Não
vamos negociar como se fosse um país pequeno contra um país grande, diz Lula ao
New York Times
Faltando
dois dias para que as tarifas de 50% sobre produtos
brasileiros comece a valer nos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz que ainda
não conseguiu fazer contato com o governo americano.
"Todos
sabem que pedi para fazer contato", afirmou em entrevista ao jornal
americano The New York Times publicada nesta
quarta-feira (30/07). "O que está impedindo é que ninguém quer
conversar."
Na
entrevista publicada, Lula não diz que tentou falar diretamente com seu
homólogo americano, Donald Trump.
As
tentativas de diálogo estão sendo realizadas, segundo a secretaria da
Presidência informou à BBC News Brasil, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin
(PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT).
Logo
depois de ter anunciado a nova tarifa, no dia 9 de julho, Trump disse a
repórteres que poderia conversar com Lula, "em algum momento, mas não
agora". Isso ocorreu em 11 de julho.
Na
entrevista ao jornal americano, Lula disse que está tratando a questão das
tarifas com "máxima seriedade. Mas seriedade não exige
subserviência".
Trump
impôs as novas taxações alegando que as acusações de tentativa de golpe de
Estado que recaem sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) equivale a uma
"caça às bruxas".
"Talvez
ele não saiba que aqui no Brasil o Judiciário é independente", afirmou
Lula, que diz que Trump está infringindo a soberania do Brasil.
"Em
nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país
grande", afirmou o petista ao jornal americano.
"Conhecemos
o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados
Unidos, reconhecemos o tamanho tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos
assusta. Nos preocupa."
O
jornalista Jack Nicas, autor da entrevista, afirma que "talvez não haja
líder mundial desafiando o presidente Trump com tanta veemência quanto
Lula", e que o petista está "indignado".
A
ofensiva de Trump de sobretaxar o Brasil causou uma resposta do governo
brasileiro, que criou uma campanha com o slogan "O Brasil é dos
brasileiros".
O
governo Lula também anunciou que estuda tarifas retaliatórias, mas ainda não há
nenhum anúncio oficial. Para Lula, todos saem perdendo com as taxações.
"Nem
o povo americano, nem o povo brasileiro merecem isso", disse ele.
"Porque vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha
para uma relação política de perde-perde."
Na
terça-feira (29/07), o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou
que as importações de alguns produtos que não são produzidos nos Estados Unidos
poderiam ser isentas de tarifas, como o cacau, café e a manga, mas ele não
mencionou o Brasil.
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'Não vamos resolver isso até o dia 1º', diz Jaques Wagner
Em
missão oficial realizada por senadores brasileiros a Washington, Jaques Wagner,
líder da bancada petista no Senado, afirmou nesta quarta-feira (30/07) que um
possível encontro de Lula com Trump pode demorar para acontecer, ultrapassando
o prazo de 1º de agosto, quando as tarifas começarão a valer.
"Não
vamos resolver isso até o dia 1º. É sexta-feira. O encontro de dois presidentes
da República não se prepara da noite para o dia", afirmou a jornalistas.
Os
senadores brasileiros estão em Washington desde o início da semana para fazer
reuniões e tentar negociar. Um dos principais focos é a tentativa de ampliar o
prazo para a entrada em vigor das tarifas sobre produtos brasileiros.
"Todos
os países tiveram 60, 90 dias; em 20 dias, como é que os empresários se
organizam?", questionou Wagner.
Por
outra frente, Alckmin, que tem liderado conversas com empresários e
representantes do governo americano, afirmou nesta quarta-feira que o governo
trabalha para que a tarifa seja reduzida, assim como ocorreu com a União
Europeia, que passou a ser de 15% após
negociações.
"Nós
estamos trabalhando para que a diminuição da alíquota seja para todos. Não tem
justificativa você ter uma alíquota de 50% para um país que é um grande
comprador. Você tem uma balança comercial superavitária", afirmou.
¨
As empresas e políticos dos EUA que tentam convencer
Trump a desistir de tarifas 'devastadoras' contra o Brasil
Em
semana decisiva para as negociações em torno das tarifas de importação de 50% sobre produtos
do Brasil, políticos, representantes de entidades e empresas de diferentes
segmentos brasileiros estão se movendo para tentar evitar o tarifaço.
Mas
também existem vozes no empresariado e no mundo político americano que estão
tentando convencer o presidente americano Donald Trump a reduzir ou
desistir das tarifas contra o Brasil, que devem entrar em vigor na sexta-feira
(01/08).
