Paraísos
dominados: como facções transformaram destinos turísticos do Nordeste em um
grande negócio
Coqueiros,
águas mornas, frutos do mar... Venda de drogas à luz do dia,
"olheiros" monitorando as esquinas, assassinatos violentos e uma vida
local dominada pelo poder paralelo das facções. Essa descrição hoje serve para
três dos principais (e mais bonitos) destinos turísticos de praia do Nordeste
brasileiro: Porto de Galinhas, em Pernambuco; Pipa, no Rio Grande do Norte; e
Jericoacoara, no Ceará.
E as
semelhanças não param por aí. Praias mais famosas de seus respectivos Estados,
as três mantêm um certo clima de tranquilidade, com regras do crime organizado
para coibir roubos contra aqueles que as visitam - uma forma de não afastar os
turistas que movimentam a economia e o tráfico na região.
Para
quem mora ali, porém, a presença e a crueldade das facções são bastante
conhecidas, das ameaças a quem não cumprir ordens e decapitações aos pontos de
venda em espaços centrais das vilas, segundo moradores, autoridades e
pesquisadores com quem a BBC News Brasil conversou nas últimas semanas.
"O
Estado vende isso aqui como o paraíso, mas não garante o mínimo para a
população. O assunto é ainda abafado na cidade, porque não se pode falar mal
para não correr o risco perder turistas", diz Carla, uma moradora de
Jericoacoara.
"É
normalizado. Você sabe sempre quem é o olheiro, o pistoleiro ou o gerente de
boca, e interage com eles todos os dias, no mercado, na rua, nos bares",
resume Ricardo, morador de Porto de Galinhas.
O nome
de todos os moradores foram alterados na reportagem para garantir a segurança
deles.
Além
das três praias, também há notícias de grupos criminosos atuando em outros
destinos populares no Nordeste, como São Miguel dos Milagres, em Alagoas, e na
região de Trancoso e Caraíva, na Bahia.
Por
trás do cenário de violência, está o processo de expansão das facções pelo
Brasil, antes restritas às grandes cidades e fronteiras, e a alta circulação de
dinheiro nessas vilas que concentram festas e turistas de alto poder
aquisitivo.
"São
como filiais do negócio de drogas. O descontrole desde a fronteira, passando
pelos grupos de Rio e São Paulo, deságua aqui", resume o promotor de
Justiça Eduardo Leal dos Santos, de Ipojuca, cidade do Grande Recife onde está
localizada a praia de Porto de Galinhas.
"E
elas encontraram nesses destinos do Nordeste uma alta concentração de renda,
com turismo ligado a festas e uso recreativo de drogas o ano inteiro. São
também cidades com muito movimento, mas com estrutura de cidade pequena, com
poucos policiais e pouca presença do poder público", completa Santos.
Só uma
caderneta apreendida pela Polícia Civil com um traficante na praia pernambucana
mostrou uma movimentação de quase R$ 10 milhões por ano, segundo um inquérito
concluído no fim de 2022.
Apesar
da presença em geral fora dos olhos de turistas, o domínio das facções tem
repercutido nos últimos anos diante de casos de repercussão nacional que
escancaram a força dos grupos.
Em
Jericoacoara, por exemplo, o assassinato de um turista de 16 anos de São Paulo,
em dezembro de 2024, ganhou as manchetes pelo Brasil.
Segundo
a conclusão da Polícia Civil do Ceará, ele foi confundido pelo Comando
Vermelho, facção que domina a praia, como membro de um grupo rival paulista. O
jovem não tinha ligação com grupos criminosos - e a polícia chegou a investigar
se um gesto que ele fez com as mãos para tirar uma foto teria sido o motivo
para o crime.
"Ele
estava com o pai na praça e resolveu voltar sozinho para a pousada. No caminho
ele foi abordado por esse grupo de pessoas que atribuíram a ele, ninguém sabe
por qual motivo, a participação nessa organização criminosa", disse na
época o diretor da Polícia Civil, Marcos Aurélio França.
No
mesmo mês, em Pipa, um triplo homicídio na principal rua da vila, a Avenida
Baía dos Golfinhos, causou pavor entre os moradores e turistas.
Segundo
a Polícia Civil do Rio Grande do Norte, os crimes, bem na esquina da delegacia
local, foram motivados por uma briga entre facções criminosas rivais.
