo Dilma Rousseff em 2013. Após as manifestações, a parlamentar continuou participando de atos da direita e chegou a liderar a tropa de choque bolsonarista no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Aqueles episódios foram o despertar. Tínhamos feito manifestações no 7 de Setembro de 2011 e 2012, mas em 2013 foi diferente", afirmou a deputada.

  • 2012: Zambelli integrou o grupo feminista Femen

A integrante do bloco bolsonarista da Câmara Carla Zambelli (PL-SP), que prioriza pautas ligadas ao conservadorismo, já foi membro do grupo feminista Femen, em 2012. Ela participou de manifestações com pautas feministas ao lado de Sara Giromini, agente política que se voltou a extrema direita nos últimos tempos.

Na imagem publicada nas rede social X, a parlamentar aparece com a blusa do movimento Femen, cordão de flores na cabeça — marca registrada do grupo feminista — e com a frase ‘quero nascer em casa’ escrita na barriga em uma manifestação em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP).

O grupo feminista Femen é conhecido por manifestações mais radicais, como topless para chamar atenção para questões relacionadas ao direito das mulheres. Ele foi criado em 2008, na Ucrânia, e possui células ativas em países como França, Alemanha e Tunísia.

No Brasil, o grupo teve a primeira atuação registrada em 2011, com atividades em São Paulo e Rio de Janeiro. Dois anos depois, o Femen fechou a sucursal brasileira em razão de 'abuso econômico' e 'falhas organizacionais'.

A deputada Carla Zambelli (PL-SP) integrou um grupo de oito pessoas que se acorrentaram em uma pilastra na Câmara dos Deputados, em outubro de 2015.

Os manifestantes se prenderam ao redor de uma coluna no Salão Verde para pressionar o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para dar início a tramitação do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff

Presa nesta terça-feira (29) na Itália, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) já se acorrentou na Câmara dos Deputados – antes de ser eleita parlamentar – pelo impeachment da Dilma antes de virar fenômeno eleitoral e ser condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 14 de maio deste ano.

Zambelli deixou o Brasil em 25 de maio maio em direção à Argentina, depois seguiu para a Europa. A parlamentar afirma que deixou o país por causa de um tratamento médico. Ela pediu licença do mandato de deputada.

Carla Zambelli foi condenada por unanimidade pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica.

De acordo com a denúncia, a deputada orientou o hacker Walter Delgatti Neto a invadir o sistema para inserir documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

A deputada também responde por porte ilegal de armas e constrangimento ilegal. Na véspera das eleições, em 2022, Carla Zambelli sacou uma arma e apontou para um homem no meio da rua nos Jardins, área nobre de São Paulo.

📌A parlamentar começou com ativismo de rua, em 2011, transitou pelo movimento feminista e se consolidou como um fenômeno eleitoral na esteira do bolsonarismo. Nos últimos anos, passou por desgaste e queda de prestígio com aliados.

  • 2015: Zambelli se acorrenta na Câmara para pressionar por impeachment de Dilma

A deputada Carla Zambelli (PL-SP) integrou um grupo de oito pessoas que se acorrentaram em uma pilastra na Câmara dos Deputados, em outubro de 2015.

Os manifestantes se prenderam ao redor de uma coluna no Salão Verde para pressionar o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para dar início a tramitação do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

"Nós fizemos manifestações em massa, fomos às ruas e não estamos sendo ouvidos. A gente não quer causar problemas. Só estamos calmamente esperando aqui. Queremos que o Cunha acolha o impeachment. Ele que tem a chave para soltar a gente", disse a então gerente de projetos Carla Zambelli, porta-voz da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos.

O processo foi aceito pelo ex-presidente da Câmara no início de dezembro e seguiu os trâmites legais que culminaram na votação do Senado, em agosto de 2016, resultando na cassação do mandato de Dilma Rousseff.

  • 2018: Deputada se elege como fenômeno eleitoral, na onda da eleição de Bolsonaro

Nas eleições de 2018, nas quais Jair Bolsonaro (PL) se tornou presidente, Carla Zambelli foi eleita deputada federal por São Paulo. Na época, as correntes bolsonaristas se fortaleceram, o que impulsionou diversos candidatos aliados ao ex-presidente.

Durante o primeiro mandato, Zambelli foi vice-líder do Partido Social Liberal (PSL) e do governo, além de integrar comissões permanentes e especiais. Ela também foi eleita presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados.

  • 2019: Parlamentar rompe com Joice Hasselmann

Joice e Zambelli tiveram uma relação conturbada durante o tempo em que estiveram juntas na Câmara dos Deputados. Em um primeiro momento, as duas, ainda apoiadoras do ex-presidente Jair Bolsonaro, chegaram a fazer campanha juntas em 2018.

Após o rompimento de Joice com o bolsonarismo, contudo, as ex-amigas se afastaram e iniciaram uma série de ataques, com direito a discussões pelas redes sociais.

No decorrer do primeiro mandado, a parlamentar do PL se casou com o coronel Aginaldo de Oliveira, tendo o ex-ministro da Justiça e, agora, senador Sergio Moro (União-PR) como padrinho de casamento.

Em fevereiro de 2020, quando houve o casório religioso, o ex-ministro da Justiça disse que aceitou o convite por "constrangimento" e afirmou que nunca teve um relacionamento pessoal com a deputada.

O rompimento entre Carla Zambelli e Sérgio Moro ocorreu menos de dois meses depois da celebração, assim que o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro pediu demissão do ministério. A demissão foi motivada pela decisão de Bolsonaro de trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, indicado para o posto pelo agora ex-ministro.