Desde
que Trump anunciou, em 9 de julho, que uma nova sobretaxa de 50% será imposta,
ele e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não
conversaram para tentar chegar a um acordo, algo que vem sendo cobrado
amplamente.
E,
nesta quarta (30), o presidente americano postou na sua rede social, Truth
Social, que o prazo para a entrada em vigor das tarifas continua a ser 1º de
agosto.
"O
prazo de primeiro de agosto é o prazo de primeiro de agosto- ele permanece
forte e não será prorrogado. Um grande dia para a América", escreveu
Trump, sem mencionar o Brasil.
O
diálogo entre Trump e Lula foi pedido pela U.S. Chamber of Commerce e pela
Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), duas das principais
organizações que representam os interesses do setor privado americano.
As
entidades publicaram uma nota conjunta solicitando que os dois países "se
engajem em negociações de alto nível a fim de evitar a implementação da tarifa
de 50%".
"Mais
de 6,5 mil pequenas empresas nos Estados Unidos dependem de produtos importados
do Brasil, enquanto 3,9 mil empresas americanas têm investimentos naquele
país", disseram as entidades em nota.
"O
Brasil está entre os dez principais mercados para exportações dos Estados
Unidos e é destino, a cada ano, de cerca de US$ 60 bilhões em bens e serviços
americanos."
Diante
do impasse, outros empresários americanos também se mobilizaram. As
importadoras de suco de laranja Johanna Foods e Johanna Beverage Company foram
ao Tribunal de Comércio Internacional (CIT, na sigla em inglês) dos Estados
Unidos pedir alívio emergencial diante da possível alta nos preços com a nova
tarifa.
Com
produção em queda nos EUA, o Brasil se tornou o principal
fornecedor de suco de laranja para o mercado americano, que responde por
41,7% das exportações brasileiras.
No
documento, as empresas afirmam que novas taxações poderão forçar um aumento de
20 a 25% no preço final para o consumidor e colocariam em risco 700 empregos.
As
projeções pessimistas estão surgindo nas mais variadas dimensões. Da imensa
indústria do suco de laranja a um pequeno café no Maine, extremo nordeste dos
EUA.
Ali, a
proprietária do Rock City, Jessie Northgraves, publicou nas redes sociais um
comunicado aos seus clientes na semana passada com más notícias.
"Nossos
preços aumentarão na próxima semana e esperamos também compensar a
possibilidade iminente de uma tarifa de 50% sobre os grãos de café do
Brasil."
No
comunicado, Northgraves explica que nos últimos seis meses o preço do café
vinha subindo como nunca antes. Mudanças climáticas e aumento no consumo da
bebida explicam esse aumento.
O café,
assim como o suco de laranja, é um dos produtos mais sensíveis ao tarifaço
porque os Estados Unidos importam em grande quantidade do Brasil.
O país
é o maior comprador do produto brasileiro. No ano passado, os EUA
receberam 16,4% das exportações de café do Brasil,
segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Diante
das taxas já impostas por Trump sobre diversos produtos e na iminência de novas
tarifas, o reajuste teve de ser repassado aos consumidores. E as perspectivas
não são animadoras.
"Na
minha opinião, a situação toda parece estar se agravando. Já estamos pagando
tarifas de 10% sobre os grãos provenientes de todos os lugares de onde os
adquirimos, e parece haver o risco de as tarifas do Brasil aumentarem para 50%,
o que seria devastador", disse Northgraves à BBC News Brasil.
No
setor de aviação, a SkyWest, companhia aérea dos Estados Unidos que encomendou
74 aviões da Embraer, também criticou o tarifaço.
Na
semana passada, o CEO da empresa, Chip Childs, afirmou que não pretende pagar a
tarifa de 50% sobre jatos encomendados até 2032 com a empresa brasileira, caso
a medida entre em vigor.
A
declaração foi dada durante a apresentação do balanço financeiro do segundo
trimestre da empresa.
"Temos
a sensação de que as pessoas estão entendendo a importância disso para pequenas
comunidades nos Estados Unidos, o impacto econômico disso para o nosso
país", disse Childs.
"Vamos
continuar lutando muito para avançar nessa frente das tarifas."
Na
mesma reunião, o diretor comercial da SkyWest, Wade Steele, também admitiu a
possibilidade de adiar entregas combinadas com a empresa brasileira.
"Se
a tarifa de 50% com o Brasil for implementada, planejamos trabalhar com nossos
principais parceiros e a Embraer para adiar a entrega até que a situação
tarifária seja resolvida", disse.