"Um
novo grupo criminoso queria entrar em Pipa, mas durou pouco a investida",
disse uma fonte policial à BBC News Brasil. O grupo que se mantém dominante ali
é o Sindicato do Crime, surgido no Rio Grande do Norte.
Já em
Porto de Galinhas, em 2022, numa demonstração de força que até hoje está na
mente dos moradores, estradas foram bloqueadas e o comércio fechou as portas
após ordem da facção local, a Trem Bala.
O toque
de recolher aconteceu após uma operação da Polícia Militar contra a facção
acabar com a morte de uma criança de 6 anos, vítima de bala perdida.
Na
última sexta-feira (18/07), em um novo caso recente, um jovem foi morto em
Porto após trocar tiros com policiais.
Mas
como cada uma dessas praias chegou a esse ponto?
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Porto de Galinhas: câmeras do crime e vidros abaixados
A pouco
mais de um quilômetro das piscinas naturais que deram fama internacional a
Porto de Galinhas, a vida é controlada sob olhos atentos da facção que surgiu
no litoral pernambucano, a Trem Bala - mais recentemente conhecida como Comando
do Litoral Sul.
Nas
comunidades de Salinas, Socó e Pantanal, onde vive grande parte da força de
trabalho da praia, moradores são proibidos de chamar a polícia, câmeras
instaladas na rua pelas gangues monitoram o movimento de quem entra e sai e
agentes públicos precisam baixar os vidros de carros e se identificarem para
acessar a região, segundo fontes disseram à BBC News Brasil.
O grupo
Trem Bala domina outras praias no Litoral Sul de Pernambuco, começando no Cabo
de Santo Agostinho, cidade que está na 5ª colocação entre as cidades mais
violentas do Brasil em 2024, segundo dados recém-divulgados no Anuário do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública.
A
cidade seria justamente um local de disputa entre o Trem Bala e outros grupos
que atuam mais próximos do Recife.
Em
Ipojuca, onde está Porto de Galinhas, os números de violência são menores,
desde um pico de assassinatos em 2017.
"São
baixos por não haver mais disputa entre grupos, o que reduz as mortes. Não é
porque é seguro, é porque não tem mais outra facção para disputar", disse
uma fonte policial à BBC News Brasil.
Em
Porto de Galinhas, segundo essa fonte e moradores, há leis informais da facção
que proíbem roubos e brigas nas ruas.
"Diferenças
com mau pagamentos, divisão de terras, discussões de vizinhos, som alto, tudo
deve passar pela facção", relata Ricardo, morador.
Em um
caso que chegou à Promotoria da Criança de Ipojuca, uma menina com menos de 18
anos foi torturada até a morte por praticar pequenos furtos.
O
promotor Eduardo Leal dos Santos relata a prática de um tribunal do crime a
quem descumpre alguma ordem ou tente deixar o grupo. "Tem uma cultura de
decapitar mediante tiro de escopetas calibre 12. Do peito para cima, não sobra
nada", diz.
A
Polícia Civil já encontrou também cemitérios clandestinos em regiões de mangue,
onde são enterrados os julgados pelo tribunal por "burlar" leis
próprias, como comercializar drogas sem a autorização dos líderes e ser
informante da polícia.
Além
disso, há um controle para que crimes contra turistas não sejam cometidos, como
assaltos.
O
promotor Eduardo Santos explica que esse controle ocorre pelo receio de
prejudicar o negócio.
"Assim,
você vai parar a receita deles e atrair a polícia", diz.
Mas nem
sempre é assim.
Luzia,
uma ex-empresária da região, preferiu se mudar de Porto de Galinhas após um dia
receber uma ordem da facção para fechar as portas de seu negócio. Começou a ter
crises de ansiedade por morar ali.
"Eu
vi os homens com armas na minha porta, gritando, algo horrível". Ela
descreve o dia do toque de recolher em 2022, quando uma menina foi assassinada
numa operação policial.
Os três
dias de tensão escancararam a força da facção, dominante desde 2019. O grupo
tem ligações com a facção carioca Comando Vermelho, mas também compra drogas do
PCC, segundo inquérito da Polícia Civil ao qual a BBC News Brasil teve acesso.
O
pesquisador e sociólogo Eduardo Matos de Alencar, que trabalhou em projetos de
segurança na prefeitura de Ipojuca e no governo de Pernambuco, diz que desde
2013 havia rumores de um grupo se organizando para controlar o território de
Porto de Galinhas.