O episódio que desencadeou a ruptura foi a divulgação feita por Moro de conversas privadas entre ele Zambelli. Nas mensagens, ela sugeria que ele aceitasse a nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal em troca de uma possível indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Em 2022, no Dia do Amigo, a parlamentar postou uma foto de ambos em seu casamento e ironizou a relação dos dois ao lembrar que os usuários rezassem a oração do Pai Nosso e "livrai-nos do mal, amém".

  • 2022: Se elege novamente com terceiro maior número de votos

Deputada Carla Zambelli (PL-SP) — Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

Nas eleições de 2022, Zambelli foi reeleita deputada federal pelo Partido Liberal (PL), com 946.244 votos. Com o resultado dessas eleições, ela se tornou a terceira deputada federal mais votada no país, atrás apenas de Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) .

No entanto, em janeiro de 2025, teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) devido a condenações por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação ao espalhar notícias falsas sobre as eleições de 2022. A decisão também a tornou inelegível por oito anos.

  • 2022: Deputada saca arma e persegue homem pelas ruas de SP

A deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL) sacou uma arma e apontou para um homem no meio da rua no bairro Jardins, área nobre de São Paulo, em outubro de 2022.

De arma em punho, Carla Zambelli e acompanhantes perseguem homem e o encurralam em lanchonete em São Paulo

Em agosto de 2023, o STF aceitou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), tornando Zambelli ré pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo.

Já em março de 2025, o STF formou maioria para condenar Zambelli a cinco anos e três meses de prisão.

A votação realizada em plenário, até o momento, conta com cinco ministros a favor da condenação da deputado. Em março, o ministro Kassio Nunes Marques interrompeu o julgamento, que deve ser retomado quando o magistrado devolvê-lo ao plenário.

Carla Zambelli e Jair Bolsonaro — Foto: Reprodução — Foto: Foto: Reprodução

O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou, em março de 2025, que a deputada Zambelli "tirou o mandato" de sua chapa nas eleições de 2022, ou seja, culpou a parlamentar pela sua derrota.

O motivo, segundo Bolsonaro, foi o episódio em que a parlamentar ameaçou com uma arma um apoiador do então candidato Lula. A deputada também passou a ser vista com desconfiança também por aliados de Bolsonaro.

"Aquela imagem da Carla Zambelli da forma que foi usada, perseguindo o cara lá. Teve gente [que pensou]: ‘Olha, o Bolsonaro defende o armamento’. Mesmo quem não votou no Lula, anulou o voto. Carla Zambelli tirou o mandato da gente", afirmou o ex-presidente Jair Bolsonaro durante entrevista ao podcast Inteligência Ltda.

  • 2025: Zambelli vira ré no STF por invasão ao sistema do CNJ e é condenada a 10 anos de prisão

Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A parlamentar foi condenada a 10 anos de prisão e Delgatti a 8 anos e 3 meses.

Os ministros julgaram, no plenário virtual da Corte, acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. A acusação é de que Zambelli teria orientado o hacker Walter Delgatti a invadir o sistema do CNJ para produzir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes.

A PGR afirmou que a conduta da deputada evidencia um descompromisso com o cargo parlamentar, além da disposição para realizar atividades ilícitas no cargo, e pediu a cassação do mandato.

A defesa da parlamentar afirmou que "não havia e e não há prova idônea, séria e coerente no presente caso a admitir decreto punitivo. Não bastam ilícitos indícios".

Caso a condenação de Zambelli seja confirmada após os recursos, a Câmara dos Deputados deverá declarar a perda de seu mandato. A decisão também torna a deputada inelegível, conforme as normas da Lei da Ficha Limpa.

¨      Cassação de Zambelli pode ser votada já em agosto na CCJ da Câmara, diz presidente

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, Paulo Azi (União-BA), disse nesta terça-feira (29) que o processo de cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP) pode ser votado no colegiado já em agosto.

Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por comandar uma invasão a sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Não cabe mais recurso da condenação.

Carla Zambelli foi presa nesta terça em um apartamento em Roma, onde estava foragida desde maio.

A direção da Câmara então enviou à CCJ uma representação comunicando a decisão do Supremo, que precisa ser analisada pelo colegiado. O relator é o deputado Diego Garcia (Republicanos-PR).

A defesa da parlamentar já protocolou a defesa no âmbito do processo e pediu o arquivamento da representação. Se o relator não decidir dessa forma, os advogados pedem que sejam ouvidas cinco testemunhas.

Azi disse que se Garcia decidir pelos depoimentos, o processo terminará em setembro. Se não, o caso será encerrado no colegiado já em agosto.

“Se não houver as oitivas, fatalmente acabamos em agosto”, afirmou o presidente da CCJ.

Procurado, o deputado Diego Garciao, que é o relator do processo, não respondeu à reportagem.

Com ou sem as oitivas, o relator terá prazo de cinco sessões para apresentar seu parecer sobre o caso. Na sequência, o relatório é votado na comissão e encaminhado ao plenário da Casa.

“É um caso complicado. Precisamos evitar interpretações que de que não garantimos a ampla defesa”, afirmou Azi.

<><> Presidente da Câmara se manifesta

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que tomou conhecimento da prisão pela imprensa e que aguarda manifestações oficiais.

“Importante lembrar que as providências que cabem à Câmara já estão sendo adotadas, por meio da Representação que tramita na CCJC, em obediência ao Regimento e à Constituição. Não cabe à Casa deliberar sobre a prisão – apenas sobre a perda de mandato”, disse Motta.

 

Fonte: g1

 

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