Em
abril, Trump já havia anunciado tarifas de 10% sobre produtos
brasileiros. A SkyWest já teve que arcar com essas tarifas, com custos
adicionais em dois jatos entregues no segundo trimestre.
A
Embraer é a principal exportadora de bens de alto
valor agregado do Brasil e tem nos Estados Unidos seu mercado mais
importante.
As
exportações para clientes americanos representam 45% nos jatos comerciais e 70%
nos jatos executivos da empresa brasileira.
Segundo
estimativas da própria Embraer, caso a tarifa de Trump se confirme em 50%, a
empresa terá um custo adicional de US$ 9 milhões (cerca de R$ 50 milhões) ao
preço de cada aeronave para seus clientes.
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'Abuso de poder'
No
Congresso americano, também há movimentações em curso. Na quinta-feira passada
(24/07), um grupo de 11 senadores democratas enviou uma carta a Trump pedindo o
fim do tarifaço comercial contra produtos brasileiros, mencionando "abuso
de poder" contra o Brasil.
Segundo
os parlamentares, a taxação vai aumentar os custos para famílias e empresas
americanas.
"Os
americanos importam mais de 40 bilhões de dólares anualmente do Brasil,
incluindo quase 2 bilhões de dólares em café. O comércio entre EUA e Brasil
sustenta cerca de 130 mil empregos nos Estados Unidos, que estão ameaçados com
a imposição de tarifas elevadas", diz o grupo na carta.
"O
Brasil também prometeu retaliar, e o senhor antecipadamente prometeu responder
na mesma moeda — o que significa que os exportadores americanos sairão
prejudicados e que os impostos sobre importações pagos pelos americanos
ultrapassarão os 50% que o senhor ameaçou impor."
Os
senadores acrescentaram que tinham "sérias preocupações quanto ao claro
abuso de poder presente em sua recente ameaça de iniciar uma guerra comercial
com o Brasil".
"Os
Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser
discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça tarifária do seu governo
claramente não diz respeito a isso", escreveram os senadores.
Já os
deputados que presidem o Congressional Coffee Caucus, uma espécie de comissão
no congresso americano para debater temas relacionados ao setor de café,
enviaram no fim de junho uma carta com apoio bipartidário ao embaixador do
comércio dos EUA, pedindo a isenção do produto das tarifas atuais e futuras.
Na
carta, os deputados Jill Tokuda (democrata, Havaí) e William Timmons
(republicano, Carolina do Sul) disseram ao representante comercial dos EUA,
Jamieson Greer, indicado por Donald Trump, que a isenção é necessária
"para proteger os empregos americanos e garantir a vitalidade contínua de
uma indústria que depende quase inteiramente de importações".
Eles
lembram que, ao contrário de outros produtos afetados pelas novas tarifas, o
café nos Estados Unidos não é produzido em escala capaz de suprir a demanda
interna. De acordo com o documento, a produção americana de café, cultivado no
Havaí e em Porto Rico, não representa nem 1% do consumo da bebida no país.
Nesta
terça, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick afirmou à
rede CNBC que alguns produtos não cultivados nos EUA poderiam estar isentos das
taxações. Dentre eles o café, a manga, o abacaxi e o cacau.
Lutnick,
no entanto, não mencionou o Brasil. "Se vamos negociar com um país que
produz manga ou abacaxi, então eles podem entrar sem tarifa. Café e cacau são
outros exemplos de recursos naturais", completou.
Portanto,
ainda não é possível saber a dimensão do impacto que a nova tarifa causará no
bolso dos consumidores americanos, acostumados a tomar ao menos três xícaras da
bebida por dia.
Mas ao
menos os clientes do Rock City Coffee já estão pagando mais caro pela bebida.
"As
tarifas prejudicarão nossos negócios, pois não conseguiremos manter nossas
margens de lucro sem aumentar os preços – e, se esses preços subirem o
suficiente, poderemos perder clientes para empresas maiores e mais capazes de
absorver custos e manter os preços baixos", afirmou Northgraves.
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'Tarifa proibitiva'
O
National Foreign Trade Council (Conselho Nacional de Comércio Exterior) já
considera a tarifa de 10% imposta pelo governo Trump após 2 de abril uma
mudança muito significativa na capacidade das empresas americanas de importarem
do Brasil.
Agora,
a tarifa de 50% prevista para entrar em vigor em 1º de agosto pode inviabilizar
negócios com o parceiro comercial. É o que afirma Tiffany Smith,
vice-presidente de Comércio da entidade, que representa grandes empresas em
temas de comércio e investimento internacional.