A
situação chama a atenção desde o início porque Pernambuco é considerado um
estado fracionado entre facções, sem grupos muito poderosos que controlam
grandes territórios, como no Ceará ou Rio Grande do Norte, explica Alencar.
"Mas
Porto de Galinhas tinha um mercado consumidor enorme e um território com muitas
conexões por manguezais que facilitam fugas e transporte", opina Alencar,
presidente do Instituto Arrecifes e autor do livro De quem é o comando? O
desafio de governar uma prisão no Brasil.
Porto
de Galinhas também está na mesma cidade que o Porto de Suape, o principal de
Pernambuco
Uma
fonte do poder municipal de Ipojuca diz que a chegada dos grandes
empreendimentos à região nos anos 2010, com seus milhares de trabalhadores,
fortaleceu o tráfico de drogas
"Os
empreendimentos tanto em Suape quanto na própria praia de Porto trouxe um ganho
financeiro, mas um prejuízo social muito grande. Por incrível que pareça, esse
aumento de renda não se reverteu em benefício à população", diz Fernanda,
que atua em projetos em Porto de Galinhas.
A
cidade de Ipojuca, com 99 mil habitantes, hoje tem o maior PIB per capita de
Pernambuco, número que não se reflete nos índices sociais - só o 92º em taxa de
escolarização no Estado, por exemplo.
Sem
muita perspectiva de futuro, os mais jovens são facilmente aliciados pelo
crime.
"É
uma mão de obra extremamente barata para o tráfico. A gente recebe crianças sem
perspectivas, sem sonhos", diz o promotor Eduardo dos Santos, um dos
criadores do projeto Voltar a Sonhar, que tenta fornecer atividades para jovens
não ficarem ociosos.
"Quando
o poder público age fazendo operações para prender, ele age no sintoma, não na
causa", completa.
Entre
2018 e 2022, somente em Ipojuca, foram realizadas prisões de ao menos cem
pessoas vinculadas a organizações criminosas.
Mas
essas operações, segundo fonte policial disse à BBC, acabam tendo um efeito
indesejado. "A gente acaba prendendo os rivais, e essa facção [Trem Bala]
cresce cada vez mais".
Em
nota, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco disse que "monitora a
presença e coíbe a instalação e expansão dessas organizações". Uma
operação nacional coordenada pelo Estado em abril cumpriu 53 mandados de
prisão.
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Pipa: divisão de tarefas e monitoramento
Na
praia mais famosa do Rio Grande do Norte, Pipa, na cidade de Tibau do Sul, as
tarefas do crime são cuidadosamente divididas.
"Só
falta assinar a carteira, são organizados demais", diz uma fonte da
Polícia Civil do Estado à BBC News Brasil.
Entre
os cargos, estão o "vapor", que anda com bolsas carregadas de drogas
para venda, e o "visão", como são chamados os olheiros que ficam nas
esquinas avaliando o movimento suspeito e identificando possíveis interessados.
Geralmente
meninos muito jovens de regiões carentes, eles têm salário definido, trabalham
em escalas de 12 horas por dia, sete dias corridos, com folgas nos dias
seguintes. E também pagam uma mensalidade para serem membros do grupo
criminoso.
"Você
se sente observado por eles o tempo todo", conta Cláudia, uma moradora
local. Nos bares, o assunto costuma ser ignorado pelos moradores, e quem fala é
aconselhado a silenciar.
Os
jovens são todos membros do Sindicato do Crime, facção surgida no Rio Grande do
Norte em 2013, dentro do Presídio de Alcaçuz, na Grande Natal - onde, cinco
anos mais tarde, haveria um massacre com 27 mortos em um confronto do grupo com
o PCC.
Após se
expandir para fora da prisão, em Natal, o grupo seguiu o caminho da expansão
pelo Estado, onde as forças de segurança são mais frágeis, explica a
antropóloga Juliana Melo, professora da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
"O
Rio Grande do Norte é pequeno, mas estratégico porque tem fiscalização fraca
nos portos e pouca inteligência policial, com foco de punir. O Estado é o ponto
mais próximo da Europa e está do lado do Ceará, outro ponto importante",
ressalta Melo.
Há uma
estimativa de que hoje haja 20 mil filiados ao Sindicato do Crime no Estado,
segundo uma fonte policial com familiaridade com o assunto disse à BBC News
Brasil.