"O
Brasil tem mantido superávit comercial com os Estados Unidos. E uma tarifa de
50% coloca o país entre os que enfrentam as taxas mais altas no atual ambiente
de tarifas recíprocas. É algo que consideramos bastante preocupante",
disse à BBC News Brasil.
"Uma
tarifa nesse nível seria proibitiva para a maioria dos produtos. A expectativa
é que as importações do Brasil parem, em muitos casos, enquanto essa tarifa
estiver em vigor. Pode haver alguns produtos que suportem uma tarifa tão alta,
mas não seriam muitos."
Segundo
ela, empresas americanas podem tentar minimizar os impactos transferindo a
produção para outros países. Mas essa alternativa nem sempre é viável,
principalmente a curto prazo.
"Por
conta de contratos em vigor ou exigências técnicas, como peças automotivas que
precisam atender a padrões específicos de segurança. Essas adaptações não
ocorrem rapidamente", afirma Smith.
"Nesses
casos, as empresas teriam que repassar os custos para os consumidores ou
absorver perdas significativas em suas margens de lucro."
Smith
avalia que a política tarifária reflete uma "convicção forte do
presidente" de que os parceiros comerciais precisam abrir mais seus
mercados para empresas americanas.
"No
caso do Brasil, a ideia é que, mesmo com superávit, poderia haver espaço para
ampliar as exportações dos EUA. Mas a linguagem da carta sugere que
considerações políticas também podem ter influenciado a decisão."
Ela
ressalta que a tarifa de 50% pode ser apenas o início de uma mudança mais ampla
na relação comercial entre os dois países.
"O
resultado desse processo, que deve levar alguns meses, pode resultar na
imposição de novas tarifas ou outras medidas, além da tarifa já
anunciada."
Nesta
segunda-feira (28/07), uma missão especial do Senado esteve na Câmara Americana
do Comércio, em Washington, para uma reunião com lideranças empresariais e
representantes do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos.
Após a
reunião, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) afirmou que uma conversa entre
Trump e Lula está sobre a mesa.
"Nós
estamos dialogando neste momento", afirmou o vice-presidente Geraldo
Alckmin (PSB), no fim da tarde de segunda-feira (28/7) em entrevista coletiva.
Ao ser
perguntado se havia falado com Lula sobre a possibilidade de uma conversa entre
ele e Trump, afirmou que ainda não. "Mas o presidente Lula é o homem do
diálogo. Sempre defendeu o diálogo", disse.
¨
Trump diz que não vai adiar prazo para entrada em vigor
das tarifas
Donald Trump confirmou nesta
quarta-feira (30/07) que as tarifas anunciadas pelo seu governo contra produtos
de diversos países entrarão em vigor em 1º de agosto.
"O
prazo de primeiro de agosto é o prazo de primeiro de agosto — ele permanece
forte e não será prorrogado", escreveu o presidente americano em um post
na sua plataforma Truth Social.
"Grande
dia para a América", completou Trump.
Em
pouco mais de seis meses de governo, Trump anunciou tarifas contra praticamente
todos os parceiros comerciais americanos. O governo estabeleceu uma alíquota
mínima de 10% para as tarifas de importação, mas alguns países tiveram taxas
específicas definidas.
Trump
afirma que sua intenção é criar "tarifas recíprocas", para
restabelecer um campo de jogo "justo", obrigar nações a reduzir
barreiras comerciais e corrigir déficits bilaterais.
O
governo americano negociou acordos bilaterais com alguns dos seus parceiros em
troca de redução das taxas.
Japão,
Reino Unido, União Europeia, Vietnã e Indonésia foram alguns dos países que
fecharam o compromisso e receberão taxas inferiores às anunciadas por Trump
inicialmente.
No caso
do Brasil, Trump usou argumentos políticos para justificar a implementação de
uma tarifa de 50%.
Segundo
o presidente americano, o Judiciário brasileiro estaria submetendo o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a um "tratamento injusto" no
processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe
de Estado.
O
Brasil também é um dos poucos países no mundo cujo comércio com os EUA resultou
em um superávit para os americanos em 2024 (US$ 7,4 bilhões).
A única
exceção para a data de 1º de agosto deve ser a China, que receberá uma tarifa
básica de 30% sobre as suas exportações para os EUA.
Devido
a negociações diretas com as autoridades americanas, o início das imposições
das taxas contra os chineses é esperado para 12 de agosto.
Fonte:
BBC News Brasil

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