Quando
a facção nasceu, já havia um plano de chegar logo a Pipa. Isso porque, segundo
relato dessa fonte, dois de seus fundadores eram da região.
"Então
a dominância da praia tinha valor simbólico e político para a facção",
diz.
Mas a
chegada à praia também era estratégica, por conta da alta circulação de
turistas de alto poder aquisitivo.
Muito
além de destino paradisíaco, nos últimos anos Pipa se consolidou como um dos
grandes pontos de festas do litoral nordestino.
"Essa
facção vive basicamente do tráfico, e aqui virou polo de gente em buscas de
festas e com uma vibe liberal, de uso não só de maconha, mas de drogas
sintéticas", completa a fonte.
Em
Pipa, o tráfico era tão escancarado que chegou a ter uma "lojinha"
para venda de drogas em uma galeria no centro da vila - fechada recentemente
numa operação da Polícia Civil. Alguns serviços da praia também seriam
controlados pelo poder paralelo.
Como em
outras praias, o Sindicato do Crime tem seu próprio tribunal que
"investiga, acusa, julga, pune e executa", diz à BBC News Brasil um
investigador.
Essa
organização está prevista no próprio estatuto de criação do grupo, documento
com 21 artigos ao qual a BBC News Brasil teve acesso.
O grupo
estabelece um código de conduta rígido para manter "a ordem e o respeito
dentro da comunidade" (ou "quebrada"). Entre as principais
regras aos membros , estão proibições de agressões, traições afetivas
("talaricagem"), som alto à noite, vínculos com outros grupos e até
uso de crack e do medicamento rivotril, "pelo efeito devastador que elas
causam na vida de quem usa". O remédio só é liberado por membros que
demonstrem receita médica.
O
documento estabelece que problemas devem ser resolvidos com os líderes locais e
que os membros devem buscar sempre a "paz" na comunidade. Quem sai do
grupo é proibido de seguir no crime.
"Às
vezes, a gente é chamado para resolver algum problema como roubo, quando a
gente chega no local, a facção já passou por lá e saiu", conta a fonte
policial.
Mas
essa aparente tranquilidade é abalada quendo há rivalidade dentro da própria
facção ou a chegada de um novo grupo.
"Antigamente,
a gente sentia que a facção protegia a vida dos moradores aqui. Mas quando
começa a disputa entre eles, tudo fica mais tenso", diz Cláudia, moradora
da região que acompanha de perto os casos.
O
triplo homicídio de dezembro, em pleno centro da vila, ocorreu porque um novo
grupo rival do Sindicato do Crime tentava se estabelecer na praia. Mas não
conseguiu.
Recentes
operações da Polícia prenderam líderes do grupo. Só em 2024, 97 pessoas foram
presas. Segundo a Polícia, o prejuízo causado ao crime com apreensão de drogas
foi de R$ 1,3 milhão - e o crime hoje estaria mais "desorganizado" na
região.
Mas
moradores e investigadores sabem que há uma facilidade de o grupo se
reorganizar. "Quando a polícia desmantela, amanhã já tem outro
líder", diz Cláudia.
Em
nota, a Polícia Civil do Rio Grande do Norte disse que tem focado no combate a
organizações criminosas, o que tem contribuído para a redução dos homicídios na
região. No primeiro semestre, foram dois homicídios em Tibau do Sul.
"Generalizações
que associem a localidade ao domínio de grupos criminosos devem ser
rechaçadas", diz a nota.
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Jericoacoara: becos do tráfico e mudança no turismo
O caso
do turista de São Paulo de 16 anos arrastado e assassinado na vila de
Jericoacoara no fim de 2024 tem sido considerado um divisor de águas na praia
cearense.
Situações
de intimidação e agressão por membros do tráfico na vila estavam se
multiplicando, segundo moradores, nos últimos três anos.
"A
situação do turista que ganhou as manchetes já é algo recorrente que vemos
aqui. Os meninos ficam nos becos, abordam turistas e agridem as pessoas. Teve
caso de gente agredida só por olhar para eles. Mas os casos são abafados",
diz José, morador de Jijoca de Jericoacoara cujo trabalho o faz lidar com casos
de violência na cidade.
"Existe
um acordo entre os traficantes e os meninos que vendem (chamados de 'meninos do
corre') para não mexer nos turistas, mas até isso estava saindo do
controle", completa.
Depois
da repercussão nacional, moradores dizem que a situação da praia foi forçada a
se acalmar novamente, com menos presença clara dos grupos nas ruas. A ideia
seria não manchar a imagem da praia.
A vila
é dominada pelo Comando Vermelho, uma facção de origem no Rio de Janeiro e que
se expandiu com "células" para Estados como o Ceará.
O grupo
começou a se estabelecer na região em 2016, quando a cidade de Jijoca atingiu
um pico no número de assassinatos, segundo dados do Atlas da Violência.
"Na
época, havia rivalidade. Então, algumas facções saíram de cena e as coisas se
acalmaram", relata José
Segundo
Artur Pires, pesquisador do laboratório de violência da Universidade Federal do
Ceará, a chegada das facções a Jericoacoara também vem de um "processo
natural" dos grupos criminosos no Estado do Ceará.
A
presença mais ostensiva das facções no Ceará acontece a partir 2015, a partir
da capital, Fortaleza. Logo depois, entre 2016 e 2017, elas avançam para o
interior e litoral.
O
Estado se tornou atrativo, diz Pires, pela proximidade geográfica dos EUA e
Europa, o que reduziria os custos de transporte. Em fevereiro, por exemplo, a
Receita Federal apreendeu 550 kg de cocaína em operações nos portos do Pecém e
Mucuripe.
Outro
fator, na avaliação do pesquisador, foi um policiamento mais ostensivo no Rio
de Janeiro que fez membros de facções como o Comando Vermelho a se mudarem para
o Ceará, inclusive para buscar novos mercados. Fortaleza, vale lembrar, é a
quarta maior cidade do Brasil.
"As
facções passam cada vez mais a serem geridas como um negócio. Eles pensam na
diversidade na captação de recursos, que avança do tráfico de armas à
internet", diz Pires.
"Por
ser a praia mais famosa do Ceará, com muitos turistas que podem pagar preços
altos das drogas, Jeri acaba despertando muito a atenção das facções que querem
o controle territorial da praia", completa.
Em
regiões como a Grande Fortaleza, confrontos entre o Comando Vermelho e outras
facções, como a cearense Guardiões do Estado, causam uma espécie de disputa de
território.
Numa
recente entrevista àTV Verde Mares, o governador Elmano Freitas (PT) disse que
o confrontos entre sete facções causam 90% dos homicídios no Ceará.
Nos
dados recém-divulgados do Atlas da Violência, três cidades do Ceará aparecem
entre as mais violentas do país, incluindo a primeira colocada, Maranguape, na
Região Metropolitana de Fortaleza.
Em
Jijoca de Jericoacoara, fações rivais ao Comando Vermelho não pisam, segundo
moradores.
"A
gente não tem essa sensação de que a qualquer hora vai ter um confronto, de
facções rivais entrando na cidade, de que a polícia vai invadir as bocas de
fumo. Temos a sensação de tranquilidade por conta desse acordo velado",
diz José.
"A
população já se acostumou com essa lei do crime."
Mas a
violência aparece. No centro Jijoca de Jericoacoara, em março, uma mulher foi
assassinada na frente da principal Igreja da cidade após receber
"ordem" da facção para deixar cidade. Em dezembro, uma mulher e uma
adolescente foram resgatadas do "tribunal do crime", transmitido
online.
Moradores
antigos de Jericoacoara, uma vila pescadora que virou um dos destinos mais
desejados do país, dizem que a mudança do perfil do próprio local contribuiu
para o estabelecimento desses grupos.
"Antes
aqui era um lugar de um turismo mais sustentável, gente que buscava conexão com
natureza. Mas nos últimos anos virou turismo de entretenimento, que busca sexo,
drogas e rock and roll. Existe demanda do público por produtos e serviços que
as facções oferecem", diz Carla, uma moradora.
O
avanço massivo do turismo faz de Jericoacoara hoje ser líder em infrações
ambientais no Brasil, com carros na areia e 'sumiço' de duna.
"Drogas
sempre existiu, mas o público mudou e ampliou. Há cinco anos, o tráfico virou
escancarado na rua", completa Carla.
A
moradora está considerando se mudar de Jericoacoara devido a repetidas crises
de pânico causadas por episódios de violência vividos por ela e pela família.
A BBC
News Brasil tentou contato com o governo do Ceará para posicionamento, mas não
obteve resposta.
Fonte:
BBC News Brasil

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